16 anos depois
O tempo estava nublado, com grande probabilidade de chuva. A atmosfera tenebrosa com o seu ar gélido e a brisa dos ventos ecoavam sobre as madeiras das muitas casas do reino Snake. No centro da vila, encontrava-se o tal palácio, feito de madeira real e couro de diversos animais ferozes. Sírius encontrava-se deitado em sua cama de palha e madeira, aparentemente muito aconchegante e agradável para o clima, espreguiçando-se e bocejando alto o suficiente ao ponto de acordar todo o palácio:
– Pá! Pá! Pá! – Ecoava o estrondo por todo o ambiente.
O som estridente levava a crer que, naquele momento, alguém tentava arrombar a porta, dando diversas marteladas. Sírius logo pulava de sua cama, acordando completamente assustado.
– Quem está aí? – Perguntava Sírius em alto e bom som, enquanto corria aos tropeços em direção à porta principal.
– Somos soldados do império da Águia Vermelha, abra a porta ou arrombaremos. –
Berravam atrás da porta de madeira negra do palácio.
Sírius abria a porta e se deparava com dois homens, vestidos com armaduras prateadas e um grande símbolo de uma Águia Vermelha cravejada no seu peito.
– Onde está seu pai, o rei Cornélio Snake? – Perguntava o soldado com a barba por fazer e olhos nitidamente exaustos.
Naquele momento, Sírius sentia alguém se aproximando pelas suas costas e se virava rapidamente, esbarrando-se em seu pai Cornélio Snake, o qual vestia suas roupas de cetim verdes com cobras bordadas nas pontas das mangas.
– Aqui estou, rapazes. O que estão fazendo aqui? Há algo em que eu possa ajudar? –Perguntava Cornélio, colocando a mão sob o ombro do seu filho.
– Sim, senhor! O imperador Lucius exige a nova mercadoria pronta até amanhã ou vocês sofrerão graves consequências. – Discorria o segundo soldado mais jovem, com o ar de agressividade em seu rosto.
– Filho, o café está na mesa. Seus irmãos estão aguardando você. – Falava o rei para seu filho mais novo, enquanto apertava seu ombro em sinal para que ele se retirasse.
Sírius permanecia parado por alguns segundos, mas se retirava da conversa ao levar mais um aperto de seu pai no ombro, dirigindo-se à cozinha onde estavam seus irmãos Beatriz e Niro. Sírius, então, sentou-se na cadeira em frente à mesa de madeira grossa e rústica e apreciou os alimentos sobre ela: suco de laranja, massa de pão, algumas frutas fresquinhas, como maçã, banana, peras e cachos de uvas.
Sírius esticava-se por completo sobre a mesa e, sem jeito, pegava a maior maçã que encontrava. Em seguida, devorava-a, enchendo a boca mais e mais até que fosse necessário empurrar a comida com o próprio dedo.
– Quando você vai tomar jeito? – Indagava Beatriz enquanto comia algumas uvas.
– Numermudya... – Resmungava Sírius com a boca cheia, cuspindo pedaços de maçãs.
– Sírius, tenha modos. – Falava Niro com uma pera pela metade em sua mão.
– Você vai ajudar nosso pai hoje nas contas dos nobres? – Perguntava Beatriz, mudando de assunto.
– No mesmo dia em que você parar de ler esses livros e fizer alguma coisa pra ajudar o reino de verdade. – Respondia Sírius a Beatriz, que ficava com suas bochechas vermelhas de raiva. – Vou ajudar indiretamente. Estarei treinando com minha cobra Pi e caçando algumas coisas pra vender na rua mais tarde. – Continuou Sírius.
– Será que um dia você conseguirá levar as coisas a sério? – Lamentava Niro, com uma voz e feição de desgosto.
Sírius pegou uma banana na mesa, devorou-a por inteiro rapidamente, arremessou a casca na caixa de lixo ao lado do seu irmão Niro, que bufou de desprezo. Em seguida, levantou-se e caminhou para seu quarto. Ao chegar, retirou seu pijama e vestiu sua roupa preta de capa verde-escura acompanhada de um capuz que ocultava sua face.
