— Eu nunca vi nada assim – murmurou, encerrando o silêncio entre os dois.
Jeff ainda estava sorrindo abertamente para o mar e ela ainda mantinha o mesmo olhar de admiração apaixonada. Eles ainda levariam uns dois ou três dias para chegar até onde as ondas quebravam, isso se o pé dela não os atrapalhasse.
— É muito, muito bonito mesmo – Jeff disse, suspirando.
Sem dizer uma palavra, os dois concluíram que passar um momento naquela pedra, admirando o horizonte, seria uma boa ideia, então almoçaram com aquela vista maravilhosa. Lívia se sentiu leve como há muito tempo não se sentia.
Ela balançou a cabeça com um sorriso leve no rosto. Deviam estar parados há quase meia hora, mas não queria ser a que iria interromper aquele momento, não depois de tanto tempo em apuros. Então, deixou-o curtindo enquant
Lívia ficou de pé do lado de fora da proteção das raízes e seu pé falhou um pouco e ela não pôde evitar soltar um resmungo de dor. Jeff saiu franzindo a testa pra ela, que olhou para o outro lado e apertou o pingente do colar, incomodada. Para disfarçar, ela olhou para o alto, como se estivesse procurando um vestígio das naves, mas isso não distraiu Jeff de forma alguma.— Seu pé está pior, não está? – Perguntou.Ela não respondeu, mas ele conseguia ver que mantinha o pé machucado quase sem encostar no chão, deixando o peso todo sobre o outro. Suspirou e puxou sua faca de seu cinto. Sem dizer uma palavra ele subiu meio metro da árvore e se dependurou no galho mais baixo da mesma, forçando seu peso até que ele se quebrasse.Sob o olhar atento e questionador de Lívia, cerrou um pedaço de galho c
— Eu realmente sinto muito por estar atrasando tudo – Lívia disse, após mais um momento de parada para descansar.Apesar de seu pé ter melhorado bastante com as ervas mastigadas, ainda estava inchado e vermelho e os dois estavam tomando muito cuidado com seu caminhar. Lívia estava evitando colocar o pé no chão – Jeff realmente acreditava que ela não conseguia – e toda vez que ela começava a arfar por estar pulando com sua bengala, Jeff os fazia parar.— Está tudo bem – disse – Nossa chegada pode demorar um pouquinho mais, mas seu pé tem que ficar bom, então vamos devagar.Lívia discordava. Ela gostaria de chegar logo e poder esticar a perna e ficar imóvel por uns dois anos até ele não doer mais. E apesar de saber que tinha seus limites, eles estavam perto, já deviam estar quase lá.— E
— Lívia, por favor! – Jeff chamou-a mais uma vez.Ela simplesmente continuou fingindo que não estava escutando, mancando em direção ao porto com Jeff em seu encalço – apenas não a alcançando porque ele sabia que ela estava realmente irritada com e pretendia manter um espaço entre os dois. Lívia estava completamente irada.— Eu só fiquei empolgado com isso, me desculpe – continuou.Lívia apenas continuou andando, arrastando seu pé machucado por toda areia esverdeada, fazendo com que os grãos escorregassem para dentro da sua tala improvisada, causando uma sensação desconfortáve, mas não tanto quando a dor que ela estivera sentindo nos últimos dias e não tanto quanto à raiva e a vergonha que ela sentia após beijar Jeff. Ela bem que podia descarregar a sua própria arma nele, mas o home
— Está passando direto! – Lívia alertou Jeff, como se ele pudesse fazer alguma coisa.Jeff apertou as bordas do casco, jogando seu peso para o lado, como se isso pudesse virar o barco e fazê-lo voltar. Estiveram tão perto do Globo que quase conseguiram encostar nele, mas agora, ele apenas se afastava cada vez mais.Como se apreciasse o esforço de Jeff, o barco fez a curva, retornando à proximidade com a circunferência. Lívia apertou os olhos para a redoma, tentando ver qualquer coisa que pudesse do lado de dentro ou, ao menos, uma entrada.— Estamos fazendo a volta! – Jeff anunciou, como se não fosse óbvio.— Você vê alguma entrada? – Lívia perguntou.Ele estalou os lábios e era obviamente uma negativa em algo que ele não havia pensado sobre. Como se entrava no Globo? Lá era livre de radiação
