— Geo me olhou profundamente.Então, disse apenas três palavras para Tião:— Leve ela embora.Essas palavras me despertaram imediatamente.O que eu estava fazendo?Será que, por causa de algumas palavras de Renan, eu estava me deixando levar novamente?Soltei a mão de Geo.Ele me olhou uma última vez antes de se virar e sair a passos largos.Foi então que Tião me puxou pelo braço.— Vamos.Minha mente ainda estava confusa, mas a operação bem planejada contra Renan me mostrou que tudo isso já estava preparado há muito tempo.Só que... eu não sabia de nada.— Quando vocês armaram esse plano? — Perguntei para Tião.Ele hesitou por um instante antes de responder:— Depois que eu saí de Cidade H.Foi naquela mesma vez que Geo terminou comigo. Então, Renan estava falando a verdade?Não tive tempo de pensar muito nisso. Apenas segui com outra pergunta:— Porque ninguém me contou?Tião franziu levemente os lábios.Parecia hesitar antes de responder.— Foi ideia do Geo, não foi?Ele suspirou.—
—Tião também olhava pela janela do carro.— Sim.Apenas uma palavra. Mas uma confirmação.Virei o rosto para ele.— Se vocês já sabiam, por que montaram esse teatro todo?A mandíbula dele ficou tensa. Mas ele não respondeu.Na viatura policial, Renan entrou sem pressa.Quando o carro passou por nós, ele levantou a mão e acenou exatamente na nossa direção.Meu corpo ficou tenso.Ele não podia me ver. O vidro do carro era escuro, impossível enxergar do lado de fora. Mas ele sabia. Ele sempre sabia de tudo.Isso não era o fim. Era apenas o começo de algo ainda maior.Um arrepio subiu pela minha espinha. As palavras de Renan ecoaram na minha mente:— Isso tudo ainda tem um mentor por trás.— Quem?Dessa vez, fui eu quem perguntou primeiro.Tião me olhou pelo retrovisor, ligeiramente surpreso com a minha pergunta repentina.— O quê?Eu fechei os lábios por um instante, sem saber como continuar.Renan não tinha dito quem era.Só fez questão de plantar a dúvida na minha cabeça.E agora, aqui
— Fiquei paralisada.O que foi isso?Ele ficou o tempo todo em chamada com o Geo?Quando Tião finalmente desligou o celular, olhou para mim e disse:— Ele me ligou antes, achei que já tivesse desligado... mas pelo visto, ficou na linha por precaução.— Você acha que eu sou burra?Minha resposta foi cortante.Ele fez isso de propósito.Tião queria que Geo escutasse tudo. E não apenas isso. Ele quis me testar. Ele quis que Geo ouvisse a minha resposta.Ele quis que Geo entendesse que Carolina Pinto não era uma mulher que ele poderia jogar fora e pegar de volta quando bem quisesse.E, por fim...Ele queria que Geo sentisse na pele o que havia perdido.Tião não tentou negar.Ele apenas sorriu de canto e disse:— Foi meu lado egoísta falando mais alto. Mas agora Geo sabe o que precisa saber.Soltei um riso sarcástico.— Obrigada pela consideração.Sem mais delongas, saí do carro.Ele veio logo atrás, caminhando ao meu lado.— Esse lugar foi comprado pelo Miguel com o próprio dinheiro. — Tiã
— Tião me olhou de lado.— Você sabe o que ele perdeu?O tom dele era mais uma provocação do que uma pergunta genuína.Ele já havia percebido os sentimentos de Miguel por mim.Agora, queria ver como eu reagiria.Mas eu não caí na armadilha.— Só ele pode responder isso.Falei como se não tivesse entendido o que ele queria insinuar.Ele não insistiu.Seguimos caminhando até que, ao passarmos por um lago no jardim, ele comentou:— Miguel criou vários peixes aqui. Dizem que, quando ele grita ‘hora do almoço’, todos nadam em fila até a superfície.— Ah, então agora ele também tem o dom de falar com os peixes?Brinquei, soltando um riso irônico.Tião arqueou a sobrancelha.— Duvida? Vamos testar.Ele me levou até a borda do lago.Dentro da água, havia dezenas de carpas coloridas — vermelhas, douradas, brancas e até rajadas.Gordas, brilhantes... Pareciam bem cuidadas.— Vai lá, tenta você.Tião me incentivou.Inclinei-me sobre a água e passei os dedos de leve na superfície.Os peixes se afa
