O relógio pendurado na parede, de bronze cinzelado e dourado, tinha um acabamento fosco e brilhante. Os olhos claros observaram os ponteiros que marcavam 11h30 da manhã e examinaram o refinado cinzel de bronze com folhagens e enfeites de volutas. Alexander admirava o copado, um alto-relevo com alguns cães de caça escalando.
― Com licença! ― Henry olhou para o relógio. ― Posso entrar?
― Claro! ― Fez um gesto para a cadeira. ― Sente-se!
― Vocês parecem tão felizes! ― Observou o porta-retratos sobre a mesa.
― Esta foto é do último piquenique que fizemos no Jardim Botânico. A Nicky adora o ar puro e o contato com a natureza.
Henry remexeu-se na cadeira, cruzou a perna e colocou uma das mãos
Naquela noite a chuva fina caía sobre o automóvel prata. O Carro atravessou os portões da mansão e estacionou na garagem. Alexander olhou o brilho no display do celular, havia sete ligações perdidas. Tocou na tela e retornou a ligação. ― Olá, mon amour! ― O que você quer Josephiné? ― Eu sinto a sua falta, mon chéri! ― A voz era manhosa. ― Pare de me chamar assim! ― Alexander retirou o cinto de segurança e olhou pela janela do carro. ― Onde está Marcelly? ― Ela está dormindo como um anjo aqui ao meu lado, ela sempre pergunta por você. ― Logo eu vou visitá-la. ― Você pode vir aqui agora, chéri.
Rio de Janeiro, Brasil. Setembro de 2010 A brisa do mar entrava pela enorme porta dupla da varanda do quarto. A matriarca da família Bittencourt andava de um lado a outro no amplo ambiente da suíte enquanto o jovem de fios dourados falava. Sophie sentou na poltrona e cruzou as pernas ao avaliar Marcello. ― Você contou para ela que eu fui visitar o meu neto? ― Eu só fiz o que a madame pediu. ―Você não devia ter falado que eu fui visitar o Alexander. ― Eu falei sem pensar! Não adianta, Sophie! Eu tentei de tudo. ― Olhou na direção da porta. ― Eu desisto! ― Eu gosto muito da Nicky, mas eu não posso permitir que ela acabe com o futuro do meu neto.<
Rio de Janeiro, Brasil. Agosto de 2015. Os olhos e o coração de Alexander estavam tomados por uma dor incalculável. Um nó na garganta crescia. O sofrimento por conhecer a verdade não tinha mais espaço no peito, as lágrimas fluíam dos olhos. Ele tirou os óculos e secou o rosto com a palma das mãos. ― Sua avó sempre suspeitava de mim e do Marcello. Joanna completou após a governanta relatar tudo o que viu, precisava se eximir daquela culpa. ― Eu tentei visitar a Nicky diversas vezes no hospital, mas me proibiram. Quando a Nicky recebeu alta, ela me chamou para buscá-la. O motorista nos deixou numa casa no subúrbio do Rio e, alguns dias depois de cuidar da Nicole e do Alex, eu saí para procurar trabalho. A
Poucas horas depois que comprou algumas roupas para o filho que teve um estirão de crescimento nos últimos meses, Nicole decidiu fazer uma surpresa para Alexander no trabalho. Mesmo que o filho estivesse acostumado com o prédio do hospital, Alex nunca havia entrado na Administração. Nicole conversava com uma das recepcionistas, quando o filho largou a mão e correu. ― Dinda, saudades! ― Agora você só quer saber do seu pai. ― Jenny reclamou. ― Não dinda, eu sinto a sua falta. ― Eu também! ― Abraçou-a forte. ― A minha mãe está esperando nenê. ― Alex falou perto do ouvido de Jenny. ― Meus parabéns, Nicky! A obstetr
Rio de Janeiro, Brasil Setembro de 2010 Cinco anos antes, Sophie Bittencourt saiu do elevador e caminhou de forma impecável em seu salto scarpin em um monograma dourado. Era o quinto dia consecutivo que ela foi à ala da UTI para visitar Nicole e se informar sobre o quadro da paciente. As paredes cinzas traziam um tom tedioso ao ambiente frio dos corredores. Ela ajeitou o terninho preto e acenou com a cabeça para a recepcionista que a cumprimentou como de costume. Seguiu pelo intocável piso vinílico branco. As mãos engelhadas tocaram na maçaneta do quarto 7B, fechou a porta assim que viu o jovem de cabelos dourados aproximar dos circuitos do aparelho que mantinham Nicole viva. ― O que você faz aqui? Rio de Janeiro, Brasil. Agosto de 2015. Da janela do apartamento, Nicole contemplava imensidão no azul do mar, o alvorecer iluminava as águas e as poucas pessoas que caminhavam e se exercitavam na areia da praia. Tomou um gole de suco de abacaxi com hortelã e respirou o ar puro. Após explicar sobre algumas mudanças ao filho, no café da manhã, Nicole pegou um táxi e seguiu para São Conrado, assim que uma das empregadas avisou que Alexander não estava em casa. Logo que chegou à mansão, ela cumprimentou Rosa e subiu as escadas. A governanta seguiu para a biblioteca com o celular na mão. Sem perder tempo, foi direto para o segundo andar e mandou o filho arrumar a mochila com os brinquedos e os livros que mais gostava. Entrou no quarto e se deparou com aCapítulo 24
Por mais que o evento fosse um jantar de comemoração pelo aniversário do filho, a anfitriã estava empolgada com o requinte na decoração do ambiente. ―Tudo está deslumbrante! ― Josephine olhou para Louise. ― Parabéns, chérie! ― Obrigada! Eu estava tão inspirada que resolvi colocar um pouco mais de glamour na decoração. ― E como foi com o doutor Albuquerque? Ele deve ter ficado feliz por saber que tem uma neta. ― Oui! Ele ficou muito animado quando conheceu ma fille. ― Espero que vocês se reconciliem logo e fiquem juntos. ― Claro! Os lábios delineados pelo batom vermelho se esticaram. Os mocassins batiam contra o piso enquanto ele se locomovia até o outro lado da mesa. ― O que há de tão importante? ― indagou Henry ― Eu vou direto ao ponto. ― Alexander apoiou os cotovelos sobre a mesa e juntou as mãos. ― Eu não quero que o senhor conte nada a Nicky. ― Nicole é minha filha! Eu tenho todo o direito de falar com ela.― Nicole é minha filha! Eu tenho direito de contar a ela. ― Ela é a minha esposa! ― Engrossou o tom de voz. ― Ela precisou de um pai a vida inteira e onde o senhor estava? ― Você não pode impedir que eu me aproxime dela. Se você teve uma oportunidade para corrigir os seus erros, então me deixe corrigir o meu. ― Eu não abandonei meu filho. ― Os punCapítulo 26