Os anos se passavam e o príncipe Sírius crescia forte e saudável, um bebê fofo e adorável para todos do reino Snake. Com cabelos negros, espetados como de seu pai e olhos verdes-esmeralda da sua mãe, aprendia a andar e falar rapidamente com sua família.
O dia estava ensolarado e bonito, os pássaros cantavam, enquanto sobrevoavam o reino, as pessoas comercializavam suas mercadorias tranquilamente e os soldados caminhavam calmamente pelas ruas. Era um belo dia para se divertir, entretanto, a família Snake estava em seu palácio acomodada confortavelmente, Niro e Beatrice estavam rabiscando seus cadernos com anotações literárias, enquanto Sírius aprendia a escrever com sua mãe Belatriz.
– S... I... – Soletrava Belatriz cautelosamente para Sírius.
Após Belatriz ajudar seu filho mais novo escrever seu nome pela primeira vez, ela se dirigia para seus dois filhos mais velhos, Niro e Beatriz, em busca de encontrar algum erro nas atividades.
– Isso! Quero letras bonitas, com respostas coerentes. – Falava a rainha com um sorriso.
– A vida não é só Ricardo de Souza com a turma da Bia, crianças! – Esbravejava Belatriz, amorosamente.
– Mas, mamãe, eu também aprendo a ler e escrever com A turma da Bia! – Questionava Niro.
– Não é a mesma coisa, Niro! Aqui nesses livros tem o conhecimento, filosofia, política, nosso futuro. Né isso, mamãe? – Questionava Beatriz, apontando sua pena de pavão a sua mãe.
– Sim! – Respondia Belatriz, até ser interrompida por um estrondo.
– PAC! Pac! – Ecoava o som de alguém batendo em uma madeira.
Todos se assustaram e viraram para a porta da sala, e lá estava o rei Cornélio Snake, com suas vestes cinza de tonalidades verdes, em pé ao lado da porta de bétula real, com um pequeno sorriso no seu rosto, mas demonstrando preocupação, como sempre.
– Hoje foi o nascimento da princesa Listian, a filha do imperador Lucius. – Falava Cornélio se inclinando, beijando a testa de cada filho. – Comprem um presente pra ela e pra vocês. – Completava o rei Snake
– Para as crianças também, querido? – Falava Belatriz, animada.
– Pra você também, minha querida. – Respondia Cornélio aos risos.
– Vamos, crianças, arrumem-se, vamos passear. – Falava Belatriz, animadamente.
As crianças se agitavam. Sírius, Niro e Beatriz davam suas mãos e começavam a pular e gritar, enquanto cantavam músicas sem sentido animadamente.
Enquanto isso, Belatriz corria para o seu quarto, luxuoso, revestido de couro dos animais mais perigosos já vistos pelos homens, com revestimento de madeira real do reino Snake.
Ela se sentava sobre sua cama de casal e se inclinava para o criado mundo a sua frente, puxava uma das gavetas e retirava uma escova. Após alguns minutos de se pentear, lavou seu rosto e teve seus cabelos, negros, sedosos e grandes, apresentáveis para o passeio. Belatriz Snake arrumava cada um de seus filhos de forma delicada, porém apressada.
Sírius achava divertido ficar rodando pra lá e pra cá, enquanto sua mãe tentava arrumar seus cabelos, puxando de um lado pro outro, tentando ajeitar seu penteado que teimava em se manter desarrumado. No entanto, Beatriz achava uma tortura sentir seus fios se partindo... Não se sentir no controle nem dos seus próprios cabelos. Enquanto isso,
Niro permanecia neutro, sem demonstrar sentimentos de afeto ou ódio, apenas aceitava sua condição.
Quando todos estavam prontos, Belatriz saía do palácio, com as mãos dadas aos seus três filhos, tendo ela no meio, Sírius do seu lado direito, Beatriz e Niro do esquerdo.
– Rainha? Quer que eu acompanhe? – Perguntava um dos soldados Snake a Belatriz.
– Apenas se você quiser dar um passeio – Respondia Belatriz cordialmente.
O soldado apenas concordava com a cabeça e ignorava a resposta da rainha, permanecendo em prontidão.
As ruas do reino Snake estavam movimentadas como sempre, comerciantes de todas as espécies, com suas mercadorias de frutas, verduras, carnes, vestes, acessórios e armas. Tudo do bom e do melhor para todos.
O príncipe Sírius gostava de correr sobre os paralelos, apenas com um de seus pés, tentando demonstrar equilíbrio, entretanto, sempre caía e, todas as vezes, ele tentava de novo, enquanto seus irmãos davam risadas e sua mãe os corrigiu nervosamente.
