No final das contas, minha avó e tia Júlia estavam certas. A culpa foi minha por insistir tanto no amor e não ouvir os conselhos delas.Rapidamente, ajustei minhas emoções, respirei fundo e me levantei para ir à empresa trabalhar no final de semana. Homens são apenas um tempero na vida. De jeito nenhum eu poderia deixar que eles atrapalhassem meu foco em ganhar dinheiro e crescer na carreira.Depois de me dar essa dose de autoajuda mental, meu humor melhorou bastante. Mas, para minha surpresa, no meio do caminho recebi uma ligação de Isabela.— Kiara, eu não aguento mais. Se você não me der o dinheiro, assim que eu pegar o seu pai, vou levá-lo direto pra sua casa. Eu e o Davi já descobrimos em qual andar você mora, e vou largar ele na sua porta sem pensar duas vezes.Isabela estava cada vez mais abusada. Agora queria simplesmente jogar o Carlos para cima de mim. Eu ri com desdém:— Então eu posso me mudar agora mesmo. Vamos ver quem age mais rápido. Se você largar ele lá fora e ele mor
Isabela imediatamente calou a boca, com uma expressão péssima no rosto.Tiago, já impaciente, reclamou:— Tá frio pra caramba! Sério que vocês precisam conversar na calçada? Vamos logo, entra no carro e continua falando lá dentro.Sem esperar resposta, ele se aproximou do meu carro e tentou abrir a porta. Mas não conseguiu.— Kiara, abre a porta aí! — Ele me olhou, sem nem ao menos me chamar de "mana".Eu sorri, com uma calma provocativa:— Sem pressa. Espera mais um pouco.Tiago ficou confuso, olhando para os pais como se buscasse alguma explicação.Foi então que Carlos finalmente abriu a boca. Suas primeiras palavras desde que me viu foram carregadas de rancor:— Kiara, você veio aqui só pra me humilhar, não foi?Fui direta:— Um pouco, sim. Queria ver como você está acabado. Assim, posso contar pra minha mãe. Tenho certeza de que ela vai gostar de saber.Carlos ficou roxo de raiva. Sua voz saiu ríspida:— Vamos embora! Não precisamos dela. Pegamos outro carro e vamos por conta própr
Eu estava prestes a me desculpar, mas antes que conseguisse dizer algo, Jean me interrompeu:— Kiara, você ainda não aprendeu que deveria me avisar antes de tomar qualquer decisão? A gente tinha combinado que eu te buscaria esse final de semana para irmos ao Condomínio Florensa.Respirei fundo, tentando manter a calma, e expliquei:— Ontem à noite, eu te liguei, mas você não atendeu. Hoje de manhã, mandei uma mensagem no Line e, mesmo assim, você não respondeu…— Me desculpa. Eu bebi demais ontem à noite, só acordei agora, e assim que vi sua mensagem, te liguei.Minha boca se fechou. Por um momento, fiquei sem saber o que dizer. Então, era isso: ele tinha bebido demais. Agora fazia sentido a voz dele estar tão rouca e sonolenta.O som do “bip” do aplicativo do motorista ecoou enquanto o carro mudava de pista. Era melhor eu encurtar a conversa.— Mas hoje eu realmente não vou conseguir ir. Se você achar necessário, podemos deixar para amanhã.Liguei o motor do carro e segui na mesma rot
— Por que ir para…Isabela nem terminou a frase. Pelo barulho, parecia que alguém tinha arrancado o celular da mão dela. Logo depois, ouvi a voz de Carlos, furioso:— Kiara! Você tá tão ansiosa pra me ver morto que já quer me levar pra escolher meu túmulo? Pois fique sabendo, minha vida é dura como pedra!Eu ri de leve:— Calma, Carlos. Quando chegarmos, você vai descobrir se sua vida é tão dura assim.Por dentro, eu só torcia para que ele fosse mesmo resistente, porque, caso contrário, esse joguinho de vingança ia perder toda a graça. Desliguei o celular e comecei a rir sozinha. Como eles podiam ser tão ingênuos? Achavam mesmo que eu estava levando Carlos para escolher um túmulo?Que piada! Um pai tão cruel e sem coração como ele não merecia nada. Se morresse, as cinzas dele nem deveriam ser jogadas no mar, porque até isso seria um desrespeito com os peixes e a água. E ainda tinham a audácia de imaginar que eu gastaria dinheiro para comprar um túmulo pra ele?Meia hora depois, os dois
