Não queria ser pega espionando-os, porém não fui tão veloz quanto pretendia. Ao chegar ao meio da escada, ouvi a porta se abrindo e sua voz zangada quando a luz se acendeu:
— Para onde você pensa que vai?
— Vou pro quarto. — Respondi envergonhada.
— Você também ouve conversa dos outros, além de vasculhar onde não é chamada?
— Eu não tive a intenção de ouvir nada. Desci para pegar um copo de água, e estava subindo quando entrou — encarei-o desafiadoramente, enquanto ele me olhava desconfiado — Sua camisa! Você está sangrando.
— Droga. — Respondeu olhando para a mancha vermelha.
— Tire a blusa! Deixe-me ver. — Pedi, enquanto descia ao seu encontro.
Ele retirou a blusa e tive que prender a respiração. Mesmo aqu
A cama de repente ficou bem mais aconchegante depois daquela conversa descontraída com Nick. Uma barreira, pequena, diga-se de passagem, havia sido quebrada entre nós. Isso era fato. Ele sofrera por amor e eu também, o que de certa forma nos aproximava. Não que eu quisesse me envolver com ele, apesar do cara ser digno de ser trabalhado. Talvez fosse isso que o deixava irresistível para algumas mulheres. Não para mim, é claro! Embora, muitas vezes, enquanto rolava pela cama noite adentro, alguns pensamentos libidinosos insistiam em povoar minha mente, principalmente quando me lembrava de sua mão apertando minha perna, ao sentir dor, enquanto desinfetava seu machucado. Estava ficando quase impossível deixar de pensar nele. Porém, não queria me envolver mais do que já estava envolvida. Também não queria que ele pensasse que eu era uma garota que ca
Ficamos muito ocupados durante o dia. Algumas vezes me encontrava com o Nick. Nossos olhos se cruzavam e sempre havia um pequeno sorriso no canto dos lábios, e o mais importante, em seus olhos também. Depois de nossa conversa na noite anterior ele até que parecia mais amigável, e eu me via cada vez mais ansiosa, desejando ficar a sós com ele. Eu sei que não devia pensar nessas coisas, já que estava indo embora, mas cada vez que o via, esse meu coração arredio, turbulento, batia descompassado. O que era um tanto insólito, depois de ter jurado nunca mais me aproximar de nenhum homem. Entretanto, o coração às vezes é feito um rio que corre para o mar. Quem pode detê-lo?No meio da tarde, uma mulher ainda jovem, bem arrumada, chegou ao escritório do Haras com uma criança — um menino de uns cinco anos ap
Segui seu conselho. Tomei um banho mais do que demorado. Enquanto tentava me aquecer, deixei os pensamentos voltaram para o meu quase afogamento. Não me é possível explicar, mas enquanto as cenas da moça do cavalo — Marilia, com certeza — passavam diante dos meus olhos, me pus a pensar no motivo de tudo aquilo. Não senti em nenhum momento a mão dela me empurrando para o abismo. Então como fizera aquilo? Que força desprendeu de seu braço para me fazer cair no lago? Foi isso mesmo que aconteceu, ou foi minha imaginação? Repeti o momento inúmeras vezes procurando a lógica que teimava em não vir. Não havia escorregado. Tinha certeza. Simplesmente num instante estava lá e no outro caía para a morte. Seu rosto não possuía a tez morena e saudável descrita por Nick. Estava plúmbeo. De repente
Depois daquele excesso de Nick na pista de dança, precisava de um pouco de ar fresco. A noite estava clara e as estrelas pontilhavam o céu de uma forma que jamais vemos em São Paulo. O barulho dos bichos noturnos quase era suplantado pelo som da música distante que vinha do galpão. Debrucei-me num piquete, e fiquei olhando, admirada, as estrelas. Longe das luzes da Sede, a fazenda era escura. Viam-se apenas alguns contornos clareados pela lua cheia, que enfeitavam o lugar sob o céu daquela noite. Uma leve brisa gelada acariciava minha perna, fazendo a pele se arrepiar. Além do frio, uma sensação estranha começou a percorrer meu corpo, trazendo-me o medo. Sentia, pelas costas, que estava sendo observada. No fundo, já sabia do que se tratava, porém, faltava-me coragem de olhar por sobre o ombro.Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade que antecipa
Já que não podia voltar à festa, sem que a noiva tentasse me matar, entrei na casa de Nick me jogando no sofá macio. Tirei as sandálias de salto alto, e liguei a TV, procurando me distrair. As imagens corriam pela tela. Meus olhos a viam, porém meu cérebro não as registrava. Outras imagens me perturbavam naquele momento. Marilia sofrendo, a noiva enfurecida que quase me agredira, Alan com seu jeito conquistador, e Nick. Não sei por quanto tempo fiquei naquele sofá, naquela posição, olhando para a TV, enquanto os pensamentos corriam soltos. A porta se abriu e Nick entrou, fechando-a atrás de si.— Você está bem, advogada? — Perguntou me olhando gentilmente.— Acho que sim. Um pouco cansada, talvez.— Me dê seu pé — pediu, sentando-se ao meu lado no sofá.— M
Nem preciso dizer que pouco dormi naquela segunda noite na casa de Nick. As coisas estavam acontecendo de forma muita rápida. Mal tinha tempo de conciliar um pensamento, outro logo se sobrepunha. De certo só tinha uma coisa na mente: Descobrir tudo sobre minha cirurgia, já que havia relegado para o passado toda aquela angústia. Marilia dependia de mim, assim como Nick. Não haveria justiça para ela se ele continuasse pensando que fora abandonado. Levantei-me, sentindo um peso enorme nos ombros. Desci as escadas rezando para não dar de cara com ele. Precisava falar com minha mãe antes.— Mãe? — Perguntei ansiosa, ao ouvir sua voz alegre no celular.— Bárbara! Ah, minha filha. Você deveria ter vindo com a gente. Esse lugar é maravilhoso, querida – referia-se a sua viagem ao Rio de Janeiro.— Eu sei, mãe. O
Por volta do almoço todos já haviam ido embora, deixando o galpão pronto para mais um dia de trabalho. Despedi-me de Alan, como se nunca tivesse ouvido sua conversa com Bia, combinando nosso encontro para logo mais à noite, apesar de não estar mais com um pingo de vontade de jantar com ele. Porém, algo me dizia para ir, e tentar obter algumas respostas para as minhas perguntas. Preparei uma macarronada com almôndegas para mim e Nick, aproveitando para puxar assunto sobre a querelante, já que pensava em voltar a São Paulo na manhã seguinte.— Então, o que temos em mãos, Nick? Ela lhe deu alguma prova de que vivia com seu pai? Recibos de aluguel, certidão de nascimento do menino...— Não! Ela apareceu na fazenda se dizendo mulher de meu pai. No começo pensei que fosse algum engano, já que meu pai estava sempr
Subi as escadas correndo, deixando-o na sala, e me atirei na cama. Acho que nunca me senti tão impotente como naquele momento. Nada fazia sentido. Por que ela me fizera sonhar com pastas que pensava conter provas que me levasse ao seu assassino (ao menos eu pensava que fossem provas) se não havia nada ali? De repente comecei a ficar com dor de cabeça de verdade. Acabei tomando um analgésico e depois de um tempo, peguei no sono.Ela se ncontrava sentada em frente à mesa do escritório, com o celular na mão, e um sorriso nos olhos negros.— Tiago? É Marilia. Como vai? — Perguntou feliz.— Ah, oi Marilia.— Já pedi para o Dr. Alan separar o material genético do Meia-Noite. Quando posso te entregar?— Hum...— Algum problema? Se n