Ally Cannon POV's
Anne gostava bastante de chá de limão.
Descobri que ela era a primeira cliente a pedir isso na cafeteria do hospital e me surpreendi enquanto enrolava minha cerveja nos dedos.
-Eu senti como se o mundo tivesse sido tirado de mim. - murmurei, encarando os olhos bastante verdes de Anne, que agora eram doloridos demais de se olhar por muito tempo. - Senti como se a vida tivesse me puxado o tapete definitivamente. Foi como se me arrancassem tudo.
Anne assentiu, bebendo um gole do chá antes de procurar minha mão em cima da mesa e apertá-la.
-Está tudo bem. Ele vai ficar bem, Ally. - Anne falou com uma lucidez maior do que eu jamais tinha visto. Ela provavelmente notou meu estranhamento no olhar e se apressou em explicar. - Eu estou acostumada com as crises de Jason. Se visse como ele era criança...
-Era ruim? - perguntei, com a voz rouca enquanto derrubava mais uma lágrima
Ally Cannon POV'sMe aproximei do leito de Jason sentindo dor física o suficiente para desabar nos próximos passos. Era como se toda a força estivesse sendo sugada e destruída dentro do meu ser. Eu só queria deitar e tirar um longo cochilo para ignorar todo aquele sofrimento. Ele estava acordado, com o rosto lívido e um acesso gigantesco conectado a um soro que devia ter medicamentos pra asma dentro.-Apesar de tudo que aconteceu, seu cabelo parece perfeitamente arrumado. - comentei, fazendo com que seu olhar surpreso se voltasse pra mim. Jason sorriu minimamente, aparente agradecido por eu estar ali. - Quer algo? Pensei em passar na cafeteria...-Quero sim. - Jason confirmou, com um meio sorriso, esticando os braços. - Quero você. Pode se deitar aqui comigo?Tentei sorrir mas meu corpo parecia exausto até para isso. Parecia que eu seguia um roteiro e até minhas frases soavem mecân
caAlly Cannon POV's-Jason, eu... - tentei dizer, mas os olhos de Jason pareciam desconectados da realidade. Ele parecia estar revivendo tudo que tinha acontecido há muito tempo atrás, como se eu nem sequer estivesse ali.-Quando acordei no hospital, a primeira coisa que eu perguntei foi onde eles estavam. Se estavam vivos. Se estavam bem. - Jason sussurrou amargamente, piscando diversas vezes para conter as lágrimas dos olhos vermelhos. - Mas, eles não estavam. Óbvio que não.Fiquei encarando seu rosto, perdido, atordoado e cheio de sofrimento e sentimentos que nunca expressara antes. Senti uma vontade urgente de colocá-lo entre meus braços e protegê-lo de todo o mal do mundo.-Eu os vi, é claro. O acidente desonfigurou o rosto deles. Eles mal eram pessoas, sabe? Foi extremamente doloroso. O pior era vê-los conscientes em meio a tudo isso. Foi demais pra mim, mas
Ally Cannon POV'sNaquela manhã do dia 24, eu tinha diversos assuntos pendentes. E gostaria de resolver todos eles se uma fraqueza absurda nas pernas não me fizesse cair de cara no chão. Jason acordou na cama, assustado e veio correndo ao meu lado.-O que aconteceu? - ele perguntou, pegando meu corpo no colo com uma facilidade assustadora e colocando-me sentada na cama. - Você está bem?Assenti, encarando o jeito que seu lábio superior ficava toda vez que ele estava preocupado comigo. Ele era tão estonteantemente lindo para mim. Eu quase podia esquecer que abaixo dos joelhos eu não conseguia movimentar minhas pernas. Grunhi, relembrando de uma conversa com Dr. Garrett há alguns dias atrás e a constatação de um novo sintoma.-Não sinto minhas pernas. - murmurei com a voz trêmula. - Acho que elas dormiram ou algo do tipo.Jason assentiu,
