Milena Bianco.
Ainda de olhos fechados, ouço o som do relógio de mesa tocar no móvel do lado de Clara. Já estava acordada há um tempo, mas a satisfatória sensação de paz me fez fechar os olhos e ficar apenas curtindo a sensação de ter Clara assim em meus braços. Conforme o barulho aumenta, ela se meche na cama de forma preguiçosa, dizendo algumas coisas que não entendo. Provavelmente em reclamação pelo som.
Estico o braço e desligo o despertador, enquanto ela se encolhe entre o cobertor e meu corpo.
— Bom dia. — dou um beijo em seus cabelos.
— Bom dia, Mo. — sua voz rouca é ouvida próxima ao meu ouvido. — Dormiu bem?
— Maravilhosamente bem. — ela me olha, e meu Deus, esses olhos castanhos me desestabilizam de uma forma. — E você?
— Não poderia ter tido um sono melhor. — sorri. — Corrigindo, não poderia ter tido noite melhor.
Ok, talvez eu vá repetir muito por aqui que estou sorrindo feito boba. Mas o que eu posso fazer? Isso é melhor do que qualquer coisa que eu imaginei até hoje. E olha, eu preciso assumir. Estou completamente, perdidamente, loucamente apaixonada por Clara Herrera.
— Milena! — me assusto com a morena me chamando, e agradeço por estar um pouco abaixo do meu rosto, não podendo assim, ver o tamanho do meu sorriso.
— Diga.
— Sua mãe sabe que você iria vir pra cá? — se senta, encostada na cabeceira da cama.
— Eu disse que iria dormir na casa da Alexia. — sorrio fraco. Não gosto muito de mentir para minha mãe.
— Desculpa fazer você ter que mentir. — me olha com a expressão culpada. — Desculpa, isso não é justo com...
— Shhh! — coloco o indicador sobre seus lábios. — Não precisa se desculpar, ok? — trocamos um selinho. — Eu te compreendo, Clarinha.
Após mais uma rápida troca de beijos e carinhos, somos obrigadas a levantar. Clara segue para seu banho e eu me ocupo arrumando sua cama. Tudo pronto, pego meu uniforme na mochila e espero a morena sair do banheiro.
— Pode ficar a vontade. — meus olhos se perdem na deusa a minha frente, vestida apenas com um roupão branco. — Vou acordar Heitor.
— Clara! — chamo a mulher que já se encontra próxima a porta. — O Heitor... será que ele não vai estranhar... e-eu ter dormido aqui?
— Deixa comigo. — manda um beijo no ar e sai do quarto.
Em pouco mais de vinte minutos já estou pronta. Pego minha mochila e sigo para a cozinha, onde encontro Clara, Heitor e Jéssica. Enquanto o pequeno corre e abraça minhas pernas, sinto o olhar da loira sobre mim.
— Por que você não falou que vinha, tia Milena? — Heitor pergunta com um leve bico e os braços cruzados.
— Você saiu com sua madrinha, Heitor. — Clara intervém.
— E pelo visto, vocês aproveitaram. — Jéssica diz em voz baixa. — Só Deus sabe quantas roupas encontrei quando cheguei... ainda bem que o garoto estava dormindo.
Sinto meu rosto queimar, e quando olho para Clara ela não parecia muito diferente. Jéssica explode em uma gargalhada, fazendo a morena balançar a cabeça de forma negativa. Clara me entrega uma xícara de café e eu me sento ao lado de Heitor na mesa. Tomamos nosso café da manhã, conversando trivialidades, e lógico, sendo alvos de piadas de Jéssica.
Faltando alguns minutos para as sete, nos despedimos da lira e seguimos para o primeiro destino. Deixar Heitor na escolinha. O garoto parece bem animado por todo o percurso, conta histórias, canta. Até pararmos em um sinal vermelho e tudo mudar para uma grande euforia vinda do garoto, que aponta o dedo para fora do carro.
— Papai! Mamãe olha, é o papai ali oh! Ei, papai! — bate no vidro do carro. — Mamãe, para o carro!
Clara estica o corpo para olhar e eu apenas me viro e vejo meu ex-professor na porta de um prédio, aos beijos com uma mulher. Heitor continua reclamando, mas quando o sinal abre e um carro atrás de nós buzina, a morena arranca. Não demora muito para ouvirmos Heitor chorar em protesto.
— Sem choro, Heitor. Nós estamos atrasados. — Clara diz, olhando o menino pelo retrovisor.
— Você não quis parar! Não quis deixar eu ver o papai! — se debate na cadeirinha. — Eu quero ver o papai!
— Heitor Daniel Herrera! — estaciona em frente a escolinha. — Sem choro e sem birra!
Ela desce do carro e vai até a porta de trás, destrava Heitor da cadeirinha e o ajuda a descer. Fico apenas observando. Ela parece nervosa, agora não sei se é por ver Juan Carlos, ou por ver Juan Carlos aos beijos com outra mulher. E bom, as duas opções me saem como um soco no estômago. Vejo a morena parar e se agachar de frente para Heitor, ela fala olhando carinhosamente em seus olhos e no fim, vejo ele concordar e abraçar a mãe.
