RUBY PORTMANLevei as mãos ao rosto, pressionando as têmporas enquanto tentava absorver o que havia acabado de encontrar.Se isso fosse mesmo o que parecia ser, não era apenas um problema para a empresa. Era um problema para mim, para Danile, e para qualquer pessoa associada a essas transações.Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro, o meu coração martelando no peito. Eu precisava pensar. Precisava decidir o que fazer com essas informações.Pensei em Danile. Será que ela sabia? Era difícil acreditar que ela fosse completamente alheia a algo tão sério, mas, ao mesmo tempo, o seu comportamento impulsivo e às vezes descuidado sugeria que talvez não estivesse no controle de tudo como gostava de fazer parecer.E Harry? Ele sabia disso antes de mim. Claro que sabia. O que me levava a perguntar como ele havia conseguido essas informações e por que não tinha tomado medidas mais drásticas antes. Faz sentido do porquê o filho da puta não querer fechar contrato.Voltei a sentar, e
HARRY RADCLIFFEDescobrir que Ruby trabalhava para Danile Migler havia sido um golpe inesperado, mas não um que eu não pudesse transformar a meu favor. Quando a informação chegou a mim, o primeiro impulso foi mandá-la sair de lá imediatamente. Não era seguro, e eu sabia disso melhor do que ninguém. Mas Ruby sempre foi teimosa, uma qualidade que podia ser encantadora e exasperante na mesma medida.Se eu simplesmente exigisse que ela se despedisse, era óbvio que ela faria exatamente o contrário. A sua independência e orgulho não permitiriam outra coisa.Então, por que não deixá-la permanecer no meio da confusão?Encostei-me na mesa do meu escritório, segurando o copo de uísque com uma mão enquanto encarava a vista da cidade pela janela, deveria certamente ordenar que instalassem uma cortina de persiana, a vista em si já começava a se tornar muito tediosa.Robert Migler era um nome que já havia cruzado o meu radar antes, mas nunca com tanta relevância. Até então, ele havia sido apenas ma
HARRY RADCLIFFE— O que aconteceu? — Minha pergunta foi direta, mas não obtive uma resposta imediata. Em vez disso, ela começou a falar, as palavras saindo tão rápido que pareciam atropelar umas às outras.— Eles vão me prender, Harry! Eu vou ser presa! Tudo isso está na minha frente, os papéis, os nomes, os valores… Eles vão achar que eu sabia! Que eu fazia parte disso!Olhando para ela, percebi que a sua respiração estava acelerada, quase ofegante. Ela estava à beira de um colapso, e eu sabia que precisava tomar o controle da situação antes que ela caísse em uma espiral sem volta.— Ruby. Pare.A minha voz cortou o ar como uma lâmina, e ela parou finalmente de falar, os olhos fixando-se nos meus com uma mistura de pânico e confusão.— Você não vai ser presa.— Como você pode ter certeza? — A voz dela estava cheia de desespero, quase histérica.— Porque eu não vou permitir.Afastei-me ligeiramente, ainda segurando os seus braços, e a fiz sentar-se novamente no sofá. Caminhei até o ba
RUBY PORTMANSentada na cadeira de couro escuro, com as costas retas e os dedos trêmulos sobre o teclado, eu respirava fundo enquanto tentava manter o foco. O som das teclas era o único ruído na sala ampla, quebrado apenas ocasionalmente pelo leve tilintar do gelo no copo de Harry. O aroma do seu uísque amadeirado se misturava ao perfume sutil do couro da cadeira e ao cheiro fresco do ar-condicionado, criando um ambiente desconfortavelmente familiar.— Mantenha o tom profissional, Ruby. Nada de sentimentalismos. — A voz dele era fria, controlada, como sempre. O comando vinha seco, direto, cortando o ar entre nós.E embora pudesse simplesmente levantar da cadeira, pegar a minha bolsa e ir embora, dizendo que Harry só veio para arruinar a minha vida que eu havia conseguido organizar nos últimos 3 anos, entendia que agora estava ligeiramente nas mãos de deles, e não, não o fiz. O motivo? Talvez fosse o mesmo de sempre: uma mistura tóxica de orgulho ferido e uma estranha necessidade de pr
RUBY PORTMANEu sempre acordei cedo, quer dizer, a menos que na noite anterior eu tivesse bebido e no dia seguinte estivesse de ressaca, mas nessa manhã, demorei um pouco mais para sair da cama. Sentia o peso do dia sobre mim antes mesmo de ele começar. O ventilador, mais decorativo do que outra coisa, girava preguiçosamente no teto, espalhando o ar quente pelo quarto. Sabia que precisava levantar, tomar banho e seguir com o plano que havia traçado na noite anterior. Mas, por alguns minutos, apenas encarei o teto, tentando reunir forças para o que vinha pela frente.Quando finalmente me levantei, fui direto para o banheiro. Deixei a água fria escorrer pelo meu corpo, tentando dissipar a sensação de sufoco que me acompanhava há dias. O meu emprego já não fazia sentido, e a minha relação com Johnny, que já tinha terminado há meses, ainda deixava resquícios que precisavam ser resolvidos. Não queria prolongar nada. Precisava imprimir a minha carta de demissão e entregá-la no departamento
RUBY PORTMANCom as mãos tremendo, eu segurava o meu próprio rosto. Os meus lábios tremiam junto com meu corpo, e a onda de incredulidade e dor me atravessava como se tivesse tendo uma enorme descarga elétrica. Nunca, em toda a minha vida, imaginaria que levaria um soco de alguém. Ainda mais de um homem. Ainda mais de Johnny.Lágrimas começaram a se formar, quentes e pesadas, deslizando sem controle pelo meu rosto. O meu corpo parecia não responder como deveria. E cada tentativa de me erguer resultava em um tremor involuntário. O mundo ao meu redor girava, e a dor que latejava na minha face tornava tudo mais surreal. Respirei fundo, mas o ar entrava cortado, engasgado. A boca tinha gosto de ferro, um sabor amargo que eu não queria reconhecer.Ouvi a voz de Johnny, distante. Ele dizia algo, mas as palavras pareciam se perder em meio ao zumbido nos meus ouvidos. Talvez estivesse se desculpando, talvez estivesse tentando se justificar. Não importava. Nada que ele dissesse agora apagaria
RUBY PORTMANDesliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissess
RUBY PORTMANDespedindo-me de Johnny com um aceno rápido, deixei-o na cozinha e me dirigi à porta. Ele estava ocupado com algo, talvez preparando um jantar, ou procurando alguma bebida, como de costume, não questionou a minha saída repentina. Eu sabia que assim que eu chegasse não o encontraria mais, já que nos víamos apenas aos finais de semana, e, muito raramente nos dias úteis, já que eu trabalhava mais do que devia, ele também. E a nossa relação funcionava assim, ninguém se aborrecia com ninguém e tínhamos cada um o seu espaço, embora eu sempre soube que ele quer algo, além disso, já que ultimamente o tema casamento não tem saído da sua boca.Saí do apartamento e entrei no elevador, pressionando o botão para o piso térreo. Enquanto descia, a minha mente vagava, como sempre fazia nessas horas. As paredes do elevador refletiam uma versão minha que parecia diferente da jovem que havia começado a trabalhar na Radcliffe’s tantos anos atrás. Havia uma maturidade que o tempo e as experiê