Eu dei um passo para trás e me encostei sob a sombra de uma árvore. Mais uma vez, olhei o relógio no pulso e anunciei:— Faltam cinco minutos.Assim que terminei de falar, Isabela hesitou por um momento. Depois, ela deu alguns passos até Carlos, se abaixou ao lado dele e, com a voz baixa, perguntou:— E agora? O que a gente faz? Eu realmente não tenho dinheiro para pagar o seu tratamento. Essa desgraçada...Carlos cerrou os dentes, com o punho fechado, e começou a socar o chão como uma forma de aliviar a frustração:— Eu nunca deveria ter deixado essa ingrata crescer! Essa cobra!— Para de reclamar e pensa em alguma coisa... Vamos mesmo ter que ajoelhar? — Isabela perguntou com os olhos vermelhos, quase chorando. Então, ela olhou para os túmulos da minha mãe e do meu avô, com um olhar de ódio que não conseguia esconder.Carlos continuava em silêncio. Sua mão, que agora segurava um punhado de grama seca do chão, tremia visivelmente enquanto ele lutava contra o orgulho que o consumia.Eu
— O quê? — Perguntei, mesmo tendo escutado claramente. Eu estava um pouco distante, mas fingi que não tinha ouvido.Carlos virou o rosto na minha direção, os olhos cheios de raiva:— Kiara, já chega!— Motorista, vamos embora! — Falei novamente, acenando para o motorista.— Está bem! Nós concordamos! Kiara, eu e seu pai vamos nos ajoelhar e pedir desculpas. Isso serve para você? — Gritou Isabela, sem um pingo do orgulho que costumava ter.Eu suspirei e me virei para encará-los:— Se vocês tivessem entendido isso antes, já estaríamos voltando para a cidade.Caminhei de volta até eles e tirei o celular do bolso:— Já que concordaram, comecem.Cheguei perto das lápides e olhei para as fotos da minha mãe e do meu avô. Meu coração ficou pesado.“Mãe, vovô... Carlos e a esposa dele vieram pedir desculpas. A culpa é minha por ter demorado tantos anos para fazer isso acontecer. Espero que vocês, onde quer que estejam, fiquem um pouco mais felizes agora.”Liguei a câmera do celular e apontei pa
Carlos ficou em silêncio.Isabela, ao menos, tinha um pouco de bom senso. Então, os dois voltaram a se ajoelhar juntos. Quando o tempo acabou, Carlos já estava à beira do colapso, e Isabela, mesmo tentando ajudá-lo, não conseguia levantá-lo. Irritada, ela gritou para Tiago:— Levanta seu pai agora e leva ele nas costas até o hospital!Tiago estendeu a mão imediatamente:— Quanto você vai me pagar?Eu não consegui segurar o riso e acabei rindo alto. Esse filho era praticamente um inimigo do Carlos.— Tiago, seu desgraçado! Moleque sem coração! Ele é seu pai! Está doente e você ainda tem coragem de pedir dinheiro para ajudar? Por que você não morre logo? — Isabela estava furiosa e começou a despejar uma série de xingamentos no próprio filho.Eu já não tinha mais paciência para assistir àquela cena patética. Virei-me e comecei a descer a colina, enquanto enviava o vídeo que gravei para minha avó e para a tia Júlia. Quando cheguei ao carro, o celular tocou. Era tia Júlia.— Kiara, o Carlos
O gerente havia acabado de sair quando voltou acompanhado de um garçom trazendo os pratos. Eu fiquei surpresa com a rapidez.Jean percebeu minha expressão e explicou:— Você ainda não tinha comido nada até agora, devia estar morrendo de fome. Assim que te liguei, pedi para a cozinha começar a preparar os pratos.— Obrigada. — Respondi, sentindo uma leve emoção. Ele continuava tão atencioso.Esse era o Jean que eu conhecia. O episódio de ontem sem contato parecia realmente ter sido um mal-entendido.— Sr. Jean, os pratos estão servidos. — O gerente inclinou levemente a cabeça, com um tom respeitoso. — Desejo uma boa refeição aos senhores.— Obrigado. Se eu não chamar, não interrompam. — Jean fez um leve gesto com a mão, dispensando-os.Assim que a porta foi fechada, restamos apenas eu e ele no ambiente silencioso. Depois da “discussão” de ontem, o reencontro trazia um leve constrangimento no ar.Eu olhei para ele, hesitando em dizer algo. Ele também me encarou por um segundo, mas, em se