Alguns minutos depois, ela volta para o carro. A veia saltada em sua testa denuncia o quanto está nervosa. Fico em silêncio. Tanto para que ela se acalme, quanto para não correr o risco de perguntar alguma coisa e ouvir a bela resposta de que ela ainda sente algo por Robin. Meu café da manhã se revira no estômago.
Seguimos alguns minutos em completo silêncio, mais um sinal vermelho e ao olhar para Clara, vejo algumas lágrimas rolarem por seu rosto. Me limito a secá-las como posso, passando a mão delicadamente por sua face. Ela segura minha mão, e com um meio sorriso deposita um beijo na mesma.
— Eu fico tão mal por isso... — bate a mão no volante, deixando mais algumas lágrimas escaparem. — Heitor não tem culpa de nada, não tem culpa do Juan ser um idiota... eu não sei o que faço. — a olho, e suas mãos tremem ao segurar o volante. — Todos os dias ele me pergunta se o Juan não vai ver ele, se não vai voltar pra casa... — bate mais uma vez. — Que ódio!
— Calma, Clara... — vejo ela parar o carro um quarteirão antes do colégio. — Heitor não tem culpa, e você também não. O único errado nisso é o Juan que não aparece nem pra dar satisfação pro filho. — acaricio seu rosto. — Eu imagino o quanto seja ruim e o quanto parte seu coração ver Heitor chorar por isso... mas com todo amor que vocês têm, se Juan continuar com isso, vocês dois se bastam. Eu sei que tudo o que você faz é pra felicidade dele.
— Me senti tão mal por não ter parado o carro. — sua voz sai embargada. — Mas Robin estava com outra... e eu não queria que o Heitor fizesse perguntas, eu não estou pronta pra responder as perguntas dele.
— Ei... — viro seu rosto delicadamente, fazendo a mulher me olhar. — ele só ficou eufórico porque viu o pai, calma...
— Me abraça? — concordando, a abraço da melhor maneira que o espaço do carro me permite.
Ficamos assim por alguns minutos, mas ao contrário do esperado, o choro de Clara parece se intensificar. O que penso ser resultado de muita coisa guardada, medos e receios que a mulher que sempre passa uma imagem tão forte, evita falar. A aperto em meus braços, fazendo um leve carinho em suas costas.
Quando quebramos o contato, ver se rosto vermelho pelas lágrimas e o quanto a provável infelicidade do filho traz dor a Clara, me parte o coração. Acaricio seu rosto, e dou um beijo em cada lágrima teimosa que insiste em descer pela sua face. Mais um abraço dessa vez mais apertado, onde ela se aconchega da melhor forma que o espaço permite.
— Vai ficar tudo bem. — dou um beijo em sua testa. — Tudo vai se resolver, tá bom? — ela concorda, com um sorriso fraco. — O amor de mãe e filho é o mais lindo e mais forte que tem.
Três minutos para as sete e após mais um abraço eu saio do carro de Clara. Sigo em disparada e passo pelo portão do colégio, junto de alguns outros alunos que chegavam em cima do horário. Mais passos apressados e chego na sala.
— Com licença?! — bato na porta. — Posso entrar?
— Dois minutos e meio de atraso, Srta. Milena. — olha no relógio de pulso. — Mas como é a primeira vez, eu deixo passar. Só dessa vez!
Balanço a cabeça em agradecimento e ando o mais depressa possível até meu lugar. Retiro meus materiais da mochila e começo a prestar atenção na explicação da matéria. Ou melhor, tento, até uma certa amiga me puxar sem um pingo de delicadeza.
— Teve uma boa noite, loirinha? — rolo os olhos. — Bom, pelo sorriso e pela cara de paçoca, com certeza teve né?
— Presta atenção na aula, Alexia. — digo em voz baixa, sem me virar. — E sim, tive uma ótima noite. Obrigada por se preocupar.
— Você vai me contar tudo, Milena Herrera. Eu fui sua cúmplice nesse crime. — dramática. — Milena! — praticamente grita, chamando atenção dos alunos e do professor.
— Srta. Milena e Srta. Alexia! Vou ter que m****r que se retirem da sala? — o professor se aproxima de nós.
— Desculpa, professor.— Alexia se ajeita na cadeira.
Ele volta para a frente da turma, logo sinto Alexia novamente próxima ao meu ouvido.
— Você ainda não escapou de mim, ok? — dá dois tapinhas em meu ombro.
Não que eu não goste de história, mas hoje essa aula parece demorar uma eternidade para terminar. Quando o sinal do intervalo enfim toca, Ella logo entra na sala, e nos organizar para aplicação de um trabalho. Surpresa. Que maldade Ella, que maldade! Após muitas reclamações, enfim a sala se cala e ela entrega os papéis.
