– Descanse, amanhã conversamos direito… – Sussurrei para Madson enquanto a acomodava no quarto de hóspedes, baixei a luminosidade, puxei os cobertores para aquecê-la e sorri tentando fazê-la se sentir confortável. – Não se preocupe, amanhã resolverei isso. – Desculpe por estar trazendo problemas para você… – Ela murmurou cabisbaixa, apertando as mãos novamente, parecia um hábito. – E, obrigada. – A culpa não é sua… – Expliquei acariciando seus cabelos ondulados e escuros como os meus. – Só descanse, e deixe os problemas para os adultos. A observei balançando a cabeça em concordância, e esperei um pouco até que pegasse no sono, depois disso, passei pelo quarto de Ellie, para ter certeza de que nada estava atrapalhando seu soninho e então fui para o meu próprio quarto, mas não consegui dormir. Não conseguia parar de pensar no olhar de desprezo que recebi da minha mãe, e depois de revirar muito na cama, resolvi sair para tomar um pouco de ar fresco. Coloquei uma roupa de corrida, têni
Wolfgang Esperei ansiosamente enquanto Christine pensava, e quanto mais demorava em responder, mais acelerada ficava minha frequência cardíaca, cheguei a pensar que infartaria a qualquer momento, e então, depois de muito me fazer sofrer, ela enfim, balançou a cabeça concordando.– E então, o que você quer? Ela perguntou tornando a me encarar.– Você não está alheia à minha presença… – Resmunguei me referindo ao pouco contato que consegui manter com nosso filho às escondidas.– Não se atreva! Christine exclamou de repente, voltando a ficar na defensiva, e enfiou o dedo indicador em seu peito. – Não vamos dividir a guarda. – Eu nunca disse que tentaria... – Respondi com um suspiro consternado, a desconfiança dela era a pior parte. – Ellie é meu filho também, eu quero ao menos pegá-lo nos braços uma vez.Christine pareceu pensar um pouco, ponderando novamente.– Não hoje, ele está dormindo agora… – Ela explicou com os olhos fechados, pensativa, como se pudesse ouvir o ressonar dele.–
Numa manhã fria de inverno, meu pai surgiu de repente, trazendo consigo uma criança da minha idade. Um menino que me encarou de cima, com uma expressão de superioridade, parando para pensar, éramos muito parecidos, quase gêmeos, se não fosse pela discreta diferença na cor de nossos cabelos – ironicamente, talvez uma forma do nosso DNA dizer que não éramos completamente irmãos – no fim, éramos estranhos um ao outro. Eu tinha oito anos, e não queria ter um irmão. Mas o que realmente me incomodava era vê-lo nos braços da minha mãe, ela era muito carinhosa, e aos seus olhos, aquele era um menino carente, que precisava ser acolhido para não se tornar uma pessoa ruim por falta de amor. Não acho que ela estivesse inteiramente certa, já que todo seu amor não foi capaz de evitar a pessoa que ele se tornaria no futuro. Lembro de vê-la, vez ou outra, lançando olhares de soslaio para o marido, um olhar tão sério e frio que deixava claro o que estava pensando, pois, logo, ficou evidente que
Christine Sentada onde eu estava podia ver meu filho alimentando os peixinhos no aquário, tão distraído, tão inocente. Por longas horas, tentei me concentrar na minha nova proposta: uma agenda bio-sustentável – ele mesmo havia me dado a ideia jogando a minha agenda dentro daquele aquário e completando a sopa com as ervas de chá que ganhei de uma acionista indiana –, mas não estava conseguindo pois, só conseguia pensar em Wolfgang que chegaria a qualquer momento para vê-lo. Eu não sabia como ele reagiria então, não conseguia relaxar. Além disso, ainda estava tentando lidar com a situação de Madson, tudo indicava que precisaríamos iniciar um processo de independência familiar, e eu faria de tudo para que ela não sofresse mais com tudo aquilo pois, sabia como o abandono era doloroso. Fui tirada dos meus devaneios quando a campainha tocou, me fazendo pular no lugar. Era ele, pontualmente às 10h, estava vestindo um terno William Fioravanti, preto e sem gravata, em seu pulso um Rolex m
