Tudo estava muito escuro. Nosso guia era somente o luar.
Lírio era um rapaz mais velho que eu, muito gentil por sinal! Era alto e tinha cabelos lisos e castanhos. Pela primeira vez, sentia muito inspiração, como se eu estivesse me esvaziando de todas as construções externas que pressionavam o meu Eu Verdadeiro, para, finalmente, me reconectar à minha essência.
Após três luas de velejo, acordei com as sobrancelhas franzidas pelos primeiros raios da luz solar que iluminavam o meu rosto. Levantei-me e segui na direção de Lírio, perguntando-lhe quanto faltava para chegarmos ao outro lado. Ele então disse:
– Bem-vinda ao mundo urbano!
Chegando ao litoral, a sensação que antes era de tensão, passou a ser de melancolia e decepção. A praia estava cercada pelas construções humanas, com imensas casas, semelhantes a torres. Muita fumaça, pessoas transitando com velocidade, veículos muito mais ágeis e modernos que as carroças de Esplendor. Lá parecia não haver vida. Onde estariam as árvores de meus sonhos? Como eu encontraria um Portal naquele lugar?
Indaguei a ele sobre aonde poderia existir uma floresta, um campo ou qualquer lugar com muitas árvores, flores e animais. E recebi sua exclamação:
– A Natureza da maneira que você me descreveu não existe deste lado do mar, moça!
– Não? Como você sabe?
– Já percorri por vários cantos, pois gosto de viajar e conhecer novos lugares.
Eu estava arrasada! O vazio que eu já sentia antes da viagem parecia mais profundo por ter sido preenchido por uma ilusão. Eu nem sabia mais o que pensar ou o que desejar. Além disso, chegaria à Ilha e teria de enfrentar a decepção que provavelmente causei à minha família adotiva.
Ao regressar, todos estavam juntos à beira da praia. Seus olhares não me oprimiam. Estavam todos compassivos. Olhei para Bromélia e corri para abraçá-la, possuída pela vergonha e desilusão. Chorei como uma criança, até que ela iniciou sua fala:
– Minha pequena Mishra, não pude deixá-la ir sem que todos soubessem. Não coloquei sua poção no chá dos soldados e pedi para Lírio te guiar e proteger. Todos ficariam menos preocupados desta forma. Por isso contei aos seus pais sobre seus planos. Eles poderiam recusar meu pedido e impedir sua busca, porém sabiam, assim como eu, que às vezes, cada um precisa passar por determinados processos para reconhecer sua própria realidade; Para encontrar mais clareza sobre suas questões interiores. Agora você sabe que nada mágico existe do outro lado do mar. Não estamos com raiva, tampouco te julgamos pelo que fez. Estamos todos ao seu lado, Mishra, te apoiando nesse momento difícil, pois imaginamos o quanto deve ser sofrido não ter qualquer memória sobre o próprio passado, sem algum rosto familiar para te acalmar.
Violeta, minha mãe adotiva, acabou desabafando:
– Queremos muito que você confie mais em nós, minha querida filha. Nosso carinho por você sempre foi inestimável! Tentamos de tudo para levar algum conforto à sua alma e não sabemos mais o que doar para que se sinta devidamente amparada e feliz. Mas peço, do fundo de meu coração: abra-se para nós, Mishra!
A vergonha era tão forte que eu nada fazia além de chorar. As únicas palavras que saíram de meus lábios, entre lágrimas e suspiros, foram:
– Preciso tomar um banho e ir para o meu quarto.
***
Desde aquele dia, os sonhos com a floresta, a mulher misteriosa e a gruta permaneceram presentes durante meu sono, embora eu não lhes atribuísse um significado. Decidi dar as costas ao passado e reconstruir um novo Eu, da forma que eu gostaria de ser: Uma tentativa de viver bem em Esplendor e ser grata por toda compreensão e apoio que recebi do povoado.
Algumas estações se passaram; A natureza se abria para receber a primavera, enquanto eu me abria a uma nova amizade.
Lírio já sabia de meus sonhos que continuavam a me enviar mensagens sem significado. Meu novo amigo tentava ver um sentido mais psicológico que espiritual em meus pesadelos, assim como Bromélia. Mas esse era um assunto que eu preferia não prolongar. Preferia deixá-lo para trás, junto de minha vergonha e meu passado. Gostávamos de deitar próximo ao Jardim para olhar o céu e meditar nos sons e na beleza da natureza, enquanto falávamos de nossos anseios, medos, nossas alegrias e tristezas.
