Numa manhã fria de inverno, meu pai surgiu de repente, trazendo consigo uma criança da minha idade. Um menino que me encarou de cima, com uma expressão de superioridade, parando para pensar, éramos muito parecidos, quase gêmeos, se não fosse pela discreta diferença na cor de nossos cabelos – ironicamente, talvez uma forma do nosso DNA dizer que não éramos completamente irmãos – no fim, éramos estranhos um ao outro. Eu tinha oito anos, e não queria ter um irmão. Mas o que realmente me incomodava era vê-lo nos braços da minha mãe, ela era muito carinhosa, e aos seus olhos, aquele era um menino carente, que precisava ser acolhido para não se tornar uma pessoa ruim por falta de amor. Não acho que ela estivesse inteiramente certa, já que todo seu amor não foi capaz de evitar a pessoa que ele se tornaria no futuro. Lembro de vê-la, vez ou outra, lançando olhares de soslaio para o marido, um olhar tão sério e frio que deixava claro o que estava pensando, pois, logo, ficou evidente que
Christine Sentada onde eu estava podia ver meu filho alimentando os peixinhos no aquário, tão distraído, tão inocente. Por longas horas, tentei me concentrar na minha nova proposta: uma agenda bio-sustentável – ele mesmo havia me dado a ideia jogando a minha agenda dentro daquele aquário e completando a sopa com as ervas de chá que ganhei de uma acionista indiana –, mas não estava conseguindo pois, só conseguia pensar em Wolfgang que chegaria a qualquer momento para vê-lo. Eu não sabia como ele reagiria então, não conseguia relaxar. Além disso, ainda estava tentando lidar com a situação de Madson, tudo indicava que precisaríamos iniciar um processo de independência familiar, e eu faria de tudo para que ela não sofresse mais com tudo aquilo pois, sabia como o abandono era doloroso. Fui tirada dos meus devaneios quando a campainha tocou, me fazendo pular no lugar. Era ele, pontualmente às 10h, estava vestindo um terno William Fioravanti, preto e sem gravata, em seu pulso um Rolex m
Era a primeira vez na vida que entrava numa mansão. Olhei ao redor com curiosidade, e ao ser recepcionada por um mordomo, entreguei minha bolsa e o paletó, em seguida, fui guiada por uma das empregadas em direção ao salão, onde um verdadeiro banquete se espalhava pela longa mesa de dez cadeiras. Encarei meus anfitriões, e percebi que nunca havia perguntado a Wolfgang sobre seus pais, lembro que quando noivamos ainda toquei no assunto, mas como ele não parecia querer falar sobre, apenas conclui que talvez ele fosse órfão. Foi Joshua quem nos apresentou, parecendo bem satisfeito com nossa presença, o que somente me deixou mais desconfiada, não conseguia confiar nele. – Papai? Ellie perguntou de repente, erguendo os bracinhos, mas poucos segundos depois, agarrou-se ao meu pescoço, se corrigindo. – Papai não. – Sou irmão dele, pode me chamar de tio Joshua! O homem explicou com um sorriso cheio de dentes e ergueu a mão, sugerindo que a criança fosse para seus braços. Wolfgang, parecend
Com uma sobrancelha erguida, observei Gisela revirar o conteúdo de minha bolsa, parecia estar começando a ficar ansiosa. Cruzei os braços, e um sorriso indiscreto brincou em meu rosto, sabendo que ela não encontraria nada. Como eu sabia? Que tipo de criança inocente não verifica a própria bolsa? Quando entrei no banheiro mais cedo, senti minha bolsa mais pesada e por acaso, havia descoberto o plano dela. Na hora, ainda pensei que não seria possível uma cena de novelas daquela estar acontecendo comigo, mas não é que aconteceu? Desculpe a ironia querido(a) leitor(a), esse tipo de coisa me faz quebrar a quarta parede. Em resumo, retornando a onde eu estava: quando abri a bolsa, encontrei uma pulseira pesada e cravejada de diamantes, uns vinte quilates provavelmente. Ainda a deslizei pelos meus dedos durante alguns instantes, impressionada com o brilho, mas logo, a depositei sobre a pia, e retoquei a minha maquiagem, saindo do banheiro em seguida, com a conclusão em mente de que já era h
