A respiração era ofegante e nada silenciosa num quarto mal acabado em paredes de madeira caindo aos pedaços. A chuva tórrida que caia naquela manhã levemente mais gelada que o habitual o fazia tremer de frio, especialmente por causa do telhado cuja as goteiras o impediam de se sentir tranquilo. O homem deitado na cama como um invalido avaliava se valeria a pena sentir tanta dor por um copo de água que uma boa alma o havia servido, mas que deixou distante demais para que ele pudesse alcançar. Os olhos claros se focaram na silhueta de uma mulher que entrou no ambiente com o raio de luz que invadiu o cômodo escuro. Mas aquela voz. O doce e aveludado timbre da Madison Reese ele jamais poderia esquecer. Então ele colocou o braço em frente ao rosto e expôs a mão infeccionada devido a falta de cuidados com as feridas que o Cesare Santorini havia causado a ele ao queimar-lhe as mãos. Mesmo assim, os olhos cansados não conseguiram enxergar com tanta clareza.A mulher entrou na sala acompanhad
O copo se espatifou no chão quando a Madison de tão nervosa que se sentiu, o arremessou contra a parede. Ela já não era capaz de esconder as emoções, mas o homem que mal conseguia se levantar sozinho também não. Então ela o encarou com um olhar transtornado a princípio, mas que logo se transformou em um semblante calmo e sereno como a mais cristalina das águas.O senhor franziu a testa enquanto buscava compreender por que ela estava reagindo daquela maneira, mas não havia um propósito específico. A verdade é que nem mesmo ela sabia o que estava fazendo ali. Ela não sabia o que pretendia com aquilo além da verdade que ela já conhecia bem.– Se você veio aqui para me visitar e ouvir ofensas, já pode ir embora. – Não. Eu vim aqui para ouvir de você o por quê. – Porque? – Eu só preciso entender por que você mandou que o administrador da fazenda me matasse. Como você sabia que as coisas aconteceriam daquela forma? Como você sabia que eu sairia daquela casa e o seguiria. Então o velho c
– Vamos, não seja covarde. Demonstre que é homem ao menos uma vez na sua vida. Mas o homem pareceu com medo demais pela primeira vez. Aquilo era uma grande surpresa. Como um homem que sempre pensou ser inatingível agora temia um pedaço de papel deixado por uma mulher que havia morrido a muito tempo. – Não! Tire isso daqui! Vai embora. – Você vai ler isso. – Não quero. Vai embora. – Você não quer saber o que ela me disse nessa carta, Amiro Reese? – Isso não me interessa. – Mas você vai ler. – Você não pode me obrigar. Então ela ergueu a carta com ferocidade diante dos seus olhos e começou a ler as palavras em uma letra perfeita. – Cara Madison Reese, eu sinto muito por não ter contado a verdade sobre o seu verdadeiro pai. A questão é que eu sempre me senti culpada por escolher o luxo, a riqueza e a redoma de ouro que te cercou por anos, mas que também se transformou na gaiola dourada que impediu que pudesse ser livre. O meu marido sempre foi um monstro...– Não! Eu não quero
Os olhos foram abertos com dificuldade em um ambiente onde as luzes pareciam queimar a pele do homem deitado em uma cama de hospital. Os bips causaram-lhe uma forte dor de cabeça, mas ainda assim, ele insistiu em tentar desvendar o que havia acontecido consigo mesmo. Então ele se sentou na cama e viu a Lady Lucy sentada em uma poltrona, onde dormira toda a noite ao lado do filho, e finalmente ele se lembrou do que havia feito. Tudo era culpa dele. A desgraça a que estava fadado a viver, o fato de ter cometido uma grande abominação e até mesmo ter perdido a Madison Reese para sempre, e ele só pôde temer que ela fosse embora levando seus filhos e o seu amor para longe, de volta para a Itália, afinal, ela não estava naquele quarto de hospital ao seu lado, em uma enfermidade que ele mesmo havia causado. O Cesare Santorini se esforçou para levantar temendo que fosse tarde demais para implorar que a Madison ao menos permitisse que ele pudesse ver as crianças, quando o som que as maquinas g
– E você tem esse dinheiro todo, é? – Eu tenho. Eu sou o homem mais rico dessa região. Então o senhor direcionou-lhe mais um olhar enviesado que deixou o Cesare desconfortável. – Sei não. Você é estranho. Acho que você fugiu de algum lugar que não devia. Se você quiser, rapaz, eu te levo de volta. – Eu sou o dono de tudo. Eu sou o bilionário dos diamantes. – É. Escapou do manicômio mesmo. Então ele balançou as rédeas e os cavalos começaram a se movimentar lentamente. – Não! – A voz autoritária reverberou no ambiente como um rugido. – Eu posso te pagar muito bem. Eu posso te dar tudo. Mas o senhor não parou. – Vai para casa, meu rapaz. – É o que eu estou tentando fazer. – Boa sorte. Então o Cesare Santorini levantou um diamante que costumava guardar como o primeiro que o seu pai o havia dado e o brilho ofuscou a visão do homem que avançava em direção a paisagem digna de um quadro. A carroça parou tão bruscamente que as rodas deslizaram no chão de terra que garantia o acesso
A Sara Reese ainda estava dormindo de tão cansada quando escutou o jarro de porcelana barata ser remexido ao fundo, então ela abriu os olhos temendo pelo pior. Temendo que o homem a quem dedicou seu precioso tempo a estivesse roubando. Ela se levantou rapidamente e sentou na cama, onde o observou guardando o dinheiro sorrateiramente. E no momento em que ele estava saindo, ela jogou os lençóis de lado e saiu da cama como uma fera raivosa. – O que você esta fazendo? Você não vai me roubar outra vez. Você não vai mais gastar o meu dinheiro com vadias. Mas o homem sorriu de uma maneira cínica como se nada do que ela pudesse falar fosse relevante, afinal, o que ela poderia fazer contra ele? – Eu não estou roubando você, só pegando o que é meu. – O que é seu? Você não trabalhou por isso. Eu trabalhei. – Trabalhou? – o homem gargalhou diabolicamente, enquanto encarava a forma mais patética de medo. – Chama aquilo de trabalho? – É um trabalho, e você nunca reclamou, Marcos. Você nunca a
A linda Madison Reese vislumbrou as ruas da Itália antes de seguir viagem em direção a mansão da Lady Lucy, onde ela pretendia ficar até decidir o que fazer da vida. Ela olhou para o lado e se sentiu tranquila por ver seus filhos dormindo com a paz e a tranquilidade que ela sempre sonhou que eles tivessem, mas o pobre coração da jovem não estava bem. Ela estava sofrendo, e não imaginou por um único segundo que fosse ser assim, que fosse ser tão difícil lidar com a perda do homem que amava tanto. Que ainda ama. Mas ela não podia mais ficar naquela casa cheia de lembranças e sofrimentos que havia passado. Ela não podia viver em uma cidade onde todos conheciam seu passado e contariam aos seus filhos, e ela jamais arriscaria ver olhos tão meigos e inocentes cheios de decepção. Ela queria que eles tivessem uma infância como a que ela nunca pode ter, mas que sempre sonhou. O carro estacionou em frente a mansão que sequer estava iluminada. Ela estranhou a visão, afinal, estava acostumada a
Homens cercaram um prédio com tanta urgência que pareceu um grande evento do qual todos deveriam comparecer, exceto pelo fato de que aquilo ainda era um muquifo no meio de uma cidade ainda mais pacata que a que eles vieram. Os fardamentos daqueles homens armados não eram reluzentes ou elegantes, mais cumpriam seu papel. Um soldado chutou a porta da casa e flagrou a mulher deitada a míngua, após ser exaustivamente usada e abusada por diversos homens, mas aquela foi a vida que ela escolheu para si mesma. Ela mal pôde acordar para se vestir quando ele puxou as cobertas, a derrubando da cama. A jovem descabelada o olhou assustada, como se tivesse todo o temor do mundo recaindo sobre sua alma pesada. Uma que ela sabia que jamais subiria ao céu que sequer acreditava que existia.– O que vocês querem comigo? – Ela encarou os homens com a mesma soberba e altivez de sempre. O capitão a encarou com um olhar de pena. Ele sabia bem que o fim não seria bom, e não havia como aliviar a pena de algu