Eu movi meus lábios em um sorriso zombeteiro, Luana percebeu que algo estava errado.— Carolinha, não me diga que você descobriu algo entre ele e aquela viúva?Ela é realmente minha boa amiga, sabe exatamente onde está meu limite.— Ele deu uma casa para Lídia, e essa casa era para ser minha. — Eu esclareci com as palavras mais breves possíveis.Luana não disse nada por um momento, e então ela rangeu os dentes.— Você...Ela não terminou a frase, mas eu entendi o que ela queria dizer.— Eu não vou dar mais uma chance a ele.— Esse tipo de canalha, se você perdoar ele de novo, ele vai fazer isso novamente! — Luana compartilha a mesma visão sobre o amor que eu.— Eu sei.— Certo, precisamos planejar os próximos passos com calma. Por agora, atenda o telefonema dele e veja o que ele tem a dizer. Depois, venha me encontrar. — Luana fez uma pausa. — Vou trocar meio turno com alguém.Eu queria dizer que não precisava, mas ela já tinha desligado a videochamada.O telefone de Sebastião continua
— Carolinha, mamãe preparou um jantar de celebração muito especial para vocês, e ainda convidei parentes e amigos. Vocês precisam voltar antes das seis da noite, ok?As palavras da mãe de Martins me deixaram um pouco atordoada. Eu não esperava que ela ainda não soubesse que não pegamos a certidão de casamento. Parece que Sebastião não contou a ela. Pensando na atitude deles na noite passada, ele provavelmente temia ser repreendido.Ouvindo a alegria e a expectativa na voz da mãe de Martins, eu realmente não queria dizer a verdade, mas o fato de que Sebastião e eu não podíamos pegar a certidão de casamento já era um fato consumado. Não dava para esconder por muito tempo. Além disso, agora não dava mais para esconder.Se por acaso todos os parentes e amigos que ela convidou fossem, isso a deixaria ainda mais constrangida.— Tia. — Eu a chamei.— Você ainda me chama de tia? Deveria me chamar de mãe. Será que é porque eu não dei um envelope vermelho? — A mãe de Martins brincou comigo.Meu
Luana percebeu meus pensamentos.— Para onde vamos? Eu te acompanho, ou...— Vamos arrumar minha casa, — Eu interrompi Luana.Ela me olhou surpresa.— Você... isso... já estava preparada?— Não exatamente, foi algo de anteontem, — Eu disse, apontando para o banco traseiro, onde estavam os itens de cama que eu tinha comprado.— Comprei ontem com a Lídia. — Minhas palavras deixaram Luana surpresa e curiosa.No caminho para minha casa, contei tudo para Luana, que assentiu furiosamente muitas vezes.— Você fez bem em não pegar a certidão de casamento. Sebastião é um homem mau da nova época que não consegue ficar com só uma mulher.— Homem mau é homem mau, não importa a época, — Eu brinquei.Luana me olhou.— Carolinha, se você está triste, não precisa fingir um sorriso na minha frente.— Não estou tão triste assim, de verdade, — eu olhei para a estrada à frente. — Talvez meus sentimentos por ele sejam como os dele por mim, tão familiares que não sinto mais nada.Era assim que eu me sentia,
Cidade B.Eu havia viajado quatro horas de trem de alta velocidade para chegar aqui.Naquele momento, as luzes da noite começavam a brilhar. Embora não fosse tão próspera quanto a Cidade A, ainda havia um brilho encantador, com um toque de romantismo de uma cidade pequena.Luana ligou quase no horário exato.— Chegou? Já encontrou um lugar para ficar?Ela não esperava que eu fosse sair tão de repente. Quando me perguntou para onde eu estava indo, dei o endereço e o horário do meu trem. Naquele momento, ela perguntou se eu estava saindo com tanta pressa para evitar Sebastião, com medo de que ele me perseguisse.Respondi que ela estava errada, que Sebastião não faria isso. Ele provavelmente estava bravo, irritado por eu tê-lo dado o bolo, por eu não ter obedecido.Agora parecia que eu estava certa. Desde que ele me perguntou por que eu não fui pegar a certidão, ele não me mandou mais nenhuma mensagem ou ligou.Eu vim para cá com tanta pressa porque já queria vir há muito tempo e também p
