Jefferson estava alerta – e ficara assim a noite inteira. Quando a manhã pareceu que ia dar o ar de suas graças e as luzes da radioatividade começaram a ficar mais fracas com a claridade do céu, percebeu na hora que as pálpebras da garota estavam em movimento.
Ela dormira razoavelmente bem para uma primeira noite no lugar que mais a assombrava no mundo. Sonhara, inclusive. Embora assustada, a presença de Jefferson estava a tranquilizando um pouco. Por isso, deixara-se ter algum momento de paz.
Não que ela fosse admitir.
De alguma forma, sabia que Jefferson a estava encarando e abriu os olhos para confirmar. O garoto apenas sorriu por ser pego em sua pequena travessura e Lívia cerrou os olhos em sua direção para exemplificar seu desagrado.
— Boa manhã – murmurou, olhando para o céu por uma pequena fresta entre a copa das árvores. – Bela
Uma semana de viagem se passou até que eles finalmente ouviram o barulho de água corrente. Com a economia feita, os cantis ainda duravam, mas estavam nos últimos goles. Quando perceberam o barulho de água, os dois se entreolharam e Lívia chegou a suspirar, aliviada. Estivera tão preocupada que não pudessem continuar por muito mais tempo naquelas condições que só de ouvir o barulho, deixava-se sentir sua sede saciada.Alcançaram o rio com a maior rapidez que suas pernas cansadas lhe permitiram. Lívia ajoelhou-se na borda e pegou um montante de água com as mãos, bebendo-a, agraciada. Jeff, por outro lado, jogou a cabeça na água e engoliu o máximo que conseguia.— Estou cheio – Jeff declarou, uns cinco minutos depois, jogando-se deitado no chão, com a mão sobre a barriga.Lívia revirou os olhos e balançou a c
— Porque é sempre constrangedor estar de short e top – Jeff soltou.Ela revirou os olhos. Dois dias depois do ocorrido, ele ainda estava soltando todas as piadinhas que podia sobre o episódio do rio. Lívia estava envergonhada dele tê-la visto com poucas roupas, mas Jeff fazia tudo piorar, dizendo que ela tinha ficado toda balanceada porque ele estava vendo-a em roupas íntimas e se jogou na água por conta disso.Ela estava se perguntando qual a parte do eu escorreguei que ele não havia entendido.— Não entendo o que você vê de tão engraçado nisso – resolveu responder às provocações..Suas piadas não a incomodavam.Lívia havia aprendido a lidar com comentários constrangedores durante sua vida.Não era como se ela fosse assumir, mas estava sentindo falta do Jefferson de
Lívia tentou não transparecer, mas ela ficara devidamente confusa com a declaração de Jefferson. Não podia negar que sempre tivera vontade de ter uma família, de ter algo especial como seus pais haviam tido, ver seus filhos crescerem e serem melhores do que sequer havia sonhado para eles.Ela sonhara com esses momentos enquanto estivera com Ric. Eles chegaram a tomar esse caminho, moravam juntos e só estavam esperando terminar o treinamento para procurar por uma casa para os dois. E ela havia ficado feliz só com a expectativa.Mas era Ric que sempre guardara seu coração. Ele estava entranhado em cada pedaço dela, era inegável, e ela nunca fora capaz de superá-lo. Nunca fora capaz de se sentir nem um pouco perto do que ele a fazia sentir. Nunca deixara outro garoto, qualquer um, se aproximar o suficiente.Até agora.Jefferson havia enchido seu dia-a-dia com co
Embora a confusão sobre Jeff não deixasse a cabeça de Liv por muito mais que poucos minutos, tudo pareceu se encaminhar com tranquilidade na semana em que completaram um mês de viagem por Esmeralda. . A rotina cansativa não parecia abalá-los tanto quanto no começo da viagem e Lívia começava a classificar tudo aquilo como natural.Por diversas vezes, pegou-se sorrindo enquanto andava atrás de Jeff. Sorrindo com a perspectiva de estar chegando onde deveriam chegar, de conseguir o que ela sonhara a vida toda e sorrindo pela boa companhia. Ela costumeiramente sacudia a cabeça para afastar a imaginação de um futuro ao lado de Jeff. Ele parecia cada vez mais entranhado nos seus dias e não conseguia mais ver como não poderiam funcionar juntos.E, então, ela se lembrava de Ric e da possibilidade de estar vivo, fazendo seu coração quebrar em dois
