A segunda projeção escureceu tanto o ambiente em que estavam que Lívia emitiu sua luz esverdeada de forma que nunca emitira antes. Distraiu-se, então, olhando para sua mão por um momento antes de arregalar os olhos para a imagem à sua frente.
Era uma nave espacial tão grande, maior do que qualquer coisa que ela já tivera visto e estava bem à sua frente. O pânico, inserido tão profunda e intimamente nela desde àquela tarde em que Ric fora tomado na sua presença, a fez recuar instintivamente até a parede mais próxima.
— Está tudo bem? – Jerrade perguntou, estranhando sua fraqueza tão evidente, quando a garota mal demonstrava satisfação.
Lívia não dignou-se a responder, continuando a encarar a grande nave espacial com os olhos arregalados. A nave estava pairando em meio ao nada, mas, em uma manobra, giro
A imagem de Globo do Mar foi se afastando, subindo até que Lívia pudesse ver toda a extensão de Esmeralda, o que a fez arregalar os olhos. Nunca em sua vida ela pensara que a floresta pudesse ser tão grande.Ela começava em um estreito, quase no limite com o Norte destruído e descia, abrindo-se em todo o continente, indo até o Sul, onde ela tinha uma versão mais espaçada, mas, ainda assim, ela estava lá. De Norte a Sul, de Leste a Oeste. Esmeralda dominava todo o espaço, tirando pelos pequenos campados e os desmatados para construção das centenas de vilas.“Esmeralda é o que restou de nossa Fauna e Flora, o sobrevivente de tudo que tínhamos, mesmo antes da Grande Guerra. Ela é nosso suspiro de alívio e a nossa melhor amiga na batalha contra todas as adversidades. Nossa função é protegê-la de tudo e de todos que querem-l
Lívia lançou um último olhar a Jerrade, balançando a cabeça em despedida. O rapaz sorriu-lhe e ela conseguiu olhá-lo com descaso, no momento. Assim que a diretora se livrasse dela, iria atacar o rapaz. Isso a enojava.— Boa sorte, soldado Esterfonte – ele disse. – Espero que nos encontremos em breve.Ela concordou com a cabeça, seguindo a diretora para fora da saleta, sem pronunciar uma palavra. Lívia era, de todo, uma pessoa corajosa e forte, mas durante toda a sua vida, ela sabia o que esperar e o que fazer. Se bombas caiam, corria pro proteção e ajudava se alguém precisasse de ajuda para se salvar; se tinha um teste para fazer, dava o melhor de si, sabendo que teria assistência para se curar, caso se machucasse.Aquilo seria diferente. E, mesmo com pavor de admitir para si mesma, estava assustada. Tão aterrorizada que não pudesse conseguir fazer
Lívia aterrissou em um campo do lado de fora das cercas e levantou o olhar a tempo de ver a fina caixa que havia lhe expulsado do centro de treinamento retroceder até voltar a fazer parte da construção.O Sol já tinha chegado ao alto quando Lívia olhou ao redor e percebeu que estava bastante distante das cercas de proteção. Seu medo, criado após o sumiço de Henrique, voltou com força total e ela sentiu sua respiração ficar falhada ao ponto de precisar ajoelhar-se sobre a grama para tentar se controlar.Levada ao esgotamento físico e emocional, deixou lágrimas de medo e saudade escaparem.Medo que não encontrasse Denis, mesmo se chegasse em Globo do mar.Ali, no campo além das cercas, ninguém poderia vê-la sair de sua carapaça dura e inquebrável. Ali, ela era a garotinha assustada que sempre precisara de prote&cc
