Eu fiquei sem palavras. Ainda bem que ele não fez isso, porque, se tivesse feito, eu nunca mais teria cara para encarar Lucas na empresa. A menos que eu trocasse de gerente imediatamente.Pensando nisso, murmurei arrependida:— Se eu soubesse, nem teria te contado. Você não ia me encontrar por acaso, e nem sequer saberia...— O que você disse?— Eu disse que finalmente descobri um defeito seu: ciumento e infantil! — Virei-me para ele, articulando cada palavra de propósito, só para provocá-lo.Mas, em vez de se irritar, ele riu e respondeu com naturalidade:— Tenho muitos defeitos. Com o tempo, você vai descobrindo todos.— Então, por que você não me conta logo? Assim, eu evito te irritar.— Prefiro não.Nossos comentários eram tão infantis que, no final, nem nós mesmos conseguimos levar a conversa a sério.— Chega disso. Vou te levar para casa. Amanhã de manhã, vamos direto ver o carro, e depois te deixo no trabalho. — Jean mudou de assunto, enquanto já organizava minha agenda do dia s
— Não precisa se apressar com a transferência da casa. Vamos falar sobre a situação da Tânia. Você disse no tribunal que, se ela te pedisse desculpas, aceitaria um acordo extrajudicial. Isso ainda vale? — Davi perguntou, direto.Eu franzi as sobrancelhas e o encarei:— Você está nesse estado, saindo no frio dessa noite, só para perguntar isso?— E por que não? Você bloqueou meu número e, mesmo depois de trocar o seu, continua ignorando minhas ligações. — Ele rebateu, com um tom de leve acusação e sarcasmo. — Parece até que atender minhas chamadas é uma sentença de morte para você.Fiquei surpresa. Agora que ele mencionou, lembrei que, de fato, tinha recebido duas ligações de números desconhecidos durante o dia e as rejeitei automaticamente.— Ainda vale? — Ele repetiu a pergunta, insistente.Eu respirei fundo. Para ser sincera, não queria que valesse. A atitude de Tânia no tribunal tinha me irritado profundamente.Mas, com Carlos prestes a sair da prisão e sem saber que tipo de problem
Eu ainda estava na concessionária quando o celular tocou. Era Tatiana.— Kiara, a Sra. Isabela está aqui procurando por você.Respondi, sem me abalar:— Não se preocupe com ela. Diga que eu tenho compromissos hoje, não vou voltar para a empresa, e peça para ela ir embora.— Mas ela se recusa a sair. Está sentada no seu escritório. Posso pedir para os seguranças tirarem ela de lá?— Não precisa, deixe ela sentada lá.Sabia que, se Isabela causasse confusão, até os seguranças poderiam não dar conta da situação, e isso acabaria prejudicando a operação normal da empresa.— Tudo bem... — Tatiana suspirou e desligou.Não dei muita importância ao assunto. Isabela só sabia aparecer para pedir dinheiro, nada mais. E eu estava decidida: não daria um centavo. Se cedesse uma vez, seria um ciclo sem fim.Guardei o celular no bolso e me virei para voltar ao salão de exibição. Mas, ao levantar o olhar, dei de cara com uma figura familiar. Não, mais do que familiar: uma inimiga.Emilia vinha andando,
No segundo seguinte, porém, o olhar da Sra. Serra se voltou para mim. Com uma expressão nada amigável, ela disse:— Essa Srta. Kiara é amiga do Mestre Jean? Uma garota dessas, de família tão insignificante e sem muita educação, está a anos-luz da família Auth. Mestre Auth sempre foi conhecido por…— Sra. Serra, Kiara é minha namorada. E, como ela não tem nenhum vínculo com a senhora, não cabe a você dar lições a ela. — Jean interrompeu, mantendo o tom calmo, mas com firmeza suficiente para cortar as palavras dela.Levantei as sobrancelhas, surpresa. Nunca imaginei que ele seria tão direto, chegando a interromper uma pessoa mais velha.O rosto da Sra. Serra ficou imediatamente sombrio.— Jean, minha mãe só está tentando ajudar. Você viu o quão arrogante Kiara é? Ela chutou minha perna e me deixou com um hematoma! — Emilia tentou defender a mãe, levantando a saia para mostrar o machucado na perna.Eu estava prestes a explicar, mas Jean foi mais rápido:— Kiara não machucaria alguém sem m
