Mas Leona estava tão apressada que, ao puxar o vestido, não só não o soltou, como ainda fez o tecido desfiar.As outras garotas ao redor rapidamente se aproximaram, todas muito "solidárias", mas, na verdade, só estavam atrapalhando. Um grupo inteiro de gente mexendo e, ainda assim, não conseguiram desfazer o enrosco.— Que tipo de roupa é essa que você está usando? É praticamente uma arma! — Leona reclamou, irritada, culpando a amiga.A outra não deixou por menos e rebateu na mesma hora:— Você que veio se enroscar, Leona! Não fui eu que fui atrás de você.— A culpa é sua! Um vestido desses nem deveria existir!— Melhor isso do que usar um vestido falso, como você! Que vergonha!Quando percebi que a discussão estava prestes a virar uma briga, dei um passo à frente:— Chega, parem de brigar. Deixem que eu resolvo!Se não fosse o aniversário de Dona Auth, eu provavelmente deixaria as duas se engalfinharem. Mas, dadas as circunstâncias, era melhor evitar confusões.Assim que falei, as gar
Amélia nos levou, a mim e a Leona, até uma sala de descanso no segundo andar e pediu para alguém trazer agulha e linha.Leona queria tirar o vestido para facilitar o conserto, mas como não tinha outra roupa para vestir no lugar, tive que fazer o reparo com ela usando a peça, o que deixou o trabalho um pouco mais complicado.Depois de quase meia hora, consegui finalmente resolver o problema. As linhas desfiadas voltaram para o lugar, e o bordado deformado foi restaurado. O vestido parecia intocado, como se nada tivesse acontecido.— Leona, tá vendo? Isso é o que chamam de “retribuir mal com bondade”. Aprende um pouco, para de andar com aquelas amigas idiotas que só te puxam para baixo. — Amélia, que estava ao lado comendo um doce enquanto eu trabalhava, não perdeu a chance de soltar mais uma provocação.Leona mordeu os lábios, claramente se sentindo humilhada, mas não teve coragem de responder. Apenas resmungou:— A culpa é da Tânia. Vou cortar relações com ela quando voltar!Amélia bat
Jean levantou levemente a mão, indicando com um gesto:— Vamos, vamos até o terraço. Lá tem menos gente.Eu fiquei um pouco surpresa, franzindo a testa antes de perguntar:— Você… não precisa ficar com os outros convidados?— Você também é minha convidada, não é? — Ele respondeu com naturalidade, mas o subtexto era claro:“Estar comigo também fazia parte de sua hospitalidade.”Senti minhas bochechas esquentarem novamente, o que parecia ser uma reação involuntária toda vez que ele falava algo assim. Caminhei ao lado dele até o terraço no segundo andar. O ar fresco da noite trouxe uma brisa leve, carregada com o perfume natural das plantas e da terra da montanha. Mas, mesmo com o ambiente relaxante, a pergunta que eu vinha guardando não saía da minha cabeça.— Sr. Jean, eu…— Srta. Kiara, você…Por um breve momento, nós dois viramos a cabeça ao mesmo tempo, nossos olhares se cruzaram, e começamos a falar juntos. Isso nos fez parar de imediato, trocando sorrisos involuntários.Jean fez um
Segui o olhar dele e fixei a atenção onde ele indicava.De fato, na lateral direita da testa, bem na linha do cabelo, havia uma cicatriz fina e clara. Era tão discreta que, se ele não tivesse apontado, eu jamais teria notado.— Depois que me recuperei, soube que foi graças a alguém que chamou a polícia que conseguimos ser salvos. Então, fui até a delegacia no vilarejo para descobrir quem tinha feito a denúncia. Quando finalmente encontrei a sua casa, sua avó já tinha ido embora com você, e acabamos nos desencontrando.Fiquei com os olhos arregalados, encarando Jean como se estivesse em um transe. Não sabia nem o que dizer. Nunca imaginei que minha história com ele pudesse remontar à infância. Era surreal!— E… e a outra vez? — Perguntei com curiosidade crescente. Afinal, se nos desencontramos, como foi possível eu tê-lo ajudado novamente?Jean assentiu levemente e continuou:— A segunda vez foi no verão do ano seguinte. Eu estava nadando no rio com dois garotos do condomínio militar. E