Era a primeira vez na vida que entrava numa mansão. Olhei ao redor com curiosidade, e ao ser recepcionada por um mordomo, entreguei minha bolsa e o paletó, em seguida, fui guiada por uma das empregadas em direção ao salão, onde um verdadeiro banquete se espalhava pela longa mesa de dez cadeiras. Encarei meus anfitriões, e percebi que nunca havia perguntado a Wolfgang sobre seus pais, lembro que quando noivamos ainda toquei no assunto, mas como ele não parecia querer falar sobre, apenas conclui que talvez ele fosse órfão. Foi Joshua quem nos apresentou, parecendo bem satisfeito com nossa presença, o que somente me deixou mais desconfiada, não conseguia confiar nele. – Papai? Ellie perguntou de repente, erguendo os bracinhos, mas poucos segundos depois, agarrou-se ao meu pescoço, se corrigindo. – Papai não. – Sou irmão dele, pode me chamar de tio Joshua! O homem explicou com um sorriso cheio de dentes e ergueu a mão, sugerindo que a criança fosse para seus braços. Wolfgang, parecend
Com uma sobrancelha erguida, observei Gisela revirar o conteúdo de minha bolsa, parecia estar começando a ficar ansiosa. Cruzei os braços, e um sorriso indiscreto brincou em meu rosto, sabendo que ela não encontraria nada. Como eu sabia? Que tipo de criança inocente não verifica a própria bolsa? Quando entrei no banheiro mais cedo, senti minha bolsa mais pesada e por acaso, havia descoberto o plano dela. Na hora, ainda pensei que não seria possível uma cena de novelas daquela estar acontecendo comigo, mas não é que aconteceu? Desculpe a ironia querido(a) leitor(a), esse tipo de coisa me faz quebrar a quarta parede. Em resumo, retornando a onde eu estava: quando abri a bolsa, encontrei uma pulseira pesada e cravejada de diamantes, uns vinte quilates provavelmente. Ainda a deslizei pelos meus dedos durante alguns instantes, impressionada com o brilho, mas logo, a depositei sobre a pia, e retoquei a minha maquiagem, saindo do banheiro em seguida, com a conclusão em mente de que já era h
Joshua Observei enquanto minha ex-cunhada dava de ombros, seguindo seu caminho como se estivesse fingindo não nos ver. Um sorriso largo se desenhou em meu rosto e agarrei com mais força as coxas grossas de Gisela, havia acabado de encontrar algo interessante e estava excitado agora. Quando a vi pela primeira vez, anos antes, não percebi nada de interessante nela. Apenas uma jovem cheinha de cabelos longos e escuros – detalhes comuns na maioria dos italianos – porém, para a minha surpresa, ela retornou como alguém completamente diferente, forte, meticulosa e claro, com uma criança nos braços, o que me deixou mais surpreso ainda pois, diferente do que imaginei, ela não reivindicou nenhum direito, nem mesmo parecia querer que Wolfgang reconhecesse o filho. Isso foi intrigante. Mas o que realmente me excitava era sua desconfiança, ela sempre estava com a guarda alta, pronta para o ataque. Era divertido tentar entrar em seus pensamentos. Enfim, eu havia encontrado alguém com mais substân
Christine No fim, acabei aceitando encontrar com minha suposta prima. E depois de pensar bastante, conclui que, talvez, ela fosse a pessoa mais adequada para ficar com as coisas que encontrei no baú da minha avó, mas como ainda estava incerta sobre suas intenções, levei apenas um dos diários e alguns rascunhos feitos por Diono. Para a minha surpresa, quando estava prestes a sair, Ellie começou a chorar, querendo ir comigo. Era a primeira vez que ele fazia aquilo, então, acabei levando-o comigo, sabendo que não passamos tanto tempo juntos quanto eu gostaria, além disso, meu filho tinha algum tipo de sexto sentido. Nos encontramos em um café local, coloquei minha bolsa na cadeira ao lado, e sentei de frente para ela, ainda com meu pequeno grudado em mim. – Un bambino, ma che bello! Ela exclamou caindo de amores por ele imediatamente, ou foi o que pareceu. – É seu filho? – Sim, se chama Ellie… – Expliquei para ela, depois, me atentei a ele, ajudando-o a se virar para olhá-la. – Ess