Jean passou boa parte do caminho com os olhos fechados, parecendo descansar. Quando o carro parou, ele abriu os olhos lentamente e ajustou a postura, sentando-se um pouco mais ereto.Nina inclinou o corpo para frente, olhando para ele, e disse com educação:— Obrigada, Jean. Se um dia tivermos a oportunidade de nos encontrar de novo, faço questão de te pagar um jantar.Pensei comigo mesma que essa oportunidade provavelmente não existiria. Nina trabalhava em outra cidade e raramente voltava a Saurimo, então as chances de um reencontro eram mínimas.Mas, contrariando minhas expectativas, Jean sorriu com elegância e respondeu:— Com certeza teremos essa oportunidade.Nina captou imediatamente o tom implícito na resposta dele e, com um olhar cheio de malícia, levantou as sobrancelhas para mim. Depois, abriu a porta e desceu do carro.— Até mais, então! — Despediu-se ela.— Tchau! — Acenei para ela enquanto descia. Assim que Nina saiu, meu corpo, quase sem perceber, deslizou um pouco para o
Meu amor por ele, naquele silêncio profundo da noite, era como um carro em alta velocidade, descontrolado e prestes a colidir.Jamais imaginei que, depois de uma desilusão tão pesada e dolorosa, eu pudesse entregar meu coração a outro homem tão rapidamente. Mesmo que fosse como uma mariposa se jogando ao fogo, eu aceitava o risco de bom grado.Mas, ao mesmo tempo, havia algo profundamente triste nisso. Ele era tão brilhante, tão perfeito, tão inalcançável. Era impossível não amá-lo, mas a intensidade desse amor me deixava hesitante, com medo de encarar tudo de frente.Eu o encarava, perdida em meus próprios pensamentos, sem saber quanto tempo havia passado, até que uma voz baixa e calma quebrou o silêncio no carro:— Seu coração está batendo muito rápido.Meu corpo inteiro estremeceu, e voltei à realidade de forma abrupta. Meus olhos, desfocados, encontraram os dele, que já estavam abertos.— Você acordou? — Perguntei, sentindo meu coração disparar ainda mais enquanto ajustava meu ombr
Eu, completamente envergonhada e nervosa, interrompi Jean apressadamente:— Eu vou resolver tudo. Confie em mim.Ele assentiu com a cabeça, e as feições perfeitas e marcantes dele pareceram se iluminar com certa emoção:— Tudo bem, eu confio em você. E… espero por você.— Hum.— Está frio lá fora. Suba logo. Qualquer coisa, me ligue.— Certo. — Concordei com um aceno enquanto recuava alguns passos. Também o alertei. — Volte para casa e descanse cedo. Não se esforce demais. Sua saúde é o que sustenta seu trabalho.— Vou fazer o que você disse.— Tchau.— Até logo.Caminhei em direção ao prédio, me virando para trás a cada poucos passos, meus olhos buscando Jean. Mesmo depois de entrar no portão e no elevador, ele continuava parado ali, me observando.Quando finalmente cheguei ao meu apartamento, fui até a varanda e olhei para baixo. O carro dele ainda estava lá, estacionado. Por causa do ângulo, não consegui enxergá-lo, mas eu sabia que ele ainda estava ali.Apoiando-me no parapeito da
O quê? Davi estava morrendo? Ontem ele não estava participando da celebração da escola, cheio de confiança, ainda por cima me incomodando? E agora, de repente, ele estava à beira da morte?Depois do choque inicial, minha lógica voltou ao controle. Mesmo que ele morresse, isso não tinha absolutamente nada a ver comigo. Respondi com calma:— Eu não sou médica. Como poderia salvá-lo? Além disso, nós já estamos divorciados. Ele não tem mais nenhuma relação comigo.— Kiara, você pode salvá-lo! — Eduarda, completamente diferente da mulher que me insultava ontem à noite, agora falava com desespero e submissão. — Ele precisa de uma transfusão de sangue. O banco de sangue não tem o suficiente do tipo RH negativo. Mesmo que procurem outra pessoa, não vai dar tempo. Só você pode ajudá-lo!Por dentro, senti um frio intenso. Era evidente que a mudança de atitude dela tinha um motivo claro: eles perceberam que eu ainda era útil, que eu poderia ser usada como uma máquina de transfusão de sangue.— Se