– Sírius, meu filho, comporte-se como um príncipe! – Esbravejava Belatriz baixinho, puxando seu filho caçula. Sírius não pensava duas vezes, rapidamente ficava formal como seus irmãos.
A Rainha Belatriz caminhava cordialmente, segurando seus filhos pelas mãos, como as famílias nobres do reino. Todos da rua os observavam e admiravam, alguns ignoravam e outros sorriam para a família real. A rainha sempre demonstrava ser sorridente e amorosa para todos, cumprimentava desde os vendedores de frutas até os soldados do seu próprio reino.
Após alguns minutos de caminhada no centro, a família se deparava com várias lojas interessantes, vendendo objetos decorativos de madeira com entalhes de animais, sinais religiosos dos deuses, vasos de flores, copos, brinquedos infantis, espadas e arcos.
– Olha, mamãe! Aquela boneca! – Falava Beatriz, alto e animadamente, enquanto apontava para uma linda boneca de pano sobre a vidraça de uma barraca de madeira.
Belatriz se inclinava e observava a boneca detalhadamente, sua costura, seu tecido e seus detalhes.
– Eu mesma quem fiz, minha rainha, com todo amor e dedicação que possuo! O tecido foi extraído das teias de aranhas subterrâneas da floresta das cobras, o melhor que temos, enquanto sua costura foi feita com a agulha de ouro, por minhas próprias mãos. – Falava uma senhora vendedora sem jeito.
Belatriz dava um sorriso descontraído, enquanto observava a boneca, logo depois encarava a senhora, que ficava sem jeito, sendo observada pela rainha Snake.
– Não fique sem jeito, minha senhora, hoje eu sou sua cliente. – Falava Belatriz, docemente.
– Minha rainha, se não fosse por você, eu e meu marido ainda estaríamos vivendo da caça e nem teríamos essa barraca. – Comentava a senhora sem jeito.
– Quanto é a boneca, minha senhora? – Falava Belatriz, ignorando o comentário da vendedora.
– São 25 moedas de cobre! – Falava a senhora animadamente.
– Quero duas. – Comentava Belatriz, colocando um saquinho de moedas sobre o balcão. – Sírius e Niro, vocês querem algo? – Perguntava a rainha para seus filhos.
– Quero um peão, mamãe! – Gritava Niro, apontando–o para o brinquedo.
– Como que pede?! – Esbravejava Belatriz, enquanto encarava Niro com seus olhos verdes penetrantes.
– Por favor, minha senhora. – Falava Niro baixinho, envergonhado.
A vendedora rapidamente trazia duas bonecas de pano idênticas e um peão grande e verde com o símbolo dos Snake.
– E você, Sírius? O que quer? – Perguntava Belatriz enquanto encarava Niro ainda sem jeito.
– Aquele arco e flecha, mamãe.… Por favor. – Falava Sírius, quase sussurrando, enquanto apontava para um lindo arco e flecha com entalhes de diferentes cobras em seu corpo de madeira escura.
Belatriz se assustava por um momento, quase pulava, mas voltava a sua postura, sem perder seu equilíbrio.
– Filho! Você quer um arco e flecha? Não quer um peão, um laço, um disco, algo do tipo? – Falava sua mãe enquanto o encarava.
– Não, mamãe, eu quero um arco e flecha. – Confirmava o príncipe Sírius.
– Puxou ao pai... – Sussurrava Belatriz enquanto observava o arco e flecha escolhido pelo seu filho.
*******
Após uma tarde de compras, de brinquedos para as crianças e a recém-nascida princesa do império da Águia Vermelha, Belatriz, com seus filhos, voltava para seu palácio ao anoitecer.
A família Snake se reunia no começo da noite, todos se banhavam e vestiam suas roupas de dormir, apresentando-se à mesa de jantar logo depois.
Cornélio vestia um roupão verde, fino e delicado, como sempre se sentava na cadeira da ponta da mesa, Belatriz do mesmo modo, a sua direita, e seu filho mais velho Niro a sua esquerda, Beatriz ao lado de sua mãe, e Sírius ao lado do seu irmão. Os serviçais depositavam deliciosas comidas sobre a mesa, galinhas cozidas, frutas, diferentes massas salgadas e doces.
– Papai, mamãe comprou um peão para mim mais cedo, você quer brincar? – Falava Niro esperando seu prato ser feito pelos serviçais.
– Sim filho, mais tarde papai brinca. – Respondia Cornélio de forma sonolenta, enquanto cortava o pedaço de seu frango.
– Eu ganhei uma boneca, papai. – Falava Beatriz, com um copo de suco de uva cristalizada em sua mão.
A rainha Belatriz sorria para sua filha e, em seguida, apalpava a mão de seu marido.
– Meu rei, você sabe o que Sírius ganhou? – perguntava Belatriz pro seu esposo.
