Baixei os olhos, fitando a ponta dos meus sapatos.— Vamos.Pedro guardou minha bagagem, abriu a porta para que eu entrasse e só depois de fechá-la deu partida no carro.— Pedro, como chegamos a esse ponto? Tudo começou apenas com um jogo... — Minha voz não era de acusação, apenas de reflexão.O que deveria ser algo comum acabou atraindo a atenção do Renan e, depois, do Bruno, deixando todo mundo em estado de alerta, como se o perigo estivesse em todo lugar.Lembrei-me das palavras do Sebastião: — Quem você acha que é o mandante por trás disso? E por que escolheram você como alvo?— Também estou pensando nisso. O importante agora é descobrir qual é o objetivo por trás de tudo isso. — Pedro respondeu, completando minha linha de pensamento.Ao pensar em todas as pessoas envolvidas, soltei uma risada sarcástica. — Parece que querem acabar com todo mundo de uma vez.— Sim, especialmente os homens ligados a você. — A observação de Pedro foi como um balde de água fria, trazendo clareza à mi
O carro em que eu e o Pedro estávamos foi cercado por vários outros veículos, bloqueando qualquer possibilidade de fuga.Eu percebi que tentar escapar seria perigoso, e mesmo assim, as chances de sucesso eram mínimas.Pedro estava certo: George foi distraído, e agora capturar-me seria muito mais fácil.Eu sabia que, sem as habilidades de George, seria difícil para Pedro me proteger.Portanto, o alvo de Bruno ainda era eu.Enquanto os homens se aproximavam do carro, eu me virei para Pedro: — Eu vou com eles. Você não precisa fazer nada, apenas avise o George.— Não! — A responsabilidade masculina de Pedro o fez recusar.— Sebastião já foi capturado por Bruno, George também foi. Se você for pego, será o fim. Todos nós estaremos à mercê de Bruno. — Eu o lembrei.Ele me olhou e eu sorri, sem medo. — Nós já discutimos isso. Se isso for um plano do Miguel, então eu estarei segura. Você não precisa se preocupar comigo.— Mas pode não ser ele! — Pedro parecia relutante em aceitar que Miguel f
O único criador de peixes que eu conhecia era Miguel. Lembrando das minhas suspeitas sobre ele, eu resolvi provocar Bruno:— Os seus peixes entendem o que você fala? Antes de você me trazer aqui, eu estava alimentando peixes que entendem comandos.Eu usei essas palavras de propósito para irritá-lo.Bruno era conhecido por sua competitividade, e isso ficou claro quando ele foi humilhado por George e decidiu se vingar.Ele não permitia que ninguém fosse melhor que ele.— É mesmo? — Bruno riu com leveza. — Os peixes que você alimentava provavelmente só entendiam uma frase: "Carol, hora de comer."Eu fiquei chocada e fixei meus olhos nele, tentando descobrir se ele estava brincando ou se realmente sabia como o Miguel alimentava os peixes.Bruno riu ao ver minha expressão de surpresa.Eu entendi perfeitamente o significado por trás desse sorriso.Parece que ele e o Miguel eram próximos; caso contrário, como ele saberia o que o Miguel dizia aos peixes?O Miguel já havia me surpreendido ao pi
O jogo que Bruno mencionou definitivamente não era Truco, ele queria algo muito mais sombrio.Eu o encarei fixamente, enquanto seus olhos europeus se moviam entre mim e George:— A relação de vocês quatro é bem curiosa. — Ele disse, com um sorriso que exalava malícia. — Sebastião é o ex de Carolina, Carolina é o ex de George e Mirela é a sua atual, então estou curioso para saber qual de vocês realmente ama mais quem? — Nenhum de nós te ama, então não se meta. — Eu retruquei com dureza.— Isso não é me meter, é apenas fofocar. E eu tenho que admitir, vocês estão bem bagunçados. Quero ajudar a organizar um pouco. — Ele parecia realmente não se cansar de mexer na nossa vida.George, claramente sem paciência para as provocações de Bruno, cortou:— Se você tem algo a fazer, faça logo.Bruno apenas mordeu os lábios e disse:— Ah, quer que eu vá direto ao ponto? Então, vamos lá.Com isso, ele se levantou e se dirigiu para dentro da casa.Nem eu, nem George nos movemos. Mas imediatamente, um
Quando finalmente vi George novamente, já estava suspensa no ar, junto com Mirela, pendurada lado a lado.Abaixo de nós, uma enorme piscina se estendia. Se a corda fosse solta, eu cairia direto nela.No entanto, não estava apenas George que estava lá embaixo, mas também Sebastião.Eles estavam sendo mantidos à força pelos homens de Bruno, de pé na beira da piscina.Bruno estava sentado na borda da piscina, com uma calma desconcertante, acariciando algo em suas mãos. Eu estava tão nervosa que não consegui prestar atenção nos detalhes, e minha fobia de altura me impedia de olhar para baixo.— Garota do snooker, você já amou esses dois homens, não é? E eles também já te amaram, mas… ambos te traíram. Então hoje, eu quero fazer um teste. — Ele disse, com um sorriso frio. — Um teste para ver qual deles te ama mais. O que acha?Não era teste algum, ele estava simplesmente nos manipulando como marionetes.— Eu não quero saber disso, me solta! — Eu gritei, com raiva.Bruno ignorou completament
— Ah!Aquela sensação de queda me fez gritar de medo.— Carol!Eu também ouvi esse grito.Deve ter sido Sebastião, pois George só me chama de Carina.Em seguida, ouvi um som de impacto na água. Naquele momento, minha sensação foi de que eu havia caído na água.Mas não senti nenhum tipo de umidade. O que dominava meus ouvidos era o som da água agitada.Quando abri meus olhos, vi que ainda estava suspensa, mas Sebastião já estava na água, lutando com crocodilos.Então, no momento em que o perigo se aproximou, foi Sebastião quem se jogou para me salvar, enquanto George não fez nada.Meu coração, que já estava gelado, ficou ainda mais frio.Bruno tinha dito que seus crocodilos estavam com fome há dias, por isso Sebastião estava sendo atacado com mais força. Eu vi ele se esforçando para lutar contra crocodilos e isso me aterrorizou; comecei a chorar.Mas eu não podia fazer nada, além de xingar Bruno e chamar pelo nome de Sebastião:— Sebastião, Sebastião...— Agora você sabe quem te ama, ga
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.