— Você... você é simplesmente um...! — Isabela ficou tão furiosa que perdeu o fôlego e, ainda mais irritada, deu dois chutes no próprio filho.Tiago caiu no chão com a força dos golpes, mas rapidamente se levantou. Dessa vez, ele não teve mais paciência com o próprio pai. Sem cerimônias, ele pegou Carlos à força e o jogou nas costas, enquanto Carlos o xingava sem parar, tremendo de raiva.Eu me segurei para não rir, vendo aquela cena absurda. Assim que Tiago conseguiu carregar Carlos, virei-me e comecei a subir o caminho, guiando-os até o destino. A distância até o topo não era grande, talvez uns cem metros.Mas, no trajeto, pai e filho brigaram sem parar. Mesmo assim, Tiago, com toda a sua teimosia, conseguiu arrastar Carlos até lá em cima.— É aqui. O túmulo da minha mãe e do meu avô.Eu me coloquei diante das duas lápides e indiquei para Tiago:— Pode colocar ele no chão.Tiago, ofegante, largou o pai no chão como se fosse um saco de batatas. Depois, tirou o celular do bolso e o est
Isabela ouviu minhas palavras e sua expressão mudou de forma tão intensa que o rosto inteiro começou a tremer.— Kiara! Você está passando dos limites! Seu pai já está nesse estado, como espera que ele se ajoelhe e bata a cabeça no chão? Você quer matá-lo!— Então faça isso por ele. — Respondi com indiferença. — Ajoelhem-se juntos. Nesse caso, podem ficar só quinze minutos.Carlos, tremendo de raiva, levantou a mão para me apontar. Ele tentou dizer algo, mas estava tão furioso que não conseguiu emitir uma palavra.— Cobra... coração de cobra... mulher mais venenosa que o próprio veneno. — Gaguejou ele, com dificuldade, depois de um longo momento.Meu rosto permaneceu impassível, mas, por dentro, o ódio borbulhava. Respondi com frieza:— Eu posso ser venenosa, mas nunca serei pior do que você foi. Se não fosse por você roubar o negócio dos meus avós, teria conseguido aquele sucesso que tanto se gabava? Você viu na minha mãe uma oportunidade, usou palavras doces para conquistá-la, mas nu
Eu dei um passo para trás e me encostei sob a sombra de uma árvore. Mais uma vez, olhei o relógio no pulso e anunciei:— Faltam cinco minutos.Assim que terminei de falar, Isabela hesitou por um momento. Depois, ela deu alguns passos até Carlos, se abaixou ao lado dele e, com a voz baixa, perguntou:— E agora? O que a gente faz? Eu realmente não tenho dinheiro para pagar o seu tratamento. Essa desgraçada...Carlos cerrou os dentes, com o punho fechado, e começou a socar o chão como uma forma de aliviar a frustração:— Eu nunca deveria ter deixado essa ingrata crescer! Essa cobra!— Para de reclamar e pensa em alguma coisa... Vamos mesmo ter que ajoelhar? — Isabela perguntou com os olhos vermelhos, quase chorando. Então, ela olhou para os túmulos da minha mãe e do meu avô, com um olhar de ódio que não conseguia esconder.Carlos continuava em silêncio. Sua mão, que agora segurava um punhado de grama seca do chão, tremia visivelmente enquanto ele lutava contra o orgulho que o consumia.Eu
— O quê? — Perguntei, mesmo tendo escutado claramente. Eu estava um pouco distante, mas fingi que não tinha ouvido.Carlos virou o rosto na minha direção, os olhos cheios de raiva:— Kiara, já chega!— Motorista, vamos embora! — Falei novamente, acenando para o motorista.— Está bem! Nós concordamos! Kiara, eu e seu pai vamos nos ajoelhar e pedir desculpas. Isso serve para você? — Gritou Isabela, sem um pingo do orgulho que costumava ter.Eu suspirei e me virei para encará-los:— Se vocês tivessem entendido isso antes, já estaríamos voltando para a cidade.Caminhei de volta até eles e tirei o celular do bolso:— Já que concordaram, comecem.Cheguei perto das lápides e olhei para as fotos da minha mãe e do meu avô. Meu coração ficou pesado.“Mãe, vovô... Carlos e a esposa dele vieram pedir desculpas. A culpa é minha por ter demorado tantos anos para fazer isso acontecer. Espero que vocês, onde quer que estejam, fiquem um pouco mais felizes agora.”Liguei a câmera do celular e apontei pa