Jason Smith POV’sEu estava há mais de uma semana tirando ridículas fotos com Ally. E aquilo era bastante difícil.Toda vez que eu encarava seus intensos olhos cinzas, sentia vontade de chorar e de agredi-la. Geralmente, tudo junto. Era estranho estar com as mãos em sua cintura e massageando distraidamente seus ombros sendo que tudo aquilo não era NADA natural.Eu achara, por bastante tempo, que Ally seria meu ponto de paz. Que ela seria um ponto limpo em meio à toda aquela sujeira - mais ainda, imaginava que ela podia ser uma causa maior para um rebelde de poucas causas. Mas não. Ela era exatamente igual à todos os outros.Mentia e enganava, à serviço de pessoas não muit
Ally Cannon POV's-Lapso de memória? - perguntei, mais uma vez, tendo certeza de que estava absorvendo todos os fatos. - Certo.Afundei mais ainda na minha cadeira, encarando meus próprios braços recebendo o líquido da Imunoterapia. Em questão de pouco tempo, eu estava perdendo, literalmente, partes de mim. Eu tinha alterações de personalidade, déficits de memória e toda a sorte de coisas ruins que o câncer instalado no meu cérebro estava me dando.-Mas, com o tratamento, podemos ter uma esperança, certo? - perguntei, sentindo a pena que o Dr. Garrett tinha em seu olhar me atingir até a alma. - Digo, logo eu devo estar pronta pra cirurgia, né?Dr. Garrett ergueu as sobrancelhas, com um sorriso.-Nós acabamos de começar, Ally. Seu tempo comigo ainda vai ser longo.Assenti, sentindo um sorrisinho despontar em m
Jason Smith POV'sEu não estava conseguindo engolir a ideia de Ally entrar sozinha em um hospital com um estranho que ela mal reconhecera por causa da mudança de um corte de cabelo. Se ela estava achando que eu tinha caído nessa, ela estava redondamente enganada.Ela estava agindo daquele jeito esquisito e eu não fazia ideia do porquê - mas eu ia descobrir.Eu tinha certeza que não era algo puramente pra me atingir - tinha algo a mais. Eu vira a confusão em seus olhos. Eu a vira olhar pra mim sem entender absolutamente nada. Ela podia enganar a mídia com seu péssimo jogo de atuação, mas ela não enganava à mim.Fiquei esperando no carro, tentando me distrair com um jogo de palavras cruzadas quando o estúpido médico saiu de lá de dentro e atravessou a rua em direção à uma padaria. Ele nem sequer olhou pra mim,
Ally Cannon POV’sQuando dei por mim, estava sonhando que estava nos braços de Jason.Era sempre Jason. Eu sonhava com ele e ansiava por ele. Podiam existir milhares de homens, mas era a eletricidade do seu corpo que eu gostaria de sentir. E, em meu sonho, eu sentira claramente o corpo dele colado no meu, causando choques elétricos.E aquilo era bom. No meu sonho, eu só sentia o toque macio de suas mãos em minha pele e o calor de suas carícias em mim. O sonho era bom. Pacífico. Mas a realidade não. A realidade era bem diferente e dolorida.Quando abri meus olhos dormentes, senti bastante dor na cabeça e uma ânsia de vômito forte demais. Parecia que meu estômago estava virado
Jason Smith POV’sAlly surtou. Digo, ela literalmente surtou e começou a me socar em cima do leito, sobre barulhos ainda mais altos das grades de sustentação.-Ally! - reclamei, agarrando seus pulsos no ar e impedindo que ela continuasse sua sessão ininterrupta de socos. - Estamos num hospital, pelo amor de Deus. Você vai fazer com que nos expulsem!Ally gritou, fazendo força para soltar seus pulsos de minhas mãos firmes. Suas pernas jogaram longe o meu casaco de couro e começaram a tentar me chutar, se remexendo por todos os lados da cama.Eu devia estar odiando tudo aquilo, mas não conseguia deixar de olhar suas lindas pernas nuas. Eram tão brancas e lisas quanto o mais polido m&aacu