Uma foto no colo do papai noel?

Isabella

Tudo bem, Isabella, você ainda tem três semanas para ficar aqui, não precisa atacar o cara assim de uma hora pra outra, por maior que seja a tentação, até porque nesses três dias estaremos bastante ocupados.

Com aquele pensamento em mente eu fui até Gustaf no saguão, ele estava carregando todas as caixas para longe da lareira, separando algumas.

Eu me mantive em silêncio, encostada em uma coluna de madeira, observando a forma como os músculos de seus braços se destacavam com o esforço, mesmo ele vestindo uma camiseta de manga comprida.

— Você vai me ajudar ou só vai ficar me olhando? — ele perguntou ao se abaixar para pegar mais uma caixa, me dando uma visão privilegiada.

Eu poderia me sentir envergonhada por ter sido pega espionando, mas eu não me importei muito.

— Eu estou tentada a continuar olhando — eu o provoquei, recebendo uma risada em troca.

— Essas caixas aqui são da decoração da lareira, pensei em decorar tudo, e no fim, só colocar as poltronas no lugar — ele apontou enquanto eu me aproximava.

Eu me abaixe, abrindo uma das caixas, me sentando no chão antes de começar a retirar as guirlandas de dentro.

Gustaf se sentou ao meu lado, começando a desembaraçar os enfeites, nós trabalhamos em um silêncio confortável por alguns minutos, nos limitando a trocar alguns olhares ocasionalmente. 

— Então, qual é o seu problema com o natal? — ele quebrou o silêncio.

— Problema?

Eu parei o que estava fazendo, dedicando minha atenção a ele.

— Você parece odiar a data, nunca montou uma árvore, isso é um problema.

Odiar… eu não odeio o natal, nunca odiei. Na verdade, a data sempre foi insignificante para mim.

— Eu não odeio, mas quando você está sozinha o tempo todo, você acaba perdendo a vontade de comemorar essas coisas — eu dei de ombros.

— Você ficou sozinha depois da mudança dos Monaghan? — ele me lançou um breve olhar enquanto eu voltava a separar os enfeites. 

Eu pensei por um momento antes de responder, aquele era um assunto delicado que eu não costumava compartilhar com qualquer um, mas talvez fosse o momento, o lugar, ou até mesmo o fato de Gustaf ser praticamente um desconhecido, mas quando dei por mim, já estava me abrindo.

— Eu estava sozinha antes, e então, eles surgiram e nós não nos separamos mais, mas mesmo enquanto estávamos juntos, não era uma data comemorativa para nenhum de nós — eu dei de ombros, me esticando para pegar outra caixa.

Meu coração acelerou quando eu abri a caixa, observando o conteúdo. Gustaf continuava falando comigo, mas eu não conseguia mais prestar atenção no que ele dizia.

— Hey, me diga uma coisa, era pra isso estar quebrado? 

Eu ergui vários cacos vermelhos e azuis, que provavelmente eram as bolas coloridas que usaríamos para enfeitar as guirlandas.

Gustaf ficou sem ação por um segundo, antes de se arrastar até onde eu estava, olhando dentro da caixa.

— Não sobrou nada?

— Esses sinos amassados.

Nós dois ficamos em silêncio, pensando em como aquilo atrapalharia nosso progresso, mas não demorou até que ele tomasse uma decisão.

— Abra as outras caixas, veja se tem mais enfeites quebrados, eu vou ligar para o meu primo e pedir para ele ficar com o Danny até o almoço — Gustaf se levantou já pegando o celular, enquanto eu seguia sua instrução.

No fim, nós teríamos que substituir grande parte dos enfeites, então após alguns minutos vestindo todas as camadas de roupas necessárias para enfrentar as temperaturas negativas do lado de fora, nós dois saímos às compras.

Gustaf e eu caminhamos lado a lado pelas ruas do Polo Norte, o sol já tinha nascido, iluminando todos os detalhes daquela peculiar cidade. Após passar a surpresa inicial, eu não podia negar o charme daquele lugar com toda a decoração natalina.

— A casa do Papai Noel fica algumas quadras naquela direção, vamos encontrar tudo lá — ele indicou.

Eu assenti, ainda admirando o contraste de toda a neve branca com os enfeites natalinos coloridos.

— Esse casaco é masculino? — Gustaf perguntou após me observar melhor.

