— Miguel.Atendi o celulare o chamei pelo nome.— Tião já me contou tudo. Você está bem?A preocupação na voz dele era evidente.— Estou, mas acabei te dando trabalho.Mesmo depois de tudo, minha postura com ele continuava formal e educada.Houve uma pausa curta do outro lado da linha.— Fique tranquila. Enquanto estiver na minha casa, nada vai acontecer com você.— Certo.Não havia mais o que dizer.Normalmente, a conversa terminaria ali, mas Miguel hesitou e acrescentou:— Não se preocupe. Você vai ficar bem.Uma garantia que, no fundo, nem eu mesma conseguia acreditar.Desde que Renan me escolheu como alvo, a única forma de realmente ficar segura seria se George e os outros conseguissem acabar com ele de vez.Caso contrário, enquanto ele estivesse à solta, meu pesadelo não terminaria.Mas não falei isso para Miguel.Apenas murmurei um breve "hmm."— Se precisar de qualquer coisa, me ligue. Ah, e... contratei uma diarista para cuidar da casa e preparar suas refeições.Somente depois
Luana mandou outra mensagem:[Sério, se você demorasse mais uma hora para responder, eu teria chamado a polícia. Sabe o que eu pensei? Que talvez o Tião tivesse te sequestrado e te matado depois.]O absurdo da mensagem me fez rir.Respondi com um emoji de joinha.Luana: [Não é absurdo, não! Essas histórias acontecem o tempo todo. Agora me diz, quando você volta? Hoje já pega o voo? O Vinicius venceu a competição?]Olhei para a sequência de perguntas e pensei na minha situação.Escrevi apenas três palavras:[Não tenho certeza.]Luana: [???]Eu: [Talvez eu fique mais um tempo por aqui. Não sei quando volto.]Não queria que ela se preocupasse, então menti.Luana: [Beleza! Então aproveita. Me avisa quando voltar que eu preparo um jantar de boas-vindas.]Ao ler aquilo, senti o peito apertar.De repente, tive medo de nunca mais voltar.Essa sensação veio do nada.Sem pensar muito, enviei um áudio:[Luana, anota aí. A senha de todas as minhas contas bancárias é a data em que meus pais falecer
— Carina, eu não quero mais viver.Fiquei olhando para essa mensagem por alguns segundos antes de ligar imediatamente para Ana.Mas ela não atendeu.Tentei de novo. Nada.Então liguei direto para o escritório dela.— Ana Gomes está aí?Assim que atenderam, perguntei sem rodeios.— Ela pediu licença.A resposta me fez prender a respiração.Antes que eu perguntasse mais alguma coisa, a pessoa do outro lado falou:— Você é a assistente Carolina, certo?Ela me reconheceu pela voz?— Sim, sou eu. Quanto tempo de licença ela pediu?— Três dias. Deve voltar amanhã. Se precisar falar com ela, tente o número pessoal.A resposta foi educada, mas seca.Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda me tratavam com respeito.Provavelmente porque, mesmo sem ser oficialmente parte da família, ainda tinham receio de me desagradar.Mas agora isso não importava.Ana estava estranha.E eu estava longe demais para ir atrás dela.Respirei fundo.— O celular dela está desligado. Você tem outro contato dela?—
— Fiquei deitada na cadeira de descanso por um tempo, folheando um livro que peguei da estante. Só desci quando a empregada me chamou para jantar.Assim que me sentei à mesa, ela sorriu e disse:— Senhorita Carolina, você é ainda mais bonita pessoalmente do que nos quadros.Parei no meio do movimento, surpresa.— Quadros? Que quadros?— Os que o senhor Miguel pintou. Todos são da senhorita Carina. Estão no ateliê no andar de cima.Ateliê?Quando subi para o terraço, passei pelo segundo andar, mas não entrei em nenhum dos quartos.Miguel pinta?Eu nunca soube disso.Crescemos juntos, moramos na mesma casa, mas nunca vi ele aprendendo a pintar.Seria algo que ele aprendeu nos últimos quatro anos?E todos os quadros são meus?Dei uma olhada para a empregada, que continuava organizando os pratos na cozinha.Talvez ela tenha se enganado.Para ela, todos os brasileiros devem parecer iguais.Assim como, para nós, muitos estrangeiros também parecem.Mas, mesmo assim, a curiosidade me venceu.T
