The Beast Inside | Livro 2
The Beast Inside | Livro 2
Por: Jaque Hartzler
Prólogo

THOMAS

Já haviam se passado alguns meses desde que deixei Sam e a crianças. Não deixei completamente, eu só não sabia como resolver aqueles problemas. 

Eu sou uma pessoa ruim. Nosso começo foi horrível, tudo que a fiz passar foi no mínimo grotesco. Eu não sei como ela ainda voltou, depois de tudo… 

Mantenho contato com a Constance pra saber como vão as crianças. Eles parecem crescer tão rápido que me dá até medo. Eu sei que ela deve estar me achando horrível por deixá—la sozinha com eles, tendo toda a responsabilidade de duas crianças pra si. Quando eu deveria estar lá fazendo a minha parte. 

Acontece que, Samantha foi um presente pra mim. Apesar de ter sido um presente roubado, maltratado, que eu fiz mal antes de tudo. Tirei dela família, (uma não tão boa) um namorado, (que provavelmente não dava a mínima também) tirei sua casa, liberdade… Eu tirei tudo dela. E eu sou fraco pra dizer na cara dela que ela viveria melhor sem mim. Então por isso estou tanto tempo longe. Eu a amo tanto que se eu ficasse, não pensaria nela, pensaria em mim, e em como ela me faz feliz. E não em como eu sou ruim pra ela. Eu sei, egoísta, eu seria egoísta. E também sei que quando eu voltar, se ela tiver finalmente seguido em frente, vai doer, mas ela merece seguir depois de tudo. 

Estou em Nova Orleans agora, sentado em um bar qualquer, bebendo uísque e assistindo o que quer que seja esse seriado de médicos pela TV pendurada acima das prateleiras onde se encontram as garrafas de álcool. 

Sentado, ou melhor, debruçado no balcão ao meu lado esquerdo está Jon, Joan… Eu não sei, não me lembro o nome. Mas ele está morto. Assim como o dono do bar e os outros três cachaceiros que vi assediando a garçonete. Eu pude ver nos olhos do barista que ele não respeitava a garota lá nos fundos, não que eu esteja querendo justificar a matança de hoje. 

Mais tarde naquele dia, depois pedir para a Misty chamar a limpeza pro bar, eu fui pro apartamento onde estou hospedado há quase um ano. O lugar é pequeno, cheio de trecos antigos que odeio por me fazerem lembrar do passado. Mas também, não sei o que me deu na cabeça de vir passar férias prolongadas nessa porra de cidade. 

Levantei do sofá, na esperança de ter algum vinho no armário ainda. Já faz algumas semanas que não deixo a Misty abastecer isso aqui, talvez esteja pensando em voltar pra casa.

Me assustei quando um corvo bateu o bico na janela. Não é o primeiro corvo da semana, e nem o terceiro. Estão por toda parte. Já até pensei que eu estivesse os atraindo como um ímã. Depois do quinto corvo eu já acho que não é uma coincidência. E pelo que meus anos de existência podem me dizer. Banshees em formas de animais não é uma boa coisa, na verdade, em nenhuma forma.

Patrick, como está a segurança da casa? — perguntei ao chefe de segurança que cuida de Samantha, Lucas e Amanda. 

— Dois seguranças no portão principal, dois a paisana no Jardim e um na porta da frente, senhor. — respondeu rápido e direto. 

— Triplique. Volto em breve. 

— Sim, senhor! 

— E, Patrick? 

— Sim 

— Não deixe que Samantha saia sozinha. Nem preciso falar de Constance e as crianças… 

— É claro, senhor. Pode deixar. Estarão seguros.

Tem certeza que vai voltar, Tommy? — perguntou Misty enquanto eu arrumava minha mala. 

Não respondi. 

— Tommy, estou falando com você! — disse ela chamando minha atenção estalando os dedos. 

— Sim, Victória. Lá é minha casa. Onde está minha família. E podem estar correndo algum perigo sem mim por perto por tanto tempo. 

— Não tenho dúvidas que Samantha sabe se virar sozinha com os pirralhos. Ela não é uma pessoa comum. — disse sorrindo 

— Chame—os de pirralhos na presença dela e verá como se vira sozinha. 

Misty deu de ombros e caminhou com seu salto vermelho e barulhento para perto de mim. Tocou meu braço e respirou fundo. 

— Nossas férias foram boas, baby. Não vejo a hora de termos outra. 

— Minhas férias, Misty. Você é minha assistente. Estava aqui a trabalho. — respondi com um sorriso falso piscando meu olho direito. 

— Aproveitei do mesmo jeito. — disse ela arqueando as sobrancelhas. — Bom, eu espero que faça uma viagem boa de volta pra sua família. Devem estar felizes com o papai de volta em casa. Retorno em alguns dias também. — dito isso, pegou sua bolsa e saiu porta afora.

No aeroporto aguardando meu voo, eu poderia jurar que tinha visto uma mulher de preto me encarando de longe. Ela fazia uns sons melancólicos que eu podia ouvir de longe. Primeiro os corvos, agora isso? Que porra tá acontecendo?

Patrick, já fizeram a varredura na casa hoje? Samantha tem saído muito? — perguntei assim que liguei pra ele bem rápido. 

