THOMAS
Já haviam se passado alguns meses desde que deixei Sam e a crianças. Não deixei completamente, eu só não sabia como resolver aqueles problemas. Eu sou uma pessoa ruim. Nosso começo foi horrível, tudo que a fiz passar foi no mínimo grotesco. Eu não sei como ela ainda voltou, depois de tudo… Mantenho contato com a Constance pra saber como vão as crianças. Eles parecem crescer tão rápido que me dá até medo. Eu sei que ela deve estar me achando horrível por deixá—la sozinha com eles, tendo toda a responsabilidade de duas crianças pra si. Quando eu deveria estar lá fazendo a minha parte. Acontece que, Samantha foi um presente pra mim. Apesar de ter sido um presente roubado, maltratado, que eu fiz mal antes de tudo. Tirei dela família, (uma não tão boa) um namorado, (que provavelmente não dava a mínima também) tirei sua casa, liberdade… Eu tirei tudo dela. E eu sou fraco pra dizer na cara dela que ela viveria melhor sem mim. Então por isso estou tanto tempo longe. Eu a amo tanto que se eu ficasse, não pensaria nela, pensaria em mim, e em como ela me faz feliz. E não em como eu sou ruim pra ela. Eu sei, egoísta, eu seria egoísta. E também sei que quando eu voltar, se ela tiver finalmente seguido em frente, vai doer, mas ela merece seguir depois de tudo. Estou em Nova Orleans agora, sentado em um bar qualquer, bebendo uísque e assistindo o que quer que seja esse seriado de médicos pela TV pendurada acima das prateleiras onde se encontram as garrafas de álcool. Sentado, ou melhor, debruçado no balcão ao meu lado esquerdo está Jon, Joan… Eu não sei, não me lembro o nome. Mas ele está morto. Assim como o dono do bar e os outros três cachaceiros que vi assediando a garçonete. Eu pude ver nos olhos do barista que ele não respeitava a garota lá nos fundos, não que eu esteja querendo justificar a matança de hoje. Mais tarde naquele dia, depois pedir para a Misty chamar a limpeza pro bar, eu fui pro apartamento onde estou hospedado há quase um ano. O lugar é pequeno, cheio de trecos antigos que odeio por me fazerem lembrar do passado. Mas também, não sei o que me deu na cabeça de vir passar férias prolongadas nessa porra de cidade. Levantei do sofá, na esperança de ter algum vinho no armário ainda. Já faz algumas semanas que não deixo a Misty abastecer isso aqui, talvez esteja pensando em voltar pra casa.
Me assustei quando um corvo bateu o bico na janela. Não é o primeiro corvo da semana, e nem o terceiro. Estão por toda parte. Já até pensei que eu estivesse os atraindo como um ímã. Depois do quinto corvo eu já acho que não é uma coincidência. E pelo que meus anos de existência podem me dizer. Banshees em formas de animais não é uma boa coisa, na verdade, em nenhuma forma.
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— Patrick, como está a segurança da casa? — perguntei ao chefe de segurança que cuida de Samantha, Lucas e Amanda. — Dois seguranças no portão principal, dois a paisana no Jardim e um na porta da frente, senhor. — respondeu rápido e direto. — Triplique. Volto em breve. — Sim, senhor! — E, Patrick? — Sim — Não deixe que Samantha saia sozinha. Nem preciso falar de Constance e as crianças… — É claro, senhor. Pode deixar. Estarão seguros.
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— Tem certeza que vai voltar, Tommy? — perguntou Misty enquanto eu arrumava minha mala. Não respondi. — Tommy, estou falando com você! — disse ela chamando minha atenção estalando os dedos. — Sim, Victória. Lá é minha casa. Onde está minha família. E podem estar correndo algum perigo sem mim por perto por tanto tempo. — Não tenho dúvidas que Samantha sabe se virar sozinha com os pirralhos. Ela não é uma pessoa comum. — disse sorrindo — Chame—os de pirralhos na presença dela e verá como se vira sozinha. Misty deu de ombros e caminhou com seu salto vermelho e barulhento para perto de mim. Tocou meu braço e respirou fundo. — Nossas férias foram boas, baby. Não vejo a hora de termos outra. — Minhas férias, Misty. Você é minha assistente. Estava aqui a trabalho. — respondi com um sorriso falso piscando meu olho direito. — Aproveitei do mesmo jeito. — disse ela arqueando as sobrancelhas. — Bom, eu espero que faça uma viagem boa de volta pra sua família. Devem estar felizes com o papai de volta em casa. Retorno em alguns dias também. — dito isso, pegou sua bolsa e saiu porta afora.