Quando consigo me concentrar, sou atingida por uma bolinha de papel. Olho para o lado, prestes a xingar quem quer que seja, mas só podia ser ele. Henrique me olha cinicamente. No que ele pensa ser um sussurro, pede a resposta da primeira questão. Dois anos tendo aula com Belle e ainda não entendeu que por mais fofa e divertida, essa mulher parece ter olhos nas costas e algum tipo de audição especial.
— Alguém problema, Henrique? — se aproxima do meu amigo, que logo fica vermelho.
— N-não, professora. — encara o papel. — Problema nenhum.
— Ótimo, então foque no seu trabalho. — volta para a frente da turma.
Trinta minutos depois, entrego o trabalho, que por sinal, não estava muito fácil. Peço Ella para ir ao banheiro, e passando pelo corredor, duas salas a frente da minha, avisto Clara. A morena está escorada na parede com o celular em mãos e uma expressão abatida em seu rosto.
— Clara? — a chamo, ela olha e dá um meio sorriso. — O que foi?
— Ligaram da escolinha de Heitor. Ele não para de chorar, está nervoso, bateu em um coleguinha, acredita? — cruza os braços. — Eu não sei o que fazer, Em... — seus olhos ficam marejados, me dando um aperto no coração. — Heitor sempre foi um menino calmo, nunca fez essas coisas.
Envolvo a morena em um abraço, que logo é aceito e correspondido de bom grado. Ela me aperta e esconde o rosto na curva do meu pescoço, posso ouvir seus vários suspiros pesados. Quebramos o contato após alguns minutos, pego sua mão e fico fazendo alguns carinhos.
— Clarinha... você e o Juan Carlos estão separados há quanto tempo? Sete, oito meses? — pergunto e ouço um "oito" sair em forma de sussurro. — Já está na hora das obrigações de pai dele serem cumpridas, né? Não é porque vocês se separaram, que ele pode sair assim da vida de Heitor... não sei quais foram os motivos que levaram vocês a se separarem, mas não acha que uma conversa sobre Heitor seria bom?
— Sim... eu estou adiando uma conversa com Juan por puro orgulho meu... eu prometi que nunca mais olharia na cara dele, ou falaria com ele. Mas estou sendo completamente egoísta.
— Ninguém acerta o tempo todo, Clara. Talvez, se vocês conversarem e Juan perceber a burrada que está fazendo, as coisas melhorem... mudem.
— Eu vou falar com ele. — coloca as mãos no bolso do sobretudo. — Por mais que ainda me doa ainda ter que encarar Juan, eu vou falar com ele... por Heitor.
Dessa vez é Clara quem me abraça, o contato é um pouco mais rápido que o de minutos antes. Afinal, estamos em horário de aula e no corredor repleto de salas. Não que estivéssemos fazendo algo errado, é apenas um abraço. Nesses tempos que eu e Clara temos nos aproximado, acima de tudo, temos nos tornado grande amigas. Dou um singelo beijo em sua testa e volto para a sala.
Fico o resto da aula de Ella e a outra aula pensando em Clara, em sua situação com Heitor e Robin, e assumo que lá no fundo, um certo medo começa a crescer dentro de mim. É tudo muito recente, isso que estamos tendo e por isso, ainda não falamos sobre. Mas e se eu estiver sendo apenas um passatempo para Clara? Sei lá, se isso ela estiver se envolvendo nisso comigo por pura curiosidade? Sinto um aperto em pensar nisso. Não pode ser.
Eu fiquei tão, mas tão feliz quando vi que meus sentimentos por Clara poderiam ser correspondidos, e dar um passo a mais que algo simplesmente platônico, que ainda não havia parado para pensar. Eu estou apaixonada por Clara, e a cada dia que conheço mais sobre essa mulher, o sentimento aumenta. Mas e ela? O que ela sente? O que ela quer?
A maneira que Clara me trata, eu poderia muito bem julgar que ela sente o mesmo que eu. Mas e se for invenção da minha imaginação? E se meus sentimentos estiverem me fazendo enxergar coisas onde não tem? Pensar nessa possibilidade me assusta, mas não dá pra fugir disso. É o que mais acontece, pessoas usando pessoas pra tampar buracos. Será que a Gina é assim?
— Ei loira, acorda! — me assusto com Henrique balançando as mãos próximo ao meu rosto. — O que foi?
Os alunos estão saindo da sala, então julgo já ter chegado o intervalo.
— Nada. — me levanto. — Só estava pensando.
— Chegou toda feliz e ficou toda tristinha assim, do nada. — Alexia me abraça de lado. — Está tudo bem?
— Sim. — sorrio. — Vamos?
Após comprar nossos lanches, sentamos no nosso lugar de sempre. Assuntos vão, assuntos vêm e os vinte minutos passam voando. Logo temos de voltar para a sala. Céus, sem o mínimo ânimo pra aguentar mais três aulas.
