Então tudo não passava de uma ilusão. Até mesmo a voz do meu pai, que eu tinha certeza de ter ouvido, era apenas fruto da minha imaginação.Eles já tinham me deixado. Fazia dez anos. Como eu poderia ter ouvido suas vozes?Fiquei ali, parada, perdida nos meus pensamentos, enquanto a última luz do dia sumia pela janela. O apartamento foi tomado pela escuridão, e a dor de saber que nunca mais veria meus pais tomou conta de mim. Finalmente, as lágrimas vieram, e eu chorei como não fazia há muito tempo.Naquela noite, dormi mal. Meus sonhos foram tomados por imagens dos meus pais, como se eles ainda estivessem aqui. Quando acordei, meu corpo todo parecia pesado, como se eu tivesse feito um trabalho físico exaustivo durante a noite.Tentei levantar, mas não consegui. Foi então que percebi: eu estava doente. Levei a mão à testa e senti o calor. Estava febril.— Carina, você já acordou? — Ouvi a voz de George do lado de fora da porta.Abri a boca para responder, mas minha voz saiu rouca, quase
— Quero duas porções de macarrão. Uma sem molho de tomate, com molho de pimenta-do-reino, um suco de manga, uma água sem gás e, para a sobremesa, um mousse de mirtilo com pouca cobertura de creme. — Pediu Gilberto com elegância.Era óbvio que ele estava pedindo para duas pessoas. Uma das porções era exatamente do jeito que Luana gostava, especialmente o detalhe do molho de pimenta-do-reino. Só alguém que conhecesse bem ou prestasse muita atenção saberia disso, porque, em público, Luana nunca fazia questão de mostrar suas preferências. Ela simplesmente não tocava em pratos com molho de tomate, mas nunca dizia nada.Gilberto e Luana tinham passado anos distantes, e só recentemente assumiram o relacionamento. Ainda assim, ele já sabia todos os gostos dela, como se tivesse estudado cada detalhe. Isso deixava claro o quanto ele estava investindo na relação.Eu tinha tirado sarro deles antes, dizendo que era um "romance de baixo QI". Agora, vendo o esforço dele, precisei admitir que estava e
Assim que abri o Line, vi um pedido de amizade. Eu nunca adiciono estranhos, a menos que seja alguém que me procurou pelo número de telefone.Por impulso, abri o pedido. Era de alguém com o nome de usuário “Justiça no Coração” e a mensagem de apresentação dizia: “Sou o policial Pablo.” Um título tão imponente não parecia algo que uma pessoa comum usaria. Esforcei-me para lembrar de onde poderia conhecer aquele homem e, finalmente, me veio à mente o policial que, no dia anterior, tinha providenciado o atestado de óbito para mim. Embora eu não tivesse perguntado o sobrenome dele, ele era o único policial com quem eu havia interagido recentemente. Além disso, ele tinha insistido para que eu deixasse meu número de telefone. Aceitei o pedido. O aplicativo mostrou que agora éramos amigos e podíamos trocar mensagens, mas eu não enviei nada. Era ele quem tinha me adicionado; se precisasse de algo, entraria em contato primeiro. Enviei uma mensagem para a Luana: [Quando estiver namor
George foi rápido e segurou o copo de suco antes que ele caísse. Antes que eu pudesse me virar, uma voz mais do que familiar soou ao meu lado: — Carol, você tá ficando boa nisso, hein? Depois me ensina umas técnicas. Luana, finalmente, tinha visto a mensagem que eu mandei. Dei um tapa leve nela: — Não sabe que assustar as pessoas pode matá-las de susto? — Matar você eu não pago, né, George? — Retrucou Luana, rindo e envolvendo George na brincadeira. Essa mulher, na frente do Gilberto, era uma ovelhinha dócil, mas com os outros se tornava uma verdadeira força da natureza, sempre segura e cheia de atitude. Como ela conseguiria se segurar na frente do Gilberto? — E o seu namorado? — Perguntei, olhando para o lugar onde Gilberto estava antes. Ele já não estava mais lá. — Foi embora. — Respondeu Luana, sentando-se ao meu lado. Depois, virou-se para George e soltou. — George, você come duas porções sozinho, enquanto a Carol não come nada? Assim você não cuida bem da sua namor
