Jean segurou meu celular e o levou até o ouvido. Sua voz, fria e austera, carregava um tom de autoridade que parecia inabalável. Ele transmitia uma calma imponente, mas ao mesmo tempo, uma ameaça implícita.Eu não sabia o que Davi estava dizendo do outro lado, mas Jean respondeu diretamente: — Essas coisas você deveria discutir com o meu advogado. E, por favor, não incomode mais a minha namorada. Estamos no mesmo círculo, então me dê um pouco de respeito, e eu te deixo em paz. Mas, se você quiser levar isso ao extremo, eu não hesitarei em retribuir na mesma moeda.Meu coração deu um salto, e eu levantei os olhos para Jean, surpresa. Era a primeira vez que eu o ouvia fazer uma ameaça tão clara e sem rodeios. Pelo visto, o que Tânia fez hoje à noite realmente o tinha tirado do sério.Enquanto eu ainda estava atônita, Jean me devolveu o celular.— Você sempre tenta me afastar dessas situações, mas veja, o que tem que acontecer não pode ser evitado. — Ele disse, olhando diretamente para
A futura geração das famílias Auth e Castro apareceu ao mesmo tempo, atraindo a atenção de todos na delegacia. O chefe da polícia desceu com um grupo de oficiais para recebê-los.Jean e eu fomos primeiro prestar depoimento e colaborar com a polícia no registro do caso.Assim que saímos da sala, o advogado de Jean se aproximou com um semblante respeitoso e perguntou:— Sr. Jean, a família Castro sugeriu que o senhor estabeleça o valor da indenização que julgar necessário, desde que o caso não seja levado adiante. O que o senhor acha?Jean franziu levemente as sobrancelhas e respondeu com desdém:— Eu pareço alguém que precisa de dinheiro?O advogado ficou atordoado com a resposta. Por alguns segundos, ele não soube como reagir e, com o rosto visivelmente constrangido, apressou-se em dizer:— Entendido. Deixe o restante comigo.Ele se virou rapidamente e foi continuar as negociações.Pouco depois, o chefe da delegacia se aproximou novamente, convidando Jean para ir até o escritório tomar
Eu fiquei parada ali, olhando para a silhueta alta e imponente de Jean. Apesar de estarmos a poucos metros de distância, parecia haver entre nós um abismo intransponível. Eu entendi, naquele instante, que Tânia havia tomado a decisão certa, ao menos para os seus objetivos.Embora ela não tivesse me causado nenhum dano físico, conseguiu plantar uma semente de desconfiança na família Auth. Talvez, no fundo, a Sra. Auth já tivesse me rotulado como alguém que trouxe problemas e má sorte para quem estava ao meu redor.Jean terminou a ligação e voltou, chamando-me para entrar no carro. Eu continuei parada e disse:— Pode ir para casa. Aqui é fácil pegar um táxi, não precisa me levar.Eu não queria incomodá-lo, forçando-o a me deixar em casa e, depois, fazer o trajeto de volta. Isso só atrasaria ainda mais seu retorno, e provavelmente a Sra. Auth estaria esperando ansiosa por ele.Jean franziu levemente a testa e respondeu:— Não tem pressa, eu te levo primeiro.— Não precisa de verdade. — In
Eu rapidamente entendi a situação e sorri, respondendo:— Certo, amanhã cedo você vem me buscar.Quando eu disse isso, a expressão de Jean finalmente se suavizou.— Volte para o carro. Você está vestindo pouca roupa. — Eu o lembrei.Apesar do sobretudo que Emilia tinha comprado, ele estava apenas com duas peças leves. O frio na calçada, com o vento cortante e a temperatura próxima de zero, era intenso.Eu o empurrei para que se virasse, e, nesse momento, avistei um táxi passando. Levantei a mão para chamá-lo.— Volte logo para o carro, eu também já estou indo. — Disse, empurrando Jean até a porta do carro dele antes de caminhar rapidamente em direção ao táxi que encostava na calçada.— Me avise quando chegar em casa. — Ele disse atrás de mim.— Pode deixar! Agora entra logo no carro, não fique no frio. — Respondi antes de entrar no táxi.Esperei até que o carro de Jean passasse por nós, acelerando pela rua, e só então soltei um suspiro. Encostei as costas no banco do táxi, sentindo os
