Naquela tarde, a chuva de verão chegou em uma nuvem de ventania. O automóvel prata se aproximava da casa luxuosa. A fachada toda branca neoclássica ao estilo francês possuía um charme provençal na mansão construída em uma das áreas nobres do Rio de Janeiro. Da janela do carro, Nicole olhou a edícula da área externa em frente à piscina. Aquele espaço remeteu à infância. As brincadeiras com os únicos amigos e as refeições na mesa de madeira rústica.
― Eu preciso conversar com meu pai. Não vou demorar, eu prometo!
Ela concordou com a cabeça, a mente estava em outro lugar. Tirou o cinto de segurança e abriu a porta em silêncio. Estava a ponto de sair do carro, mas parou quando ele esticou o braço e fechou a porta impedindo-a de sair.
― Você está tão quieta! ― Manteve o torso inclinado na direção dela. ― Desde que atr
Depois de tomar algumas decisões, Nicole deu instruções à gerente da loja. Redigiu a carta, imprimiu e assinou. Despediu-se da colega de trabalho que não parou de piscar ao ver o homem que esperava do lado de fora da loja. Alexander olhou para a esposa e mostrou os dentes alinhados e brilhantes. ― Nicky, eu estou com fome! Que tal comida japonesa? Deu um beijinho leve quando ela se aproximou. ― Nunca comi. ― Eu vi um restaurante em Copacabana, parece bom! Vou te levar pra comer o melhor sushi da sua vida. Antes de dar a partida no carro, Alexander ajeitou o cinto de segurança, olhou para Nicole que falava sobre alguns restaurantes ali perto. ― Você vai gostar! ― fitou o deco
Durante o trajeto até a casa luxuosa em São Conrado, Nicole preferiu silenciar e pensar sobre os últimos minutos no restaurante. O carro atravessou o imenso portão e seguiu pelo caminho por entre o amplo gramado verde e as flores do belo jardim iluminadas pelo céu alaranjado. Seguiu pelo corredor do primeiro andar sem dizer uma palavra, tencionou o canto da boca e subiu a escada, apressada, rumou pelo imenso corredor até o quarto. Removeu as roupas e foi direto para o banho assim que entrou no banheiro. Quase uma hora depois, Nicole vestiu uma camisola vermelha curta decotada, em microfibra. Foi direto para o quarto, evitou o contato visual e seguiu até a penteadeira. Escovou os cabelos e colocou algumas gotas de perfume no pescoço. Os olhos dele a devoravam de cima a baixo, parecia u
Ao longo dos meses, Nicole se adaptou à nova rotina e assumiu o desafio de gerenciar o departamento pessoal da empresa junto ao sogro. A grande pasta de couro preta que carregava reforçava a imagem de uma mulher confiante. Eram quase 10 da manhã de segunda-feira quando Nicole apresentou os dados das equipes ao Dr. Ricardo e sugeriu novas contratações. ― Com licença! ― Danielle, secretária de Ricardo, entrou na sala depois de bater à porta. ― O doutor Albuquerque está aqui, eu posso mandá-lo entrar? ― Claro! ― Ricardo alargou o sorriso para a secretária ― Dr. Ricardo, eu vou voltar pra minha sala, tenho de adiantar as folhas de pagamento.
O relógio pendurado na parede, de bronze cinzelado e dourado, tinha um acabamento fosco e brilhante. Os olhos claros observaram os ponteiros que marcavam 11h30 da manhã e examinaram o refinado cinzel de bronze com folhagens e enfeites de volutas. Alexander admirava o copado, um alto-relevo com alguns cães de caça escalando. ― Com licença! ― Henry olhou para o relógio. ― Posso entrar? ― Claro! ― Fez um gesto para a cadeira. ― Sente-se! ― Vocês parecem tão felizes! ― Observou o porta-retratos sobre a mesa. ― Esta foto é do último piquenique que fizemos no Jardim Botânico. A Nicky adora o ar puro e o contato com a natureza. Henry remexeu-se na cadeira, cruzou a perna e colocou uma das mãos
Naquela noite a chuva fina caía sobre o automóvel prata. O Carro atravessou os portões da mansão e estacionou na garagem. Alexander olhou o brilho no display do celular, havia sete ligações perdidas. Tocou na tela e retornou a ligação. ― Olá, mon amour! ― O que você quer Josephiné? ― Eu sinto a sua falta, mon chéri! ― A voz era manhosa. ― Pare de me chamar assim! ― Alexander retirou o cinto de segurança e olhou pela janela do carro. ― Onde está Marcelly? ― Ela está dormindo como um anjo aqui ao meu lado, ela sempre pergunta por você. ― Logo eu vou visitá-la. ― Você pode vir aqui agora, chéri.
Rio de Janeiro, Brasil. Setembro de 2010 A brisa do mar entrava pela enorme porta dupla da varanda do quarto. A matriarca da família Bittencourt andava de um lado a outro no amplo ambiente da suíte enquanto o jovem de fios dourados falava. Sophie sentou na poltrona e cruzou as pernas ao avaliar Marcello. ― Você contou para ela que eu fui visitar o meu neto? ― Eu só fiz o que a madame pediu. ―Você não devia ter falado que eu fui visitar o Alexander. ― Eu falei sem pensar! Não adianta, Sophie! Eu tentei de tudo. ― Olhou na direção da porta. ― Eu desisto! ― Eu gosto muito da Nicky, mas eu não posso permitir que ela acabe com o futuro do meu neto.<
Rio de Janeiro, Brasil. Agosto de 2015. Os olhos e o coração de Alexander estavam tomados por uma dor incalculável. Um nó na garganta crescia. O sofrimento por conhecer a verdade não tinha mais espaço no peito, as lágrimas fluíam dos olhos. Ele tirou os óculos e secou o rosto com a palma das mãos. ― Sua avó sempre suspeitava de mim e do Marcello. Joanna completou após a governanta relatar tudo o que viu, precisava se eximir daquela culpa. ― Eu tentei visitar a Nicky diversas vezes no hospital, mas me proibiram. Quando a Nicky recebeu alta, ela me chamou para buscá-la. O motorista nos deixou numa casa no subúrbio do Rio e, alguns dias depois de cuidar da Nicole e do Alex, eu saí para procurar trabalho. A
Poucas horas depois que comprou algumas roupas para o filho que teve um estirão de crescimento nos últimos meses, Nicole decidiu fazer uma surpresa para Alexander no trabalho. Mesmo que o filho estivesse acostumado com o prédio do hospital, Alex nunca havia entrado na Administração. Nicole conversava com uma das recepcionistas, quando o filho largou a mão e correu. ― Dinda, saudades! ― Agora você só quer saber do seu pai. ― Jenny reclamou. ― Não dinda, eu sinto a sua falta. ― Eu também! ― Abraçou-a forte. ― A minha mãe está esperando nenê. ― Alex falou perto do ouvido de Jenny. ― Meus parabéns, Nicky! A obstetr