Ele parecia bruto, rígido e até um pouco assustador. Nos últimos anos, os homens com quem tive contato eram todos de pele clara e bem cuidados, usavam camisas, gravatas e ternos. A imagem do homem à minha frente me fez pensar que ele tinha acabado de sair da prisão.Instintivamente, apertei a alça da minha mochila, lembrando do spray de pimenta e da faca de autodefesa que Luana tinha colocado na minha bolsa antes de eu sair. Mas antes que eu pudesse alcançá-los, o homem já tinha ligado o carro e não disse uma palavra. O que significava aquele olhar que ele me deu antes?Eu não entendi, mas meu coração, que tinha acabado de ser curado ao chegar nesta cidade, começou a bater descompassadamente de novo. Por causa da minha cautela, não consegui apreciar a paisagem da cidade. Só quando o carro parou, paguei e desci, vendo o carro se afastar, consegui respirar aliviada.Já eram dez da noite, e eu sabia que vir para cá a essa hora não era a melhor ideia. Eu poderia procurar o lugar onde
— Garotinha.A voz do outro lado da linha era profunda, familiar e ao mesmo tempo estranha. Uma imagem familiar passou pela minha mente, e eu respondi:— Irmão.Eu achava que, ao trocar de número, conseguiria evitar a família de Martins, mas não esperava que o irmão mais velho de Sebastião soubesse desse número e ainda me ligasse. — Parece que você guardou meu número e não me esqueceu. — Miguel disse com um tom de brincadeira.Ele era apenas dois anos mais velho que Sebastião. Antes de ir para o exterior, ele cuidava muito de mim e sempre gostava de me chamar de garotinha. Fiquei sem saber como responder, pois senti um tom de queixa na voz dele.Nos primeiros dois anos após sua partida, eu ainda mantinha contato ocasionalmente, perguntando sobre sua situação lá fora, mas depois paramos de nos falar. Miguel nunca foi de tomar a iniciativa, e ele tinha pouco contato até mesmo com a família, quanto mais comigo. Agora, ele me ligava de repente, e eu sabia que provavelmente tinha a ver c
Era como se ele tivesse apertado um botão que fazia o passado passar como um filme antigo na minha cabeça.— Você pode me contar o que aconteceu entre vocês? — Miguel perguntou com cautela, ao perceber meu silêncio.Se eu não dissesse nada, eles ficariam confusos. Sebastião provavelmente acharia que eu estava apenas fazendo drama. E quando eu voltasse, os pais dele iriam me questionar. A solução mais simples seria falar agora, de uma vez por todas, para não ter que lidar com isso depois.— Ele teve um caso com outra mulher. — Minhas palavras foram seguidas por um silêncio repentino do outro lado da linha.Eu sabia que Miguel provavelmente não acreditava. Então, acrescentei:— Com a esposa de um amigo. Até seus pais sabem do caso.Dessa vez, Miguel ficou sem palavras. Eu dei um leve sorriso.— Agora você também sabe, né?Não havia segredo que durasse para sempre. Eu e Sebastião nem sequer havíamos registrado o casamento, e os pais dele certamente fariam perguntas e investigariam. Miguel
— George, essa é a moça de quem eu falei, que quer trocar de quarto com você. Que tal vocês conversarem? — A voz da dona Malena quebrou o momento de silêncio entre mim e o homem.Caminhei em direção a ele.— Oi, meu nome é Carolina. Você mora naquele quarto. Será que poderíamos trocar?— Não. — A recusa veio rápida e direta, assim como o jeito eficiente com que ele lavava a cabeça minutos antes.Minha boca se contraiu, e uma irritação começou a crescer dentro de mim. Senti também uma teimosia emergir.— Por quê?Ele me lançou um olhar breve, sem dizer nada. Jogou a toalha verde militar sobre os ombros e passou direto por mim. O ar frio da água que escorria pelo corpo dele me fez tremer sem motivo aparente.A dona Malena se aproximou, preocupada.— Carolina, não fique chateada. O George não é bom em lidar com mulheres. Vou falar com ele de novo depois.Eu, já um pouco irritada, falei propositalmente mais alto:— Não precisa! Não vou ficar rica morando naquele quarto, quem quiser, que fi