Lívia não sabia desde quando a pele humana tinha começado a brilhar - certamente tinha acontecido gerações após a saída dos abrigos em resultado às sucedidas adaptações de sua espécie à radiotividade mortal da atmosfera.Ela também sabia que nem a desintoxicação conseguia limpar aquela característica por completo, mantendo um brilho fraco e discreto até o resto da vida.Todos os habitantes da Terra emitiam brilhos esverdeados, mais fracos ou mais fortes.Aquele garoto não tinha nenhum.Aquele garoto de pele negra, ombros largos e corpo esguio e forte, caminhando de um lado para o outro, era um ponto opaco diante da noite verde.Seus dentes trincaram com a mais óbvia explicação para aquilo: ele não era um habitante da Terra.Não era uma explicação comum; L&
— Vamos acampar – Lívia disse, sem cerimônia alguma.Ela se levantou em um pulo, mas o rapaz continuou impassível a observá-la, indeciso entre a admiração e o espanto. Liv começou a descer a colina sozinha, sem esperá-lo, mas um olhar ameaçador em sua direção foi o suficiente para que o garoto começasse a se mover.Alcançou-a quase tropeçando em seus próprios pés quando o declínio se encerrou. Parou ao lado dela, tentando lançar-lhe um sorriso encantador.— Meu nome é Jefferson. Tony Jefferson. Ou Jeff. Sou da vila 377... – E continuou, com uma voz grossa como se estivesse anunciando:. – Estruturada para o futuro.Jeff riu sozinho de sua própria piada enquanto Liv o encarava, sem entender aonde estava a graça. Quando percebeu que estava rindo sozinho, Jeff limpou a garganta
Jefferson pôs-se de pé rápido demais para quem estava com a perna machucada e tomou uma posição defensiva, mas sem saber de onde viria ameaça.A rapidez e a destreza da sua movimentação fez Lívia entender como ele tinha sido o melhor de sua série.Em pânico e com alguém já tomando a dianteira da situação, ela engatinhou até estar protegida pela árvore e se escondeu, ocultando o seu brilho fantasmagórico com o da planta. Jefferson, ao entender sua ideia, saiu da posição exposta e encolheu-se ao lado dela.O barulho da nave ficou ainda maior e entrou no campo de visão deles, pairando logo acima de onde estavam anteriormente, como se os tivessem procurando.Lívia começou a tremer descontroladamente, certa de que aquilo era culpa do filete fino de fumaça que subia de um galho
Jefferson estava alerta – e ficara assim a noite inteira. Quando a manhã pareceu que ia dar o ar de suas graças e as luzes da radioatividade começaram a ficar mais fracas com a claridade do céu, percebeu na hora que as pálpebras da garota estavam em movimento.Ela dormira razoavelmente bem para uma primeira noite no lugar que mais a assombrava no mundo. Sonhara, inclusive. Embora assustada, a presença de Jefferson estava a tranquilizando um pouco. Por isso, deixara-se ter algum momento de paz.Não que ela fosse admitir.De alguma forma, sabia que Jefferson a estava encarando e abriu os olhos para confirmar. O garoto apenas sorriu por ser pego em sua pequena travessura e Lívia cerrou os olhos em sua direção para exemplificar seu desagrado.— Boa manhã – murmurou, olhando para o céu por uma pequena fresta entre a copa das árvores. – Bela
Uma semana de viagem se passou até que eles finalmente ouviram o barulho de água corrente. Com a economia feita, os cantis ainda duravam, mas estavam nos últimos goles. Quando perceberam o barulho de água, os dois se entreolharam e Lívia chegou a suspirar, aliviada. Estivera tão preocupada que não pudessem continuar por muito mais tempo naquelas condições que só de ouvir o barulho, deixava-se sentir sua sede saciada.Alcançaram o rio com a maior rapidez que suas pernas cansadas lhe permitiram. Lívia ajoelhou-se na borda e pegou um montante de água com as mãos, bebendo-a, agraciada. Jeff, por outro lado, jogou a cabeça na água e engoliu o máximo que conseguia.— Estou cheio – Jeff declarou, uns cinco minutos depois, jogando-se deitado no chão, com a mão sobre a barriga.Lívia revirou os olhos e balançou a c