Eu gesticulava sem jeito, tentando encontrar as palavras certas para expressar o que queria dizer.Na verdade, o que eu queria perguntar era:"Se você sempre esteve prestando atenção em mim, por que nunca apareceu antes? E por que só agora resolveu se aproximar de repente?"Jean, percebendo minha dúvida, respondeu calmamente:— Eu só fiquei em Cidade Dondo por três anos. Depois, quando o batalhão do meu avô foi transferido, eu fui com ele. Na verdade, eu nunca imaginei que o destino nos faria nos reencontrar.Fiquei ainda mais curiosa. Franzi as sobrancelhas e perguntei:— E quando foi que nos encontramos de novo?— No ano em que você entrou na universidade.— O quê? — Minha surpresa só aumentava. Depois de pensar um pouco, perguntei. — Eu estudei na Universidade Nexoto. Você também é formado lá?— Sou, sim.Fiquei pasma. Nós éramos colegas de universidade!A Universidade Nexoto ficava em Cidade Saurimo, uma das melhores do país, com um ranking nacional entre os cinco primeiros. No ent
Era justamente por causa de seu talento excepcional e sua origem nobre que Jean, tão jovem, já ocupava o cargo mais alto na liderança da fábrica militar.Depois de tanta conversa, nós dois ficamos imersos em pensamentos. O silêncio se estendeu por alguns momentos. Apoiei as mãos na grade do terraço, olhando para a escuridão tranquila da noite. Na minha mente, as lembranças do passado começaram a se reorganizar, trazendo uma sensação estranha de arrependimento."Se nós não tivéssemos nos desencontrado na época da universidade, será que hoje as coisas seriam diferentes?"Não, provavelmente não seriam.Naquela época, eu era jovem e imatura, disposta a sacrificar tudo por amor. Não sei que tipo de encanto Davi tinha sobre mim, mas eu era completamente apaixonada e cega por ele.Nos tornamos oficialmente um casal no mesmo período em que descobri que ele estava doente. Qualquer garota sensata, com um pouco mais de racionalidade, teria se afastado ao calcular os prós e contras. Mas eu, com to
— Não é à toa que você sabe cozinhar, fazer sopa contra ressaca e tudo mais. — Comentei, lembrando da vez em que fiquei bêbada e ele, literalmente, "colocou a mão na massa" para cuidar de mim.— Isso não é nada. — Jean respondeu com um tom leve, como se fosse algo trivial.Depois de toda a conversa, minhas dúvidas finalmente estavam esclarecidas. Senti uma leveza tomar conta de mim, como se um grande peso tivesse sido retirado dos meus ombros. Meu humor estava muito melhor.Jean percebeu a mudança e, sorrindo, brincou:— Agora você já não acha mais que minha família está te tratando bem só para tirar seu sangue, né?Fiquei tão sem graça com a piada que senti meu rosto esquentar:— Me desculpe. Fui muito mesquinha ao pensar isso.— O importante é que agora está tudo explicado. Antes, eu não falei nada porque percebi que você não se lembrava dessas coisas e achei que não seria apropriado tocar no assunto. Além disso, você ia se casar. Se minha família fosse excessivamente atenciosa sem m
— Ai, eu também não gosto desse tipo de lugar barulhento, parece que minha cabeça vai explodir. — Amélia balançou a mão com impaciência e deu ordens ao garçom que a acompanhava. — Deixa aqui mesmo.O garçom colocou na mesinha da varanda uma variedade de petiscos, pratos e uma garrafa de vinho tinto, preenchendo todo o espaço disponível.— Kiara, senta aí, vai. Você mal comeu à noite, né? Come alguma coisa. — Amélia disse, acomodando-se e acenando para que eu fizesse o mesmo.Sem ter como recusar, acabei me sentando.— Amélia, você me enganou bonito, viu? Me ajudou várias vezes e eu nem sabia quem você era. — Resmunguei de maneira teatral, fingindo estar chateada.Amélia riu e respondeu:— "Fazer o bem sem olhar a quem", não foi isso que você me ensinou? Olha só você, salvando a vida do meu irmão várias vezes, e sempre saindo de fininho, sem esperar nenhum agradecimento.Não consegui segurar o riso. Do jeito que ela colocou, parecia mesmo que era assim.— Naquele dia, na porta do hospit