Fazia muito tempo que não sentia seus braços ao redor de si, mas, mesmo assim, tinha a sensação de casa. Se sentindo estúpida, percebeu que seus olhos estavam meio molhados por lágrimas de medo, deixadas para trás quando insinuaram sua morte para ela, então se deixou escorregar para fora do abraço, sorrindo mais do que se recordava que conseguia.— Eu nunca podia imaginar você aqui – disse. – E, então, lá estava eu vigiando os limites quando você apareceu no barco e eu não pude acreditar até que você saiu dele com aquela tala. Só você para se quebrar assim e ainda parecer que é a dona do universo. Deixe-me ver, já sarou? – Ajoelhou aos pés dela e levantou a barra da calça, apenas para cutucá-la insistentemente no tornozelo.Ela foi incapaz de resistir ao desejo de girar os olhos no
Primeiro, Lívia achou que era sua perna que estava falhando, já que Elena havia pedido para ficar quieta – o que provavelmente não a permitia ficar tanto tempo em pé por aí. Mas um olhar para frente e ela podia ver Denis balançar e os outros soldados passando pela rua atrás de si tentando procurar algum lugar firme para se firmar.A primeira reação de Denis foi puxá-la mais para perto, como se pudesse protegê-la melhor assim. Acostumada com seu raciocínio rápido, Lívia acompanhou o olhar dele até o momento em que ele parou, olhando para cima. E, então, ela olhou também.Tudo tremeu mais uma vez e viu, no topo do globo, o esfumaçado se extinguir por um momento, apenas para que eles pudessem ver o fogo que se queimava do lado de fora. Antes que o branco voltasse a reinar, em um vestígio de azul do céu, eles puderam ver duas cois
— Meu irmão pode estar morrendo lá fora! – Ela se justificou, batendo os pés em direção ao primeiro armário que encontrou.Apesar das coisas serem completamente diferentes em sua vila, Lívia não demorou a perceber que eles estavam na cozinha de Denis. Ainda havia uma pia, embora tivesse água saindo por uma estrutura de metal brilhosa, ainda havia um fogão, embora Lívia não soubesse onde poderia colocar a madeira, e ainda havia uma mesa, essa sim ela reconhecia sem nenhum problema. Tirando o armário, o resto era tudo novo e ela mal saberia nomear, quanto mais usar.Mas ela conhecia seu irmão o suficiente para saber que as armas estariam escondidas no lugar de mais fácil acesso. Isso significava que alguma daquelas portas e gavetas estava o que ela precisava para lutar.— Está tudo bem – ele disse, compreensivo.Lívi
Hoje era o grande dia pelo qual esperou a vida toda.Não era a única, porém. Milhares de jovens haviam se preparado e ansiado por aquele momento, mas a glória viria para poucos. Apenas algumas dezenas teriam a oportunidade de mudar seu destino para sempre.Lívia olhou pela janela, para o caos que chamava de lar. Não concordava com o tipo de vida que levava naquele lugar, ninguém a merecia. Por isso, havia abdicado de tudo para sair dali.Precisava confessar que parte daquela persistência tinha a ver com Ric.Fechou o zíper de seu macacão de proteção, como todos os dias, nos últimos dez anos. Sua arma radioativa apitou o recarregamento, então ela tirou de seu case e colocou na cintura.Admirou-se no espelho. Dura, fria, quase como aço. Havia anos que se proibira de demonstrar suas fraquezas, como o nervosismo que sentia naquele dia tão impo