5*

 — Não me chame de Luíza, eu odeio! — digo sentindo todos meus nervos à flor da pele.

— Você achou mesmo que iria esconder isso de mim? Pensou que poderia carregar um filho meu e simplesmente tirar só porquê não quer? Se pensou isso, pensou errado, Luíza! — estamos nos encarando fixamente.

Sinto a mão de Manu em meu braço e ela logo se posiciona ao meu lado

— Eu não me importo! Pode dizer o que quiser! Você ser o pai não faz diferença alguma! — ele solta algo parecido com um rugido de desaprovação e ao mesmo tempo vejo seu olhar se encher de raiva.

— Vamos nos acalmar, ok? Tudo pode ser resolvido com conversa — diz Manu.

— Saiam, me deixe sozinho com ela. — Manu olha para Luan e em seguida para mim — Agora! — me assusto com o grito.

— Se precisar de mim, pode chamar. Estou do outro lado da porta — diz minha amiga, segurando minha mão e então sai do cômodo. Luan passa a mão em meu ombro, mas para ao lado de Daniel e escuto quando diz: "Pegue leve com ela", mas Daniel nem mesmo olha para o rapaz.

Assim que a porta se fecha, encaro o homem à minha frente. Estamos sozinhos e ele não parece mais o cara educado que foi das últimas duas vezes que nos vimos. Parece frio, sem sentimento e tomado pelo ódio. Eu preciso dizer alguma coisa, sei que ele está esperando por isso.

— Você não entenderia mesmo se eu explicasse milhares de vezes. Você não entenderia! — ele ri, um sorriso ladinho e rancoroso.

— Não entendo o que? — diz — Não entendo você querer tirar meu filho? É isso? — sorri mais uma vez — Eu não entendo mesmo! — ao ouvir isso, sou tomada pela raiva e dou um passo à frente:

— Claro que não! Você não perdeu porra nem uma com isso, mas eu sim, eu perdi tudo! — sinto que vou chorar, mas me controlo — Eu perdi meu pai, perdi a estabilidade que eu tinha, perdi minha vida, meu futuro... Eu perdi tudo, ok? Eu... — As lágrimas caem e levo as mãos ao rosto — Eu estou perdida! — tento secar e continuar, mas não paro de chorar.

Ele se cala e fica imóvel, não se aproxima.

— Mas se a gente teve a capacidade de fazer sem pensar nas consequências, então temos capacidade de assumir o que fizemos.

— Assumir? — dou risada — Assumir o que? Mal nos conhecemos. Eu não gosto de você, não sinto nada — ele me encara — Me diga como isso pode dar certo, Daniel!

— Você tem razão em pelo menos em uma coisa. Não nos conhecemos e não gostamos um do outro, mas entenda, tem um bebê entre nós. Um bebê que precisa de pai e mãe mesmo que eles não estejam juntos. — ele da um passo à frente — Esse bebê precisa de cuidado, amor, carinho, família... E isso eu sei que somos capazes de dar. Eu sou capaz! — sinto um nó na minha garganta — Eu nunca pensaria em mandar uma mulher abortar um filho meu, nunca! — continuo olhando para ele e já não ligo mais para as lágrimas que insistem em cair

— Não posso, não consigo! —Daniel faz o que eu não esperava, se aproxima e segura minha mão.

— Me diga apenas uma coisa, Ana Luíza... Você acha que tirando essa criança do teu ventre, tua vida vai voltar ao normal? — concordo rápido demais — Não vai, eu digo isso de pé junto. Você vai ter que carregar o fardo de ter abortado e ainda correr o risco de o seu pai não falar com você. Por um segundo, pare e pense na merda que quer fazer. — Eu sei, sei que ele tem razão e quero dizer que na verdade eu já tinha desistido da ideia do aborto assim que Luan me lembrou que mulheres morrem fazendo isso.

Não tem um lugar correto para fazer, é feito de qualquer jeito e não somos tratadas como deveríamos. A única coisa que posso fazer é chorar.

— Você consegue! Vamos conseguir!

— Droga, o que a gente vai fazer? — me jogo no sofá e tapo meu rosto.

— Você vai para minha casa! — olho para ele — Quero você perto de mim, quero assumir isso na real e quero acompanhar o crescimento do meu filho. Eu quero ser um pai presente e para isso você vai vir para minha casa.

— Não — respondo rapidamente, incrédula — Não somos nada para dividir o mesmo teto. E sobre ser pai presente... é só vir aqui e pronto, não vai fazer diferença.

— Mas eu quero você em casa, onde eu possa ficar de olho. Quero cuidar de vocês...

