Quando George voltou da varanda, me encontrou dormindo na frente do computador. A luz suave da luminária iluminava meu rosto, e ele ficou parado, me observando.Eu podia sentir o olhar dele sobre mim, mas não conseguia acordar.Depois de um tempo, ouvi sua voz, suave e baixa:— Carina...Carina? Ele estava falando comigo?Sim, ele estava. Antes de entrar para a família Martins, esse era meu nome. Fazia tanto tempo que ninguém me chamava assim...De repente, uma imagem de infância surgiu na minha mente: uma menina pequena, com dois coques no cabelo e uma carinha de boneca, chamando por um menino.— Irmão... Meu nome é Carina...O menino era sério e falava pouco, mas a menina não se importava. Ela o seguia para todos os lados.Então, na minha mente, eu me tornei aquela menina, e George era o menino. Eu estava nas costas dele, rindo.— Irmão, você tem um cheirinho bom...— Irmão, tem uma pinta preta no seu pescoço. Deixa que eu tiro.— Carina, não belisca! Isso dói.— Carina, tô cansado.
Naquele momento, ela com certeza não ia me responder. Fechei o chat e abri o Instagram, e foi aí que vi uma nova postagem de Pedro — várias fotos dele se divertindo.Ele não estava sozinho. Em uma das fotos, várias pessoas brindavam, e entre elas, reconheci uma mão: a mão de Sebastião.Eu soube imediatamente que era ele por causa de um anel barato que estava usando, um anel que eu tinha dado a ele.Ver aquele anel me deixou com uma sensação estranha — de imaturidade e vergonha. Aquele anel fazia parte de um par. O outro estava comigo. Eu comprei esses anéis quando fiz dezoito anos, com o meu primeiro salário de um trabalho temporário. Custou 999 reais.Eu usava o anel feminino e dei o masculino para ele. Na época, ele até brincou, dizendo que eu queria “prendê-lo”. Mas, depois daquele dia, ele nunca mais o usou. Eu até perguntei por que, e ele respondeu que tinha vergonha, que as pessoas poderiam rir daquilo.Eu entendi o que ele quis dizer. Alguém como ele, com o status que tinha, j
Senti vergonha por Ana. Ela também ficou visivelmente constrangida, mas, como sempre, soube dar a volta por cima.— Ah, obrigada, George! Que gentil!Ela rapidamente largou minha bolsa e veio correndo até mim, me puxando pelo braço.— O que deu no George hoje? Ele parece que tá com o humor péssimo.Fiquei calada. Ana percebeu o tom ríspido dele, mas o que eu senti foi diferente... Quando ele pediu para Ana pegar a comida sozinha, parecia que ele estava evitando me sobrecarregar.Será que ele estava preocupado comigo? Um arrepio percorreu minha espinha com esse pensamento, e eu me senti um pouco ridícula.Pegamos nossos pratos e, enquanto caminhávamos de volta, sugeri a Ana:— Vamos sentar em outro lugar. Acho melhor.Eu realmente não queria encarar George depois de ter dormido no quarto dele.— Por que sentar separadas? Vamos sentar com ele e discutir o planejamento de hoje. — Ana usou a razão do trabalho, me deixando sem argumentos.Mas eu sabia o que ela realmente queria.— Você só
— Gerente Carolina, você deve não saber, mas até hoje, nunca tive um relacionamento. Sou bem puro, diferente de você, que tem uma vida amorosa tão diversa. Um ex-noivo, um cara que te faz carinho na cabeça, e até um “irmão” que te traz comida. — George falou, me olhando com calma, quase como se estivesse me provocando.Minha boca se mexeu, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele abaixou os olhos e continuou:— Então, quem deveria estar preocupado sou eu. Se alguém ouvir falar que dormimos no mesmo quarto, vão pensar que não sou mais “puro”.— Você está insinuando que eu manchei sua pureza? — Retruquei, furiosa, sem pensar.— Não é isso. Você se comportou muito bem ontem, não tentou nada comigo. — O tom de George era tão sério que ele parecia a vítima, e eu, a canalha que se aproveitou dele.Esse homem sabia como inverter tudo!Por dentro, eu estava fervendo de raiva, mas não conseguia expressar isso. A única coisa que pude fazer foi descontar minha frustração no sanduíche qu
