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Capítulo 5 O reino Snake

16 anos depois

O tempo estava nublado, com grande probabilidade de chuva. A atmosfera tenebrosa com o seu ar gélido e a brisa dos ventos ecoavam sobre as madeiras das muitas casas do reino Snake. No centro da vila, encontrava-se o tal palácio, feito de madeira real e couro de diversos animais ferozes. Sírius encontrava-se deitado em sua cama de palha e madeira, aparentemente muito aconchegante e agradável para o clima, espreguiçando-se e bocejando alto o suficiente ao ponto de acordar todo o palácio:

– Pá! Pá! Pá! – Ecoava o estrondo por todo o ambiente.

O som estridente levava a crer que, naquele momento, alguém tentava arrombar a porta, dando diversas marteladas. Sírius logo pulava de sua cama, acordando completamente assustado.

– Quem está aí? – Perguntava Sírius em alto e bom som, enquanto corria aos tropeços em direção à porta principal.

– Somos soldados do império da Águia Vermelha, abra a porta ou arrombaremos. –

Berravam atrás da porta de madeira negra do palácio.

Sírius abria a porta e se deparava com dois homens, vestidos com armaduras prateadas e um grande símbolo de uma Águia Vermelha cravejada no seu peito.

– Onde está seu pai, o rei Cornélio Snake? – Perguntava o soldado com a barba por fazer e olhos nitidamente exaustos.

Naquele momento, Sírius sentia alguém se aproximando pelas suas costas e se virava rapidamente, esbarrando-se em seu pai Cornélio Snake, o qual vestia suas roupas de cetim verdes com cobras bordadas nas pontas das mangas.

– Aqui estou, rapazes. O que estão fazendo aqui? Há algo em que eu possa ajudar? –Perguntava Cornélio, colocando a mão sob o ombro do seu filho.

– Sim, senhor! O imperador Lucius exige a nova mercadoria pronta até amanhã ou vocês sofrerão graves consequências. – Discorria o segundo soldado mais jovem, com o ar de agressividade em seu rosto.

– Filho, o café está na mesa. Seus irmãos estão aguardando você. – Falava o rei para seu filho mais novo, enquanto apertava seu ombro em sinal para que ele se retirasse.

Sírius permanecia parado por alguns segundos, mas se retirava da conversa ao levar mais um aperto de seu pai no ombro, dirigindo-se à cozinha onde estavam seus irmãos Beatriz e Niro. Sírius, então, sentou-se na cadeira em frente à mesa de madeira grossa e rústica e apreciou os alimentos sobre ela: suco de laranja, massa de pão, algumas frutas fresquinhas, como maçã, banana, peras e cachos de uvas.

Sírius esticava-se por completo sobre a mesa e, sem jeito, pegava a maior maçã que encontrava. Em seguida, devorava-a, enchendo a boca mais e mais até que fosse necessário empurrar a comida com o próprio dedo.

– Quando você vai tomar jeito? – Indagava Beatriz enquanto comia algumas uvas.

– Numermudya... – Resmungava Sírius com a boca cheia, cuspindo pedaços de maçãs.

– Sírius, tenha modos. – Falava Niro com uma pera pela metade em sua mão.

– Você vai ajudar nosso pai hoje nas contas dos nobres? – Perguntava Beatriz, mudando de assunto.

– No mesmo dia em que você parar de ler esses livros e fizer alguma coisa pra ajudar o reino de verdade. – Respondia Sírius a Beatriz, que ficava com suas bochechas vermelhas de raiva. – Vou ajudar indiretamente. Estarei treinando com minha cobra Pi e caçando algumas coisas pra vender na rua mais tarde. – Continuou Sírius.

– Será que um dia você conseguirá levar as coisas a sério? – Lamentava Niro, com uma voz e feição de desgosto.

Sírius pegou uma banana na mesa, devorou-a por inteiro rapidamente, arremessou a casca na caixa de lixo ao lado do seu irmão Niro, que bufou de desprezo. Em seguida, levantou-se e caminhou para seu quarto. Ao chegar, retirou seu pijama e vestiu sua roupa preta de capa verde-escura acompanhada de um capuz que ocultava sua face.