— Que pena, querer não é poder — me levanto e cruzei os braços feito uma garotinha mimada — Acho que já terminamos nossa conversa, quer que eu acompanhe você até a porta ou sabe o caminho? — aponto para a porta atrás dele.

— Então você não vem? — ele pergunta e dou um longo suspiro.

— Não! Quer que eu desenhe isso para entender melhor? — é a vez dele de ficar em choque.

— Ok, você pediu... — a cena que se segue é rápida demais para que eu compreenda. Ele me pega pelas pernas e me j**a eu seu ombro. Grito de susto e depois de choque por ele ter a ousadia de fazer isso comigo.

— Me solta, peste! Me solta! — bato em suas costas com os punhos fechados.

— Você é louca, pode muito bem fazer mal ao meu filho e isso não vou deixar — vejo a porta se abrindo, mas ele vira, por isso não consigo ver quem se aproxima.

— Dan, o que está fazendo? — é a voz da minha amiga.

— Manu, me ajuda, por favor, me ajuda!

— Vamos ter o bebê, ela vai morar comigo e ponto final — diz ele enquanto se encaminha para fora.

— Me coloca no chão Daniel, agora! — falo alto já vendo a rua cheia de gente — Você é um idiota, imbecil, bruto! — bato mais.

— Daniel? O que está fazendo? — reconheço a voz de tio João.

— Tio, por favor, manda ele me soltar. Por favor! — quero olhar para cara do homem, mas não consigo.

— Se explique — diz ele.

— Essa garota espera um filho meu! Ela ia tirar, mas eu descobri, e por isso essa maluca vai morar comigo. Ela não vai fazer mal ao meu filho! — ele arruma meu corpo no ombro — Ela tem algo que me pertence e por isso vai ficar junto a mim, pelo menos até essa criança nascer!

— Podemos sentar e resolver de outro jeito, meu filho — diz tia Cida aproximando-se — Coloque ela no chão e vamos entrar.

— Já está resolvido e espero que não entrem no meio — eu sei que eles irão obedecer, afinal Daniel não é qualquer um. Ele é a porra do chefe do tráfico. Ótima ideia transar com ele, Ana Luíza. Ótima ideia.

Estou me sentindo tonta e enjoada. Daniel volta a andar, mas para.

— Traga as coisas dela para minha casa imediatamente — dito isso ele volta a caminhar.

Ergo a cabeça e vejo os pais de Manu, ela e Luan olhando embasbacados conformo soou levada.

— Eu vou matar você! — falo alto olhando para Luan e ele puxa Manu como um escudo, como se seu corpo pudesse defende-lo de minhas ameaças.

Daniel continua subindo o morro, as pessoas param para olhar a cena e eu continuo gritando e batendo nele. A certa altura já estou cansada de bater e gritar então fico calada, até que...

— Eu vou vomi... — já era, vomitei nas costas dele. Bem feito.

Quase de imediato ele me desce enquanto solta vários palavrões.

— Você é um grande babaca por trazer uma mulher grávida assim. Parabéns por usar esse cabeção de merda! — dito isso não consigo segurar o riso ao ver ele com as costas e perna melados.

— Vai ficar rindo, é? — ele tira a blusa e limpa as pernas com a parte limpa — Já estou perdendo a porra da paciência — diz me olhando com seriedade.

— Tu achas que eu ligo? — coloco a mão na cintura — Já que me trouxe até aqui pode me levar o resto do caminho — ergo os braços e ele revira os olhos, passando para minha frente — Mal educado! — baixo as mãos e continuo parada.

— Anda logo, Luíza — diz.

— Eu não vou, já falei — vejo que ele está tentando não perder a paciência e eu estou adorando fazê-lo surtar.

— Não enche a porra do meu saco véi, para de cú doce... Você vai ter um quarto separado e é só até o fim da gravidez, depois você pode ir embora

— Vou ser obrigada a ficar nove meses aguentando tua cara? Isso parece um pesadelo! — cruzo os braços. Ouço ele respirando fundo.

— Quer saber.... Foda-se — diz ele e volta a caminhar.

Droga! Não tenho outra opção, então o sigo.

Chegamos em sua casa dele e foi impossível não lembrar da primeira vez que eu estive aqui. Logo viajo na lembrança de suas mãos em meu corpo.

— Venha, mostrarei o seu quarto — diz ele já subindo as escadas

Assim que passo pela porta de seu quarto, um arrepio sobe por minha coluna. Ele para duas portas depois da dele.

— Aqui terá tudo que você precisa, porém qualquer coisa pode me avisar — diz, saindo e deixando o odor de vômito para trás.

Não seguro a risada da cena dele todo sujo, eu não tenho culpa.