E parecendo ouvir meus pensamentos e minhas preces, no fim do quarto horário, Soraya aparece e diz que Mérida, nossa professora de matemática teve alguns contratempos e não veio ao colégio. Pra mim não poderia ser melhor, teríamos duas aulas de matemática. As duas últimas. Amém.
Guardo meus materiais e espero Henrique e Alexia fazerem o mesmo, e em seguida saímos.
— Gatas, vou aproveitar que saímos mais cedo e resolver algumas coisas. Me acompanham? — Henrique pergunta após sairmos do colégio. — Pago lanche pra quem for comigo.
— Eu vou pra casa, Rick... — digo, abraçando meu amigo.
— Milena negando comida de graça? Tem alguma coisa muito errada. — coloca a mão na minha testa. — Tá com febre? Sentindo alguma coisa?
— Haha, engraçadinho. — rolo os olhos. — Só estou cansada, quero dormir.
— Alê, eu até iria tentar te convencer a ir comigo. Mas ver a Em desanimada assim, vai com ela. — meu amigo me dá um beijo na bochecha.
— Que isso, relaxa. Vocês me conhecem, só preciso de um bom café e algumas horinhas de sono.
Depois de muita insistência eu e Alexia nos despedimos de Henrique e vamos embora.
— Tá bom, pode ir falando, o que está acontecendo? Pensei que hoje ia estar rindo até pro vento. — ri. — Aconteceu alguma coisa na casa da professora Herrera?
— Não. Foi uma noite maravilhosa. — um sorriso de canto brota ao me lembrar das horas passadas. — Sei lá, eu só tô pensativa.
— O que foi?
— Eu estou muito, muito feliz mesmo de ter Clara assim tão pertinho, mas eu tenho medo de estar sendo só um passatempo pra ela... dela voltar com o Juan e de, no fim das contas, estar apenas matando a curiosidade comigo.
— Eles não estão separados faz um bom tempo? — Alexia me olha.
— Sim, alguns meses. Mas mesmo assim, os dois juntos são 10 anos de casamento, Heitor e uma história e eu tenho o que pra oferecer?
— Ei Milena, você acha mesmo que a Clara faria isso com você? — pergunta e eu dou de ombros. — Você já prestou atenção na maneira dela te olhar? No quanto ela desmancha aquela pose de mulher séria, quando você sorri pra ela, ou faz alguma brincadeira? Milena, a Clara gosta de você e mostra isso, só não vê quem não quer.
— Você sempre sabe o que dizer... eu vou tentar parar de pensar nisso. — sorrio, abraçando minha amiga. — Mas agora, me diga... e aquela deusa ruiva, também conhecida como Kelly Herrera.
— Ah... — o sorriso de Alexia some. — A gente só ficou aquele dia mesmo... acho que foi só calor do momento, ali no cinema... depois disso eu nem vi ela mais.
— Ela não estava indo no restaurante praticamente todos os dias?
— Estava, depois do dia do cinema, não mais. E eu realmente não sei o que aconteceu, ou os motivos dela e pra ser sincera, nem vou procurar saber também.
Conheço Alexia desde os seis anos de idade e isso faz com que sejamos amigas há doze anos. E nesse tempo todo, eu aprendi a reconhecer os sinais, as expressões e os sentimentos que minha amiga, mesmo sendo uma péssima atriz, tenta esconder. E nesse momento, eu diria que suas falas vêm cheias de frustração. Ela quer, mas não dá o braço a torcer.
— E por que você não procura ela? Eu posso pedir o número dela pra Clara. — ela nega com a cabeça. — E por que não?
— Porque foi ela quem me seduziu. — diz séria e eu não seguro a gargalhada.
— Ok Alexia, Kelly até pode ter parte nisso, mas você não fica muito atrás não, amiga. — ela cruza os braços com a cara fechada. — Estive no restaurante uma vez e vi vocês quase se comendo com o olhar e você ainda fez questão de trocar de roupa, colocando uma dessas peças minúsculas suas. — me olha com os olhos semicerrados. — Quem seduziu quem?
— Que seja. Até porque, eu dei meu número pra ela e até hoje ela não ligou, não mandou mensagem, sinal de fumaça, nem nada.
— Você quem sabe.
— Mas agora, você quem tem que me contar algo, não?
— O que? — a madame sonsa desentendida.
— Não se faz de boba, Milena. — a olho de cenho franzido, mas não consigo segurar a risada por muito tempo. — Pelo que eu saiba, você não dormiu lá em casa, então podemos prever que dormiu na casa da professora Herrera.
— Sim, eu dormi lá. — me limito a dizer. Eu simplesmente amo ver a Alexia estressada.
— Dormiu e...?
— Dormi e acordei. — ela bufa. — Oh, me desculpe. Jantamos, eu dormi, acordei e tomei café da manhã.
— Milena Herrera! Para de me enrolar e fala logo se você e a Clara transaram?
— Ah... sim. — digo naturalmente.
— Sim o que? — se vira com os olhos arregalados e eu já me sinto vermelha por segurar a risada por tanto tempo.
