Cornélio reunia seus três filhos, que ajeitavam-se, enquanto sentavam no chão, formando um semicírculo.
– Vocês sabem como foi criado o nosso universo? – Perguntava Cornélio para seus filhos.
Niro bocejava baixinho e falava com sua voz de sono em seguida. – Pelos deuses, papai.
– Também, mas foi devido às pedras universais que tudo começou. – Respondia Beatriz com deboche em sua voz.
– Eu pensava que apenas os deuses o teriam criado. – Respondia Sírius enquanto levantava sua sobrancelha.
– Acalmem-se, crianças, eu vou explicar tudo para vocês. – Falava Cornélio lentamente, com um sorriso no rosto.
Sírius ficava curioso com a história e se interessava, prestando atenção em cada detalhe que seu pai falava para ele e seus irmãos.
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Neste momento, Cornélio se ajeitava, dobrava suas pernas, estalava seus dedos e olhava fixamente para cada um dos seus filhos por alguns segundos, exibindo seus grandes olhos verdes, cor da natureza.
– Antes da criança dos universos e dos deuses, Tupã, o deus do trovão, Ticê, deusa da inveja e magia oculta, Xandoré o deus da ira e do ódio, Anhangá, o deus do submundo, Jaci, a deusa da lua e Guaraci, o deus do sol, existia apenas um império nos campos celestiais do universo. Luzes e trevas, ambos viviam em harmonia sem invadir o espaço do outro, mas como um único império. – Falava Cornélio enquanto apagava as velas ao seu lado falando das trevas e ateava fogo novamente nos pavios para fala da luz.
– Os cavaleiros da luz tinham o dom da sabedoria, da matemática, física, filosofia e as ciências de natureza incompreensíveis para nós, com isso, eles criaram a pedra filosofal, uma joia responsável por conter toda a sabedoria, respostas, curas dos mundos e a vida eterna. – Falava Cornélio animadamente como se estivesse apresentando uma peça dramática.
As crianças permaneciam em silêncio, com seus olhos esbugalhados, admirando e ouvindo cada detalhe da história do seu pai.
– Os guerreiros das trevas eram os responsáveis pela a criação de todas as coisas. Entretanto, as suas obras eram mal feitas, sem sabedoria e inteligência. Foram os responsáveis pela criação do grande mar negro, grandes explosões de gases que iluminavam o vácuo e seu império, além das inúmeras rochas negras contidas no universo. – Falava Cornélio enquanto apagava novamente o fogo da vela à sua frente.
Niro e Beatriz abraçavam Sírius, como se estivessem com medo, mas continuavam cientes e prestando atenção na história do seu pai.
Acendendo a vela mais uma vez, Cornélio aparecia novamente para seus filhos.
– Certo dia, o guerreiro das trevas, Moaky, revoltou-se com as condições do seu povo e formou seu exército travando uma batalha contra os cavaleiros de luzes. – Falava Cornélio lentamente, enquanto seus filhos estavam com os olhos amedrontados.
– Entretanto, o cavaleiro das trevas, Moaky, não esperava o cavaleiro de luz Irno. Quando as duas espadas se chocaram pela primeira vez, tudo explodiu e o tudo virou nada e o nada virou tudo.
Desse modo, os mundos foram criados, as árvores, os animais, nossas raças e os deuses. – Completava Cornélio enquanto olhava para as estrelas dos céus sobre o cômodo, através da janela.
– O que aconteceu com Moaky, papai? – Perguntou Sírius, incrédulo.
– Ninguém sabe, Sírius, mas as lendas relatam que ele foi trancafiado em baixo da terra, com todos os seus poderes armazenados em uma joia. – Respondia o rei Cornélio.
– Mas e Irno, papai? – Perguntou Beatriz pensativa.
– Após a criação do mundo, ele distribuiu sua sabedoria entre os nossos reinos. Cada reino com sua sabedoria e avanço místico específico. – Respondia Cornélio, perdido em seus pensamentos.
Nesse momento, Belatriz aparecia no comando, com seus cabelos negros e oleosos amarrados em coque em sua cabeça e seus olhos verdes cansados de sono.
– Vamos, crianças, está na hora de dormir. – Falava Belatriz, sonolenta.
Niro e Beatriz se levantaram e abraçavam seu pai, logo após correram para seus quartos com Belatriz acompanhando.