O quarto é simples, paredes brancas, cama de casal com lençóis pretos, cortinas da mesma cor e a vista da janela que dava para uma parte do morro. O guarda roupa é grande e as portas são espelhadas.

É aconchegante, mas não é meu lar. Me sento na cama e choro.

Pelas palavras pesadas que ouvi do meu pai, choro porquê pela primeira vez na vida me sinto perdida. Não sei quem sou mais e o que vou fazer, então o que me resta é chorar. Procuro meu celular na esperança de ligar para ele, mas então percebo que por conta daquele idiota, tudo que é meu ficou para trás.

Abro uma porta perto do guarda roupa e descubro que ali é o banheiro. Entro, lavo meu rosto e respiro o mais fundo que consigo. Assim que volto para o quarto ouço a companhia tocar, então desço.

A porta do quarto de Daniel está aberta e ouço o chuveiro, corro para baixo e abro a porta dando de cara com Luan.

— Filho da mãe, era com você mesmo que eu queria conversar! — seguro seus cabelos com firmeza e puxo-o para dentro.

— Aí, Analu! — ele reclama e puxo mais forte.

— Olha a vergonha que você me fez passar e tudo isso porque você nasceu com a boca de mulher fofoqueira filho de uma p... — Quero bater nele até ver ele seu corpo todo roxo!

— Tu é muito brava, pô! — ele se solta e me olha — Já pedi desculpas...

— Não pediu não, cara de rapariga! — Dou um soco em seu braço.

— Então desculpa véi, foi sem querer. Eu estava puto, aí bebi e soltei — dou outro tapa forte em seu braço.

— Entra logo com essas coisas aí — ele passa a mão onde dei o tapa enquanto me encara com cara de choro. Mimado.

Coloco Luan para arrastar as três malas até a sala e depois para o quarto. Estou sentada no sofá quando ele desce com as mãos nas costas.

— Vai achando que sou teu empregado não, viu guria! Sou mais velho que tu!

— Grande bosta, um ano apenas — reviro os olhos — Se eu fosse tu ficava calado!

— Mas cá entre nós, tu tá carregando três cadáver naquelas malas, é? Peso da porra...

— Vou carregar o teu cadáver da próxima vez que você se meter onde não deve! — ele mexe a boca me imitando e vou para cima dele para lhe dar outro tapa, mas ele corre enquanto ri.

— Vocês parecem irmãos — paramos ao ver Daniel ao pé na escada só de bermuda enquanto seca o cabelo com uma toalha.

— Trouxe meu celular? — pergunto, ignorando Daniel.

— Aqui — Luan me entrega junto aos fones. Seguro o aparelho e subo para "meu" quarto, passando diretamente por Dan.

— Por nada... — diz Luan

— Você que deveria agradecer por eu não ter matado você. — digo e sumo de vez.

***

Já é de manhã, ouço pessoas conversando, crianças brincando... Crianças... Eu estou grávida, minha mente relembra.

Não posso acreditar que tem algo crescendo dentro de mim, algo que de uma forma ou outra estragou minha vida. Balanço minha cabeça para espantar esses pensamentos.

Abro meus olhos e me vejo em um quarto totalmente diferente. Como pode ser, três semanas atrás eu dormia em meu quarto, até ontem eu dormia no quarto da Manu, e hoje acordei em um dos quartos de Daniel. Meu Deus...

Me levanto, mesmo sem querer e vou tomar banho, faço minhas higienes matinais, visto um short jeans junto com uma blusa longa e amarro meus cabelos. Tia Cida me disse que no começo é normal ter enjoos, mas até agora tive poucos. Sinto o cheiro de ovos e pão e logo minha barriga ronca.

Chego na cozinha pronta para dizer algo para Daniel, mas dou de cara com uma mulher no fogão enquanto ele está sentado mexendo no celular. Ela é alta, tem o corpo definido e cabelos com mechas loiras. Seus olhos param sobre mim e ela logo sorri.

— Acordou — a mulher desliga o fogo e coloca os ovos mexidos em um prato — Quis muito chamar você, mas Daniel não deixou —ela vem em minha direção e me abraça como se já nos conhecemos.

Estou em choque para falar ou reagir. Olho para Daniel e o vejo sorrindo com meu constrangimento

— Analu, essa é minha mãe. E mãe, a senhora esqueceu que a menina não faz ideia quem a senhora seja? — ela me solta, mas continua com as mãos em meus ombros.

— Me desculpe, estou tão empolgada que me esqueci! — seu sorriso chega a ser acolhedor — Sou Glória, mãe do Dan — ela me balança animada conforme fala.

— Oi, é um prazer conhecer a senhora — minha voz sai totalmente sem jeito e vejo Daniel sorrindo. — Sou...