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No aeroporto aguardando meu voo, eu poderia jurar que tinha visto uma mulher de preto me encarando de longe. Ela fazia uns sons melancólicos que eu podia ouvir de longe. Primeiro os corvos, agora isso? Que porra tá acontecendo?
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— Patrick, já fizeram a varredura na casa hoje? Samantha tem saído muito? — perguntei assim que liguei pra ele bem rápido. — Sim, Sr. Bart. Fizemos duas vezes, sra. Bart não sai, a não ser que seja pra trabalho ou acompanhada de Constance e as crianças. Hoje por exemplo não foi trabalhar. — Patrick, estou vendo banshees há alguns dias. Estão tomando forma humana muito rápido. Temo que aconteça algo… — Não se preocupe senhor, estão seguros. — respondeu me interrompendo. — Tudo bem, chego em algumas horas.
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Assim que cheguei percebi que Patrick havia feito exatamente o que eu mandei, os híbridos estavam em mais quantidade do que quando saí. Eles pareciam realmente seguros. Quando o motorista estacionou o carro, fiquei parado um tempo, olhando a entrada da casa e em como seria assim que eu abrisse a porta, o que estaria me esperando, será que sentiram minha falta como senti a deles? Saí do carro e subi a pequena escadaria. em seguida girei a maçaneta e atrás estava Samantha, com o vestido florido que comprei pra ela quando ainda estava grávida. Estava linda. Radiante como se tudo na vida dela já tivesse seu lugar, estivesse completo e talvez estivesse mesmo. Parecia feliz. E… espera… Parecia que ia sair também. Antes de eu poder perguntar alguma coisa, Amanda e Lucas correram em minha direção gritando “papai”, foi o som mais gostoso e amável que eu não ouvia em muito tempo. Que saudade. — Tudo bem, agora deem tchau pro papai, na volta ele conta tudo sobre as férias, vamos andando. — disse Sam como um general dando tapinhas fracos em seus bumbuns. Ela me olhou sem saber o que dizer. A encarei por um tempo, eu queria muito beijar aquela boca. Mas não podia fazer isso com ela, não sem antes uma conversa decente. Não sem antes explicar. Ela passou por mim e mesmo de costas pra ela eu pude sentir suas pegadas travando antes de descer o primeiro degrau, depois seus passos rápidos voltando pra mim. Eu me virei e recebi o abraço mais quente e confortável que já não recebia há meses. Desde o último que ela me deu. Quando me soltou, não me olhou. Só se virou e foi em direção à porta. — Tome cuidado lá fora, Samantha! — Foi tudo que consegui dizer até que ela saiu. Patrick e mais dois seguranças os acompanharam no carro de trás.