Por último, Sírius abraçou seu pai e deu um beijo em sua bochecha.
– Te amo pai, durma bem. – Falava o príncipe Sírius, com um sorriso pensativo.
– Vamos dormir, meu filho, também te amo. – Respondia o rei Snake, retribuindo o sorriso.
Sírius se dirigia à porta do cômodo e, quando estava de saída, seu pai deu uma leve tossida como se estivesse o chamando.
– Amanhã irei lhe ensinar a usar o arco. – Falava seu pai pensativo, observando as estrelas.
– Sim, pai! – Falava Sírius, animadamente.
A manhã estava nublada fria e úmida devido à chuva da noite anterior, mas, como prometido, o rei Cornélio começava a treinar Sírius com seu arco e flecha. Ao fundo do palácio, encontrava-se pai e filho em um momento familiar e amoroso. Alguns alvos em verde à frente de Sírius e dois alforjes lotados de flechas ao seu lado. – Afaste mais as pernas, Sírius, tente achar o ponto de equilíbrio do seu corpo. – Falava Cornélio, enquanto batia com a ponta de uma flecha entre as pernas do seu filho. Sírius abria mais suas pernas, ficando o mais justo e firme possível, segurava grosseiramente o seu arco e acoplava a flecha na corda, puxando-o ao máximo. – Não é força, Sírius, é dedicação. – Falava Cornélio, enquanto ajeitava o braço do seu filho delicadamente e reduzia o puxe da corda. Rapidamente, Sírius soltava a corda e a flecha voava disparadamente em direção ao alvo, mas ela caía no chão a poucos metros do disparo, como um saco
16 anos depois O tempo estava nublado, com grande probabilidade de chuva. A atmosfera tenebrosa com o seu ar gélido e a brisa dos ventos ecoavam sobre as madeiras das muitas casas do reino Snake. No centro da vila, encontrava-se o tal palácio, feito de madeira real e couro de diversos animais ferozes. Sírius encontrava-se deitado em sua cama de palha e madeira, aparentemente muito aconchegante e agradável para o clima, espreguiçando-se e bocejando alto o suficiente ao ponto de acordar todo o palácio: – Pá! Pá! Pá! – Ecoava o estrondo por todo o ambiente. O som estridente levava a crer que, naquele momento, alguém tentava arrombar a porta, dando diversas marteladas. Sírius logo pulava de sua cama, acordando completamente assustado. – Quem está aí? – Perguntava Sírius em alto e bom som, enquanto corria aos tropeços em direção à porta principal. – Somos soldados do império da Águia Vermelha, abra a porta ou
Sírius entrava na floresta das cobras com os olhos serrilhados, mãos e braços abertos como se esperasse um ataque a qualquer momento; ouvidos apurados, demonstrando total atenção a cada ruído que a floresta reproduzia a sua volta. Os sons dos ventos entre as árvores ricocheteando entre os galhos e folhas, ruídos de animais e monstros nas profundezas, mas nada aparentava estar próximo o suficiente para atacá-lo de surpresa, talvez por isso ele se recusasse a pegar seu arco, dando apenas passos curtos, aprofundando-se cada vez mais na floresta. – Psixim! – Ecoava nas árvores próximas de Sírius. Nesse momento, vultos negros como fantasmas passavam entre as árvores rapidamente e Sírius tentava acompanha-los com os seus olhos. – Psixim! – Novamente rosnava o som amedrontador ao redor do príncipe. No escuro da floresta devido às grandes árvores a sua volta e às folhas escondendo o céu nublado, os olhos verdes-esmeraldas de Sírius brilhavam fortemente, suas
Era um dia claro, poucas nuvens no céu, os pássaros cantarolavam, o ar ainda permanecia gelado, mas com um clima bem mais agradável. Entretanto, o clima sendo ensolarado ou não, a vida de um prisioneiro de Bacu nunca seria agradável. O príncipe Sírius se encontrava em uma pequena cela de aço, deitado em seu interior, cercado pelas grades de aço, com a face no chão de madeira, sem sua capa e roupa de couro, com o seu peito à mostra, apenas com uma pequena massa de panos amarrados as suas costas – a qual escondia o corte da espada, enquanto era arrastado, por duas criaturas horripilantes, com suas cabeças emanando uma chama avermelhada, e um cavaleiro sobre cada animal. Eles subiam uma grande montanha de cascalhos e pedras, a carruagem trepidava e sacolejava todo o momento que passava por cima de qualquer pedra a sua frente. – Pum! – Ecoava o som da cabeça de Sírius, batendo com força contra o chão de madeira da jaula. Em seguida, ele abria seus