Sírius estava tão faminto que ignorava tudo a sua volta, apenas comia e comia como se o mundo fosse acabar. Era o seu segundo prato de frango com massa salgada de tomate glossiano.
– Sírius! Diga pro seu pai o que você comprou. – Falava Belatriz, encarando seu filho caçula.
Sírius se assustava com o pedido de sua mãe e engolia um pedaço de frango enorme, quase se engasgando, tendo que beber um pouco de suco para se aliviar.
– Eu pedi um arco, papai. – Falava Sírius, pausadamente e soluçando.
– Um arco?! Um arco e flecha?! – Berrava Cornélio, animadamente.
– Foi na sua idade que eu comecei a caçar pacas na floresta com seu avô, Sírius! Que felicidade, meu filho está seguindo meus passos! Um arco e flechas! – Falava Cornélio para o salão de janta inteiro ouvir.
Os serviçais sorriam e davam pequenas risadas em direção a Sírius, que ficava sem jeito e rosado de vergonha.
– Vamos caçar amanhã, filho! – Berrava animadamente o rei Snake.
Após a janta, Cornélio brincava de peão com Niro, que estava bastante chateado por seu pai ter ficado mais animado com o arco de Sírius. Em seguida, o rei Cornélio brincava de ser o avô da boneca que Beatriz exigia em dizer que era sua filha.
A noite ficava mais escura com pequenos pontinhos brilhosos no céu e fria para tremer os dentes, o sono chegava para todos, mas o rei Snake ainda estava animado com a história de Sírius com um arco, então ele decidiu contar uma história para seus filhos.
Cornélio reunia seus três filhos, que ajeitavam-se, enquanto sentavam no chão, formando um semicírculo. – Vocês sabem como foi criado o nosso universo? – Perguntava Cornélio para seus filhos. Niro bocejava baixinho e falava com sua voz de sono em seguida. – Pelos deuses, papai. – Também, mas foi devido às pedras universais que tudo começou. – Respondia Beatriz com deboche em sua voz. – Eu pensava que apenas os deuses o teriam criado. – Respondia Sírius enquanto levantava sua sobrancelha. – Acalmem-se, crianças, eu vou explicar tudo para vocês. – Falava Cornélio lentamente, com um sorriso no rosto. Sírius ficava curioso com a história e se interessava, prestando atenção em cada detalhe que seu pai falava para ele e seus irmãos. ******* Neste momento, Cornélio se ajeitava, dobrava suas pernas, estalava seus dedos e olhava fixamente para cada um
A manhã estava nublada fria e úmida devido à chuva da noite anterior, mas, como prometido, o rei Cornélio começava a treinar Sírius com seu arco e flecha. Ao fundo do palácio, encontrava-se pai e filho em um momento familiar e amoroso. Alguns alvos em verde à frente de Sírius e dois alforjes lotados de flechas ao seu lado. – Afaste mais as pernas, Sírius, tente achar o ponto de equilíbrio do seu corpo. – Falava Cornélio, enquanto batia com a ponta de uma flecha entre as pernas do seu filho. Sírius abria mais suas pernas, ficando o mais justo e firme possível, segurava grosseiramente o seu arco e acoplava a flecha na corda, puxando-o ao máximo. – Não é força, Sírius, é dedicação. – Falava Cornélio, enquanto ajeitava o braço do seu filho delicadamente e reduzia o puxe da corda. Rapidamente, Sírius soltava a corda e a flecha voava disparadamente em direção ao alvo, mas ela caía no chão a poucos metros do disparo, como um saco
16 anos depois O tempo estava nublado, com grande probabilidade de chuva. A atmosfera tenebrosa com o seu ar gélido e a brisa dos ventos ecoavam sobre as madeiras das muitas casas do reino Snake. No centro da vila, encontrava-se o tal palácio, feito de madeira real e couro de diversos animais ferozes. Sírius encontrava-se deitado em sua cama de palha e madeira, aparentemente muito aconchegante e agradável para o clima, espreguiçando-se e bocejando alto o suficiente ao ponto de acordar todo o palácio: – Pá! Pá! Pá! – Ecoava o estrondo por todo o ambiente. O som estridente levava a crer que, naquele momento, alguém tentava arrombar a porta, dando diversas marteladas. Sírius logo pulava de sua cama, acordando completamente assustado. – Quem está aí? – Perguntava Sírius em alto e bom som, enquanto corria aos tropeços em direção à porta principal. – Somos soldados do império da Águia Vermelha, abra a porta ou