Todo ano acontecia um ritual de prosperidade. Neste dia, um pouco antes do anoitecer, colhíamos frutos no pomar para a Grande Ceia. Fazíamos a colheita como duas crianças: rindo, pulando e cantarolando. Era o momento em que eu esquecia os problemas. Esquecia meu vazio interior por estar mais conectada à natureza.
Até que cansamos e deixamos nossos corpos caírem por entre as flores do Jardim. Nesse instante, Lírio inclinou-se por cima de mim, pedindo-me um beijo. Todas as moças de Esplendor gostariam de estar em meu lugar, mas eu não conseguia ter um sentimento romântico por ele, apenas o considerava um bom amigo, o que me chateava bastante, pois provavelmente eu seria muito feliz a seu lado, como esposa. Desviei meu rosto como um sinal de meu desinteresse e, ao olhar para o lado, notando que o céu recebia os últimos raios de sol, avistei algo brilhante entre as Árvores Gêmeas. Levantei-me com rapidez e vi aquele brilho mover-se para dentro de uma trilha que nunca havia percebido antes.
– Olhe! Aquela trilha! Viu? – perguntei entusiasmada.
– O que? Não vejo nada!
– Aquela luz ali! Está entrando na trilha!
– Não vejo nada, Mishra. Deve ser algum vaga-lume... Vamos! Já está escurecendo e precisamos levar os frutos para a cozinha, antes que atrasemos o trabalho de Bromélia.
O desdém de Lírio em relação ao que eu via me fez querer estar só, com o intuito de observar melhor o que acontecia. Imaginei que ele pudesse estar ressentido com o beijo não concedido, mas eu estava muito entretida com aquela luz.
Até que Dália, irmã de Lírio, aproximou-se ofegante, enviando-nos um comunicado:
– Bromélia está desesperada na cozinha, aguardando a ajuda de vocês!
– Ai, Lírio...Vá à frente com o que já colhemos e daqui a pouco eu subo com o restante, pois não quero que nada atrase por minha causa!
Empurrei uma cesta contra seu peito, impondo a minha vontade. Dália puxou o braço de Lírio, levando-o embora.
Meu amigo caminhou calado, como se estivesse chateado pela forma que me expressei. Esperei-o manter uma distância maior e deixei a outra cesta no chão para seguir rumo à trilha. As Árvores Gêmeas eram gordas, lindas! Ficavam uma ao lado da outra, apenas com um pequeno espaço entre elas, pelo qual daria para passar caso eu espremesse um pouco o meu corpo. Nesse espaço, eu via uma trilha que nunca tinha visto naquele lugar. Foi então que, vagarosamente, decidi passar entre as Árvores e cheguei ao caminho secreto! Ao olhar para trás (com a intenção de ver se alguém da vila me observava), notei que não havia mais nada que fosse familiar para mim. Após entrar naquele novo caminho, Esplendor havia "desaparecido". Era apenas uma trilha que parecia não ter um começo. Vagarosamente, prossegui a caminhada, curiosa com o que poderia haver mais à frente.
O mantra noturno que as corujas faziam entre as árvores era o único som que podia ser escutado naquele caminho escuro. Não era sombrio, nem o mantra, nem a trilha, apesar de misteriosos. Eu não conseguia ver nada além dos olhos reluzentes das corujas refletidos pela luz da lua entre as árvores da travessia. Na virada do caminho, a luz que me fizera adentrar por ali ingressava em uma passagem coberta de cristais, como uma caverna. Sim! Era o mesmo Portal de meus sonhos! Eu tinha medo; Meu coração palpitava com força, mas a vontade de desvendar o desconhecido era maior!
Aquela luz brilhante me guiou até o outro lado, à outra saída da caverna, diante da qual me deparei com uma floresta: uma bela vista natural com extensa área verde. Aliás, só havia natureza por ali! As montanhas a seu redor pareciam feitas de um veludo verde e macio. As águas dos riachos eram límpidas! As sombras das frondosas árvores equilibravam o calor do sol e estas eram decoradas pela natureza com as mais diversas flores, das mais variadas cores, rodeadas por animais e cachoeiras! Tudo era muito vivo e colorido! Não me restava mais dúvidas: era realmente o lugar mágico que vi em meus sonhos!