Pegou seu arco ao lado de sua cama e apreciou por um tempo os diversos desenhos de várias cobras, junto a três dúzias de flechas produzidas por ele mesmo. Logo após, entrelaçou o arco em seu ombro, colocou suas flechas no alforje e o amarrava em suas costas.

Ao sentir-se pronto, ao rever todas as flechas, o elástico do arco e a condição do material de sua arma, Sírius decidia sair do quarto e caminhar para a porta principal do palácio, com esperança de encontrar seu pai, mas, ao chegar à porta, não encontrava ninguém. Então retornou à cozinha onde encontrava seus pais e irmãos reunidos ao redor da mesa.

– Pai? Está tudo bem? – Perguntava Sírius com uma voz apressada.

– Mais ou menos, filho, mas vai ficar bem amanhã. – Respondia seu pai, alisando sua grande barba negra.

– O império não está mais se contentando apenas com alimentos frescos e animais fartos, e agora está querendo crianças, Sírius. Essa é a situação. – Desabafava sua mãe, encarando-o com seus olhos verdes-esmeraldas que se assemelhavam aos dele.

– Se continuar assim, daqui a pouco vai querer até nossas vidas... – Sussurrava Belatriz para si mesma.

Nesse momento, Cornélio bufou bem alto, como se estivesse com receio de algo ou alguém. – Hem! Hem!

– Estou indo treinar com a Pi. Talvez ouça alguns murmurinhos pela rua. – Falou Sírius, seriamente.

– Cuidado, filho! O reino está lotado de soldados do império da Águia Vermelha; parece que estamos sendo vigiados. – Falava sua mãe, olhando Sírius seriamente com um ar amedrontador.

– Não se preocupe, mãe. Não estarei sozinho. – Falava Sírius saindo da cozinha e caminhando em direção à porta principal.

Ao sair do palácio, Sírius sentiu o ar gélido bater em sua face brutalmente, e sua pele aparentemente pálida começava a rosar devido ao clima. Sírius, então, puxa o capuz para a sua cabeça, conseguindo ficar mais agasalhado, dirigindo-se ao centro comercial do reino, sendo recepcionado por diversos vendedores.

– Olá, Dona Fátima, como vão as vendas? – Questiona Sírius, acenando para a senhorinha comerciante de remédios naturais, coberta de lãs de ovelhas temendo o frio, enquanto vendia suas folhas de ervas e alguns analgésicos.

– Espero que não volte ferido dessa vez! – A senhora abençoava Sírius, que sorria e continuava a caminhar.

Era cedo, mas o reino estava bastante movimentado com comerciantes, fregueses, animais, algumas criaturas horripilantes, como capelobos: as enormes feras bípedes com suas longas garras, narizes e línguas sempre à mostra, acorrentadas por dois ou mais homens fortes; quibungos: seres que apenas poderiam frequentar ao centro da cidade se presos em jaulas de madeira real com seus donos ao lado e sua boca das costas totalmente amarradas com couro de boi vaquim; além de algumas pessoas que caminhavam em busca de algo interessante para comprar ou para saber as notícias do dia.

No meio de toda movimentação, estava uma moça de cabelos castanhos escuros e pele rosada, coberta de tecidos com as cores do arco-íris, escrito “flores é com a Florinda”, acompanhada de uma pequena carruagem repleta de diversas flores, aos berros, na tentativa de vender suas flores.

– Bom dia, flor, qual a encomenda para hoje? – Perguntava Sírius à moça com um sorriso no rosto.

– Bom dia, príncipe Sírius. – Respondia Florinda, entregando um papel amassado no qual estava a encomenda do dia.

Cinco rosas de fogo

Dois girassóis clareadores

Três tulipas copo de café

– Será que consegue me entregar todos os itens antes do anoitecer? – Perguntava

Florinda, enquanto pegava uma cesta de palha na carruagem de flores.

– Eu sou Sírius Snake, lembra? – Respondia o rapaz orgulhosamente, enquanto guardava o papel no bolso de suas vestes. Em seguida, pegou a cesta feita de palha nas mãos Florinda e seguiu o caminho até o fim do reino rumo à floresta das cobras.

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