Os dias se passavam lentamente na prisão de Bacu. Em sua cela, Sírius permanecia deitado sobre sua cama dia e noite, levantando-se apenas para suas necessidades e para depositar a cuia na portinha de sua prisão, em busca de coletar as duas refeições diárias.– sopas que variavam de sabores com o tempo, às vezes era de abóbora, outra de batata, de carne, aleatoriamente ao passar do tempo. Quando ele completou uma semana em confinamento, a sua cela se abriu pela primeira vez e três homens entraram, olhando–o, mas ele permanecia imóvel, deitado, apenas observando com ar de desprezo. Um deles usava uma roupa branca com um símbolo da Águia Vermelha no ombro e os outros dois eram soldados com as tradicionais armaduras do império, sendo, um deles, Carmel. – Pelo visto, você já está bem melhor, rei Sírius. – Falava o senhor com um leve sorriso. Eu vim para observar o seu corte. – Completava o homem de roupa branca. – Rei? Me
Era mais uma noite para Sírius na prisão de Bacu, mas, para o mundo, aquela era noite de Ano Novo. Os quatros reinos e o império estavam em festas, aos fogos de artifícios, com muita comida e bebida para os nobres e mais algumas migalhas para os plebeus se animarem. Sírius estava sentado em sua cama, esfregando suas mãos, com o olhar pensativo para o chão de pedras ásperas. – Vai fazer dez anos que estou aqui, dez ou onze anos, mas acho que é na faixa de dez. – Falava Sírius, para si mesmo. – Hoje Tom entrará aqui bêbado, como todos os anos e essa é a minha chance de escapar. – Completava o Snake. Sírius se levantava da cama e amarrava seus cabelos, como um coque feminino e se posicionava ao lado da cela com o seu balde de madeira cheio de dejetos. – Pow! Pow! Pow! – Ecoavam os fogos de artifícios no lado de fora da prisão de Bacu. Ele suava frio, mas permanecia firme em sua posição. De repente, a cela abr
Sírius permanecia encolhido ao canto da parede de pedra ásperas de sua cela, escondendo seus olhos chorosos, enquanto grunhidos ecoavam altos a sua volta. Aos poucos, ele retirava suas mãos de seus olhos e se deparava com um homem de meia idade, com cabelos pretos, acompanhados com alguns fios grisalhos e uma barba mal feita, suas vestes também estavam rasgadas e manchadas com sangue como as dele. – Olá, meu rapaz. – Falava o homem. Nesse momento, Sírius se encolhia ainda mais na parede, com um medo irracional, escondendo seus olhos novamente e abrindo sua boca, enquanto chorava mais uma vez, como uma criança recebendo um estranho. – Isso não é real, não é real, acorda, Sírius, acorda, por favor. – Falava Sírius alto para si mesmo, engasgando-se com suas próprias lágrimas. O homem se aproximava de Sírius e passava sua mão suja, de pó de pedras, na cabeça do rapaz, em uma forma de afeto e se sentava ao lado dele. – Meu nome
Sírius abaixava a sua cabeça e olhava para o chão de pedras ásperas, demonstrando respeito, enquanto esperava alguma palavra do seu professor no silêncio absoluto do ambiente. Após alguns longos minutos, Notig olhava para Sírius de cabeça baixa, sem demonstrar nenhuma emoção em seu rosto. O Snake apertava seus punhos com ansiedade e raiva ao mesmo tempo. Devagar, ele levantava a sua cabeça, fixando seu olhar aos olhos de Notig, que eram tão escuros como o céu noturno sob a prisão de Bacu. Sírius analisava Notig por inteiro, mesmo em uma cela, ele ainda mantinha uma postura de general, professor ou algo do tipo, que impõe respeito. Suas pernas estavam aliadas, suas mãos se apertavam à frente do seu próprio peito e seus olhos o encaravam, como se fosse uma presa fácil de abater. – Eu pensei… Que depois da luta… Você iria ficar com a cabeça abaixada para mim. –Comentava Notig, lentamente. Sírius permanecia imóvel, com seus olhos vidrados e