Eles respiraram aliviados quando o barulho de tiros cessou, mas a calmaria durou pouco. Voltaram a atirar e, por parecer mais alto, souberam que estavam mais próximos. Domado pelo desespero, Jefferson puxou Lívia para mais dentro da floresta e os dois engatinharam, buscando uma proteção maior da copa das árvores, mesmo que suas mochilas tivessem ficado para trás.
Encontraram uma árvore oca e entraram, aliviados com a proteção extra. Ele encostou as costas na borda da árvore e Liv se posicionou à sua frente, encaixada entre suas pernas, de costas para ele, ambos olhando para fora, como se pudessem ver o que estava acontecendo.
— Eu nunca ouvi nada assim – sussurrou.
Ele chiou, pedindo silêncio Lívia sentiu a mão do rapaz em seu quadril, puxando-a para encostar o corpo no dele. Ela trincou os dentes por estremecer ao sentir o hálito dele em seu
Prática como sempre, Lívia tirou a faca do cinto e levou ao peito da garota, que apertou os olhos com um sorriso no rosto. Apesar daquilo ter-lhe sido pedido, Lívia não conseguia fincar a faca, não conseguia sequer se mexer.— Liv? – Jeff chamou-a, como se apressasse.A garota tossiu e mais um montante de sangue saiu de sua boca. Seu peito subiu com sua respiração falhada e Lívia levantou a faca por um momento, parecendo tomar força para afundá-la, mas sua mão apenas continuou no ar, trêmula.— Por favor – a garota sussurrou mais uma vez. – Por favor, por favor.A mão de Lívia continuava no ar, tremendo mais do que quando ela levara o primeiro susto com as naves extraterrestres. E ela se viu ali, prestes a tirar uma vida e, embora a garota estivesse lhe pedindo, não tinha certeza se seria capaz.Elas poderiam ter se
Na metade do dia seguinte, eles chegaram ao rio e encheram os odres. A noite mal dormida pesava em Lívia, mas a pior parte tinha sido encarar a morte tão de perto.Por mais que não quisesse admitir, estava com medo.O que mais a assustou foi ter passado o resto da noite de olhos fechados, sem conseguir dormir, pensando no que faria se fosse Jeff.E doeu.Isso significava que ela se importava.Por anos, manteve-se afastada das pessoas, evitando se envolver; Jeff era o primeiro com quem ela se importava em muito tempo e isso era muito complicado de lidar.— Nós devíamos seguir o rio por um tempo – Jeff sugeriu.Lívia concordou com a cabeça, mas mudaram o curso ao fim da tarde, acampando no pé de um morro. O dia seguinte seria um dia cansativo de subidas para sair do vale.— Você está bem? – Jeff perguntou pela décima vez naquele di
— Eu nunca vi nada assim – murmurou, encerrando o silêncio entre os dois.Jeff ainda estava sorrindo abertamente para o mar e ela ainda mantinha o mesmo olhar de admiração apaixonada. Eles ainda levariam uns dois ou três dias para chegar até onde as ondas quebravam, isso se o pé dela não os atrapalhasse.— É muito, muito bonito mesmo – Jeff disse, suspirando.Sem dizer uma palavra, os dois concluíram que passar um momento naquela pedra, admirando o horizonte, seria uma boa ideia, então almoçaram com aquela vista maravilhosa. Lívia se sentiu leve como há muito tempo não se sentia.Ela balançou a cabeça com um sorriso leve no rosto. Deviam estar parados há quase meia hora, mas não queria ser a que iria interromper aquele momento, não depois de tanto tempo em apuros. Então, deixou-o curtindo enquant