Pegou seu arco ao lado de sua cama e apreciou por um tempo os diversos desenhos de várias cobras, junto a três dúzias de flechas produzidas por ele mesmo. Logo após, entrelaçou o arco em seu ombro, colocou suas flechas no alforje e o amarrava em suas costas.
Ao sentir-se pronto, ao rever todas as flechas, o elástico do arco e a condição do material de sua arma, Sírius decidia sair do quarto e caminhar para a porta principal do palácio, com esperança de encontrar seu pai, mas, ao chegar à porta, não encontrava ninguém. Então retornou à cozinha onde encontrava seus pais e irmãos reunidos ao redor da mesa.
– Pai? Está tudo bem? – Perguntava Sírius com uma voz apressada.
– Mais ou menos, filho, mas vai ficar bem amanhã. – Respondia seu pai, alisando sua grande barba negra.
– O império não está mais se contentando apenas com alimentos frescos e animais fartos, e agora está querendo crianças, Sírius. Essa é a situação. – Desabafava sua mãe, encarando-o com seus olhos verdes-esmeraldas que se assemelhavam aos dele.
– Se continuar assim, daqui a pouco vai querer até nossas vidas... – Sussurrava Belatriz para si mesma.
Nesse momento, Cornélio bufou bem alto, como se estivesse com receio de algo ou alguém. – Hem! Hem!
– Estou indo treinar com a Pi. Talvez ouça alguns murmurinhos pela rua. – Falou Sírius, seriamente.
– Cuidado, filho! O reino está lotado de soldados do império da Águia Vermelha; parece que estamos sendo vigiados. – Falava sua mãe, olhando Sírius seriamente com um ar amedrontador.
– Não se preocupe, mãe. Não estarei sozinho. – Falava Sírius saindo da cozinha e caminhando em direção à porta principal.
Ao sair do palácio, Sírius sentiu o ar gélido bater em sua face brutalmente, e sua pele aparentemente pálida começava a rosar devido ao clima. Sírius, então, puxa o capuz para a sua cabeça, conseguindo ficar mais agasalhado, dirigindo-se ao centro comercial do reino, sendo recepcionado por diversos vendedores.
– Olá, Dona Fátima, como vão as vendas? – Questiona Sírius, acenando para a senhorinha comerciante de remédios naturais, coberta de lãs de ovelhas temendo o frio, enquanto vendia suas folhas de ervas e alguns analgésicos.
– Espero que não volte ferido dessa vez! – A senhora abençoava Sírius, que sorria e continuava a caminhar.
Era cedo, mas o reino estava bastante movimentado com comerciantes, fregueses, animais, algumas criaturas horripilantes, como capelobos: as enormes feras bípedes com suas longas garras, narizes e línguas sempre à mostra, acorrentadas por dois ou mais homens fortes; quibungos: seres que apenas poderiam frequentar ao centro da cidade se presos em jaulas de madeira real com seus donos ao lado e sua boca das costas totalmente amarradas com couro de boi vaquim; além de algumas pessoas que caminhavam em busca de algo interessante para comprar ou para saber as notícias do dia.
No meio de toda movimentação, estava uma moça de cabelos castanhos escuros e pele rosada, coberta de tecidos com as cores do arco-íris, escrito “flores é com a Florinda”, acompanhada de uma pequena carruagem repleta de diversas flores, aos berros, na tentativa de vender suas flores.
– Bom dia, flor, qual a encomenda para hoje? – Perguntava Sírius à moça com um sorriso no rosto.
– Bom dia, príncipe Sírius. – Respondia Florinda, entregando um papel amassado no qual estava a encomenda do dia.
Cinco rosas de fogo
Dois girassóis clareadores
Três tulipas copo de café
– Será que consegue me entregar todos os itens antes do anoitecer? – Perguntava
Florinda, enquanto pegava uma cesta de palha na carruagem de flores.
– Eu sou Sírius Snake, lembra? – Respondia o rapaz orgulhosamente, enquanto guardava o papel no bolso de suas vestes. Em seguida, pegou a cesta feita de palha nas mãos Florinda e seguiu o caminho até o fim do reino rumo à floresta das cobras.