Joshua Observei enquanto minha ex-cunhada dava de ombros, seguindo seu caminho como se estivesse fingindo não nos ver. Um sorriso largo se desenhou em meu rosto e agarrei com mais força as coxas grossas de Gisela, havia acabado de encontrar algo interessante e estava excitado agora. Quando a vi pela primeira vez, anos antes, não percebi nada de interessante nela. Apenas uma jovem cheinha de cabelos longos e escuros – detalhes comuns na maioria dos italianos – porém, para a minha surpresa, ela retornou como alguém completamente diferente, forte, meticulosa e claro, com uma criança nos braços, o que me deixou mais surpreso ainda pois, diferente do que imaginei, ela não reivindicou nenhum direito, nem mesmo parecia querer que Wolfgang reconhecesse o filho. Isso foi intrigante. Mas o que realmente me excitava era sua desconfiança, ela sempre estava com a guarda alta, pronta para o ataque. Era divertido tentar entrar em seus pensamentos. Enfim, eu havia encontrado alguém com mais substân
Christine No fim, acabei aceitando encontrar com minha suposta prima. E depois de pensar bastante, conclui que, talvez, ela fosse a pessoa mais adequada para ficar com as coisas que encontrei no baú da minha avó, mas como ainda estava incerta sobre suas intenções, levei apenas um dos diários e alguns rascunhos feitos por Diono. Para a minha surpresa, quando estava prestes a sair, Ellie começou a chorar, querendo ir comigo. Era a primeira vez que ele fazia aquilo, então, acabei levando-o comigo, sabendo que não passamos tanto tempo juntos quanto eu gostaria, além disso, meu filho tinha algum tipo de sexto sentido. Nos encontramos em um café local, coloquei minha bolsa na cadeira ao lado, e sentei de frente para ela, ainda com meu pequeno grudado em mim. – Un bambino, ma che bello! Ela exclamou caindo de amores por ele imediatamente, ou foi o que pareceu. – É seu filho? – Sim, se chama Ellie… – Expliquei para ela, depois, me atentei a ele, ajudando-o a se virar para olhá-la. – Ess
Wolfgang O inevitável havia chegado, não havia fuga. Um casamento naquelas condições parecia extremamente incerto, e eu só conseguia pensar que, com certeza, estava tomando uma decisão errada, poderia até considerar a pior da minha vida se não fosse pela infinidade de outras decisões que só me fuder*m nos últimos anos. Christine esteve nos meus sonhos na noite passada, sorridente enquanto assinava seu nome ao lado do meu durante nossa cerimônia simples, e em cartório. Estávamos numa situação complicada naquela época, então só tivemos uma festa de casamento meses depois. O vestido branco que ela usava ainda estava vívido em minha mente, fazia parte de uma coleção luxuosa, e havia sido presente de uma amiga. Enquanto me vestia, a porta do quarto se abriu às minhas costas, e o espelho refletiu a imagem da minha irmã. Arqueei uma sobrancelha, questionando silenciosamente o porquê de sua invasão, e como resposta, a vi cruzando os braços em frente ao peito, retribuindo meu olhar com a me
O tempo passou e quando percebi, já era a data do aniversário de Ellie. Chegamos à mansão dos Ludwin no finalzinho da tarde, e toda a arrumação já estava arranjada, aquela era a minha única solicitação: que começassem o evento cedo, para que ele pudesse aproveitar bastante, pois, dormia cedo. E para a minha surpresa, quem nos recepcionou dessa vez foi meu ex-sogro, foi a primeira vez que tivemos uma conversa adequada, ou quase isso. – Ellie está crescendo bem… – Ele comentou, pegando meu filho em seus braços, encarando-o com aquele olhar analítico, mas parecia satisfeito. – Sim, ele raramente fica doente! Respondi orgulhosa. – Eu sabia que você era uma mãe excelente assim que a vi… – Axel elogiou de repente, desviando sua atenção para mim. Suas palavras me surpreenderam, ainda mais porque não esperava ouvir um elogio tão específico vindo de um homem que, à primeira vista, julguei ser machista. – Espero que fique mais frequente nessa casa… – Ele continuou, motivado pelo meu silê