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Algumas horas depois eu ouvi do meu quarto o carro de Samantha estacionando na entrada. Desci rápido para recebê—los, mas só entrou Constance e os meninos. — Onde está Samantha? — perguntei confuso. — Houve um imprevisto, parece que ela precisou ajudar um colega no trabalho. A cidade está insana nos últimos meses. — respondeu Constance ingênua. Corri até a escadaria da frente e só vi os híbridos. Mas Patrick também não estava. Provavelmente ficou com ela. Comecei a ligar pro telefone de Samantha, só caía na caixa postal. Imaginei que estivesse ocupada com corpos no necrotério. Pus os pés pra dentro de casa e ouvi o choro de uma mulher, quando olhei pra trás, podia ver bem de longe, uma silhueta negra, paralisada, de onde saía o som choroso agudo. Banshee. — God! Godoph! — gritei — Está ouvindo isso? — perguntei me referindo ao choro do banshee. — Sim, Senhor. Tenho ouvido há alguns dias. Está ficando mais alto. Mas não consigo dizer de onde vem. — respondeu ele vindo da cozinha. — Mas que merda, God, porque não me avisou sobre isso? — perguntei com raiva — Me — me desculpe senhor, eu, eu não sabia que era importante. — Porra. Porra! — Está tudo bem, sr. Bart? — perguntou preocupado. — Ligue para a Samantha, cheque se está tudo bem. Vou até o necrotério. Não pare de ligar até que ela atenda. E diga que estou indo buscá—la. — Sim, Senhor. Agora mesmo. Corri para o carro que estava mais perto. Patrick não havia voltado, então deveria estar com ela ainda. Liguei para ele, mas a chamada caía na caixa postal. Liguei para Samantha e também caixa postal. Meu deus, isso não ia acontecer. Não poderia. A mitologia celta nos ensina que quando você presencia muitos corvos a sua volta, que parecem estar ali por você, ou quando escuta o choro agudo de uma mulher que não pode ver, é sinal de que alguém da família está em perigo, e morrerá. Uma vez que a melancolia se inicia, ela só tem a fim após a morte do seu membro da família. Samantha não estava só em perigo. Ela corria risco de vida. E eu notei isso há dias e ainda fui capaz de permitir que saísse sem minha permissão, mesmo que ela não seja mais minha prisioneira. Quando consegui chegar no necrotério, as duas portas estavam abertas, entrei em silêncio e com cuidado. Mas aparentemente o lugar estava vazio. Ouvi um som abafado de um celular tocando. Pude ver sua bolsa em cima da mesa, e logo mais a frente a porta do refrigerador entreaberta. — Samantha. — Chamei. — Está aí? Andei rápido até o refrigerador e havia um corpo masculino. Não sei quem era. Mas a bolsa dela está aqui, com o celular quebrado no chão ainda tocando. Mas eu percebi outra coisa, o choro do Banshee também tinha cessado. Samantha havia desaparecido. E o mensageiro da morte dela também. Não pode ser…
SAMANTHANaquela noite.Eu estava sentindo minha pressão muito baixa, meu corpo estava imóvel e fraco, era como se eu estivesse paralisada do pescoço para baixo. Porém, minhas pálpebras estavam pesadas. Eu não conseguia abrir os olhos. Como uma apneia, onde um demônio te segura em cima da cama, até que tenha conseguido sugar toda a sua energia então recuperada durante o sono. Eu mal conseguia respirar. Não lembrava muito bem o que havia acontecido, mas ainda com consciência, mesmo que com os olhos fechados, eu sabia que estava viva, pois respirava.Eu não podia enxergar, mas podia ouvir muito bem o que se passava ao meu redor. O local onde eu estava tinha barulho de água, cheirava a umidade e terra molhada. Eu podia ouvir sons de gaivotas distantes, árvores se movendo com a
SAMANTHAQuando chegamos até a mansão, estava tudo exatamente como deixei. Nada havia mudado de lugar. Exceto o fato de que não tinha mais a presença de Constance. E Godoph aparentemente estava em umas férias prolongadas, como disse Thomas no caminho de casa.Eu expliquei tudo que sabia, e o que a Sra. Deveroux havia me dito. Ele ficou confuso e disse que iria atrás dela. Pra ter outras respostas. Tentar encontrar Caroline, talvez.Mas tudo o que eu queria era estar com ele naquele momento e depois ir o quanto antes para onde as crianças estavam. Queria todos perto de mim. Eu já não aguentava mais sempre estar separada de alguém. De quando as coisas darem certo de um lado, desmoronar do outro. Ou nunca dar certo de lado nenhum.Interrompendo meu devaneio, algo dentro da minha barriga me deixava nauseada. E