— Miguel.Atendi o celulare o chamei pelo nome.— Tião já me contou tudo. Você está bem?A preocupação na voz dele era evidente.— Estou, mas acabei te dando trabalho.Mesmo depois de tudo, minha postura com ele continuava formal e educada.Houve uma pausa curta do outro lado da linha.— Fique tranquila. Enquanto estiver na minha casa, nada vai acontecer com você.— Certo.Não havia mais o que dizer.Normalmente, a conversa terminaria ali, mas Miguel hesitou e acrescentou:— Não se preocupe. Você vai ficar bem.Uma garantia que, no fundo, nem eu mesma conseguia acreditar.Desde que Renan me escolheu como alvo, a única forma de realmente ficar segura seria se George e os outros conseguissem acabar com ele de vez.Caso contrário, enquanto ele estivesse à solta, meu pesadelo não terminaria.Mas não falei isso para Miguel.Apenas murmurei um breve "hmm."— Se precisar de qualquer coisa, me ligue. Ah, e... contratei uma diarista para cuidar da casa e preparar suas refeições.Somente depois
Luana mandou outra mensagem:[Sério, se você demorasse mais uma hora para responder, eu teria chamado a polícia. Sabe o que eu pensei? Que talvez o Tião tivesse te sequestrado e te matado depois.]O absurdo da mensagem me fez rir.Respondi com um emoji de joinha.Luana: [Não é absurdo, não! Essas histórias acontecem o tempo todo. Agora me diz, quando você volta? Hoje já pega o voo? O Vinicius venceu a competição?]Olhei para a sequência de perguntas e pensei na minha situação.Escrevi apenas três palavras:[Não tenho certeza.]Luana: [???]Eu: [Talvez eu fique mais um tempo por aqui. Não sei quando volto.]Não queria que ela se preocupasse, então menti.Luana: [Beleza! Então aproveita. Me avisa quando voltar que eu preparo um jantar de boas-vindas.]Ao ler aquilo, senti o peito apertar.De repente, tive medo de nunca mais voltar.Essa sensação veio do nada.Sem pensar muito, enviei um áudio:[Luana, anota aí. A senha de todas as minhas contas bancárias é a data em que meus pais falecer
— Carina, eu não quero mais viver.Fiquei olhando para essa mensagem por alguns segundos antes de ligar imediatamente para Ana.Mas ela não atendeu.Tentei de novo. Nada.Então liguei direto para o escritório dela.— Ana Gomes está aí?Assim que atenderam, perguntei sem rodeios.— Ela pediu licença.A resposta me fez prender a respiração.Antes que eu perguntasse mais alguma coisa, a pessoa do outro lado falou:— Você é a assistente Carolina, certo?Ela me reconheceu pela voz?— Sim, sou eu. Quanto tempo de licença ela pediu?— Três dias. Deve voltar amanhã. Se precisar falar com ela, tente o número pessoal.A resposta foi educada, mas seca.Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda me tratavam com respeito.Provavelmente porque, mesmo sem ser oficialmente parte da família, ainda tinham receio de me desagradar.Mas agora isso não importava.Ana estava estranha.E eu estava longe demais para ir atrás dela.Respirei fundo.— O celular dela está desligado. Você tem outro contato dela?—
— Fiquei deitada na cadeira de descanso por um tempo, folheando um livro que peguei da estante. Só desci quando a empregada me chamou para jantar.Assim que me sentei à mesa, ela sorriu e disse:— Senhorita Carolina, você é ainda mais bonita pessoalmente do que nos quadros.Parei no meio do movimento, surpresa.— Quadros? Que quadros?— Os que o senhor Miguel pintou. Todos são da senhorita Carina. Estão no ateliê no andar de cima.Ateliê?Quando subi para o terraço, passei pelo segundo andar, mas não entrei em nenhum dos quartos.Miguel pinta?Eu nunca soube disso.Crescemos juntos, moramos na mesma casa, mas nunca vi ele aprendendo a pintar.Seria algo que ele aprendeu nos últimos quatro anos?E todos os quadros são meus?Dei uma olhada para a empregada, que continuava organizando os pratos na cozinha.Talvez ela tenha se enganado.Para ela, todos os brasileiros devem parecer iguais.Assim como, para nós, muitos estrangeiros também parecem.Mas, mesmo assim, a curiosidade me venceu.T