Sírius entrava na floresta das cobras com os olhos serrilhados, mãos e braços abertos como se esperasse um ataque a qualquer momento; ouvidos apurados, demonstrando total atenção a cada ruído que a floresta reproduzia a sua volta. Os sons dos ventos entre as árvores ricocheteando entre os galhos e folhas, ruídos de animais e monstros nas profundezas, mas nada aparentava estar próximo o suficiente para atacá-lo de surpresa, talvez por isso ele se recusasse a pegar seu arco, dando apenas passos curtos, aprofundando-se cada vez mais na floresta. – Psixim! – Ecoava nas árvores próximas de Sírius. Nesse momento, vultos negros como fantasmas passavam entre as árvores rapidamente e Sírius tentava acompanha-los com os seus olhos. – Psixim! – Novamente rosnava o som amedrontador ao redor do príncipe. No escuro da floresta devido às grandes árvores a sua volta e às folhas escondendo o céu nublado, os olhos verdes-esmeraldas de Sírius brilhavam fortemente, suas
Era um dia claro, poucas nuvens no céu, os pássaros cantarolavam, o ar ainda permanecia gelado, mas com um clima bem mais agradável. Entretanto, o clima sendo ensolarado ou não, a vida de um prisioneiro de Bacu nunca seria agradável. O príncipe Sírius se encontrava em uma pequena cela de aço, deitado em seu interior, cercado pelas grades de aço, com a face no chão de madeira, sem sua capa e roupa de couro, com o seu peito à mostra, apenas com uma pequena massa de panos amarrados as suas costas – a qual escondia o corte da espada, enquanto era arrastado, por duas criaturas horripilantes, com suas cabeças emanando uma chama avermelhada, e um cavaleiro sobre cada animal. Eles subiam uma grande montanha de cascalhos e pedras, a carruagem trepidava e sacolejava todo o momento que passava por cima de qualquer pedra a sua frente. – Pum! – Ecoava o som da cabeça de Sírius, batendo com força contra o chão de madeira da jaula. Em seguida, ele abria seus
Os dias se passavam lentamente na prisão de Bacu. Em sua cela, Sírius permanecia deitado sobre sua cama dia e noite, levantando-se apenas para suas necessidades e para depositar a cuia na portinha de sua prisão, em busca de coletar as duas refeições diárias.– sopas que variavam de sabores com o tempo, às vezes era de abóbora, outra de batata, de carne, aleatoriamente ao passar do tempo. Quando ele completou uma semana em confinamento, a sua cela se abriu pela primeira vez e três homens entraram, olhando–o, mas ele permanecia imóvel, deitado, apenas observando com ar de desprezo. Um deles usava uma roupa branca com um símbolo da Águia Vermelha no ombro e os outros dois eram soldados com as tradicionais armaduras do império, sendo, um deles, Carmel. – Pelo visto, você já está bem melhor, rei Sírius. – Falava o senhor com um leve sorriso. Eu vim para observar o seu corte. – Completava o homem de roupa branca. – Rei? Me
Era mais uma noite para Sírius na prisão de Bacu, mas, para o mundo, aquela era noite de Ano Novo. Os quatros reinos e o império estavam em festas, aos fogos de artifícios, com muita comida e bebida para os nobres e mais algumas migalhas para os plebeus se animarem. Sírius estava sentado em sua cama, esfregando suas mãos, com o olhar pensativo para o chão de pedras ásperas. – Vai fazer dez anos que estou aqui, dez ou onze anos, mas acho que é na faixa de dez. – Falava Sírius, para si mesmo. – Hoje Tom entrará aqui bêbado, como todos os anos e essa é a minha chance de escapar. – Completava o Snake. Sírius se levantava da cama e amarrava seus cabelos, como um coque feminino e se posicionava ao lado da cela com o seu balde de madeira cheio de dejetos. – Pow! Pow! Pow! – Ecoavam os fogos de artifícios no lado de fora da prisão de Bacu. Ele suava frio, mas permanecia firme em sua posição. De repente, a cela abr