Eu fiquei olhando fixamente para ele. Na luz da manhã, alguns raios dourados atravessavam a janela, repousando suavemente sobre suas sobrancelhas e olhos, realçando ainda mais o brilho cintilante em seu olhar, o que fazia meu coração acelerar.Ele tinha um leve sorriso nos lábios, e os contornos de seu rosto pareciam ainda mais marcantes e atraentes. Sua mandíbula firme e o pomo de adão proeminente exalavam uma sensualidade irresistível. Cada detalhe dele era uma tentação que parecia impossível de resistir.Meu peito ficou quente, tomado por uma mistura de emoção e inquietação. Sem pensar, deixei escapar:— E se o Mestre Auth não gostar de mim e for contra o nosso relacionamento? O que você vai fazer?Nos últimos dias, vários pequenos sinais me fizeram acreditar que o Mestre Auth poderia ser um obstáculo entre nós. Passei a noite anterior pensando nisso, mas não consegui encontrar uma solução.Jean sorriu novamente, como se não se importasse nem um pouco, e me devolveu a pergunta:— E
Eu sorri educadamente enquanto me aproximava e disse:— Como vai, Sra. Auth? Tenho estado muito ocupada ultimamente. Final de ano sempre traz muitas coisas para resolver, e acabei me atrasando.Antes que eu terminasse de falar, a expressão de Sra. Auth mudou levemente, e ela comentou:— Ainda me chama de senhora? Que formalidade é essa?Fiquei parada, surpresa, e instintivamente olhei para Jean. Ele deu alguns passos rápidos até mim, segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos, dizendo com naturalidade:— Chame de tia.Aquele gesto, combinado com o novo título, deixava clara a mudança na nossa relação. E a atitude de Sra. Auth mostrava que ela tinha aceitado. Meu coração disparou, inquieto, enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo.Se era assim, então por que, na noite anterior, mesmo sabendo que eu estava com Jean e Amélia, Sra. Auth não mencionou nada sobre mim? Pelo que conhecia dela, antes, ela teria pedido para Jean me passar o celular, nem que fosse para perguntar a
O olhar de surpresa de Sra. Auth foi evidente enquanto ela dizia:— Se seu avô já se manifestou assim, então não há o que discutir.Quando o nome do Mestre Auth foi mencionado, eu aproveitei para trocar um olhar com Jean, dando-lhe um sinal. Ele entendeu de imediato e se levantou, dizendo:— Mãe, vou levar a Kiara para ver o vovô. Voltamos para o almoço.— Certo, podem ir. — Respondeu ela, com um aceno.Amélia, sempre animada, saltou do sofá, querendo nos acompanhar. Mas Sra. Auth a interrompeu com um tom firme:— Você não foi lá hoje de manhã? Não precisa ficar indo e vindo o dia todo. Quando é que vai aprender a ser mais tranquila?Amélia fez um biquinho, claramente contrariada, mas acabou voltando a se sentar, resignada.Jean tentou pegar minha mão, mas eu franzi a testa e o olhei, indicando para ele evitar aquilo na frente de sua mãe.Assim que saímos do casarão, ele estendeu a mão novamente e segurou a minha, dizendo em um tom baixo:— Por que está fugindo? É só segurar sua mão, n
Eu troquei um olhar com Jean, e ele apertou minha mão com mais força, como se tivesse medo de que eu fugisse. Seguimos juntos até a beira do riacho.— Vovô, trouxe minha namorada para conhecer o senhor. — Disse Jean, com a voz baixa e um tom calmo, acompanhado de um sorriso discreto.Mestre Auth, ao ouvir a voz do neto, endireitou-se no banco. Ele desviou o olhar do livro e nos encarou. Apesar dos cabelos totalmente brancos, ele parecia estar com a saúde em dia, e seus olhos carregavam um brilho penetrante. A postura e o peso da experiência acumulada ao longo dos anos emanavam uma autoridade natural, capaz de inspirar respeito imediato.— Como vai, vovô? Eu sou Kiara. — Cumprimentei com educação.Mestre Auth sorriu levemente e disse:— Kiara, realmente é uma garota muito bonita.Eu rapidamente respondi, tentando ser modesta:— O senhor é muito gentil, vovô. Não é bem assim.— Não precisa ser tão modesta. Há mais de dez anos, quando eu estava com meu regimento em Dondo, já tinha ouvido