— Primeiro, o braço está doendo? — me viro para minha amiga ainda parada no mesmo lugar — Segundo, que beijo foi aquele? — pergunta ela já com um sorriso no rosto.— Eu não sei — volto o olhar para porta como se ele fosse aparecer a qualquer momento.Posso ouvir os tiros, porém parecem mais distantes. Agora só consigo pensar em Daniel e realmente espero que ele esteja bem. Manu está sentada na cadeira por trás da mesa.Ele me beijou, mas foi diferente. Foi sereno e sútil, me senti nervosa, mas calma ao mesmo tempo. Tenho a sensação de que sua mão ainda está segurando meu rosto e seus olhos castanhos estão grudados em mim, tamanha a intensidade do momento.— Merda! — falei baixo e me levanto.Não posso pensar nele assim. Ele fez isso só para me tirar do choque, só para me acalmar. É só isso!Deslizo a mão para minha barriga, mesmo que não tenha crescido nada, sinto o serzinho crescendo dentro de mim. Espero que esteja bem, que esse susto não lhe afete.— Está sentido algo, amiga? — Es
Acordo e a primeira coisa que sinto são fios de cabelo em meu rosto. Seria estranho dizer que é a primeira vez que sinto isso? Nunca dormi com mulher alguma, sempre transei e quando acabava, pedia para que elas vazassem ou só me afastava eu mesmo sem dizer muitas palavras. Mas com Analu é diferente.No começo foi por ela estar com medo. Por parte entendi, mas depois foi porquê eu quis. Desejei ela ali, sentir o corpo dela, me aconchegar no seu calor... Ela está de costas para mim, respiro fundo e sinto o cheiro do shampoo dela, algo parecido com pêssego.Tiro meu braço de seu corpo e me viro para pegar meu celular. Tem mensagem da minha mãe e algumas dos pivetes, abro primeiro a de dona Glória.Bom dia filhote! ❤️ Mamãe foi aí e entrei no seu quarto sem bater, não aguentei e registrei esse momento. Voltarei mais tarde ❤️Fico olhando a foto por alguns minutos. Estou tão calmo que nem parece o terror que passei ontem. Ao pensar nisso lembro exatamente do que aconteceu e sou tomado po
AnaluMe sinto aliviada quando a médica diz que está tudo bem com o bebê e que o repouso é quase obrigatório. Cheguei em casa a pouco tempo e a tia Glória já foi embora, porém deixou algumas coisas já feitas para que eu não precise fazer. Vejo Dan descendo as escadas, está com uma bermuda clara e uma camisa preta.— Como está se sentindo? — pergunta me olhando.— Tirando o enjoo e o sono, estou bem. — Respondo e ele sorri.Agora, olhando bem para seus olhos, percebo um certo cansaço, ou até mesmo me arrisco a dizer, medo. Daniel tenta disfarçar sorrindo, mas seus ombros estão tensos e sua garganta oscila a cada minuto.— Estou indo na casa do Kekel. Vou falar com a mãe dele e a esposa... — sinto um aberto no peito.— Posso ir? — minha pergunta sai sem que eu pense muito no que acabei de pedir, e vejo um certo espanto em seu rosto.— Por que? — me avalia.— Não sei ao certo. Sei que não conhecia ele e, ver ou não ver, não quer dizer nada, mas quero ir. Quero dizer algo ou fazer algo pa
Coloco a mão em meu peito e por segundos saio de mim. Meu corpo implora por mais. Quero que ele me toque, me beije, me prove! Olho em direção as escadas e decido não me importar com a vergonha, ou seja lá o que for.Subo a passos rápidos e ao chegar na porta do quarto dele, ouço o barulho do chuveiro. Os flashes daquela noite vão aparecendo um a um, e ao sentir o cheiro do seu perfume impregnado em cada canto, fico totalmente embriagada enquanto sou tomada por algo mais forte e quente. Tiro minha roupa antes mesmo de pensar nos motivos para não fazer isso.Assim que entro no banheiro vejo Daniel de olhos fechados enquanto passa as mãos em seu cabelo. Ele está de frente para mim e aproveito para olhar cada músculo do seu corpo. Caralho, que homem! Que homem!Primeiro permaneço com o olhar fixo em seu rosto, depois em seus ombros, abdômen e por fim olho para o seu pau. Sinto minha boca salivando, e o desejo de envolve-lo em minhas mãos e chupá-lo todinho, me domina.— Analu? — ele me ol
Hoje é o dia do vestibular. Coloco uma calça preta e uma blusa da mesma cor, por cima um casaco de lã branco já que o dia amanheceu nublado e com muito vento. Termino de arrumar meu cabelo e encaro minha barriga. Ainda não tem diferença, mas é estranho pensar que tem alguém aqui dentro.— Você está linda — me assusto com a voz de Manu e ela ri assim que olho para ela — Dan me deixou entrar.— Me sinto estranha— Seria estranho se você não se sentisse estranha. Acredito que seja normal — pego minha bolsa e saímos do quarto juntas — Está pronta? — Não! — rimos — Mas pronta ou não, tenho que ir — descemos as escadas.Cada passo dado é como uma grande explosão de ansiedade e nervosismo. Essa literalmente é a prova da minha vida e não posso falhar, mesmo que eu tenha parado de estudar, ainda preciso acreditar que vou conseguir. Vejo Daniel perto da escada mexendo no celular e assim que me aproximo ele guarda o aparelho e sorri para mim.— Bom dia — diz com um sorriso no rosto.— Bom dia.