Luana manteve o rosto frio e sério: — Eu já te avisei. Se você continuar me procurando, isso será considerado assédio. Vou chamar a polícia. — Dra. Luana, eu não estou te assediando! Eu só gosto de você… Quero te conquistar… — Respondeu o homem, com a voz cheia de falsa paixão. Ao ouvir aquelas palavras, lembrei imediatamente do sujeito que mandava flores anônimas para Luana como forma de agradecimento. — Dra. Luana, eu juro, foi amor à primeira vista! — Disse ele, levantando uma das mãos como se estivesse fazendo um juramento solene. — Pena que, no caso dela, foi ódio à primeira vista. — Retruquei, entrando na conversa e me posicionando ao lado de Luana. George também se levantou. Sua postura era clara: ele estava pronto para agir, caso fosse necessário. O homem então me olhou, contrariado: — E você quem é? Estou falando com a Dra. Luana. Não se intrometa, tá bom? Se eu tivesse comido um pouco mais, provavelmente teria vomitado de nojo ao ouvir aquele tom. — E você
Luana não me respondeu imediatamente. Em vez disso, olhou para a janela, onde George estava do lado de fora. — Quanto tempo ele vai levar? Do lado de fora, o homem já estava praticamente de joelhos diante de George. Ele mantinha uma das mãos no bolso da calça, enquanto a luz suave da manhã iluminava seu corpo, criando um brilho quase surreal em torno dele. Eu não conseguia desviar o olhar. Havia algo nele que me fazia sentir um orgulho e uma satisfação inexplicáveis. Uma voz interior sussurrou: “Carolina, esse é o seu homem.” Minha história com George começou por puro acaso, quase como um desvio do destino. No início, era só para passar o tempo, uma forma de distrair a mente após o término com Sebastião. Mas, agora, percebia que tinha encontrado um verdadeiro tesouro. Ele não era apenas bonito de se admirar, mas também incrivelmente prático e confiável. — Tô te perguntando. — Insistiu Luana, dando um leve empurrão no meu ombro para me trazer de volta à realidade. Pisquei al
— Se você tivesse agido assim antes, Sebastião não teria fugido. — Soltou Luana, do nada, como se tivesse perdido o juízo.Falar de ex na frente do atual? Isso era pedir para tudo desandar. Mas eu sabia que Luana não faria isso para me prejudicar. Ela não era burra. Olhei para ela e vi que me lançou uma piscadela.Entendi mais ou menos o recado. Aquilo era uma provocação, uma espécie de teste para George. Afinal, qual homem não se incomodaria ao ouvir sobre o ex da namorada? Luana queria medir a reação dele.Corajosa, essa Luana. Não tinha medo de assustar George e fazer ele sair correndo.Disfarçadamente, olhei para George. Seu rosto não mostrava nenhuma mudança. Ele nem respondeu.Luana, no entanto, insistiu:— George, você não acha?— Carina só faz charme comigo. — Respondeu ele, com um sorriso leve.Foi como se o ar ao nosso redor tivesse ganhado um toque doce e açucarado. Que resposta perfeita, meu Deus.Luana estalou a língua, zombando.— George, você parece tão engenheiro, mas n
Edgar realmente queria me convidar para jantar, e antes, quando eu estava tirando sangue, George sussurrou em meu ouvido.Naquele momento, achei que ele só queria me distrair, jogando qualquer conversa fora. Mas, pelo visto, ele falava sério.— É o chefe Edgar? — George perguntou, direto como sempre.— Uhum. — Respondi, encarando-o. — George, foi você que pediu para ele me convidar, não foi?Ele era o chefe do Edgar, e uma simples palavra sua bastaria para que Edgar obedecesse sem pestanejar.George franziu levemente o cenho.— Não.Sorri com sarcasmo. Ele só podia estar negando para não admitir que estava por trás disso.— Ele me avisou antes. — George acrescentou, como se quisesse esclarecer.Era mesmo verdade? Eu não fazia questão de descobrir. Se alguém queria me pagar um jantar, por que não aceitar? Dei de ombros e perguntei:— Eu disse que sim. Você vai?— Uhum. — Mais uma vez, o mesmo “uhum”. Se alguém fizesse uma estatística do vocabulário dele, essa seria, sem dúvida, a palav