Eu, completamente envergonhada e nervosa, interrompi Jean apressadamente:— Eu vou resolver tudo. Confie em mim.Ele assentiu com a cabeça, e as feições perfeitas e marcantes dele pareceram se iluminar com certa emoção:— Tudo bem, eu confio em você. E… espero por você.— Hum.— Está frio lá fora. Suba logo. Qualquer coisa, me ligue.— Certo. — Concordei com um aceno enquanto recuava alguns passos. Também o alertei. — Volte para casa e descanse cedo. Não se esforce demais. Sua saúde é o que sustenta seu trabalho.— Vou fazer o que você disse.— Tchau.— Até logo.Caminhei em direção ao prédio, me virando para trás a cada poucos passos, meus olhos buscando Jean. Mesmo depois de entrar no portão e no elevador, ele continuava parado ali, me observando.Quando finalmente cheguei ao meu apartamento, fui até a varanda e olhei para baixo. O carro dele ainda estava lá, estacionado. Por causa do ângulo, não consegui enxergá-lo, mas eu sabia que ele ainda estava ali.Apoiando-me no parapeito da
O quê? Davi estava morrendo? Ontem ele não estava participando da celebração da escola, cheio de confiança, ainda por cima me incomodando? E agora, de repente, ele estava à beira da morte?Depois do choque inicial, minha lógica voltou ao controle. Mesmo que ele morresse, isso não tinha absolutamente nada a ver comigo. Respondi com calma:— Eu não sou médica. Como poderia salvá-lo? Além disso, nós já estamos divorciados. Ele não tem mais nenhuma relação comigo.— Kiara, você pode salvá-lo! — Eduarda, completamente diferente da mulher que me insultava ontem à noite, agora falava com desespero e submissão. — Ele precisa de uma transfusão de sangue. O banco de sangue não tem o suficiente do tipo RH negativo. Mesmo que procurem outra pessoa, não vai dar tempo. Só você pode ajudá-lo!Por dentro, senti um frio intenso. Era evidente que a mudança de atitude dela tinha um motivo claro: eles perceberam que eu ainda era útil, que eu poderia ser usada como uma máquina de transfusão de sangue.— Se
O nome que apareceu na tela do sistema do carro não foi nenhuma surpresa: era Jean. Meu coração deu um salto, e a adrenalina correu pelas minhas veias.— Oi... o que foi? — Atendi, mas minha voz saiu um pouco afetada, quase como um tom manhoso, o que me deixou surpresa comigo mesma.Jean manteve seu tom habitual calmo e gentil:— Já acordou? Por que respondeu só uma palavra e sumiu?— Estou dirigindo. — Expliquei. — O trânsito da hora do rush está intenso, não dá para ficar olhando o celular.— Ah.O sorriso no meu rosto se alargou ainda mais ao ouvir sua resposta tranquila. Ele era sempre tão obediente e ponderado, e, por um instante, minha mente voltou à noite anterior, quando ele estava no banco de trás, me abraçando, parecendo tão vulnerável e precisando de cuidados.Como ele ficou em silêncio, tomei a iniciativa de perguntar:— E então, o que aconteceu para me ligar tão cedo?— Nada demais. — Respondeu ele. — Só queria te dizer que dormi muito bem ontem à noite. E que acordei me s
— Sr. Lucas, você está bem? Vá ao hospital imediatamente. — Franzi a testa enquanto me aproximava. Em seguida, virei-me para os funcionários ao lado e ordenei. — Acompanhem o Sr. Lucas ao hospital.Lucas se levantou, ainda segurando a testa, e me olhou com preocupação antes de perguntar:— Você consegue resolver isso? Ouvi dizer que ela é sua madrasta. Por isso preferi não chamar a polícia.— Não se preocupe, eu mesma vou chamar a polícia. — Peguei meu celular para ligar.Mas, antes que eu pudesse completar a ligação, Isabela se jogou para frente e agarrou meu braço como se eu fosse sua última esperança:— Kiara! Você não pode chamar a polícia! Tiago já está preso porque atropelou uma pessoa, e se eu também for presa, quem vai tirá-lo de lá?— Tiago atropelou alguém. E o que isso tem a ver comigo? — Perguntei, com o tom frio e indiferente.— Ele é seu irmão de sangue! Você acha que pode se livrar disso? Pergunte às leis se elas concordam! — Isabela, por uma vez na vida, usou o cérebro