Lívia ficou de pé do lado de fora da proteção das raízes e seu pé falhou um pouco e ela não pôde evitar soltar um resmungo de dor. Jeff saiu franzindo a testa pra ela, que olhou para o outro lado e apertou o pingente do colar, incomodada. Para disfarçar, ela olhou para o alto, como se estivesse procurando um vestígio das naves, mas isso não distraiu Jeff de forma alguma.— Seu pé está pior, não está? – Perguntou.Ela não respondeu, mas ele conseguia ver que mantinha o pé machucado quase sem encostar no chão, deixando o peso todo sobre o outro. Suspirou e puxou sua faca de seu cinto. Sem dizer uma palavra ele subiu meio metro da árvore e se dependurou no galho mais baixo da mesma, forçando seu peso até que ele se quebrasse.Sob o olhar atento e questionador de Lívia, cerrou um pedaço de galho c
— Eu realmente sinto muito por estar atrasando tudo – Lívia disse, após mais um momento de parada para descansar.Apesar de seu pé ter melhorado bastante com as ervas mastigadas, ainda estava inchado e vermelho e os dois estavam tomando muito cuidado com seu caminhar. Lívia estava evitando colocar o pé no chão – Jeff realmente acreditava que ela não conseguia – e toda vez que ela começava a arfar por estar pulando com sua bengala, Jeff os fazia parar.— Está tudo bem – disse – Nossa chegada pode demorar um pouquinho mais, mas seu pé tem que ficar bom, então vamos devagar.Lívia discordava. Ela gostaria de chegar logo e poder esticar a perna e ficar imóvel por uns dois anos até ele não doer mais. E apesar de saber que tinha seus limites, eles estavam perto, já deviam estar quase lá.— E
— Lívia, por favor! – Jeff chamou-a mais uma vez.Ela simplesmente continuou fingindo que não estava escutando, mancando em direção ao porto com Jeff em seu encalço – apenas não a alcançando porque ele sabia que ela estava realmente irritada com e pretendia manter um espaço entre os dois. Lívia estava completamente irada.— Eu só fiquei empolgado com isso, me desculpe – continuou.Lívia apenas continuou andando, arrastando seu pé machucado por toda areia esverdeada, fazendo com que os grãos escorregassem para dentro da sua tala improvisada, causando uma sensação desconfortáve, mas não tanto quando a dor que ela estivera sentindo nos últimos dias e não tanto quanto à raiva e a vergonha que ela sentia após beijar Jeff. Ela bem que podia descarregar a sua própria arma nele, mas o home
— Está passando direto! – Lívia alertou Jeff, como se ele pudesse fazer alguma coisa.Jeff apertou as bordas do casco, jogando seu peso para o lado, como se isso pudesse virar o barco e fazê-lo voltar. Estiveram tão perto do Globo que quase conseguiram encostar nele, mas agora, ele apenas se afastava cada vez mais.Como se apreciasse o esforço de Jeff, o barco fez a curva, retornando à proximidade com a circunferência. Lívia apertou os olhos para a redoma, tentando ver qualquer coisa que pudesse do lado de dentro ou, ao menos, uma entrada.— Estamos fazendo a volta! – Jeff anunciou, como se não fosse óbvio.— Você vê alguma entrada? – Lívia perguntou.Ele estalou os lábios e era obviamente uma negativa em algo que ele não havia pensado sobre. Como se entrava no Globo? Lá era livre de radiação
Fazia muito tempo que não sentia seus braços ao redor de si, mas, mesmo assim, tinha a sensação de casa. Se sentindo estúpida, percebeu que seus olhos estavam meio molhados por lágrimas de medo, deixadas para trás quando insinuaram sua morte para ela, então se deixou escorregar para fora do abraço, sorrindo mais do que se recordava que conseguia.— Eu nunca podia imaginar você aqui – disse. – E, então, lá estava eu vigiando os limites quando você apareceu no barco e eu não pude acreditar até que você saiu dele com aquela tala. Só você para se quebrar assim e ainda parecer que é a dona do universo. Deixe-me ver, já sarou? – Ajoelhou aos pés dela e levantou a barra da calça, apenas para cutucá-la insistentemente no tornozelo.Ela foi incapaz de resistir ao desejo de girar os olhos no