RUBY PORTMANEu sempre acordei cedo, quer dizer, a menos que na noite anterior eu tivesse bebido e no dia seguinte estivesse de ressaca, mas nessa manhã, demorei um pouco mais para sair da cama. Sentia o peso do dia sobre mim antes mesmo de ele começar. O ventilador, mais decorativo do que outra coisa, girava preguiçosamente no teto, espalhando o ar quente pelo quarto. Sabia que precisava levantar, tomar banho e seguir com o plano que havia traçado na noite anterior. Mas, por alguns minutos, apenas encarei o teto, tentando reunir forças para o que vinha pela frente.Quando finalmente me levantei, fui direto para o banheiro. Deixei a água fria escorrer pelo meu corpo, tentando dissipar a sensação de sufoco que me acompanhava há dias. O meu emprego já não fazia sentido, e a minha relação com Johnny, que já tinha terminado há meses, ainda deixava resquícios que precisavam ser resolvidos. Não queria prolongar nada. Precisava imprimir a minha carta de demissão e entregá-la no departamento
RUBY PORTMANCom as mãos tremendo, eu segurava o meu próprio rosto. Os meus lábios tremiam junto com meu corpo, e a onda de incredulidade e dor me atravessava como se tivesse tendo uma enorme descarga elétrica. Nunca, em toda a minha vida, imaginaria que levaria um soco de alguém. Ainda mais de um homem. Ainda mais de Johnny.Lágrimas começaram a se formar, quentes e pesadas, deslizando sem controle pelo meu rosto. O meu corpo parecia não responder como deveria. E cada tentativa de me erguer resultava em um tremor involuntário. O mundo ao meu redor girava, e a dor que latejava na minha face tornava tudo mais surreal. Respirei fundo, mas o ar entrava cortado, engasgado. A boca tinha gosto de ferro, um sabor amargo que eu não queria reconhecer.Ouvi a voz de Johnny, distante. Ele dizia algo, mas as palavras pareciam se perder em meio ao zumbido nos meus ouvidos. Talvez estivesse se desculpando, talvez estivesse tentando se justificar. Não importava. Nada que ele dissesse agora apagaria
RUBY PORTMANDesliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissess
RUBY PORTMANDespedindo-me de Johnny com um aceno rápido, deixei-o na cozinha e me dirigi à porta. Ele estava ocupado com algo, talvez preparando um jantar, ou procurando alguma bebida, como de costume, não questionou a minha saída repentina. Eu sabia que assim que eu chegasse não o encontraria mais, já que nos víamos apenas aos finais de semana, e, muito raramente nos dias úteis, já que eu trabalhava mais do que devia, ele também. E a nossa relação funcionava assim, ninguém se aborrecia com ninguém e tínhamos cada um o seu espaço, embora eu sempre soube que ele quer algo, além disso, já que ultimamente o tema casamento não tem saído da sua boca.Saí do apartamento e entrei no elevador, pressionando o botão para o piso térreo. Enquanto descia, a minha mente vagava, como sempre fazia nessas horas. As paredes do elevador refletiam uma versão minha que parecia diferente da jovem que havia começado a trabalhar na Radcliffe’s tantos anos atrás. Havia uma maturidade que o tempo e as experiê
RUBY PORTMANSophia estava na cozinha, movimentando-se com a familiaridade de quem já considerava meu apartamento quase uma extensão de sua própria casa. O cheiro do café fresco e do pão torrado enchia o ar, criando uma atmosfera aconchegante que contrastava com o som constante das teclas do meu laptop enquanto eu trabalhava no relatório do trabalho. Tinha um prazo apertado para entregar, e a manhã parecia ser o único momento em que eu conseguia encontrar um pouco de paz para me concentrar.Enquanto eu digitava, Sophia começou a puxar assunto, algo que ela sempre fazia para quebrar o silêncio, especialmente quando percebia que eu estava mergulhada demais em meus pensamentos. Ela mexia na frigideira, preparando algo que eu ainda não conseguia identificar, mas que certamente seria delicioso, como sempre.— E então, Ruby? — Começou, sem olhar para mim. — Como vai seu relacionamento com o Johnny? Ainda não tivemos a chance de conversar sobre ele direito.Suspirei, interrompendo a escrita
RUBY PORTMANAcordei com uma decisão clara na mente: não mais permitir que Harry Radcliffe, o seu passado ou a sua família ocupassem qualquer espaço na minha vida. Três anos já haviam se passado, e a cada semana que se iniciava, eu me encontrava repetindo os mesmos padrões. Lendo tabloides, comprando flores para o túmulo da irmã dele… Isso precisava acabar. Eu queria seguir em frente, e para isso, era necessário encerrar esses rituais que só me mantinham presa ao que já devia ter sido superado.Levantei da cama com uma energia diferente, disposta a aproveitar o dia. Johnny vinha sendo paciente comigo, sempre compreensivo, mesmo quando eu guardava para mim certas dúvidas e ressentimentos que ainda nutria por Harry. Talvez tivesse chegado a hora de reconsiderar a proposta de Johnny de vivermos juntos. Era uma decisão que eu vinha adiando, mas se eu realmente queria seguir em frente, talvez fosse a hora de dar esse passo.Depois de um banho rápido, vesti-me com algo confortável e fui até
RUBY PORTMANDecidi comprar o vestido sem hesitação. Enquanto a vendedora fazia os ajustes finais na embalagem, Sophia e eu continuamos a conversar sobre a viagem dela e os planos.— E então, Ruby, o que você acha que vai acontecer hoje à noite? — Sophia perguntou, enquanto esperávamos no caixa. — Não sei, Sophia. Acho que hoje à noite é mais sobre deixar o Johnny brilhar, e também mostrar a ele que estou pronta para seguir em frente. Quero sentir-me no controle de novo. Quero me sentir bem comigo mesma, sem pensar no passado. Acho que já enrolei muito ele, está na hora de dar uma oportunidade de tentar, e tentar melhor.Sophia acenou com a cabeça, compreendendo perfeitamente o que eu queria dizer.— E você está fazendo isso, Ruby. Tenho orgulho de ver como você está lidando com tudo isso. Não precisa tentar atropelar isso, vai com calma, eu não o conheço, mas parece ser um bom cara.— Bem, de bons caras o inferno também está cheio. — Respondi já segurando as sacolas com as compras e
RUBY PORTMANO percurso até o local do evento foi tranquilo. As luzes da cidade passavam como um borrão pela janela, e eu peguei-me perdida em pensamentos. Sabia que aquele evento era importante para Johnny, e queria garantir que ele se sentisse orgulhoso por estar ao meu lado. Quando finalmente chegamos, o local me impressionou imediatamente. Era um edifício majestoso, com uma arquitetura que misturava o clássico e o moderno de forma impecável.Johnny entregou as chaves do carro ao valet, e juntos caminhamos em direção à entrada. Logo ao cruzarmos as portas, a grandiosidade do salão nos envolveu. O espaço era vasto, com tetos altos adornados por lustres que espalhavam uma luz suave e acolhedora. As paredes estavam cobertas de obras de arte, e as janelas enormes permitiam que a cidade se tornasse parte da decoração, com a suas luzes cintilando ao fundo.Johnny olhou em volta, também deslumbrado, e comentou suavemente:— Este evento é realmente exclusivo. Nunca vi nada assim.Acenei co