Tia Glória vai embora logo depois que lavamos a louça. Fico um tempo na sala assistindo até que me pego olhando fotos minhas e do meu pai. O sorriso dele, os seus olhos e até os poucos fios de cabelos brancos. Estou abraçada com ele e meu sorriso é tão grande, tão largo que parece ser quase impossível que essa foto tenha sido tirada semanas antes de tudo acontecer.Sinto sua falta! Sinto falta de tudo que envolva ele e até das broncas que me dava por não ter feito algo quando mandou. Aquele vazio volta com tudo, me bate forte em meu estômago. Quero chorar, mas não consigo mais fazer isso.Quando anoitece, como algo e vou deitar mesmo ainda sendo oito da noite. Sabe quando você está tão triste, vazia e sem humor algum? Prefiro dormir a sentir tudo isso, mesmo sabendo que aquilo não vai passar. Quando abro os olhos pelo menos as horas passaram e não senti nada nesse período.Estou quase pegando no nosso em meio a esses pensamentos, quando Daniel adentra o quarto.— Analu? — sua voz é ba
Estou no sofá com Daniel. Minhas pernas estão em cima das dele enquanto minhas costas estão apoiadas no braço do sofá. Estou quase no segundo mês de gestação e não noto nenhuma mudança em meu corpo. Quer dizer, sinto meus pés um pouco inchados e vasos roxos estão aparecendo em minhas pernas. Sem contar nos enjoos matinais que, para mim, são os piores.Meu humor se assemelha ao de Daniel, sinto que tudo pode me fazer chorar ou surtar. Ainda não caiu a ficha de que minha barriga vai ser moradia para um ser humano por nove meses. Isso é assustador, precisamos concordar, mas tem lá seus encantos. Já me peguei em vários momentos me olhando no espelho a procura de algum sinal.— Dan, o que você prefere? Menina ou menino? — Menino — diz sorrindo — Esse morro precisa de um herdeiro — me perco em seu olhar enquanto penso na ideia de meu filho ser dono disso tudo. Não sei se quero ele envolvido com o crime — Porém, se for menina, amarei por igual — coloco a mão sobre a minha barriga e ele colo
Cheguei a meia hora atrás e desde então estou deitada no escuro. Meu pai entrou e saiu do mercado sem falar comigo, o chefe até tentou fazer com que ele me olhasse, porém, em vão. Passou por mim como se fosse qualquer uma ali. Já chorei, mas agora estou apenas deitada, abraçada com meu travesseiro enquanto encaro a janela fechada. Ouço a porta abrindo, mas não me mexo.— Por que está aqui? Você está bem? — reconheço a voz de Daniel.— Me deixa sozinha, por favor — ele acende a luz e fecho meus olhos.— Não posso fazer isso — diz, já sentado na cama. Ele me puxa pelo braço fazendo com que me sente — Conversa comigo, Analu. Por favor! — sua fala tem um tom de urgência e preocupação, mas não confio se posso falar sem chorar — Estou aqui pra isso, véi. Pode contar comigo. Espera, estava chorando? — sinto sua mão delicadamente em meu rosto, meus olhos se fecham com o toque.—Já sentiu a mesma dor várias vezes e pensou "Isso não vai me afetar mais. Estou forte", mas então você é pego de sur
1 semana depoisO dia da consulta chega e, por incrível que pareça, estou bem ansiosa por isso. Contudo, não posso deixar de falar como estou me sentindo estranha. Percebi que ultimamente estou tento pequenos sentimentos por esse ser dentro de mim. Não sei se posso dizer que já é amor, mas é algo parecido.Ontem me peguei conversando com "ele" como se já pudesse me ouvir e, em seguida, sorri com minha loucura. Isso é inusitado, mas ao mesmo tempo me trás um sentimento de calmaria. É diferente assumir isso já que semanas atrás eu rejeitava essa criança com todas minhas forças. Agora... bom, agora parece que estou aceitando. — Por que acordou cedo? — me assusto com a voz grossa atrás de mim.— Por que você acordou tarde? — respondo com outra pergunta, e Daniel senta na cama — Você geralmente é o primeiro a levantar.— Estou morto. Cheguei tarde demais ontem e mal consegui dormir — isso é verdade. Não vi Daniel se deitar. — O que foi? O chefe não pode cansar? — Não falei que não podia