— Sim, eu peguei do armário do Zach, achei que combinaria melhor com essa roupa — expliquei.

Aquela declaração arrancou uma risada do rapaz.

— Você não deveria assaltar o armário da Gwen?

— E de quem você acha que são essas botas? — Eu ergui o pé — É a única coisa dela que serve em mim!

— Como vocês se conheceram? — Gustaf quis saber, caminhando com as mãos no bolso.

— No ensino médio. Eu era nova na escola, tinha acabado de ser expulsa da última por ter batizado o ponche do baile de primavera — eu relatei. 

Eu pensei que ele acharia a história engraçada, como todos, mas não, ele se manteve sério.

— Você batizou o ponche? 

— Coloquei Vodka e Tequila, um aluno passou muito mal e acabou a noite no hospital — eu suspirei.

Não me orgulhava daquela façanha, mas eu não podia mudar o que tinha acontecido.

— Você parecia ser o tipo festeiro — seu olhar sobre mim se tornou analítico.

— Sim, eu era a garantia de que a festa seria divertida, eu sempre conseguia bebidas e inventava as maiores loucuras — eu admiti um pouco sem graça.

— E você continua assim?

Seu olhar sobre mim era cada vez mais intenso, me deixando desconfortável.

— Em relação a bebidas ou a loucuras? — Eu parei de caminhar, franzindo o cenho ao observar o homem.

Ao perceber que eu não estava mais ao seu lado, Gustaf retornou, ficando de frente para mim, ainda com aquela expressão indecifrável em seu rosto.

— Geralmente loucuras e bebidas andam lado a lado. Você costuma beber? — ele deu de ombros.

O que exatamente ele quer saber? Isso é algum tipo de flerte?

— Você está me convidando para uma bebida? Se for isso, você estava se saindo melhor antes.

Gustaf deu um sorriso sem graça antes de voltar a caminhar, eu logo me apressei para acompanhá-lo.

— A loja fica logo ali — ele apontou, mudando de assunto.

Eu me senti um pouco desnorteada por seu comportamento, mas aquela sensação logo foi esquecida quando avistei a grande construção branca com detalhes vermelhos.

Eu me sentia maravilhada com a quantidade de enfeites disponíveis ali, aquele lugar sem dúvida era mágico, e mesmo eu, que nunca liguei para aquela data, me senti completa naquele momento.

— Então, você disse que se conheceram na nova escola? — Gustaf retomou o assunto anterior enquanto me guiava para a área de enfeites.

— Quando eu comecei na nova escola eu me sentia péssima por conta da situação do garoto que foi hospitalizado, foi quando eu decidi que não voltaria a me envolver nesse tipo de situação, mas com a minha personalidade só tinha uma maneira de garantir isso, então no meu primeiro dia de aula, na hora do almoço eu olhei em volta, encontrei a mesa onde um garoto de olhos puxados e uma expressão que lembrava um psicopata maníaco estava sentado sozinho e pensei, ninguém nunca vai convidar esse cara pra uma festa.

Aquela última declaração arrancou uma risada de Gustaf, desfazendo de vez o clima estranho que tinha se formado entre nós dois.

— E então? 

— Eu me sentei com ele, e foi o maior suicidio social da história daquela escola. Nós nunca éramos convidados para nada — eu não evitei um pequeno sorriso de chegar em meus lábios — O que você acha de levarmos os enfeites dourados ao invés de azuis? 

— Claro. Então você e o Zachary se conheceram antes?

Eu suspirei, me lembrando daquela época, não era algo que eu costumava pensar com frequência, na verdade, eu preferia fingir que não aconteceu.

— Gwen chegou na escola alguns dias depois, e ela com certeza manteve distância de Zachary e eu, se envolvendo com os populares. Ela era bonita e carismática, não foi difícil se enturmar.

Eu peguei nas prateleiras alguns ursinhos com cachecóis listrados, mostrando para Gustaf em seguida.

— Você gostou? Podemos levar — ele garantiu.

— Nós não nos tornamos amigas até algumas semanas depois, quando uma das supostas amigas dela descobriu sobre a situação familiar dela e espalhou para todos na escola. Gwen ficou devastada e como eu sabia que Zachary tinha uma queda por ela, eu decidi intervir — eu peguei um cordão de pisca-pisca — nós temos o suficiente disso? 

— Sim, temos — ele garantiu — Como você interviu?