Jean manteve a expressão tranquila, sem demonstrar nenhum constrangimento, e explicou:— Ela não tem nada a ver comigo. É o avô dela que tem uma relação com o meu avô.Vendo minha expressão de dúvida, Jean continuou explicando:— O Mestre Serra foi subordinado do meu avô. Ele sempre teve a admiração do meu avô, que o apoiou ao longo da carreira, até que ele se tornou comandante de um distrito militar. Você lembra que eu te falei sobre meu irmão mais velho? Ele é órfão de um colega do meu pai e passou a vida no exército. Nos últimos anos, ele serviu sob o comando do Mestre Serra e recebeu muito apoio dele. Mas, claro, meu irmão é realmente talentoso. Ele já recebeu duas condecorações militares e quase perdeu a vida em serviço. Há dois meses, o Mestre Serra se aposentou e, desde então, ele visita meu avô com frequência. Eles jogam golfe juntos e relembram os velhos tempos de glória.Ouvi atentamente tudo o que Jean dizia. Era a segunda vez que ele mencionava as realizações de seu irmão,
Eu não terminei a frase, mas Jean certamente entendeu o que eu quis dizer.— Isso não vai acontecer. Toda a família já sabe que eu tenho namorada. — Jean respondeu com calma.Eu sorri levemente e retruquei:— Só namorada?Lembrei-me do que Emilia havia dito: que até casamentos podem terminar, quanto mais um namoro. Ela também mencionou que Mestre Auth nunca aceitaria nosso relacionamento. Não sabia se ela estava apenas tentando me desestabilizar ou se realmente sabia de algo.Jean, percebendo o tom da minha provocação, respondeu com seriedade:— Eu já disse que nunca trato sentimentos como brincadeira.Depois de falar, ele me olhou com um olhar ainda mais profundo. Após hesitar por um momento, acrescentou:— Na verdade, se você quiser, podemos nos casar agora mesmo.— O quê?Fiquei completamente atônita, encarando-o sem acreditar no que acabara de ouvir. Depois de alguns segundos, balancei as mãos, soltando um riso nervoso:— Não diga essas coisas de forma tão casual. Casamento é algo
Eu já havia consultado meu advogado sobre o assunto e sabia o que esperar, mas, ao ouvir o que Isabela acabara de dizer, fiquei levemente surpresa. “Como assim? Ele vai sair tão rápido?” A eficiência do processo parecia absurda.Percebendo minha expressão de dúvida, Isabela se apressou em explicar:— Se ele não sair logo, vai acabar morrendo lá dentro!Decidi acompanhar o tom dela e respondi:— Então, se ele está tão doente, interná-lo em um hospital seria apenas um desperdício de recursos médicos. Além disso, ele só vai prolongar o próprio sofrimento.— Kiara, você não tem coração! — Isabela elevou a voz, indignada. — Ele é seu pai! Se não fosse por ele, você nem estaria viva!— Se eu pudesse escolher, preferia nem ter nascido a ter um pai tão desprezível quanto ele! — Retruquei sem hesitar.Isabela ficou tão irritada que começou a tremer. Seus lábios se moviam, mas parecia incapaz de formar palavras. Seus olhos ficaram vermelhos, ameaçando chorar.A raiva que eu havia guardado por ta
Depois disso, Tânia se curvou diante da câmera. Apesar de parecer claramente contrariada, seu rosto mostrava um misto de arrependimento e desconforto enquanto dizia: — Kiara, me desculpe. Eu peço o seu perdão. Assim que o vídeo foi divulgado, vários amigos começaram a me enviar, parabenizando-me e comentando como finalmente eu tinha conseguido “desmoralizar a família Castro”. Minha reação, no entanto, foi bastante tranquila. Para mim, o pedido de desculpas não fazia tanta diferença na prática. Era apenas uma questão de orgulho. Por outro lado, o fato de Tânia ter chegado a esse ponto, mesmo contra sua vontade, demonstrava muito esforço e coragem. Isso me surpreendeu e, de certa forma, me deu uma sensação de alívio. Logo depois, recebi uma ligação de Davi. — Tânia já pediu desculpas. Quando você vai emitir a carta de perdão? — Vou entrar em contato com meu advogado nos próximos dias para resolver isso. — Pode ser hoje? Fiquei um pouco confusa.— Precisa ser tão urgente