Eles respiraram aliviados quando o barulho de tiros cessou, mas a calmaria durou pouco. Voltaram a atirar e, por parecer mais alto, souberam que estavam mais próximos. Domado pelo desespero, Jefferson puxou Lívia para mais dentro da floresta e os dois engatinharam, buscando uma proteção maior da copa das árvores, mesmo que suas mochilas tivessem ficado para trás.Encontraram uma árvore oca e entraram, aliviados com a proteção extra. Ele encostou as costas na borda da árvore e Liv se posicionou à sua frente, encaixada entre suas pernas, de costas para ele, ambos olhando para fora, como se pudessem ver o que estava acontecendo.— Eu nunca ouvi nada assim – sussurrou.Ele chiou, pedindo silêncio Lívia sentiu a mão do rapaz em seu quadril, puxando-a para encostar o corpo no dele. Ela trincou os dentes por estremecer ao sentir o hálito dele em seu
Prática como sempre, Lívia tirou a faca do cinto e levou ao peito da garota, que apertou os olhos com um sorriso no rosto. Apesar daquilo ter-lhe sido pedido, Lívia não conseguia fincar a faca, não conseguia sequer se mexer.— Liv? – Jeff chamou-a, como se apressasse.A garota tossiu e mais um montante de sangue saiu de sua boca. Seu peito subiu com sua respiração falhada e Lívia levantou a faca por um momento, parecendo tomar força para afundá-la, mas sua mão apenas continuou no ar, trêmula.— Por favor – a garota sussurrou mais uma vez. – Por favor, por favor.A mão de Lívia continuava no ar, tremendo mais do que quando ela levara o primeiro susto com as naves extraterrestres. E ela se viu ali, prestes a tirar uma vida e, embora a garota estivesse lhe pedindo, não tinha certeza se seria capaz.Elas poderiam ter se
Na metade do dia seguinte, eles chegaram ao rio e encheram os odres. A noite mal dormida pesava em Lívia, mas a pior parte tinha sido encarar a morte tão de perto.Por mais que não quisesse admitir, estava com medo.O que mais a assustou foi ter passado o resto da noite de olhos fechados, sem conseguir dormir, pensando no que faria se fosse Jeff.E doeu.Isso significava que ela se importava.Por anos, manteve-se afastada das pessoas, evitando se envolver; Jeff era o primeiro com quem ela se importava em muito tempo e isso era muito complicado de lidar.— Nós devíamos seguir o rio por um tempo – Jeff sugeriu.Lívia concordou com a cabeça, mas mudaram o curso ao fim da tarde, acampando no pé de um morro. O dia seguinte seria um dia cansativo de subidas para sair do vale.— Você está bem? – Jeff perguntou pela décima vez naquele di
— Eu nunca vi nada assim – murmurou, encerrando o silêncio entre os dois.Jeff ainda estava sorrindo abertamente para o mar e ela ainda mantinha o mesmo olhar de admiração apaixonada. Eles ainda levariam uns dois ou três dias para chegar até onde as ondas quebravam, isso se o pé dela não os atrapalhasse.— É muito, muito bonito mesmo – Jeff disse, suspirando.Sem dizer uma palavra, os dois concluíram que passar um momento naquela pedra, admirando o horizonte, seria uma boa ideia, então almoçaram com aquela vista maravilhosa. Lívia se sentiu leve como há muito tempo não se sentia.Ela balançou a cabeça com um sorriso leve no rosto. Deviam estar parados há quase meia hora, mas não queria ser a que iria interromper aquele momento, não depois de tanto tempo em apuros. Então, deixou-o curtindo enquant