2 - Doente

SAMANTHA

Quando chegamos até a mansão, estava tudo exatamente como deixei. Nada havia mudado de lugar. Exceto o fato de que não tinha mais a presença de Constance. E Godoph aparentemente estava em umas férias prolongadas, como disse Thomas no caminho de casa.

Eu expliquei tudo que sabia, e o que a Sra. Deveroux havia me dito. Ele ficou confuso e disse que iria atrás dela. Pra ter outras respostas. Tentar encontrar Caroline, talvez.

Mas tudo o que eu queria era estar com ele naquele momento e depois ir o quanto antes para onde as crianças estavam. Queria todos perto de mim. Eu já não aguentava mais sempre estar separada de alguém. De quando as coisas darem certo de um lado, desmoronar do outro. Ou nunca dar certo de lado nenhum.

Interrompendo meu devaneio, algo dentro da minha barriga me deixava nauseada. Eu podia sentir cada órgão meu dolorido. O que era estranho. Eu devo ter ficado tanto tempo dormindo que não consegui comer. Mas como sobrevivi tanto tempo dormindo, sem comer, e acordei saudável do mesmo jeito que estava desde a última vez?

— Venha, preparei um banho pra você. — disse Thomas descendo as escadas envolvolto em um roupão branco e vindo em minha direção.

— Um banho pra mim ou pra nós dois? — perguntei abrindo um sorriso e apontando pro roupão com os olhos.

Ele sorriu sem mostrar os dentes.

Subimos juntos até o banheiro do nosso quarto. Ele me ajudou a tirar minhas roupas, começando pela blusa.

— Vou dar banho em você. E depois se quiser minha companhia, eu entro na banheira. Mas vamos cuidar de você primeiro. — sussurrou passando minha blusa pela minha cabeça e deixando—a cair no chão.

Eu o ajudei a tirar o resto de minhas roupas, e ele me ajudou entrar na banheira logo em seguida. Thomas havia colocado sais de lavanda, pois sabia que eu gostava de quando ele saía do banho com esse cheiro. Ele prendeu meu cabelo com um elástico que tinha no pulso. E depositou um beijo logo atrás da minha orelha.

— Entra comigo. — pedi segurando em sua mão.

Ele tirou o roupão e entrou. Me colocando em sua frente no meio de suas pernas. 

Thomas me envolveu em seus braços e eu deitei minha cabeça em seu antebraço que estava na minha frente.

— Senti tanto a sua falta. — ouvi ele sussurrar. — Pare de sumir, por favor… — completou ele.

Senti um pouco de humor e dor em sua voz.

— Eu prometo. — respondi com um suspiro.

Ele pegou o sabonete líquido que estava ao lado da banheira, colocou um pouco na esponja e começou a esfregar minhas costas devagar e com carinho.

— Eu te amo. — disse ele enquanto me banhava.

Eu sorri.

— Eu amo você também, Tom.

— Me desculpe ter passado tanto tempo longe. — ele estava se referindo a ter sumido por um ano. — Eu sei que isso aconteceu por minha culpa. Não estava aqui pra cuidar de vocês. Os deixei só. — continuou.

— Onde você esteve? — Perguntei.

— Nova Orleans. — respondeu com um suspiro irritado.

— Sozinho? — eu não sei o porquê exatamente eu queria saber disso. Mas talvez fosse porque eu gostasse de ouvir coisas que me magoavam fácil.

— Não. Não estava sozinho. — Então ele parou de esfregar a esponja em minhas costas. — Mas quem estava lá, estava a trabalho. — Eu sabia que ele falava da Misty. Não entendo! Nunca desgrudam um do outro.

— Misty? — perguntei correndo o risco de estragar o momento. — Não, não responde. — eu disse rápido, desistindo de uma resposta pra o que era óbvio.

— Não estraga o momento, querida. Não quero você se sentindo mal no seu primeiro dia de volta. — ele começou a massagear minhas costas com as mãos.

— Eu não estragaria se você soubesse que deveria ficar com a sua família, em vez de correr pros braços da Misty toda vez que brigamos. — falei me arrependendo por acabar com o clima.

— Eu não corri pra ela. Não aconteceu nada. Ela trabalhou pra mim, resolveu minhas coisas por lá. E só isso!

Me afastei dele na banheira, me virei e o encarei.

— Um ano, Thomas. Você ficou um ano longe de mim e das crianças. Com ela. E quer que eu acredite que não aconteceu nada entre vocês? — eu ri irritada

— Não aconteceu, Samantha. Apesar de eu estar chateado com você por tudo o que me disse, eu não fiz nada, naquela viagem. — me disse ele gesticulando com as mãos.

— Okay, tudo bem. Eu só não entendo o porquê ela tem que estar com você todo o tempo. — gesticulei também e arqueei as sobrancelhas.

— Ela trabalha pra mim. Ela precisa estar comigo. Preciso dela pois é uma ótima funcionária. E bela o suficiente pra não intimidar as pessoas com quem fecho meus negócios.

— Eu odeio ser tão abusiva. Mas não me sinto confortável com essa mulher por perto. Não me sinto mesmo. — falei me levantando da banheira.

— Sam, por favor. Ela não significa nada pra mim. Eu já te falei isso inúmeras vezes. Victória é só minha secretária. Nada mais que isso. Ela foi uma coisa um dia, mas nunca tive nenhum sentimento por ela. Eu juro! — respondeu ele me encarando de baixo, pois ainda estava sentado na banheira.