— Você o que? — é Manuela quem pergunta.— Agora as coisas começaram a ficar interessantes — diz Danilo sorrindo.— É isso que vocês ouviram. Eu estou grávida! — Emily para, olhando diretamente para mim, virando-se para Daniel em seguida — Ela não é a única que carrega um filho seu!— Como isso aconteceu? — a voz de Daniel falha. Não aguento mais ver aquela cena, me sinto enojada. Meu corpo treme e preciso respirar fundo várias vezes.— Analu? — Manuela segura minha mão firme — Tá bem? Suas mãos estão geladas.— Eu... eu acho... — a garganta trava. Minha cabeça está abaixada, mas sinto que todos me observam e isso só piora.— Analu? — Agora Daniel está segurando meu braço, mas não consigo encará-lo.— Eu não queria fazer essa confusão toda, não queria contar assim, mas eu cansei de você me ignorar como se eu não fosse ninguém! Estou grávida de dois meses e você é o pai. — A cada palavra é como se uma faca fosse empunhada em meu peito, perfurando cada vez mais fundo. Grávida? Ela está
DanielChego na casinha e a única coisa que prevalece em mim é a raiva. Não sei bem o porquê, mas talvez entenda o motivo de Analu querer sair de casa, mas isso é algo que eu nunca irei permitir, nem que precise trancar ela em um quarto e pronto!— Duda — chamo o rapaz — Vá em casa e avise a minha mãe que vá agora com Emily no hospital para saber se essa gravidez é verdadeira e, se for, mande fazer o teste de DNA o mais rápido possível!— Sim chefe — responde ele saindo.— É sério esse bagulho? A Mily tá grávida de ti? — Luan pergunta — Porra mano! Tu demorou a fazer filho, mas quando fez veio logo dois de uma só vez! —finalizou ele, rindo.As palavras caem como uma bomba na minha cabeça. — Não sei o que fazer — passo a mão em meu cabelo — Se ela tiver grávida eu vou assumir, é lógico, não vou deixar uma cria minha sem pai.—Tô ligado..., mas e a Analu, ela sabe? — Emily cuspiu essa merda toda na hora que estávamos almoçando, e bem na hora que Analu ia me contar um bagulho important
— Tem certeza? — Manuela pergunta pela décima segunda vez. —Tenho, foi só o calor — digo, me levantando. Senti uma tontura forte, a doutora falou que isso infelizmente é normal, já que em minha barriga não tem só um, mas dois bebês. Sendo que um deles não está recebendo nutrição suficiente. Desde que descobri que um deles está menor, venho me cuidado dez vezes mais, quero que ambos nasçam fortes e saudáveis. "Eii, não seja como mamãe que só falta comer os rebocos da parede, tem que dividir com seu irmãozinho de barriga, tá bem?" Converso com o bebê comilão, mas logo paro pra pensar no quão ridícula essa cena é. — Se precisar da minha ajuda, pode chamar ok? — minha amiga me diz e assinto. Ela então volta a organizar as coisas no devido lugar, enquanto vou limpar o corredor dois. Minha barriga é bem notável e tenho agora até uma farda para grávida. Nunca pensei que usaria uma dessas, mas como nada sai como planejado, aqui estou eu. Falando nisso, devo confessar que essa noite foi pr
13 semanas (3 meses)Rolo de um lado para o outro, mas nada tira da minha mente a imagem de um sorvete de flocos com batata palha. Sim, em plena 02h40 da manhã estou desejando isso. Comecei a me sentir estranha, e a vontade não passa, posso jurar que só está aumentando. Belo dia para o senhor bonitão ir para vigília.Não me seguro, vou levantar sem nem mesmo trocar de roupa. Fico com o short e o top, pego meu celular e saio. A casa está em silêncio e até penso em falar com Danilo, mas o mesmo não está no quarto, já que a porta está aberta e tudo está um completo vazio. Parece que eu estou sozinha em casa.Vou em direção à boca de fumo. Manu me ensinou o caminho um dia desses. Está escuro e silencioso, vejo uns meninos sentados fumando e vou até eles.— Sabem onde está Daniel? — ambos me olham de cima a baixo.— Na casinha — diz o menino de boné azul — Eu levo você lá — apenas concordo e ele vai na frente — Você é a fiel do chefe? — ele pergunta.— Fiel? — vejo que ele sorri de lado.—