— Mas, depois que começamos a namorar, você continuou sendo tão passiva, até mesmo resistente. Eu sugeri que você se mudasse para a minha casa, mas você recusou. Quis te dar um carro, e, no começo, você não aceitou, só ficou com ele porque fui insistente. E, além disso, todas as suas questões, seja com sua família ou com a família Castro, você nunca me deixa participar. Você decide o que vai fazer e nem pensa em me avisar. — Jean fez uma pausa, me olhando fixamente. — O que você acha que eu devo pensar sobre isso?Até poucos segundos atrás, eu estava relativamente tranquila, mas, ao ouvir cada uma dessas reclamações sendo listadas, comecei a me sentir culpada.— Jean, é que eu fico com receio…Ele levantou a mão, me interrompendo:— Não precisa se apressar para se explicar. Eu sei o que você vai dizer. Que não quer me incomodar, que não quer me envolver nos seus problemas. Mas, Kiara, antes mesmo de começarmos a namorar, eu já sabia como era a sua vida. Se eu tivesse medo disso, por qu
Ele me encarou, com uma expressão que misturava descrença e cansaço:— Eu falei tudo isso e você ainda não entendeu o que eu quis dizer?Uma luz se acendeu na minha cabeça, e, de repente, compreendi. O que ele queria dizer era que, no futuro, ele não queria que eu continuasse separando tudo tão rigidamente entre "meus problemas" e "nossos problemas". Ele queria fazer parte da minha vida, me ajudar a lidar com as dificuldades.Ao perceber meu momento de hesitação, Jean abaixou o olhar, um pouco frustrado.— Pelo visto... eu ainda não consigo te satisfazer.— Não, não é isso! — Neguei imediatamente, sentindo-me ainda mais culpada.Com tudo o que Jean fazia por mim, eu realmente deveria ser mais aberta e honesta com ele, sem esconder nada. Mas a verdade era que minha vida estava cheia de problemas complicados e bagunçados demais.— De agora em diante, qualquer coisa que acontecer, eu vou te contar. Mas tem coisas que realmente não são apropriadas para você interferir. Se eu não conseguir
Quem mandou eu estar errada, não é? Depois de alguns segundos de tensão, decidi provocá-lo:— Mestre Jean?Quando terminei de dizer essas palavras, ele me lançou um olhar frio e de lado.— Não adianta falar assim.— Então o que vai adiantar? — Perguntei, com uma sinceridade quase infantil.Mas ele fechou os lábios novamente, e, mesmo calado, seu jeito de manter aquela boca ligeiramente curvada parecia irresistivelmente sedutor.Eu balancei a mão que ele havia deixado apoiada na mesa, tentando chamar sua atenção. Ele, irritado, virou o rosto para o outro lado e tirou a mão de cima da mesa.Dei uma risadinha, exasperada:— Você realmente está agindo como uma criança agora?Olhando para o jeito emburrado dele, tive uma ideia. Peguei o celular e abri a câmera, apontando diretamente para ele.— O que você está fazendo? — Ele perguntou, desconfiado.— Gravando o Mestre Jean bravo. É tão raro que eu preciso guardar como recordação. — Respondi, rindo, enquanto realmente começava a gravar.Eu s
Assim que falei, percebi que minha voz estava um pouco rouca, o que me deixou ainda mais constrangida. Ele, claro, riu, completamente diferente de como estava irritado há poucos minutos.— Não me olha com esse olhar, parecendo uma gatinha inocente e fofa. Senão daqui a pouco eu não vou conseguir me segurar de novo. — Ele disse, me encarando, e suas palavras me fizeram sentir como se estivesse em chamas.Eu imediatamente lhe lancei um olhar mortal, mas isso só fez com que ele risse ainda mais. Ainda sentada em seu colo, perguntei, sem muita paciência:— Agora já não está bravo?— Ainda um pouco. Mas, se você me der mais um beijo, prometo que fico completamente calmo.Fiz um sorriso frio de propósito:— Então é melhor continuar bravo.Tentei me levantar, mas ele segurou firme minha cintura com as duas mãos, me impedindo de sair. A temperatura no ambiente estava agradável, e nós dois já havíamos tirado os casacos assim que entramos.Eu estava usando uma blusa de lã ajustada ao corpo, que