— Eu não ligo, Thomas. Eu, realmente não ligo. Só não quero ver essa mulher nunca mais. Porque toda vez que ela me vem na cabeça eu só consigo enxergar ela abrindo a porta do SEU quarto de hotel, enquanto você passava de cueca logo atrás dela. — concluí saindo da banheira. — Vou terminar meu banho no banheiro lá de baixo.

Eu peguei um roupão que estava dobrado sobre a bancada e saí. Ouvi ele chamar meu nome três vezes, até que parou. Eu desci pro banheiro do primeiro andar, terminei meu banho e fui pra cozinha. Preparei três sanduíches com o que tinha na geladeira e fui pro quarto comendo. Eu estava cansada e faminta, já era noite. O tempo passou rápido e eu não percebi. Parece que dormir tanto me cansou mais do que cuidar de Mandy e Luke sozinha. Eu comi os sanduíches com muita vontade. Devorei, como um animal. Mas aquilo não me fez muito bem. Então corri para o banheiro e coloquei tudo pra fora na privada. Acabei me sentando fraca ao lado do vaso. Ofegante e ainda enjoada. Deus, o que estava acontecendo comigo? Será que estou doente? Minha boca ficou muito seca e eu sentia que precisava beber uma garrafa inteira de água, talvez mais. Eu estava desidratada, com toda certeza.

Depois de escovar meus dentes, fui para a cozinha e bebi um litro de água de uma vez sem nem parar para respirar. Algo não estava certo.

— Eu quero ir pra Forest Lake. — falei pro Thomas.

Estávamos deitados na cama agora. Ele estava virado pra mim e eu estava virada em direção contrária a ele. Mas não nos encostávamos.

— Nós vamos amanhã. Já comprei as passagens. — respondeu ele com a voz calma e terna.

— Quero ir pra ficar. — falei lentamente com a voz sonolenta.

— Quer se separar? — perguntou com a voz assustada, mas sem se mover.

— Não, amor. — tranquilizei—o. — Quero me mudar pra lá com você e as crianças. Acho que todos ficaríamos mais seguros juntos da família inteira. — me virei em direção a ele. — Por favor.

— Sam, eu tenho uma empresa aqui… — respondeu pensativo

— Você pode expandir. Abrimos outra lá, e você deixa alguém cuidando dessa aqui. — poderia deixar a vagabunda da Misty… pensei. — Por favor, pensa a respeito.

— Tudo bem, vou pensar. — respondeu dando um sorriso sem expressão. — Eu te amo.

— Também te amo. — respondi fechando meus olhos enquanto ele me puxava pro seu peito e me dava um beijo na cabeça.

Era perto do meio dia. Estávamos pegando um táxi na saída do aeroporto de Forest Lake. Eu estava tão ansiosa por ver meus meninos novamente. Saber se estão dando muito trabalho. Se estão sendo boas crianças.

O aeroporto era um pouco distante da casa do meu pai. E como não costumava me sentir muito bem em carros fechados com ar—condicionado, eu havia pedido logo pro motorista deixar as janelas abertas. Mas o sol estava tão forte que estava queimando minha pele. Embora Thomas tivesse dito que era um sol de apenas 20 graus. O motorista teve que fechar tudo e ligar o ar—condicionado do carro novamente. Mas até que passei o resto da viagem bem.

Algum tempo mais tarde chegamos até a casa do meu pai. Thomas saiu do carro primeiro e correu para abrir a minha porta. Nós subimos a escadaria da casa e eu bati à porta. Thomas parou apenas dois degraus abaixo de mim. Eu poderia ter apenas entrado, mas não queria assustar ninguém. Logo ouvi barulho dos passos de alguém caminhando até a porta. E enfim alguém abriu. Era Josh.

— Lobinha? — disse ele gaguejando incrédulo, com os olhos quase saltando pra fora.

— Oi, Josh. — respondi dando um sorriso.

Ele veio caminhando devagar em minha direção e eu fui até ele e o abracei. Ficamos ali por alguns segundos. 

Desaparecer é ruim, mas o sentimento de reencontrar alguém que gostamos é muito bom.

— O que aconteceu, Sammy? Onde esteve? — perguntou ele quando saímos do abraço.

— Conto tudo depois. Eu estou bem. Onde estão meus meninos?

— Hm… estão passando o dia com o Chuck hoje. Tyler acabou de voltar. Tinha ido deixa—los lá na reserva. Hey, Ty!  — Gritou ele porta a dentro.

Nós entramos.

— Tyler! Clara! Olha quem está aqu

— Que porra é essa? — disse Tyler também incrédulo ao me ver. — Samantha?

— Samantha?! — disse Clara junto.

— Oi, Ty… — respondi abaixando a cabeça e sorrindo. — Oi, Clara.

Vieram ambos em minha direção e me abraçaram.

— O que aconteceu? Onde caralhos você estava? — perguntou Clara.

Eu contei a eles tudo que contei ao Tom. Eles disseram que meu pai não estava em casa. Que já não aparecia há alguns meses. Tinha viajado pra fazer algo que não quis dizer o que era. Vai ver ele só queria um tempo pra ficar sozinho com a amargura dele. Clara tinha uma barriga de 5 meses de gravidez. Ainda não sabia o sexo do bebê. Ela me contou muitas coisas que aconteceram nesse tempo em que estive fora. E disse que Tom ligava todos os dias pra saber dos meninos. O que me deixou feliz em saber que ele não havia os deixado.

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