Sírius permanecia encolhido ao canto da parede de pedra ásperas de sua cela, escondendo seus olhos chorosos, enquanto grunhidos ecoavam altos a sua volta. Aos poucos, ele retirava suas mãos de seus olhos e se deparava com um homem de meia idade, com cabelos pretos, acompanhados com alguns fios grisalhos e uma barba mal feita, suas vestes também estavam rasgadas e manchadas com sangue como as dele. – Olá, meu rapaz. – Falava o homem. Nesse momento, Sírius se encolhia ainda mais na parede, com um medo irracional, escondendo seus olhos novamente e abrindo sua boca, enquanto chorava mais uma vez, como uma criança recebendo um estranho. – Isso não é real, não é real, acorda, Sírius, acorda, por favor. – Falava Sírius alto para si mesmo, engasgando-se com suas próprias lágrimas. O homem se aproximava de Sírius e passava sua mão suja, de pó de pedras, na cabeça do rapaz, em uma forma de afeto e se sentava ao lado dele. – Meu nome
Sírius abaixava a sua cabeça e olhava para o chão de pedras ásperas, demonstrando respeito, enquanto esperava alguma palavra do seu professor no silêncio absoluto do ambiente. Após alguns longos minutos, Notig olhava para Sírius de cabeça baixa, sem demonstrar nenhuma emoção em seu rosto. O Snake apertava seus punhos com ansiedade e raiva ao mesmo tempo. Devagar, ele levantava a sua cabeça, fixando seu olhar aos olhos de Notig, que eram tão escuros como o céu noturno sob a prisão de Bacu. Sírius analisava Notig por inteiro, mesmo em uma cela, ele ainda mantinha uma postura de general, professor ou algo do tipo, que impõe respeito. Suas pernas estavam aliadas, suas mãos se apertavam à frente do seu próprio peito e seus olhos o encaravam, como se fosse uma presa fácil de abater. – Eu pensei… Que depois da luta… Você iria ficar com a cabeça abaixada para mim. –Comentava Notig, lentamente. Sírius permanecia imóvel, com seus olhos vidrados e
Sírius caminhava apressadamente por toda a cela de Notig. De lá para cá, de cá para lá, sem rumo, apenas tentando passar a raiva. Notig estava de pé, à frente de sua cela, com suas unhas, ele pegava na porta da cela e tentava puxar um pouco da madeira. – Hmmmm! Pá! – A porta emitia o som. – Hmmmmmm! Pá! – Novamente o mesmo som. Notig encarava Sírius, com dois pedaços de madeira em suas mãos. Sírius parava a agitação e observava Notig. – Defina a economia. Perguntava Notig para Sírius. – É a ciência que estuda os meios relacionados para extração e utilização dos recursos e matérias necessários para o bem-estar de uma sociedade – Respondia Sírius, com a voz mais calma. Notig, após ouvir a resposta de Sírius, entregou um dos pedaços de madeira para o rapaz, que o segurou com força. – A arte do combate, quem triunfa? – Perguntava Notig, posicionando-se em forma de ataque. – Triunfam aqueles que sabem lutar e quando
– O que é isso? – Perguntava um dos soldados para Sírius, enquanto ele permanecia calado, segurando a cabeça ensanguentada do seu mestre. – Não está vendo? Precisamos falar com Severo. – Falava o segundo guarda para o primeiro. – Fique aqui, eu vou buscá-lo. – Completava o homem. Nesse momento, o primeiro guarda pegava Sírius pelos braços e o acorrentava. O prisioneiro não se incomodava, era como se o seu mundo tivesse sido destruído novamente, ele apenas observava seu mestre largado no chão e suas mãos sujas com o seu sangue. O segundo soldado corria entre os corredores da prisão de Bacu, passando por celas de diferentes andares, subindo vãos de escadas íngremes e, após alguns tropeços, ele chegava na torre mais alta da prisão, onde encontrava-se uma porta de madeira rústica, pregada com pregos deformados e brutos, além de ser rebitada com ferro. No topo da porta havia uma placa de madeira com aproximadamente trinta centímetro