— Como assim? Por que vocês estão de folga?Eu fui diretamente até onde George estava e o encarei, exigindo uma explicação.— Duas folgas por semana. É o que diz a lei. Estamos num ritmo intenso, mas uma folga não vai fazer mal, né? — George respondeu, sem se abalar.Tentei manter a calma, embora estivesse prestes a explodir de raiva.— Você está certo, mas estamos com o prazo apertado. Já falei que precisamos entregar dentro do tempo. Não dá para adiar a folga? Posso até te pagar hora extra.George me olhou com aquela intensidade que sempre me deixava desconcertada.— Não é uma questão de dinheiro. As pessoas não são máquinas. Precisamos descansar. E descansar também é importante para trabalharmos melhor.Respirei fundo, tentando controlar minha frustração. Ele estava certo, mas a situação era crítica.— Então, você está dizendo que hoje não vai trabalhar de jeito nenhum?— Exatamente. — Ele respondeu com uma única palavra, firme.Sem mais, me virei para ir embora, mas ele ainda acres
— George, o que você quer dizer com isso? Está usando o fato de nos conhecermos e o que aconteceu ontem à noite para me chantagear, é isso? — Questionei, encarando-o.— Claro que não. — Ele respondeu sem conseguir me olhar nos olhos.Isso só podia ser culpa na consciência. Fechei os punhos, sentindo uma enorme vontade de lhe dar uma surra.— Eu não conheço nada por aqui. Qual é o problema de você me ajudar um pouco? Eu também já te ajudei. — George voltou a falar, mas agora com uma voz mais suave, quase tímida.A sensação que ele me passou foi que, se eu não o ajudasse, estaria sendo ingrata. Era como se eu estivesse em dívida com ele. E, de fato, dívida era dívida, fosse de dinheiro ou de favores.Suspirei profundamente.— Tudo bem. O que você quer fazer hoje? Onde quer ir? O que precisa comprar? Me diga, que eu te levo.— Quero ver umas casas. — A resposta dele me pegou de surpresa.Olhei para ele, tentando entender.— Ver casas? Mas você não vai voltar para Cidade B quando terminar
— Não vai conseguir girar!— Isso aí está enferrujado faz anos.— O chão foi refeito e agora a válvula está enterrado.As pessoas ao redor comentavam, enquanto eu não conseguia tirar os olhos de George. Nunca imaginei que ele fosse se jogar no chão daquele jeito. As veias em suas têmporas e braços saltavam, revelando sua força.Mesmo com todo esse esforço, a válvula não cedeu. Vi seu rosto começar a ficar vermelho.— Deixa pra lá, rapaz! Já tentaram vários homens fortes e ninguém conseguiu. — A vizinha idosa, vendo o esforço de George, tentou dissuadi-lo.Também fiquei com pena.— George, deixa isso. Eu chamo um encanador.Assim que terminei de falar, vi George relaxar o corpo de repente.— Pronto. — Ele disse, se levantando com agilidade.Com naturalidade, limpou a sujeira da roupa e completou:— Vamos ver como está lá em cima.A água ainda escorria pela escada. Subir agora significava molhar os sapatos.— Espera um pouco. Deixe a água baixar. — Sugeri.George olhou para os meus sapat
Eu não sabia o porquê, mas, ao contrário das complicadas luzes do parque de diversões, que nunca me causaram dor de cabeça, agora tudo parecia confuso, e eu simplesmente não queria lidar com isso.— Você não confia em mim? — George perguntou.— Não é isso... É só que... — Olhei para ele. Sua camisa estava visivelmente suja, e as barras da calça estavam molhadas.Ao vê-lo daquele jeito, senti um aperto no coração.— Eu dou conta, vai logo. — Ele disse, enquanto dava um leve tapinha na minha cabeça. — Obedece.Senti um arrepio percorrer meu couro cabeludo. Fazia pouco tempo que Miguel também tinha tocado minha cabeça, mas a sensação era completamente diferente. O toque de George trazia algo quente, doce, como se fosse algo que eu desejava há muito tempo, algo que me faltava e que, de repente, estava ali, ao meu alcance.Diante do olhar de George, não consegui sustentar o contato visual por muito tempo. Desviei o olhar, meio sem jeito, e fui comprar as coisas que ele tinha pedido. Quand