Eu realmente não queria perder mais tempo discutindo com uma pessoa como Isabela. Após terminar de falar, virei-me e segui meu caminho sem olhar para trás.Isabela, no entanto, correu atrás de mim, saindo da sala de reuniões:— Kiara… Kiara! — Ela gritou. — Se você não me der o dinheiro, acredita que eu venho aqui todo dia fazer escândalo?— Pode fazer o que quiser. Quanto mais você aparecer aqui, mais tempo o seu filho vai passar preso. — Respondi com frieza, sem sequer desacelerar meus passos.Minha resposta acertou Isabela em cheio. Ela parou por alguns segundos, visivelmente abalada. Então, do nada, gritou:— Eu aceito! Só preciso que você me dê os cinquenta mil hoje. Eu trabalho para você e pago a dívida!Continuei andando e, sem perder tempo, instruí Tatiana, que estava ao meu lado:— Chame o advogado para redigir um contrato de empréstimo e faça com que ela assine. Depois, peça ao responsável pelo setor de limpeza para vir e cuidar do processo de admissão dela. Lembre-se: nada d
O pai de Davi, Roberto, estava descendo de um Mercedes preto quando nos encontramos de frente no estacionamento.— Kiara? — Ao me ver, Roberto ficou surpreso. Em seguida, disse. — Você veio visitar o Davi, afinal.Eu também fiquei surpresa. Davi estava internado nesse hospital? Ele não costumava ser tratado em hospitais particulares caros? O que fazia em um hospital público agora?— Oi, tio Roberto. Estou acompanhando um colega de trabalho ao hospital, não sabia que o Davi estava internado aqui. — Respondi educadamente, com um tom direto, sem querer que a família Castrode tivesse qualquer tipo de mal-entendido.O rosto de Roberto ficou desconcertado. Ele parecia sem graça ao responder:— Eu achei… que você tinha vindo ver o Davi.Eu sorri levemente, sem dizer mais nada.— Já que nos encontramos, será que posso tomar um pouco do seu tempo? Gostaria de conversar com você. — A expressão de Roberto mudou, ficando mais séria enquanto me encarava.Por dentro, eu já imaginava o motivo. Fui di
Eu sabia que, mesmo deletando o vídeo do meu celular, eles não ficariam realmente tranquilos. Além disso, se eu quisesse, poderia facilmente recuperar o vídeo, mesmo após deletá-lo. Mas, já que eles queriam um resultado que apenas os enganasse, eu podia muito bem atender ao pedido.Fiz uma expressão de hesitação, como se estivesse ponderando. Depois de alguns segundos, assenti:— Tudo bem. Por consideração ao senhor, tio Roberto, eu vou apagar.Peguei o celular, localizei o vídeo e, na frente dele, excluí o arquivo completamente.— Está satisfeito agora?— Você tem algum backup? — Roberto perguntou, ainda desconfiado.Abri o aplicativo da nuvem no celular e, também na frente dele, apaguei os dados armazenados ali.— Pronto, não tem mais nada.— Obrigado, Kiara. Foi um grande favor. — Roberto sorriu, satisfeito, com o semblante finalmente relaxado.Guardei o celular e fiz um gesto educado com a cabeça:— Então, já vou indo.— Espere! — Roberto chamou, de repente.— O que foi, tio Robert
O policial fez questão de prolongar a conversa, e Isabela, ao ouvir as palavras dele, ficou tão apavorada que suas pernas começaram a tremer:— Eu não fiz isso de propósito, foi um acidente... Senhor policial, meu filho está preso e eu preciso achar um jeito de tirá-lo de lá. Por favor, não me coloquem na cadeia...— Não adianta me pedir nada. Só dá pra resolver se a vítima aceitar um acordo. — O policial respondeu, com um tom de indiferença.Isabela imediatamente se virou e começou a implorar para Lucas.Lucas lançou um olhar para mim, claramente irritado, e respondeu com uma voz cheia de drama:— Eu não fiz nada contra você, e você quebrou a minha cabeça! Vou ficar com uma cicatriz, sabia? Eu ainda nem casei, e agora com uma marca dessas no rosto, como vou arranjar namorada?Eu precisava admitir que Lucas tinha talento para atuar. Enquanto ele falava, eu me senti ainda mais culpada. Se ele realmente ficasse com uma cicatriz e isso prejudicasse sua vida amorosa, seria uma enorme respo