— Sim, nós transamos. — continuo calma.
— O QUE?
— O que, o que, Alexia?
— Para de se fazer de tonta, Milena! — me balança pelos ombros. — Você e a Clara transaram? Meu Deus, minha bebezinha não é mais pura! — me abraça.
— Isso mesmo, Alexia, grita para a cidade inteira que eu perdi a minha virgindade com a Clara. Quer ajuda? — levo um empurrão. Alexia fica meio violenta quando está eufórica.
— Meu Deus, Milena! — para no meio da calçada, atrapalhando a passagem de algumas pessoas. — Me conta tudo. Eu quero saber de tudo, tudo mesmo. Até os detalhes.
— Não, os detalhes não. — é lógico que minha amiga quer me ver com vergonha. — Mas foi bom... foi ótimo, na verdade. Ah, sei lá, eu nem sei explicar. Só foi... lindo, maravilhoso. Melhor que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
Nossa conversa dura mais alguns minutos, até chegarmos na porta do restaurante da avó de Alexia. E, coincidência ou não, quando paramos para nos despedir, um carro conhecido estaciona na vaga próxima a nós. Olho para Alexia que apressadamente se encaminhava para dentro do restaurante.
— Ei Alê?! — puxo seu braço. — Que isso? Não vai se despedir de mim?
— Tchau. — diz e se vira novamente.
— Alexia, para com isso. — mais pirracenta que uma criança de dois anos, céus. — Larga de ser apavorada garota, eu em!? Está parecendo uma criança fazendo birra.
Alexia para de me olhar e fixa seus olhos por todo o caminho de Kelly, até ela parar ao nosso lado.
— Olá cunhada. — me dá um beijo no rosto, e ri da minha expressão confusa. — Oi Alexia. — juro por mim que o beijo em Alexia foi um pouco mais embaixo, no canto da boca.
— Bom, eu vou indo. — abraço minha amiga. — Tchau Alê, até amanhã. — ela sorri. — Tchau Kelly.
— Tchauzinho.
Alguns passos depois, me viro e ainda vejo as duas conversando e em seguida, indo juntas em direção da porta do restaurante.
Essas duas ainda vão dar muito, mas muito pano pra manga.
Com mais alguns minutos, termino o trajeto até minha casa, e como prevejo quando não vejo o carro da minha mãe na garagem, não tem ninguém em casa. Sigo direto para o quarto, me livro do uniforme, trocando por algo mais leve e me jogo na cama.
Meus pensamentos voam tanto, que acabo realmente dormindo, mas acordo alguns minutos mais tarde com uma pequena criatura colocando o dedo dentro do meu nariz. Abro os olhos e vejo Phellipe compenetrado em sua tarefa de me acordar, em um movimento rápido pego o menino que solta um gritinho e algumas risadas. O coloco deitado ao meu lado e fico fazendo carinho em seus cabelos e pra minha surpresa, em alguns minutos ele acaba dormindo. E eu, pego no sono de novo.
Acordo cerca de uma hora depois com minha mãe me chamando. Fico meio perdida por alguns minutos, na beira da cama olhando pro nada. Phellipe ainda dorme, agora todo esparramado onde eu estava há alguns segundos. Espaçoso igual a irmã.
(. . .)
— Boa tarde, Sr. Heitor. — cumprimento o senhor, que se aproxima e me abraça.
— Boa tarde, querida. Chegaram livros novos, quando não estiver atendendo, poderia organizá-los?
— Claro. — ele sorri.
Vou até a grande pilha de livros e começo a separar por categorias, me concentro tanto na atividade, a ponto de não ouvir a campainha da porta e Lilith entrar, me assusto com sua presença ao meu lado.
— Fica tão bonitinha concentrada. — sorri. — O que está fazendo.
— Organizando alguns livros novos. — me levanto, indo rumo às outras estantes.
— Ajuda? — rolo os olhos.
— Não Alice, está tranquilo. Já estou até terminando. — me olha desconfiada.
— Parece até que está me evitando, Mi...— dá ênfase no meu apelido.
— Impressão sua. — forço um sorriso.
Ouço um suspiro e em seguida seus passos se distanciando até o balcão. Não sei se Alice está mesmo chata com isso, ou eu mesma que não consigo prestar atenção em mais ninguém que não seja Clara. Ou pode ser as duas opções.
Um pouco depois do meio da tarde, o som da campainha indica a chegada de uma nova pessoa. Na verdade duas. O pequeno Herrera logo passa correndo por mim, e após alguns segundos Clara, linda como sempre. Assim que nossos olhares se cruzam, ela sorri.
— Milena. — diz bem próxima ao meu ouvido, enquanto me abraça.
Por que me provoca assim, Clara Herrera.
— Tia No! — Heitor volta da sala de seu avô.
— Oi garoto. — o pego no colo. — Como você está?
— Bem. — me dá um beijo na bochecha.