SAMANTHAUm pouco mais tarde eu ouvi o barulho de um carro parar em frente à mansão e buzinar.— É o Chuck. — disse Clara dando um pulo do sofá.Eu pulei junto e ela caminhou rápido até a entrada pra ir ajudar Chuck colocar os meninos para dentro. Eu fui atrás dela e saímos juntas. Avistei Chuck logo de primeira. Ele estava debruçado no banco traseiro tirando o cinto de segurança das crianças.— Mamãe… — ouvi Lucas dizer.— Já conversamos sobre isso, Luke. Mamãe viajou. — disse Chuck sem perceber que eu estava ali há poucos metros de distância.— Não, papai. Mamãe… — Amanda apontou na minha direção. Fazendo Chuck se virar devagar.Assim que ele me viu ficou paral
SAMANTHAExpliquei com calma e cuidado para Clara o que havia acontecido, pois ela ouviu tanta gritaria lá em baixo que ficou preocupada. E a última coisa que queríamos era preocupá—la com alguma forma.Ela deixou meu quarto arrumado enquanto estávamos todos resolvendo meu problema lá em baixo. E quando subi a noite para dormir estava tudo limpo.Depois de colocarmos as crianças pra dormir, nós fomos tomar banho para fazer o mesmo.Coloquei uma camisola e deitei. Enquanto aguardava Thomas que estava no banheiro terminado o banho.O telefone dele tocou e eu o ouvi abrir o vidro do box sem desligar o chuveiro para atender. Era incrível como eu
SAMANTHACada palavra dessa mulher me dava um ódio inimaginável. Que porra ela tava fazendo no quarto de hotel dele? Eu posso achar errado? Posso. Apesar de Chuck ter acabado de sair daqui do meu quarto. Mas ele precisa estar por perto ele é pai das crianças também. E não estávamos fazendo nada demais.É, talvez meu marido também não esteja fazendo nada com ela, eu é que estou com ódio dela ainda.— Misty, peça ao meu marido pra me ligar assim que der, por favor. Preciso falar com ele urgente.— Peço sim. Qual o assunto? — perguntou ela.Que porra é essa? Ela precisa saber o assunto que eu vou tratar commeumarido?— Isso importa? Como
SAMANTHANa manhã seguinte nós fomos até a mansão. Ela já não era mais segura. Mas Thomas trouxe um pessoal pra limpar tudo e vasculhar a casa pra ver se encontravam alguma coisa que pudesse colocar meus irmãos em risco. Não encontraram nada além de corpos. Então logo todos voltaram pra lá. Thomas colocou seguranças por fora da mansão e pegamos nossas roupas que estavam lá para levar pra casa nova. Quando entrei na nova casa, achei incrível. Ela era maravilhosa. Muito iluminada e tinha os tetos bem altos. Assim como a casa de Plaka.Nós dividimos os quartos e colocamos o quarto dos meninos ao lado do nosso. Também havia bastante segurança na casa. E o que antes eu não gostava, hoje achava necessário. Porque não estávamos mais s
SAMANTHA— O que houve? — perguntou assustado pois viu que eu estava com uma expressão preocupada. — As crianças estão bem?— Sim. Thomas vai levá—los à escola hoje. — respondi tranquilizando—o. — Precisamos conversar.Ele me mandou entrar e eu fui. Sentei no sofá e expliquei o sonho que eu tive. Disse o que havia feito com o Thomas enquanto dormia. Ele ficou preocupado.Me disse que poderia me levar hoje até a bruxa. Talvez ela me explicasse o que aconteceu comigo nessa manhã. E se eu sou alguma ameaça pros meus filhos ou qualquer outra pessoa. Eu estava com medo, medo de machucar alguém. Talvez até mesmo…. matar. Como sonhei que fazia com Chuck.— Eu vou pegar alguma coisa pra você beber. — disse
SAMANTHANo dia seguinte voltei até a casa nova com as crianças. Thomas estava ao telefone quando chegamos. Ele parecia bastante alterado. Não o incomodei e subi direto pro quarto. Levei as crianças comigo e logo liguei para Constance, pra saber se ela poderia viajar pra cá, morar conosco, talvez. Já que ela conhece as crianças desde que nasceram. Não poderia confiar mais em outra pessoa, dada as circunstâncias. Enquanto as crianças brincavam com LEGO, eu saí até o corredor para falar ao telefone com Constance.Ela ficou feliz em saber que eu estava viva e bem. Ficou muito triste quando Thomas a dispensou por mandar os meninos pra Forest Lake. E que não podia esperar para revê—los. Eu expliquei que compraria sua passagem o quanto antes e ela disse que faria as malas ass