— Eu já sei quem você é e porquê está aqui — desce o olhar para minha barriga — Estou tão feliz... Vou ser avó e isso é perfeito! — eu sorrio mesmo que não compartilhe da mesma felicidade

— Mãe, deixa ela respirar. A senhora está assustando a garota. — diz ele e mulher enfim se afasta.

— Meu netinho vai nascer a coisa mais linda — Daniel revira os olhos e encara o celular. Estou tímida e sem graça — Enfim, não sabia o que você comia no café da manhã, mas fiz ovos mexidos — ela me guia até a mesa e sento-me em frente a Daniel.

— Geralmente não como de manhã, mas estou faminta. Não comi nada ontem — ela enche uma xícara de café — E obrigada, não precisava fazer tudo isso! — vejo ela me encarando, acho que falei algo errado.

— Como assim não comeu nada ontem? — olha para Daniel.

— Eu achei que ela tinha comido — diz ele rapidamente.

— Na hora que o bonitão chegou na casa da tia Cida, eu tinha acabado de chegar do trabalho.

— Deixa de ser... — Dona Glória dá um belo de um tapa na cabeça do filho antes de terminar sua frase — Cabeça oca menino! — estou com a mão na boca para segurar o riso — Como não pensou nisso? A garota grávida e você a deixa a sorte de Jó? — o olhar dele de indignação me diverte.

— Ô mãe, qual foi, véi — passa a mão pela cabeça — Não se engane com essa aí, não... Quer saber, vou trabalhar — antes de sair ele me lança um olhar matador e eu sorrio em resposta, um sorriso provocativo, debochado.

— E traga o meu shampoo, você foi lá em casa e pegou. Traga um novo! — ouço a porta batendo — Não liga para ele. O Dan é esperto para muitas coisas, mas infelizmente burro para outras, como por exemplo para o amor! — paro de sorrir.

— Amor? Desculpa, não estamos apaixonados... É só que agora tem uma criança entre a gente e ligando nossa vida — Glória levanta e alisa meu braço.

— Se você diz... — seu sorriso entrega seus pensamentos. Ela acha que rola alguma coisa — Coma em paz, estarei na sala caso precise.

De repente já não quero mais comer. Pedi a fome. Isso não vai acontecer, não vou me apaixonar por Daniel e nem ele por mim. Tudo isso é só acaso ou destino, sei lá. Pego o celular e vejo que meu horário para trabalhar é daqui a duas horas. Bebo o café e então subo para me arrumar.

***

Converso com minha amiga sobre a noite passada, ela ri dos meus escândalos e diz que todos no morro já estão sabendo da cena. Contudo ela ri ainda mais quando conto que vomitei nas costas de Daniel.

— Tem certeza que vai ficar lá? — pergunta depois de se acalmar.

— Não sei, me sinto mais perdida que pinto no lixo, amiga... — ela gargalha e eu me sento em cima das caixas — Mas acho que por enquanto sim. De qualquer forma não podia ficar lá na sua casa, já estava sentindo que estava incomodando — como resposta recebo um leve tapa.

— Claro que não, maluca. Para ser honesta, meus pais amaram ter você lá. — Me levanto e estico meu corpo. Minhas costas doem e estou morrendo de sono...

— Passo lá mais tarde, agora tenho que ir, estou morta. — Como entrei uma hora mais cedo que Manu, saio mais cedo também. — Se cuide, Manuzita.

— Você também, amiga

Subo a ladeira e xingo mentalmente Daniel por morar no ponto mais alto. Meus pés doem, minha cabeça dói, tudo dói e estou morrendo de sono e fome.

É quase nove da noite quando estou a uma rua de distância da casa dele. Quase de imediato encaro uma garota que está parada perto do muro. Ela me olha também e então vem em minha direção.

Seu cabelo é preto e curto, um pouco acima dos ombros. É magra, bonita e veste um short jeans com uma blusinha preta bem justa.

— É com você mesma que quero falar — aponta o dedo para mim

— Conheço você? — ela ri de lado, inclina o corpo e coloca a mão na cintura

— Não, mas está prestes a conhecer — seu tom é irônico — Sou Emily e quero saber de uma coisa, mas cuidado com o que vai responder... — ela chega mais perto.

Capitulo6

— Acredito que esteja me confundindo com alguém... — passo por ela, mas então a garota se coloca novamente em minha frente.

— Não venha querer bancar a sonsa para cima de mim não, garota mimada do caralho! — pisco algumas vezes, chocada — Quero saber se essa história que você tá prenha de Daniel é verdade — encarando-a agora, consigo lembrar que vi ela no último baile que fui. Ela estava dançando pe

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