Olho para o lado e vejo Clara sorrindo, provavelmente pela cena. E isso me aquece o coração de uma maneira inexplicável. É incrível isso que acontece quando eu e Clara nos encontramos, podemos estar em qualquer lugar que apenas com um olhar, criamos uma bolha só nossa. E mesmo que por poucos segundos, o mundo externo parece parar. E todas as vezes eu sinto isso, algo em meu coração me faz pensar que é o que eu quero sentir sempre.
Demoramos quase um minuto para a ficha cair que estamos sendo observadas. Sinto o rubor subir por meu rosto ao ver Sr. Heitor nos olhando. Ao me virar para Clara, pensando que ela estaria da mesma maneira, ela me olha com uma expressão tranquila.
— Sempre desconfiei que esse seu olhar era de pessoa apaixonada, menina Milena. — o senhor sorri. — O seu e o de Clara.
O olho assustada, mas sinto Clara segurar disfarçadamente minha mão. Agradeço por estamos em um canto tampado por uma das estantes de livros, porque a grande cara de paçoca assustada que eu estou agora, viraria meme em qualquer rede social. Alterno várias vezes meu olhar entre os dois, mas minha boca não se mexe.
Soltando minha mão, Clara anda rumo a sala de seu pai afim de ver o que Heitor estava fazendo sozinho no local. Seu pai a segue e com um sorriso me chama. Com certeza eu iria, se não tivesse em choque e minhas pernas permitissem. Como assim Clara contou da gente pro pai dela? Como assim?
— Meu pai é a pessoa que eu mais confio no mundo, Em. — diz, quando adentro a sala. — E além do mais, ele é muito esperto... descobriu o que eu sinto antes que eu mesma soubesse.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, a campainha soa e eu tenho de me afastar. Mas agora Clara já havia plantado a sementinha da dúvida na minha cabeça. O que será que ela quis dizer com esse "descobriu o que eu sinto antes mesmo que eu soubesse"?
Alguns minutos depois, enquanto estou atendendo algumas pessoas, vejo Clara sair da sala de seu pai. Ela sorri, acena e sai. Agora Sr. Heitor não me olha mais com aquele ar desconfiado. Agora ele me olha como se realmente soubesse de tudo.
(. . .)
— Ao que devo a honra de sua ligação, professora Herrera? — digo assim que deslizo o dedo pelo visor do celular.
— Estou naquela praça que fica há umas duas quadras da livraria. E bom, queria te ver... na livraria nem dá pra gente conversar direito. — diz com a voz manhosa.
— Terminamos de fechar agora, em cinco minutos estou aí.
— Ok. — pego minha mochila. — Não demora.
Sr. Heitor aparece na porta de sua sala, também pronto para ir embora.
— Estão liberadas, meninas. Até amanhã.
— Milena, você já vai? — Lilith pergunta.
— Meu pai vai vir me buscar. — digo a primeira desculpa que me vem na cabeça.
— Ah. Tchau então. Tchau Sr. Heitor.
Heitor apenas acena e eu fico em silêncio, logo me viro para me despedir também.
— Tchau, Sr. Heitor. — trocamos um abraço. — Até amanhã.
— Tchau, menina Milena. — sorri. — Juízo.
Após sair da livraria, ando o mais rápido que posso para encontrar Clara. Realmente a praça era bem perto e não demorei mais que os cinco minutos prometidos para chegar. Mesmo um pouco de longe, avisto a morena sentada em um banco mais afastado, sob uma árvore. Aproveitando que a mesma estava de costas e distraída, me aproximo, tapando seus olhos com as mãos, fazendo Clara dar um pulinho no banco.
— Milena! — retira minhas mãos, olhando para cima.
Dou um beijo em seus cabelos, já que ali não poderíamos fazer muito mais que isso. Clara puxa minhas mãos, fazendo com que eu a abrace. Um abraço desajeitado, porém aconchegante. Apenas por sentir o perfume de Clara assim, tão de pertinho, me traz a melhor sensação do mundo. Dou a volta ao banco e me sento ao seu lado.
— Clara. — a chamo após alguns segundos brincando com nossos dedos entrelaçados. — E-eu... — suspiro. — Eu queria te perguntar uma coisa.
— O que quiser. — sorri. — O que foi?
— Ai deixa, eu tô com medo de perguntar. — digo e Clara me encara com os olhos semicerrados. — Não me olha assim, eu tô com vergonha.
— Por que? Pergunta logo que eu fiquei curiosa.
— Ai Gina...
— Milena, pergunta logo. Eu não mordo... quer dizer, a não ser que você queira. — sorri maliciosa. — Mas vamos, o que é?
— Ok. — fecho os olhos. — O que significa aquilo que você disse lá na livraria? Que seu pai descobriu o que você sente mesmo antes de você?
Ela fica alguns segundos em silêncio, e eu sem coragem de encará-la após a pergunta. Mas eu preciso saber o que Clara sente e o que temos. Se for pra sofrer, que seja agora e não depois pra sentir um tombo mil vezes mais dolorido. O silêncio de Clara logo me faz arrepender e pensar que acabei de estragar o que nem começamos.