Sírius entrava na floresta das cobras com os olhos serrilhados, mãos e braços abertos como se esperasse um ataque a qualquer momento; ouvidos apurados, demonstrando total atenção a cada ruído que a floresta reproduzia a sua volta. Os sons dos ventos entre as árvores ricocheteando entre os galhos e folhas, ruídos de animais e monstros nas profundezas, mas nada aparentava estar próximo o suficiente para atacá-lo de surpresa, talvez por isso ele se recusasse a pegar seu arco, dando apenas passos curtos, aprofundando-se cada vez mais na floresta. – Psixim! – Ecoava nas árvores próximas de Sírius. Nesse momento, vultos negros como fantasmas passavam entre as árvores rapidamente e Sírius tentava acompanha-los com os seus olhos. – Psixim! – Novamente rosnava o som amedrontador ao redor do príncipe. No escuro da floresta devido às grandes árvores a sua volta e às folhas escondendo o céu nublado, os olhos verdes-esmeraldas de Sírius brilhavam fortemente, suas
Era um dia claro, poucas nuvens no céu, os pássaros cantarolavam, o ar ainda permanecia gelado, mas com um clima bem mais agradável. Entretanto, o clima sendo ensolarado ou não, a vida de um prisioneiro de Bacu nunca seria agradável. O príncipe Sírius se encontrava em uma pequena cela de aço, deitado em seu interior, cercado pelas grades de aço, com a face no chão de madeira, sem sua capa e roupa de couro, com o seu peito à mostra, apenas com uma pequena massa de panos amarrados as suas costas – a qual escondia o corte da espada, enquanto era arrastado, por duas criaturas horripilantes, com suas cabeças emanando uma chama avermelhada, e um cavaleiro sobre cada animal. Eles subiam uma grande montanha de cascalhos e pedras, a carruagem trepidava e sacolejava todo o momento que passava por cima de qualquer pedra a sua frente. – Pum! – Ecoava o som da cabeça de Sírius, batendo com força contra o chão de madeira da jaula. Em seguida, ele abria seus
Os dias se passavam lentamente na prisão de Bacu. Em sua cela, Sírius permanecia deitado sobre sua cama dia e noite, levantando-se apenas para suas necessidades e para depositar a cuia na portinha de sua prisão, em busca de coletar as duas refeições diárias.– sopas que variavam de sabores com o tempo, às vezes era de abóbora, outra de batata, de carne, aleatoriamente ao passar do tempo. Quando ele completou uma semana em confinamento, a sua cela se abriu pela primeira vez e três homens entraram, olhando–o, mas ele permanecia imóvel, deitado, apenas observando com ar de desprezo. Um deles usava uma roupa branca com um símbolo da Águia Vermelha no ombro e os outros dois eram soldados com as tradicionais armaduras do império, sendo, um deles, Carmel. – Pelo visto, você já está bem melhor, rei Sírius. – Falava o senhor com um leve sorriso. Eu vim para observar o seu corte. – Completava o homem de roupa branca. – Rei? Me
Era mais uma noite para Sírius na prisão de Bacu, mas, para o mundo, aquela era noite de Ano Novo. Os quatros reinos e o império estavam em festas, aos fogos de artifícios, com muita comida e bebida para os nobres e mais algumas migalhas para os plebeus se animarem. Sírius estava sentado em sua cama, esfregando suas mãos, com o olhar pensativo para o chão de pedras ásperas. – Vai fazer dez anos que estou aqui, dez ou onze anos, mas acho que é na faixa de dez. – Falava Sírius, para si mesmo. – Hoje Tom entrará aqui bêbado, como todos os anos e essa é a minha chance de escapar. – Completava o Snake. Sírius se levantava da cama e amarrava seus cabelos, como um coque feminino e se posicionava ao lado da cela com o seu balde de madeira cheio de dejetos. – Pow! Pow! Pow! – Ecoavam os fogos de artifícios no lado de fora da prisão de Bacu. Ele suava frio, mas permanecia firme em sua posição. De repente, a cela abr
Sírius permanecia encolhido ao canto da parede de pedra ásperas de sua cela, escondendo seus olhos chorosos, enquanto grunhidos ecoavam altos a sua volta. Aos poucos, ele retirava suas mãos de seus olhos e se deparava com um homem de meia idade, com cabelos pretos, acompanhados com alguns fios grisalhos e uma barba mal feita, suas vestes também estavam rasgadas e manchadas com sangue como as dele. – Olá, meu rapaz. – Falava o homem. Nesse momento, Sírius se encolhia ainda mais na parede, com um medo irracional, escondendo seus olhos novamente e abrindo sua boca, enquanto chorava mais uma vez, como uma criança recebendo um estranho. – Isso não é real, não é real, acorda, Sírius, acorda, por favor. – Falava Sírius alto para si mesmo, engasgando-se com suas próprias lágrimas. O homem se aproximava de Sírius e passava sua mão suja, de pó de pedras, na cabeça do rapaz, em uma forma de afeto e se sentava ao lado dele. – Meu nome