Alexander andava pelo enorme corredor do segundo andar à procura de Louise, bateu à porta de uma das suítes, todavia não obteve resposta. Pegou o telefone que vibrava no bolso da calça, acelerou os passos pelo corredor até chegar à escada, tocou na tela e atendeu.
― O que você quer, Josephiné?
― Allô, mon amour!
― Josephiné, não existe mais nada entre nós! Lembra?
― Oh, mon chéri! Você ainda está magoado? Esquece isso! Só liguei para saber como você está?
― Estou muito bem! Onde está a Marcelly?
Alexander descia as escadas com cautela e falava baixo ao telefone.
― Quero falar com ela!
Embora as visitas à mansão fossem raras, na maioria das vezes, Nicole evitava passar pelo hall de entrada ou pela enorme sala de estar. A luxuosa decoração clássica tinha um mobiliário antigo com molduras rebuscadas e um belo espelho dourado acompanhado por estatuetas de porcelana e um abajur antigo. Nicole contemplou a escada curva e sentiu um arrepio na espinha. As pálpebras inferiores e tensas observavam os degraus de madeira com a base reta. Ela colocou a mão no corrimão dourado, o coração palpitou diante da sensação de impotência. ― Eu não consigo! Quero ir para minha casa. ― Levou a mão à boca e encostou-se contra o peito de Alexander. ― Está tudo bem! Ei, eu estou aqui! ― O dedo esguio levantou o rosto dela. ― Olha pra mim! Ninguém vai machucar você, eu prometo! ― Ele a apertou forte contra o peito.<
Em passos rápidos, porém graciosos, Nicole caminhou pelo quarto após colocar o salto scarpin. Sorriu para o espelho e agradeceu a Lana por ajudar a escolher a roupa ideal. Ela usava um look elegante com peças coordenadas, um tailleur lilás e um macacão pantsuit branco. Na intenção de disfarçar a aflição, Alexander reuniu-se com os amigos na sala. Aceitou a taça de uísque que Jenny ofereceu e sentou no sofá em forma de L. ― Então você é pai? ― A voz calma de Thomas quebrou o silêncio. ― Pois é! ― Quantos anos você tem? ― Thomas sorriu. ― Cinco. ― Alex mostrou os dedos. O barulho suave da campainha tocou na porta da frente, Jenny deu de ombros, já que não espe
Naquela tarde, a chuva de verão chegou em uma nuvem de ventania. O automóvel prata se aproximava da casa luxuosa. A fachada toda branca neoclássica ao estilo francês possuía um charme provençal na mansão construída em uma das áreas nobres do Rio de Janeiro. Da janela do carro, Nicole olhou a edícula da área externa em frente à piscina. Aquele espaço remeteu à infância. As brincadeiras com os únicos amigos e as refeições na mesa de madeira rústica. ― Eu preciso conversar com meu pai. Não vou demorar, eu prometo! Ela concordou com a cabeça, a mente estava em outro lugar. Tirou o cinto de segurança e abriu a porta em silêncio. Estava a ponto de sair do carro, mas parou quando ele esticou o braço e fechou a porta impedindo-a de sair. ― Você está tão quieta! ― Manteve o torso inclinado na direção dela. ― Desde que atr
Depois de tomar algumas decisões, Nicole deu instruções à gerente da loja. Redigiu a carta, imprimiu e assinou. Despediu-se da colega de trabalho que não parou de piscar ao ver o homem que esperava do lado de fora da loja. Alexander olhou para a esposa e mostrou os dentes alinhados e brilhantes. ― Nicky, eu estou com fome! Que tal comida japonesa? Deu um beijinho leve quando ela se aproximou. ― Nunca comi. ― Eu vi um restaurante em Copacabana, parece bom! Vou te levar pra comer o melhor sushi da sua vida. Antes de dar a partida no carro, Alexander ajeitou o cinto de segurança, olhou para Nicole que falava sobre alguns restaurantes ali perto. ― Você vai gostar! ― fitou o deco
Durante o trajeto até a casa luxuosa em São Conrado, Nicole preferiu silenciar e pensar sobre os últimos minutos no restaurante. O carro atravessou o imenso portão e seguiu pelo caminho por entre o amplo gramado verde e as flores do belo jardim iluminadas pelo céu alaranjado. Seguiu pelo corredor do primeiro andar sem dizer uma palavra, tencionou o canto da boca e subiu a escada, apressada, rumou pelo imenso corredor até o quarto. Removeu as roupas e foi direto para o banho assim que entrou no banheiro. Quase uma hora depois, Nicole vestiu uma camisola vermelha curta decotada, em microfibra. Foi direto para o quarto, evitou o contato visual e seguiu até a penteadeira. Escovou os cabelos e colocou algumas gotas de perfume no pescoço. Os olhos dele a devoravam de cima a baixo, parecia u
Ao longo dos meses, Nicole se adaptou à nova rotina e assumiu o desafio de gerenciar o departamento pessoal da empresa junto ao sogro. A grande pasta de couro preta que carregava reforçava a imagem de uma mulher confiante. Eram quase 10 da manhã de segunda-feira quando Nicole apresentou os dados das equipes ao Dr. Ricardo e sugeriu novas contratações. ― Com licença! ― Danielle, secretária de Ricardo, entrou na sala depois de bater à porta. ― O doutor Albuquerque está aqui, eu posso mandá-lo entrar? ― Claro! ― Ricardo alargou o sorriso para a secretária ― Dr. Ricardo, eu vou voltar pra minha sala, tenho de adiantar as folhas de pagamento.
O relógio pendurado na parede, de bronze cinzelado e dourado, tinha um acabamento fosco e brilhante. Os olhos claros observaram os ponteiros que marcavam 11h30 da manhã e examinaram o refinado cinzel de bronze com folhagens e enfeites de volutas. Alexander admirava o copado, um alto-relevo com alguns cães de caça escalando. ― Com licença! ― Henry olhou para o relógio. ― Posso entrar? ― Claro! ― Fez um gesto para a cadeira. ― Sente-se! ― Vocês parecem tão felizes! ― Observou o porta-retratos sobre a mesa. ― Esta foto é do último piquenique que fizemos no Jardim Botânico. A Nicky adora o ar puro e o contato com a natureza. Henry remexeu-se na cadeira, cruzou a perna e colocou uma das mãos
Naquela noite a chuva fina caía sobre o automóvel prata. O Carro atravessou os portões da mansão e estacionou na garagem. Alexander olhou o brilho no display do celular, havia sete ligações perdidas. Tocou na tela e retornou a ligação. ― Olá, mon amour! ― O que você quer Josephiné? ― Eu sinto a sua falta, mon chéri! ― A voz era manhosa. ― Pare de me chamar assim! ― Alexander retirou o cinto de segurança e olhou pela janela do carro. ― Onde está Marcelly? ― Ela está dormindo como um anjo aqui ao meu lado, ela sempre pergunta por você. ― Logo eu vou visitá-la. ― Você pode vir aqui agora, chéri.