Tia Glória vai embora logo depois que lavamos a louça. Fico um tempo na sala assistindo até que me pego olhando fotos minhas e do meu pai. O sorriso dele, os seus olhos e até os poucos fios de cabelos brancos. Estou abraçada com ele e meu sorriso é tão grande, tão largo que parece ser quase impossível que essa foto tenha sido tirada semanas antes de tudo acontecer.Sinto sua falta! Sinto falta de tudo que envolva ele e até das broncas que me dava por não ter feito algo quando mandou. Aquele vazio volta com tudo, me bate forte em meu estômago. Quero chorar, mas não consigo mais fazer isso.Quando anoitece, como algo e vou deitar mesmo ainda sendo oito da noite. Sabe quando você está tão triste, vazia e sem humor algum? Prefiro dormir a sentir tudo isso, mesmo sabendo que aquilo não vai passar. Quando abro os olhos pelo menos as horas passaram e não senti nada nesse período.Estou quase pegando no nosso em meio a esses pensamentos, quando Daniel adentra o quarto.— Analu? — sua voz é ba
Estou no sofá com Daniel. Minhas pernas estão em cima das dele enquanto minhas costas estão apoiadas no braço do sofá. Estou quase no segundo mês de gestação e não noto nenhuma mudança em meu corpo. Quer dizer, sinto meus pés um pouco inchados e vasos roxos estão aparecendo em minhas pernas. Sem contar nos enjoos matinais que, para mim, são os piores.Meu humor se assemelha ao de Daniel, sinto que tudo pode me fazer chorar ou surtar. Ainda não caiu a ficha de que minha barriga vai ser moradia para um ser humano por nove meses. Isso é assustador, precisamos concordar, mas tem lá seus encantos. Já me peguei em vários momentos me olhando no espelho a procura de algum sinal.— Dan, o que você prefere? Menina ou menino? — Menino — diz sorrindo — Esse morro precisa de um herdeiro — me perco em seu olhar enquanto penso na ideia de meu filho ser dono disso tudo. Não sei se quero ele envolvido com o crime — Porém, se for menina, amarei por igual — coloco a mão sobre a minha barriga e ele colo
Cheguei a meia hora atrás e desde então estou deitada no escuro. Meu pai entrou e saiu do mercado sem falar comigo, o chefe até tentou fazer com que ele me olhasse, porém, em vão. Passou por mim como se fosse qualquer uma ali. Já chorei, mas agora estou apenas deitada, abraçada com meu travesseiro enquanto encaro a janela fechada. Ouço a porta abrindo, mas não me mexo.— Por que está aqui? Você está bem? — reconheço a voz de Daniel.— Me deixa sozinha, por favor — ele acende a luz e fecho meus olhos.— Não posso fazer isso — diz, já sentado na cama. Ele me puxa pelo braço fazendo com que me sente — Conversa comigo, Analu. Por favor! — sua fala tem um tom de urgência e preocupação, mas não confio se posso falar sem chorar — Estou aqui pra isso, véi. Pode contar comigo. Espera, estava chorando? — sinto sua mão delicadamente em meu rosto, meus olhos se fecham com o toque.—Já sentiu a mesma dor várias vezes e pensou "Isso não vai me afetar mais. Estou forte", mas então você é pego de sur