DROGA MILENA!
— Milena... — de uma forma carinhosa levanta meu rosto com uma das mãos. — O que meu pai descobriu antes de mim, é que eu estou apaixonada por você. — um sorriso genuíno toma seus lábios quando ela diz isso, já eu, fico estática. — Heitor Herrera me conhece mais que eu mesma, e ele me fez perceber o que eu sinto por você. E eu vi que isso que eu jurava pra mim ser apenas uma atração, e bem além, eu realmente gosto de você, Milena. Você chegou aos poucos e acabou me conquistando de uma maneira que nem seu sei explicar. — ri. — Eu só não queria assumir, mas estive pensando... eu já me anulei muito pra várias coisas e não poderia fazer isso de novo... Milena! Milena, fecha a boca. — ri, tocando meu queixo.
MEU DEUS DO CÉU, ISSO SÓ PODE SER UM SONHO!
Isso é sério, mundo? É real? Clara Herrera acabou de se declarar apaixonada por mim Milena Bianco? Não, isso é mentira, eu acabei dormindo e agora estou sonhando. Não acredito!
— Milena! — balança as mãos em frente ao meu rosto.
— Eu juro que eu quero muito, muito mesmo te abraçar e te beijar aqui mesmo. — digo, após alguns segundos. — Clara, você meche comigo desde o meu primeiro ano naquele colégio e digamos que eu já tenha sonhado com essa cena algumas vezes. — ela ri. — Várias, na verdade. — procuro seus profundos olhos castanhos e logo nos conectamos, da maneira mágica de sempre. — Só que a medida que nós fomos nos conhecendo, passou a ser bem mais que isso. Você é uma mulher incrível e eu sinto que me apaixono um mais um pouco a cada vez que conheço mais sobre você. E agora, você me falando que está apaixonada por mim. Meu Deus, poderia repetir isso?
Ela dá uma gostosa gargalhada, Clara segura minha mão e me olha novamente.
— Eu estou apaixonada por você, Milena Bianco.
Capítulo quentinho para vocês! Espero que gostem! <3
"Eu estou apaixonada por você, Milena Bianco." Essas sete palavras estão ecoando na minha cabeça até agora, e posso ouvi-las saindo da boca de Clara como se ela ainda estivesse na minha frente, com aquele sorriso enorme ao dizê-las. Agora eu sei que meus sentimentos por Clara são recíprocos e gente, eu não poderia estar mais feliz. — Loira, agora a gente tem que pensar no próximo passo, né? — Cecília diz, enquanto nos encaminhamos ao restaurante da ‘vovó’ — Que próximo passo? — pergunto de cenho franzido. — O seu pedido de namoro para nossa querida professora Herrera. — Henrique diz, óbvio. — A gente está ficando faz muito pouco tempo, gente. Está tudo tão gostoso que eu não quero correr o risco de estragar nada. — Bianco, acorda! — Valentina me olha indignada. — Uma beldade daquelas se declara apaixonada pela vossa pessoa, e você ainda tem medo de estragar o
Clara Herrera. Quando pequena, eu era uma criança daquelas extremamente sonhadoras. Sempre me envolvia naquelas histórias de contos de fadas e princesas que encontravam seus príncipes e tinha seus famigerados e esperados finais felizes. Mas ao longo dos anos, esse meu lado sonhador foi se esvaindo e dando lugar a consciência que a, nem tão bela, vida real nos traz. Quando eu conheci Juan Carlos, eu assumo, não tinha muita certeza do que sentia. Éramos novos e eu fui deixando o embalo das coisas me levar. Lógico, no início, tudo são flores. Juan Carlos se mostrava cavalheiro, atencioso, tudo de bom que uma mulher espera. Mas acho que o desgaste foi chegando e com o casamento, tudo foi se ruindo. Até ele começar a se mostrar um verdadeiro idiota e o pior de tudo, não só comigo, mas também com Heitor. E isso, além da traição, para mim, passou a ser inaceitável. Agora, parando para pensar, eu tirei a conclusão que, apesar de já ter v
Clara Herrera. — Clara, você pode desarmar um pouco? Eu só quero conversar com você. — pela décima vez na manhã, desde que Juan Carlos chegou, suspiro impaciente. — Juan Carlos, você veio buscar o Heitor e eu tenho que arrumá-lo, e por favor, eu não tenho nada pra falar com você. — Eu mudei. — diz e minha risada sai como se ele tivesse contado a piada mais engraçada do mundo. — É sério, eu mudei Clara. Eu percebi que fiz a maior burrada da minha vida, acabei com nossa família e agora estou arrependido. — Nossa, mesmo Juan Carlos? Só que tem uma coisa, você demorou demais a perceber isso tudo e se arrepender. Vai se foder você e seu arrependimento. Sigo para o quarto de Heitor o ajudando a terminar de se vestir. Mais um fim de semana que meu garotinho vai passar com o pai e eu ainda não me acostumei, nem a ficar tanto tempo longe dele e nem a ter Juan Carlos sob o mesmo teto q