Avistei de longe uma aldeia onde só havia mulheres. Elas tinham uma fisionomia forte como se fossem Ninfas da Floresta, com seu arco e flecha, uma pintura mística na face e trajes selvagens!
“Será que estou segura nesse lugar?” – Pensei desconfiada enquanto algumas delas notaram a minha presença. Recuei na tentativa de fugir, mas a mais alta acelerou seus passos. Corri em desespero! Até que a moça me alcançou enquanto outras quatro mulheres me envolveram com os seus braços. Elas me olhavam como se fossem me atacar!
– O que você faz aqui?
Sem fôlego, não tive outra escolha a não ser parar para ouvi-la. Eu estava tão nervosa que as palavras saiam bem baixinhas de minha boca. Ela me cercou ao lado de mais duas mulheres que estavam com um semblante mais fechado.
– Meu nome é Mishra... mas por favor, não me machuquem! Eu tive um sonho com este local, mas não sei exatamente o porquê!
– Terei de leva-la à nossa Mestra.
Tudo o que pensei foi estar em perigo!
As moças me levaram até um Círculo de Pedras, onde uma Sábia Feiticeira conduzia a Tribo das Mulheres.
– Dríade, essa moça estava escondida na entrada de Duna Verde, observando a aldeia.
– Mas eu não tenho más intenções! Eu juro!
Quando a Feiticeira aproximou-se em silêncio, olhou-me profundamente nos olhos. Foi então que reconheci sua face: Ela tinha os traços da “fada” de meus sonhos!”
– Eu tive vários sonhos com você! Sou Mishra! Você me conhece?
– Sim, durante toda noite, peço aos seres mágicos da floresta para enviar sonhos às almas ligadas à Tribo; como um Chamado...
A Feiticeira apresentou-se como a Dríade Anciã da “Tribo das Dríades” e levou-me para o centro do Círculo, feito por grandiosos cristais coloridos. Ela pedira às moças para se ausentarem e abrira um oráculo de pequenas pedras, comentando tudo o que via, sem que eu dissesse uma só palavra sobre mim:
– Mishra, você desconhece seu passado e veio aqui em busca da autodescoberta. Você recebeu um Chamado que somente as Almas da Floresta e os adeptos da Cura pela Magia Interior recebem. Sua alma é da floresta. Isso significa que seu passado está ligado ao poder da natureza.
Dríade levantou-se e pediu que eu a acompanhasse. Adentramo-nos na mata fechada e sentamo-nos na terra coberta por folhas, ao redor de frondosas árvores.
E então, a Feiticeira sussurrou:
– Fique em silêncio.
Com um ar de mistério, observei a beleza da natureza que nos circundava e fui preenchida por uma energia revitalizadora! Depois de algum tempo, percebi alguma presença nos vigiar.
– Sinta a presença das Dríades da Floresta: Elas são Ninfas associadas às árvores!
De súbito, levantei-me assustada! Tive muito medo de ser atacada por aqueles seres estranhos, mas o tom de voz sereno de Dríade começou a me tranquilizar, após segurar o meu braço e pedir que eu me sentasse em calma:
– Assim como as Dríades, existem vários outros Espíritos da Natureza em Duna Verde. Esses seres caminham com a fluidez dos Rios; com a leveza dos ventos; com a ardência e intensidade do fogo; com o silêncio e a firmeza da terra. Isso significa que as Dríades e demais Espíritos da Natureza são seres ESPONTÂNEOS, que expressam e vivenciam a sua NATUREZA INDIVIDUAL com fluidez, pois sabem que aos olhos da Mãe-Natureza, TUDO é o que é, com a sua singular importância e beleza. IMAGINE que exista uma Dríade dentro de você: como ela seria? Como ela gostaria de alimentar a sua alma? Como ela se expressaria se você a libertasse dos padrões de Esplendor que a aprisiona, que a limita de ser quem ela realmente é? Deixe a sua ALMA DRÍADE germinar e florescer em sua vida; Dentro de VOCÊ!
Nesse instante, de minha alma, saíram raízes iluminadas, rompendo alguns bloqueios que me impediam de expressar a minha essência. Tais raízes se aprofundavam no solo, conectando-me à terra, às árvores, aos animais... à minha Dríade interior! E Ela era tão forte... não somente a força física que possuía, mas a força de dentro também.
As Dríades da Floresta formaram um círculo à nossa volta, com um olhar inocente e esperto ao mesmo tempo.