— Eu avisei que era melhor ela deixar Gwendolyn em paz ou eu quebraria o nariz dela. Eu nunca precisei cumprir a ameaça e Gwen se identificou com nosso grupo.

Eu terminei a história, Gustaf me observava com uma expressão divertida.

— E vocês são amigos desde então?

— Eles são minha família, nós fomos para a mesma faculdade, e éramos vizinhos até que eles se mudaram.

Eu me sentia melancólica ao pensar naquela época, eu não me sentia tão solitária tendo os dois tão próximos a mim. Eu desisti de um dos enfeites, o devolvendo para a prateleira com um suspiro. 

Gustaf parece ter notado minha mudança de humor, já que se aproximou, colocando a mão no meu ombro.

— O que você acha de superar o seu medo do Papai Noel? 

— O que? 

Gustaf apontou para uma área onde uma grande poltrona estava em evidência e um homem vestido de Papai Noel caminhava.

— Você está falando sério? Eu não tenho medo do papai Noel — eu murmurei.

— Então você pode ir até lá e tirar uma foto com ele — Gustaf se virou de frente pra mim, olhando em meus olhos.

— Eu posso ir até lá e sentar no colo dele agora — eu devolvi.

— Eu só acredito se você fizer — Ele devolveu.

A intensidade em seu olhar fazia meu coração acelerar e a tensão entre nós era quase palpável.

— Isso é um desafio, Querido? Eu posso te surpreender.

Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, causando um leve formigamento em minha área íntima.

— Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso, Isabella. Mas você não vai fugir tão fácil.

Eu estreitei os olhos antes de dar as costas para ele, caminhando em direção a poltrona do papai Noel.

— Isabella? — ele me seguiu de perto.

— É melhor você preparar o seu celular, Gustaf

 — eu o avisei.

— Você está falando sério?

Sem me incomodar em responder, eu fui direto até o homem vestido de Papai Noel, Elliot Jones, se me recordo bem. 

— Hey Noel, podemos tirar uma foto? — eu chamei sua atenção.

— Ho ho ho, é claro que sim, minha jovem — ele declarou com uma voz típica, que quase me fez revirar os olhos antes de se aproximar.

— Você não vai se sentar? — eu forcei um sorriso quando vi que sua intenção era permanecer em pé ao meu lado.

— Sentar? — ele franziu o cenho.

— Sim, meu amigo ali me mandou tirar uma foto sentada no colo do papai Noel — eu apontei para Gustaf, que observava a cena com diversão.

O homem parecia sem palavras diante da minha explicação.

— O Bergqvist te mandou sentar no meu colo? — o homem perguntou, saindo do personagem pela primeira vez.

— Pode me agradecer depois, Elliot — Gustaf brincou, recebendo um sinal de positivo do amigo.

Eu revirei os olhos, me preparando para a foto, eu me sentei em uma das pernas do homem, oferecendo meu melhor sorriso enquanto Gustaf nos fotografava.

— Pronto? — eu me levantei depressa.

— Você pode tirar outra, pra ter certeza que ficou boa — Elliot Jones propôs.

— Eu tenho certeza que ficou ótima — eu retruquei.

Gustaf guardou seu celular ainda sorrindo, mas se ele pensa que vai escapar dessa tão fácil, se enganou.

— Sua vez, Gustaf.

— O que? — Ele ergueu ambas as sobrancelhas.

— Eu tirei minha foto, agora você senta no colo do papai Noel — eu sorri, para surpresa do falso bom velhinho.

— Pessoal, podemos estabelecer um limite de peso? — Elliot propôs, parecendo preocupado.

— Isso não vai acontecer, Isabella  — Gustaf negou.

— Vamos, não me diga que você tem medo do Papai Noel? 

Com uma expressão divertida, Gustaf se inclinou, se aproximando do meu rosto. Por um momento eu pensei que ele fosse me beijar, fazendo com que meu coração batesse mais forte, mas ao contrário do que eu esperava, ele parou a poucos centímetros do meu rosto.

— A questão é que eu não vou cair em uma provocação tão infantil — ele zombou, passando o dedo indicador pela ponta do meu nariz, o contornando até roçar em meus lábios.

E para minha total frustração — e alívio de Elliot Jones — ele se afastou, me deixando para trás.

— Vamos, nós ainda temos uma pousada para decorar, Izzy.

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