Estupro? O mundo dava voltas.Não consegui segurar uma risada, o que deixou Davi ainda mais irritado:— Kiara, desde quando você ficou tão cruel?— Aprendi com você.Ele ficou tão furioso que perdeu as palavras.Resolvi ser direta:— Olha, no fim das contas, ele cometeu um crime. Eu só fiz o que qualquer cidadão faria. Vocês podem estar juntos nisso, mas não se esqueçam de que ninguém está acima da lei. Se continuar defendendo ele, você também vai acabar mal.Davi ficou em silêncio por um longo tempo. Talvez estivesse tentando se acalmar ou, quem sabe, sentindo o peso da culpa. Quando abriu a boca novamente, trocou de assunto:— Ouvi dizer que você está precisando de dinheiro. O que está acontecendo?— Não é da sua conta.— Quanto você precisa? Eu te dou.— Cento milhões. — Fui prática. — Vai me dar?— Cento milhões? — Ele ficou chocado. — O que você está planejando? Sua empresa está com problemas?— Não.De repente, o assunto perdeu a graça. Mesmo que ele quisesse emprestar, eu não ac
— Quem pediu a sua ajuda? — Soltei uma risada fria, carregada de sarcasmo. — Não precisa tentar se promover. Mesmo que você enfiasse o dinheiro à força na minha mão, eu não aceitaria nem um centavo. Usar o seu dinheiro para resgatar o Bracelete de Jade da minha mãe? Prefiro que ela fique sem ele do que ver algo tão precioso manchado pela sua sujeira.— Kiara, por que você está falando de forma tão cruel? — Davi perguntou, entre a mágoa e a raiva.— Cruel? Minha crueldade não chega nem perto da sua maldade.Joguei essas palavras no ar, cheia de rancor, e desliguei a ligação sem dar chance para ele responder. Eu estava furiosa, caminhando de um lado para o outro, como se fosse explodir. No entanto, conforme a raiva começou a esfriar, um pressentimento ruim tomou conta de mim, crescendo a cada instante.Se Davi sabia disso, era bem provável que Clara também já estivesse a par. E Clara, sendo quem é, com seu hábito de roubar tudo o que eu amo, não demoraria a querer disputar o Bracelete de
Na fachada do prédio, as palavras imponentes “Força Militar, Força Empresarial, Prosperidade ao Povo” estavam gravadas com tamanha precisão e grandeza que um misto de respeito e admiração tomou conta de mim. Sentia uma reverência crescente, quase como se algo maior estivesse me observando.Quando o carro se aproximou da entrada, avistei alguém já me esperando. Reconheci o homem imediatamente. Ele era o mesmo que, da última vez no Condomínio Florensa, havia se aproximado de Jean para avisá-lo que era hora de partir.Estacionei o carro, peguei a pasta que havia trazido e desci.— Srta. Kiara, bom dia. Sou Leonardo, secretário do Sr. Jean. — Ele se apresentou com educação impecável.— Bom dia, Sr. Leonardo. Muito obrigada pela ajuda. — Respondi no mesmo tom, mantendo a formalidade.Leonardo fez um gesto para que eu o seguisse. Entramos no prédio, ele passou seu rosto pelo leitor de identificação e seguimos por um portão controlado até o hall dos elevadores.— Srta. Kiara, o Sr. Jean está
Se eu não tivesse acabado de testemunhar o lado severo e imponente de Jean, jamais associaria aquele homem, que agora exibia um semblante calmo e acolhedor, ao mesmo presidente autoritário de instantes atrás.— Sr. Jean, não precisa ser tão formal. Quem está interrompendo o seu trabalho sou eu. — Respondi automaticamente, voltando a usar um tom respeitoso. Era impossível não perceber o abismo que nos separava.Leonardo entrou no escritório junto comigo e, com uma agilidade impressionante, começou a recolher os documentos espalhados pela mesa, organizando-os com precisão. Em seguida, fez uma leve reverência e saiu, deixando-nos a sós. Fingi não notar nada, mantendo os olhos fixos em Jean.— A Srta. Kiara já finalizou o design do meu traje? — Perguntou ele, quebrando o silêncio e trazendo-me de volta de meus devaneios.Fiquei momentaneamente atordoada. Aquela pergunta simples travou em minha garganta, incapaz de sair.Jean percebeu minha hesitação, mas manteve seu tom paciente e gentil:
Na noite anterior, depois de tomar a decisão, fiquei acordada planejando todos os detalhes. Para demonstrar minha sinceridade, decidi oferecer minha empresa como garantia. No entanto, assim que entreguei os documentos para Jean, ele nem sequer olhou. Com um gesto simples, devolveu-os:— Não precisa disso. Eu te empresto o dinheiro sem garantia, sem contrato e sem necessidade de cartório. Você paga quando puder.Fiquei boquiaberta, os olhos arregalados de pura incredulidade. Depois de alguns segundos, consegui perguntar:— Você confia tanto assim em mim? E se eu… não pagar?Ele sorriu com elegância, um sorriso que trazia um misto de humor e confiança absoluta:— Ainda não conheci alguém que tenha coragem de me dar calote. A Srta. Kiara quer inaugurar essa façanha?Fiquei paralisada, e depois de um instante, a ficha caiu. Como pude esquecer? Ele era Jean! Quem ousaria não pagar uma dívida com ele? Seria o mesmo que assinar uma sentença de exílio em Cidade Saurimo.— Não, não! Eu jamais f
Lembrei-me de algo que Davi tinha comentado alguns dias atrás: ele não tinha cento milhões. Isso me deu uma pontinha de esperança. Se eles realmente não tivessem dinheiro suficiente, minhas chances de vencer esse leilão ainda eram grandes.A sessão começou rapidamente.Essa casa de leilões era uma das mais renomadas do mundo, conhecida por organizar eventos beneficentes que atraíam bilionários de todos os cantos, tanto do país quanto do exterior. Meu olhar vagou pela sala e reconheci algumas faces familiares empresários influentes de Cidade Saurimo.As peças que abriram o evento já eram impressionantes: pinturas raras, porcelanas antigas… O item mais barato foi arrematado por uma quantia superior a alguns milhões. Os lances fluíam como água. Para a maioria ali, gastar pequenas fortunas parecia tão simples quanto comprar um café.Enquanto observava a cena, senti uma pontada de preocupação. E se o preço do Bracelete de Jade disparasse? Será que conseguiria competir?Davi e Clara estavam
Depois de ouvir a apresentação do leiloeiro, tive ainda mais certeza: aquele era o Bracelete de Jade da minha mãe. A peça tinha saído da cena de antiguidades de Cidade Saurimo e, no início, fora subestimada em seu valor. Só quando caiu nas mãos de um especialista foi devidamente reconhecida, o que a trouxe até este leilão.— Este bracelete começa com um lance inicial de vinte milhões. — Anunciou o leiloeiro.Assim que ele terminou de falar, um participante levantou a placa:— Vinte e cinco milhões.— Trinta milhões.— Trinta e dois milhões.Eu estava calma, observando de longe. Sabia que o momento certo para agir ainda não tinha chegado.Mas, para minha surpresa, Clara ergueu a placa de repente:— Cinquenta milhões!O salão ficou em alvoroço por um instante. Alguns olhares curiosos se voltaram para ela e Davi. Meu coração disparou. Estava claro que a vadia tinha decidido jogar pesado.— Cinquenta milhões pela primeira vez, pela segunda, pela… — O leiloeiro continuava.Mas antes que el
Eu usei todas as minhas forças para segurar as lágrimas. Não podia deixar que elas caíssem. A dor mais profunda vem sempre de quem já foi o mais amado. O desespero e o ódio tomaram conta do meu peito, e minhas mãos tremiam de raiva.Depois de alguns segundos, soltei um suspiro, resignada. Virei-me para Davi e perguntei com um sorriso calmo:— Se eu aumentar o lance, você vai continuar me superando, não vai?Os olhos dele brilharam com algo que parecia dor, e, em um tom baixo, ele murmurou:— Kiara, para com isso.Ignorei completamente. Continuei olhando para ele, com um sorriso nos lábios, e levantei minha placa:— Cento e cinquenta milhões!Se fosse para ser ridicularizada, que fosse em grande estilo. Se eu precisasse vender minha empresa, pagar multas exorbitantes e acabar na miséria para recomeçar do zero, tudo bem. Mas, e se eu ganhasse? Não seria a melhor forma de fazê-lo sangrar financeiramente e sentir um pouco da dor que ele me causou?— Kiara! — Davi finalmente perdeu a calma