– Escolhemos as Dríades como Arquétipos da Tribo, pois estes Espíritos da natureza são o que são! Eles não tentam ser quem não são e por isso, simbolizam o Eu Verdadeiro. E Aqui, a Intuição é a nossa Mestra e podemos usar o seu poder de acordo com o que a nossa essência deseja manifestar.
– Dríade, eu preciso saber: o que é a Tribo das Dríades e por que eu recebi o seu Chamado?
– Você perdeu a memória e o meu trabalho é te auxiliar na descoberta do seu Eu Verdadeiro, fortalecendo os seus Dons e o seu Ser através do Poder da Natureza e da Magia Interior. A Espiritualidade da Tribo das Dríades é a Bruxaria sem dogmas! Isso significa que não seguimos nenhum dogma e nenhuma religião, embora cada pessoa seja livre para seguir o que quiser, desde que não tente impor nada ao grupo. Eu acredito na Vida, algumas acreditam em Deus, outras na Deusa e etc. Por ser a condutora da Tribo, o que eu posso fazer é SUGERIR uma linha de ideias com o intuito de ajudar o grupo, JAMAIS para impor o que eu acredito, pois procuramos nos despir dos padrões religiosos para criar o nosso próprio modo de acessar o espiritual. Mas não vou mentir: ainda assim haverá um padrão mínimo dentro de nossos rituais, já que as vivências são elaboradas de acordo com o que eu me identifico. Assim, aquelas que também se identificarem serão magnetizadas a fazer parte da Tribo. De qualquer maneira, esse “padrão mínimo” servirá muito mais para abrir do que para restringir nossos ritos e caminhos.
Dríade dera uma pausa em sua fala e retornou com tais palavras:
– Você quer descobrir a sua Verdade?
– Quero!
– Então você precisará seguir algumas instruções:
E enumerou uma a uma, pausadamente:
– Antes de tudo, é preciso QUERER passar pelo processo Iniciático da Floresta para conhecer o seu passado e a si mesma. Ou seja, ninguém vai te obrigar a passar por ele, certo? Para isso, você precisa atravessar os Portais da Magia Interior de Duna Verde. Mas faremos isso com calma pra você assimilar tudo no seu ritmo sem levar um “choque” severo de realidade. Então, vamos lá: Primeiro, quando estiver em Esplendor, chame alguém de sua confiança para perto do Portal que a trouxe até aqui. Segundo, diga-lhe que você precisa viajar por algum tempo em segredo. Terceiro, tal pessoa tentará lhe impedir e, quando ela mostrar quem realmente é, você entrará pelo Portal, SEM HESITAR! Em nenhum momento você deve sair de perto do Portal até que complete todas as instruções. Você pode não entender agora a importância desses três passos, mas amanhã mesmo, você entenderá.
Eu realmente não compreendi o que a Feiticeira disse, mas eu não podia negar a veracidade de suas palavras a respeito de minha busca em relação ao meu passado, quando a Senhora recebeu resposta do Oráculo. Além disso, não sei se seria possível alguém forjar tamanha sabedoria para me enganar, mesmo porque eu havia sonhado com Duna Verde! Assim, questionei:
– Mas se eu optar pela iniciação, quando voltarei para a vila? Depois de concluir todos os ritos da Tribo?
– Você só voltará à Ilha se não quiser mais ficar aqui. Mas não se preocupe: como eu disse, amanhã você terá a sua resposta. Volte amanhã de manhã e me aguarde no Círculo de Pedras!
Finalizamos a breve conversa com uma despedida que me fazia querer ficar. O lugar e as pessoas tinham uma energia transcendental! Inebriante e cheia de mistérios!