O nome que apareceu na tela do sistema do carro não foi nenhuma surpresa: era Jean. Meu coração deu um salto, e a adrenalina correu pelas minhas veias.— Oi... o que foi? — Atendi, mas minha voz saiu um pouco afetada, quase como um tom manhoso, o que me deixou surpresa comigo mesma.Jean manteve seu tom habitual calmo e gentil:— Já acordou? Por que respondeu só uma palavra e sumiu?— Estou dirigindo. — Expliquei. — O trânsito da hora do rush está intenso, não dá para ficar olhando o celular.— Ah.O sorriso no meu rosto se alargou ainda mais ao ouvir sua resposta tranquila. Ele era sempre tão obediente e ponderado, e, por um instante, minha mente voltou à noite anterior, quando ele estava no banco de trás, me abraçando, parecendo tão vulnerável e precisando de cuidados.Como ele ficou em silêncio, tomei a iniciativa de perguntar:— E então, o que aconteceu para me ligar tão cedo?— Nada demais. — Respondeu ele. — Só queria te dizer que dormi muito bem ontem à noite. E que acordei me s
— Sr. Lucas, você está bem? Vá ao hospital imediatamente. — Franzi a testa enquanto me aproximava. Em seguida, virei-me para os funcionários ao lado e ordenei. — Acompanhem o Sr. Lucas ao hospital.Lucas se levantou, ainda segurando a testa, e me olhou com preocupação antes de perguntar:— Você consegue resolver isso? Ouvi dizer que ela é sua madrasta. Por isso preferi não chamar a polícia.— Não se preocupe, eu mesma vou chamar a polícia. — Peguei meu celular para ligar.Mas, antes que eu pudesse completar a ligação, Isabela se jogou para frente e agarrou meu braço como se eu fosse sua última esperança:— Kiara! Você não pode chamar a polícia! Tiago já está preso porque atropelou uma pessoa, e se eu também for presa, quem vai tirá-lo de lá?— Tiago atropelou alguém. E o que isso tem a ver comigo? — Perguntei, com o tom frio e indiferente.— Ele é seu irmão de sangue! Você acha que pode se livrar disso? Pergunte às leis se elas concordam! — Isabela, por uma vez na vida, usou o cérebro
Eu realmente não queria perder mais tempo discutindo com uma pessoa como Isabela. Após terminar de falar, virei-me e segui meu caminho sem olhar para trás.Isabela, no entanto, correu atrás de mim, saindo da sala de reuniões:— Kiara… Kiara! — Ela gritou. — Se você não me der o dinheiro, acredita que eu venho aqui todo dia fazer escândalo?— Pode fazer o que quiser. Quanto mais você aparecer aqui, mais tempo o seu filho vai passar preso. — Respondi com frieza, sem sequer desacelerar meus passos.Minha resposta acertou Isabela em cheio. Ela parou por alguns segundos, visivelmente abalada. Então, do nada, gritou:— Eu aceito! Só preciso que você me dê os cinquenta mil hoje. Eu trabalho para você e pago a dívida!Continuei andando e, sem perder tempo, instruí Tatiana, que estava ao meu lado:— Chame o advogado para redigir um contrato de empréstimo e faça com que ela assine. Depois, peça ao responsável pelo setor de limpeza para vir e cuidar do processo de admissão dela. Lembre-se: nada d
O pai de Davi, Roberto, estava descendo de um Mercedes preto quando nos encontramos de frente no estacionamento.— Kiara? — Ao me ver, Roberto ficou surpreso. Em seguida, disse. — Você veio visitar o Davi, afinal.Eu também fiquei surpresa. Davi estava internado nesse hospital? Ele não costumava ser tratado em hospitais particulares caros? O que fazia em um hospital público agora?— Oi, tio Roberto. Estou acompanhando um colega de trabalho ao hospital, não sabia que o Davi estava internado aqui. — Respondi educadamente, com um tom direto, sem querer que a família Castrode tivesse qualquer tipo de mal-entendido.O rosto de Roberto ficou desconcertado. Ele parecia sem graça ao responder:— Eu achei… que você tinha vindo ver o Davi.Eu sorri levemente, sem dizer mais nada.— Já que nos encontramos, será que posso tomar um pouco do seu tempo? Gostaria de conversar com você. — A expressão de Roberto mudou, ficando mais séria enquanto me encarava.Por dentro, eu já imaginava o motivo. Fui di