— Sim, Sr. Bart. Fizemos duas vezes, sra. Bart não sai, a não ser que seja pra trabalho ou acompanhada de Constance e as crianças. Hoje por exemplo não foi trabalhar. 

— Patrick, estou vendo banshees há alguns dias. Estão tomando forma humana muito rápido. Temo que aconteça algo… 

— Não se preocupe senhor, estão seguros. — respondeu me interrompendo. 

— Tudo bem, chego em algumas horas.

Assim que cheguei percebi que Patrick havia feito exatamente o que eu mandei, os híbridos estavam em mais quantidade do que quando saí. Eles pareciam realmente seguros. Quando o motorista estacionou o carro, fiquei parado um tempo, olhando a entrada da casa e em como seria assim que eu abrisse a porta, o que estaria me esperando, será que sentiram minha falta como senti a deles? 

Saí do carro e subi a pequena escadaria. em seguida girei a maçaneta e atrás estava Samantha, com o vestido florido que comprei pra ela quando ainda estava grávida. Estava linda. Radiante como se tudo na vida dela já tivesse seu lugar, estivesse completo e talvez estivesse mesmo. Parecia feliz. E… espera… Parecia que ia sair também. 

Antes de eu poder perguntar alguma coisa, Amanda e Lucas correram em minha direção gritando “papai”, foi o som mais gostoso e amável que eu não ouvia em muito tempo. Que saudade. 

— Tudo bem, agora deem tchau pro papai, na volta ele conta tudo sobre as férias, vamos andando. — disse Sam como um general dando tapinhas fracos em seus bumbuns. 

Ela me olhou sem saber o que dizer. A encarei por um tempo, eu queria muito beijar aquela boca. Mas não podia fazer isso com ela, não sem antes uma conversa decente. Não sem antes explicar. 

Ela passou por mim e mesmo de costas pra ela eu pude sentir suas pegadas travando antes de descer o primeiro degrau, depois seus passos rápidos voltando pra mim. Eu me virei e recebi o abraço mais quente e confortável que já não recebia há meses. Desde o último que ela me deu. 

Quando me soltou, não me olhou. Só se virou e foi em direção à porta. 

— Tome cuidado lá fora, Samantha! — Foi tudo que consegui dizer até que ela saiu. 

Patrick e mais dois seguranças os acompanharam no carro de trás.

Algumas horas depois eu ouvi do meu quarto o carro de Samantha estacionando na entrada. Desci rápido para recebê—los, mas só entrou Constance e os meninos. 

— Onde está Samantha? — perguntei confuso. 

— Houve um imprevisto, parece que ela precisou ajudar um colega no trabalho. A cidade está insana nos últimos meses. — respondeu Constance ingênua. 

Corri até a escadaria da frente e só vi os híbridos. Mas Patrick também não estava. Provavelmente ficou com ela. Comecei a ligar pro telefone de Samantha, só caía na caixa postal. Imaginei que estivesse ocupada com corpos no necrotério. Pus os pés pra dentro de casa e ouvi o choro de uma mulher, quando olhei pra trás, podia ver bem de longe, uma silhueta negra, paralisada, de onde saía o som choroso agudo. Banshee. 

— God! Godoph! — gritei — Está ouvindo isso? — perguntei me referindo ao choro do banshee. 

— Sim, Senhor. Tenho ouvido há alguns dias. Está ficando mais alto. Mas não consigo dizer de onde vem. — respondeu ele vindo da cozinha. 

— Mas que merda, God, porque não me avisou sobre isso? — perguntei com raiva 

— Me — me desculpe senhor, eu, eu não sabia que era importante. 

— Porra. Porra! 

— Está tudo bem, sr. Bart? — perguntou preocupado. 

— Ligue para a Samantha, cheque se está tudo bem. Vou até o necrotério. Não pare de ligar até que ela atenda. E diga que estou indo buscá—la. 

— Sim, Senhor. Agora mesmo. 

Corri para o carro que estava mais perto. Patrick não havia voltado, então deveria estar com ela ainda. Liguei para ele, mas a chamada caía na caixa postal. Liguei para Samantha e também caixa postal. 

Meu deus, isso não ia acontecer. Não poderia. 

A mitologia celta nos ensina que quando você presencia muitos corvos a sua volta, que parecem estar ali por você, ou quando escuta o choro agudo de uma mulher que não pode ver, é sinal de que alguém da família está em perigo, e morrerá. Uma vez que a melancolia se inicia, ela só tem a fim após a morte do seu membro da família. 

Samantha não estava só em perigo. Ela corria risco de vida. E eu notei isso há dias e ainda fui capaz de permitir que saísse sem minha permissão, mesmo que ela não seja mais minha prisioneira. 

Quando consegui chegar no necrotério, as duas portas estavam abertas, entrei em silêncio e com cuidado. Mas aparentemente o lugar estava vazio. Ouvi um som abafado de um celular tocando. Pude ver sua bolsa em cima da mesa, e logo mais a frente a porta do refrigerador entreaberta. 

— Samantha. — Chamei. — Está aí? 

Andei rápido até o refrigerador e havia um corpo masculino. Não sei quem era. Mas a bolsa dela está aqui, com o celular quebrado no chão ainda tocando. 

Mas eu percebi outra coisa, o choro do Banshee também tinha cessado. 

Samantha havia desaparecido. E o mensageiro da morte dela também. 

Não pode ser…

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