— Na pintura, havia um homem ao meu lado.Ele vestia um elegante traje social, enquanto eu usava um deslumbrante vestido de noiva.Meus olhos brilhavam, e meu rosto estava iluminado por um sorriso doce e feliz.Era um quadro do meu casamento.Mas o rosto do noivo ainda não estava pintado.Quem seria ele?Seria Sebastião?Afinal, antes de nossa cerimônia ser cancelada, Miguel poderia ter pintado esse quadro para nos presentear.Ou então...O noivo seria ele mesmo?Esse segundo pensamento parecia mais lógico.Toda essa sala estava repleta de quadros meus.Se eu ainda não tivesse percebido os sentimentos de Miguel por mim, eu seria ingênua demais.Na verdade, agora eu via que ele me amava muito mais do que eu imaginava.E não era de hoje.Provavelmente, ele já gostava de mim há muito tempo.Soltei um suspiro profundo.Ver esse ateliê inteiro repleto de mim fez meu peito apertar.Ser amada por alguém que você não ama, especialmente de forma tão profunda, pode ser uma enorme pressão.Saí ap
Meu coração ficou ainda mais pesado.— Sra. Márcia, eu sou uma amiga da Ana... Fiquei sabendo que algo aconteceu com ela. Gostaria de saber como ela está e qual foi a causa desse incidente.Márcia soltou um suspiro trêmulo antes de responder:— Nós também não sabemos... Ela se recusa a falar... — Sua voz ficou embargada de emoção.— Sra. Márcia, o namorado da Ana está presente?— Namorado? — Márcia demonstrou surpresa, como se não soubesse nada sobre isso.Meu coração afundou de imediato, e naquele instante eu já tinha a resposta: Ana enfrentou algo tão grave, mas seu namorado não estava por perto. Pelo que parece, o que aconteceu com Ana tinha alguma relação com ele.Márcia, agora desconfiada, quis entender melhor a situação:— O que você quer dizer com o namorado? — Sra. Márcia, essa é uma questão que a própria Ana precisa lhe contar. No momento, poderia passar o telefone para ela? Diga a ela que quem está na linha sou eu, Carolina.— Claro, claro... Veja se consegue fazê-la falar..
— Haha...A resposta que ouvi foi uma risada malévola.Eu também reconheci o dono dessa risada. Era Bruno.Mas como Sebastião poderia estar com ele? Será que o verdadeiro mentor por trás de tudo, como Renan mencionou, era Sebastião?Eu já tinha desconfiado disso, e agora essa ideia veio imediatamente à minha mente.A raiva me subiu à cabeça e eu perguntei friamente: — Onde está Sebastião? Você o deixou atender o telefone.— Tsk, tsk, tão agressiva, parece até a mesma atitude que você tem quando joga. — Bruno debochou.Eu não tinha tempo para conversa fiada. — Bruno, o que você realmente quer?— Eu já disse, quero só jogar com você. Aliás, você jogou bem hoje, muito bom. — Bruno disse rindo.Todo mundo gosta de ser elogiado, mas naquele momento eu percebi pela primeira vez que receber elogios de uma pessoa como ele era repulsivo.— Se você quer jogar, tudo bem. Mas antes chame o Sebastião para atender o telefone. — Eu disse, deixando claro que essas jogadas sujas dele não adiantariam n
Eh?Eu não queria apenas que ele salvasse Sebastião, também precisava alertá-lo para ter cuidado com o Bruno.— Me manda a localização. — George disse, e logo desligou.Fiquei parada por alguns segundos antes de procurar a conversa com George no Line e enviar a localização.Após enviar a localização, olhei nossa última conversa e senti um aperto no peito, difícil de suportar.Saí rapidamente da conversa com ele, e nesse momento meu telefone tocou — era Pedro.Num piscar de olhos, senti um aperto no meu nariz, e não sabia exatamente o que aquilo significava, mas definitivamente estava com um aperto no coração.Tentei ignorar esse desconforto e atendi a ligação. — Alô?— O Tião foi pego pelo Bruno, você tem certeza disso? — Pedro perguntou, tenso.Eu expliquei a situação para ele em detalhes e, por fim, disse: — Ele foi agredido, então não tem erro, e... Renan me falou sobre um possível responsável por trás disso.— Responsável por trás disso? — Pedro parecia surpreso.— Isso, eu também