Milena Bianco. Eu nunca lidei muito bem com a morte, sabe? Minha primeira perda, foi o Luck, o primeiro cachorro que tive e morreu quando eu tinha quatro anos. Depois disso, quando eu tinha sete anos meu avô, pai da mamãe se foi e por último, um primo com o qual eu cresci se envolveu em um acidente. E em todas essas situações, eu me reclui, me fechei por um tempo. E agora, sinto que estou fazendo o mesmo. Só que dessa vez, o que mais me entristece é o fato de Elizabeth Bianco ter ido embora ainda com ressentimentos sobre mim. Nós éramos tão, mas tão unidas quando eu era menor, e no fim das contas, sua indiferença em relação à mim esteve presente até o momento de sua morte. — Eu queria muito, muito mesmo estar com você aí, minha linda... bem abraçadinha com você e te dando força, mas acho que seus pais devem saber de nós da forma certa. — Clara diz, em mais uma das nossas vídeo chamadas. — Eu sei, querida. Mas você já está me dando fo
Milena Bianco(. . .)Como era previsto, chegamos em casa de madrugada, e como dormi boa parte da viagem, agora estou sem um pingo de sono. A primeira coisa que fiz ao colocar os pés em casa foi tomar um banho, pois apesar de não estar com sono, meu corpo se sente cansado. Deixo a água morninha cair sobre mim, me dando a satisfatória sensação de relaxamento. E por fim, visto alguma coisa leve e me jogo na cama.Pego meu livro afim de continuar minha leitura. E após uma boa quantidade de páginas, termino por dormir com o livro sobre o rosto. E durante o sono, acabo sonhando com vovó Liza. Mas dessa vez não foi um pesadelo, como os vários da noite retrasada. Foi um sonho leve e que me trouxe ainda mais paz, do que quando soube que a não havia ido embora ainda chateada comigo. No sonho, estávamos em um jardim, como o que tínhamos em nossa antiga casa e vovó adorava cuidar. E assim, estávamos fazendo o mesmo.Como em flashes, em outro
Milena Bianco. — Milena, quando é que a gente vai sair? Sinto que você só tá me enrolando. — Alice me cobra pela décima vez na semana. — Não sei, Alice. — digo, pegando minha mochila.— Agora eu tenho que ir, depois nos falamos, tá bom? — tento não ser grossa, apesar de toda essa sua insistência me deixar um pouco desconfortável.Sigo até a sala de Sr. Heitor afim de me despedir do meu chefe. Ele sai de sua mesa e se aproxima, sorrindo. — Já vou indo, Sr. Heitor . — trocamos um abraço rápido. — Até amanhã. — Até amanhã. Vai ver Clara hoje? — Sim, vamos levar o pequeno no cinema. Contaremos e conversaremos com ele sobre nós. — sorrio.— Desde já, desejo s
Milena Bianco. (. . .) Assim que cheguei na livraria, segui para o balcão e como de habitual, guardei minha mochila. Poucas pessoas apareceram na pequeno espaço que fico atendendo sozinha no local, o que me permitiu atender e passar no caixa sem muita dificuldade. Mas assim que deu uma e meia, Alice adentrou pela porta. Mal a vi, saí do caixa e segui para perto de uma das estantes. Está sendo assim todos os dias desde que Alice fez aquela sacanagem. Mas acredita que ela continua agindo como se não tivesse feito nada? É, eu sei, muito cínica. Muito mesmo. Havia chegado uma enorme remessa de livros novos, o que ocupa boa parte de nossa tarde enquanto não estamos atendendo os clientes. Me sento o mais longe de Alice que posso, mas parecendo que é pra implicar a outra se aproxima cada vez mais, ora me perguntando algo, ora me mostrando alguma coisa em um livro. — Meninas, são quase cinco da tarde... eu estava mexendo com umas planilha
Clara Herrera.O sábado amanheceu ensolarado lá fora, mas ainda mais aqui dentro de mim. Fala sério, quem não acordaria feliz nos braços de um anjo como Milena Bianco? Ainda de olhos fechados, sinto um dos braços da loira circundando minha cintura, enquanto sinto sua respiração leve batendo em meu pescoço. Não me contendo, com muito cuidado, tento me desvencilhar de seu abraço para poder olhá-la.Meus olhos fazem questão de gravar cada detalhezinho do rosto de Milena. Sua feição leve, seus lábios finos formando um delicado e quase imperceptível bico, os fios dourados caindo sobre seu rosto. Se essa minha garota não é a criatura mais linda desse mundo, eu realmente, não sei quem é. Fico por vários minutos perdida em meus devaneios, que acabo não percebendo Milena despertar e a loirinha me pega no flagra em meu momento de admiração, dando um sorriso contido, enquanto se aconchega mais em mim. — Clarinha... que graça tem ficar me olhando enquanto eu es