— Me chama de Esther, tá bom? — Disse Esther.Antes, para ela, o nome não passava de um simples título. Até porque, na época, ela mal conhecia Geraldo, mas agora era diferente. Ela sabia que “Estrella” era o nome da filha do Faraó. Saber disso a deixou com um sentimento profundo de impotência.— Eu sempre te chamei de Estrella. Desde o dia que te conheci, você já era a Estrella. