2003
Clara, 12 anos
Na hora do jantar, papai diz que tem uma surpresa para nós. Ficamos ansiosas, querendo logo saber do que se trata. Ele faz suspense até a sobremesa, mas, enfim, revela o mistério: vamos passar as férias nos Estados Unidos. Damos gritinhos de comemoração e fazemos a nossa dancinha da vitória; estamos muito empolgadas. Mamãe conta que cabe a nós duas, eu e Eva, decidirmos a cidade que iremos visitar.
Eu grito, na hora, que quero ir à Disney. É o meu sonho desde sempre e sou completamente apaixonada pelo universo de magia do lugar. Imagino as cores, os personagens, os brinquedos. Começo a sonhar acordada com a possibilidade de, enfim, pegar um avião para Orlando. Eva faz uma cara feia para a minha sugestão.
— Disney, Clarinha? Isso é coisa de criança! A gente j&aacu
2014Clara, 23 anosEstou completamente apaixonada por João Pedro. Ele é um bebê sorridente e calmo, que encanta todos à sua volta. Quando o seguro nos braços, sinto uma imensidão invadir o meu peito, um sentimento imensurável tomar conta de mim. É puro, verdadeiro, transparente. Tiro um mês de férias e vou à casa de Eva quase todos os dias, depois que Leo sai para o trabalho. Passo a tarde com eles e ajudo em tudo o que posso: dou banho, coloco para arrotar, levo para pegar sol e seguro na hora das cólicas. Ela aproveita a minha presença para cochilar e se recompor. Não é fácil cuidar de um recém-nascido.Aos poucos, as coisas estão se encaixando e a vida vai voltando para o seu rumo. Embora ainda ame Leonardo, o meu sentimento está cada vez mais adormecido, domado, represado
2018Clara, 27 anos Eu e Eva estamos com 27 anos. É impressionante como os últimos anos voaram. Ao mesmo tempo que foi difícil administrar a minha paixão por Leonardo, recomeçar a vida e ajudar na criação do João Pedro, tenho a sensação de que passou rápido demais. Meu afilhado já tem quatro anos e esbanja esperteza. Ele é apaixonante, carinhoso, sagaz. Adoro levá-lo para passear e vê-lo sorrir enquanto nos divertimos juntos.Hoje, posso dizer, de boca cheia, que sou uma escritora, como sempre quis. Acabo de colocar o ponto final no meu segundo romance de ficção. Nem acredito que consegui terminar mais uma história e que, em breve, ela será lançada para o mundo. Tenho conciliado o meu trabalho na revista com a carreira na literatura. Estar na Em Nome da Ciência t
2005Clara, 14 anos Vamos a uma festa na casa do Paulo, um menino muito popular da escola. Estamos animadas e até compramos roupas novas. Eu vou com um vestido preto justinho, que tem pequenos detalhes em branco. É discreto, mas muito bonito. Eva, por sua vez, se apaixona por um conjunto de saia e blusa dourado: lindo, mas ousado e bastante chamativo. É a cara da minha irmã!Eva cisma que precisamos levar bebidas alcóolicas para parecermos descoladas. Ela quer começar a beber de qualquer maneira. Eu faço de tudo para tirar essa ideia estapafúrdia da cabeça dela, enumerando todas as coisas erradas que mexer com álcool pode ocasionar. A gente só tem quatorze anos e não tem por que querer apressar as coisas. Cada coisa na sua idade, no seu tempo certo. Mas claro que meu esforço é totalmente em vão.
2018Clara, 27 anosHoje, vou almoçar com Eva. Ela vai estar perto do meu trabalho, pois precisa comprar alguns suprimentos para a sua clínica de estética. Embora tenha cursado jornalismo comigo, a minha irmã nunca exerceu a profissão. Primeiro, foi só dona de casa e dedicou o seu tempo a JP. E, há aproximadamente dois anos, montou esse negócio, tendo como foco procedimentos de rejuvenescimento e embelezamento: botox, lifting, preenchimento, harmonização facial e vários outros tratamentos modernos. Ela, claro, se submete a todos eles. Continua vaidosa, produzida, solar. Atrai todos os olhares e desperta múltiplas atenções.Chego ao restaurante primeiro, escolho uma mesa e peço um suco enquanto espero. O tempo passa, e nada de Eva aparecer. Estranho a sua demora porque ela costuma ser pontual. Tento liga
2006Clara, 15 anosEra o primeiro ano do Ensino Médio, e, pela primeira vez, eu e Eva estávamos em turmas separadas na escola. No começo, foi difícil não a ter na minha sala, mas, depois, a distância me ajudou a fazer novas amizades. Quando estamos juntas, sem querer, fechamo-nos um pouco para as outras pessoas. É como se a gente se bastasse e não precisasse de mais ninguém por perto. Não é algo consciente e proposital, mas acaba acontecendo.Nos últimos meses, estou bastante próxima de Carolina, uma menina muito divertida e engraçada. Ela é bem-humorada, brincalhona e sempre tem uma piada na ponta da língua. Eu me sinto leve perto dela.Embora eu tente, não consigo fazer com que Carol e Eva se entrosem. Elas não parecem ter nada em comum. Vejo que se esforçam para fic
2018Clara, 27 anosPasso semanas me martirizando pelo que aconteceu com Leonardo e tentando evitá-lo dentro do apartamento. No começo, ele respeita o meu espaço e não insiste em falar comigo qualquer coisa que não diga respeito a JP. Mas, conforme os dias se passam, fica evidente que quer conversar. Ele me cerca, observa-me, olha-me em silêncio. Às vezes, começa algumas frases que não tem coragem de terminar. E, sinceramente, não quero que ele as termine. Tenho pavor do que vai dizer e mais medo ainda do que vou sentir ao ouvir as suas palavras.Depois de uma semana intensa na revista, finalmente chega sexta-feira à noite. Ao abrir a porta, encontro Leo e JP assistindo a um filme infantil. Quando me vê, João pula do sofá e corre na minha direção, dependurando-se no meu pescoço. Eu o encho d
2008Clara, 17 anosEstá chegando a hora de decidirmos o curso que vamos fazer na faculdade. Eu quero estudar Letras e já sei até quais as línguas selecionar: Português e Inglês. Amo literatura e quero muito mergulhar nesse universo com um olhar acadêmico. Além disso, se eu optar pela Licenciatura, posso virar professora e ensinar pessoas que, assim como eu, amam esse assunto. Acho linda a profissão; é edificante formar profissionais e prepará-los para o futuro. É algo que realmente combina comigo e com o grande sonho que quero realizar: ser uma bem-sucedida escritora de romances.Já comecei a preencher os formulários das universidades com a minha escolha e sinto uma grande empolgação tomar conta de mim enquanto informo os meus dados. A única questão é Eva, que não aceita
2018Clara, 27 anos A editora me encomenda um novo romance, e preciso colocar a mão na massa. Nem acredito que vou começar o meu terceiro livro! Já tenho o enredo estruturado, mas preciso parar para realmente escrever. Falo com Leo, e decidimos que é melhor eu usar o escritório de Eva enquanto estou por aqui. É um espaço sossegado, com uma cadeira para lá de confortável e um computador de última geração. Ele não sabe a senha, mas, para mim, é fácil descobrir, já que eu e a minha irmã usamos a mesma chave para tudo.Então, aproveito a parte da noite, quando todos estão dormindo, para criar as primeiras páginas. Em poucos dias, o local já reúne uma série de papéis, blocos e anotações: escaletas, linhas do tempo, perfis dos perso