Voltei para Esplendor e, durante o percurso, interliguei meus sonhos com o que acabara de acontecer: O Portal, na verdade, não estava localizado além do mar; estava o tempo todo na Ilha, entre as Árvores Gêmeas do jardim! Logo compreendi que eu mesma interpretei errado a mensagem onírica.Retornei pelo Portal e reencontrei o jardim da Vila, entre as Árvores Gêmeas. Peguei a cesta que ainda estava ao chão e colhi mais umas dez frutas para preenche-la. Chegando em Esplendor, a Cerimônia da Prosperidade já havia começado! “Como o tempo em Esplendor é diferente de Duna Verde! Aquela Floresta deve mesmo ser Encantada!” – pensei com entusiasmo. Eu estava inspirada, demasiadamente motivada c
O meu primeiro trabalho individual foi a Regressão para ver o meu passado esquecido. Eu, Dríade e Florência passamos pelas trilhas internas da floresta até chegarmos ao Lago Ametista, o qual era pequeno, envolvido por um muro natural de ametistas a reluzir sua energia de cor violeta nas águas mornas. Florência era uma mulher tão misteriosa que isso despertava ainda mais meu desejo de conhece-la e desvendá-la. Já a Anciã, muito simpática e comunicativa, pediu que eu me despisse, pois o trabalho seria feito na água. Enquanto meu corpo flutuava com as mãos da discípula em minhas costas, Dríade colocara uma de suas mãos em minha testa e a outra
Em várias culturas, a Deusa da Morte é a mesma do (re)nascimento, ou seja, da Vida. A vida tem seus ciclos e a morte é um deles. Já observaram que o movimento abdominal que o corpo faz durante o pranto é o mesmo feito durante o riso? Que o “frio” sentido na barriga diante de um desafio é o mesmo que ocorre quando estamos apaixonados? Que o nosso corpo pode derramar lágrimas tanto em momentos de alegria quanto nos de tristeza? A terra da qual nascem as sementes é a mesma que sepulta os mortos. Tudo tem os seus dois lados! A vida carrega o poder de vitalizar, e portanto, é ela quem retira a vitalidade também. Se olharmos para a morte como uma das faces da vida, ela será vista sem toda a morbidez que lhe atribuímos. Mas isso, eu só descobri mais tarde. Bem mais tarde...
Na manhã seguinte, a Anciã acordara todas as mulheres de meu grupo antes do sol nascer. Pediu que sentássemos à beira do Rio Sereno e observássemos a Mulher Selvagem que viria tocar seu instrumento junto dos primeiros raios solares. Quando esta se aproximou ao topo da montanha, Dríade nos instruiu a observar cada detalhe daquela mulher e tudo o que sua presença nos transmitia.Olhei para ela e logo, uma refrescante sensação expandiu-se dentro de mim: uma sensação de imensurável liberdade! Eu a via como uma Guerreira das Florestas! No dia seguinte, pouco antes do anoitecer, dirigi-me ao Lago Ametista e Florência havia chegado antes de nossa Líder. Meu coração palpitou mais rápido. Ela tinha uma presença tão marcante e sedutora... Vestia-se de maneira que as curvas de seu corpo pudessem ser admiradas. Sua beleza feminina era livre e isso despertava uma sensação inexplicável em mim, algo que eu ainda não compreendia.– Olá, Mishra! – cumprimentou-me Florência – Hoje serei eu quem te guiará na hipnose, pois Dríade tivera alguns imprevistos, tudo bem? A Bebida Mágica já me embriagava. Dancei até as pernas ficarem enfraquecidas. Sentei no tronco e, logo, Florência sentou-se ao meu lado. Ficamos em silêncio, escutando e observando os músicos. A presença da iniciada era tão forte que me fazia interromper minha própria respiração, sem perceber. De repente, ela comentou próximo ao meu ouvido:– É impressão minha ou aquele moço está cantando meio desafinado?Comecei a rir! Nunca imaginei que ela faria tal comentário.– A noite amanhecera com a queda do sol. Nova lua iluminava o céu na proximidade da reunião. O próximo passo de meu grupo era a vivência do Portal “Castelo de Vidro”, que na realidade, não era exatamente de vidro, como o nome sugeria. Seu interior era revestido por diversos espelhos que decoravam a superfície das paredes internas e o teto. O castelo ficava no topo do desfiladeiro. Havia uma trilha bem estreita que nos levava até lá e era preciso muita coragem, pois ao olharmos para baixo, víamos um abismo ao lado de nossos pés. O Portão Capítulo 7: O Beijo Secreto
Capítulo 8: Desejo Flamejante
Capítulo 9: O Poder da Intuição e o Castelo de Vidro
Um pouco antes de uma das vivências, Florência me procurou com um semblante aflito para falar algo importante e secreto.– Mishra, a Mestra descobriu que as garotas foram para a Aldeia do Falo na noite da festa iniciática! Ela está chamando toda a Tribo da Floresta para uma reunião no Círculo de Pedra!– Puxa vida! Que bom que não fomos com elas! Coitadas... Será que o castigo será rigoroso?– Você não está entendendo: o Encontro com o Deus Selvagem será aman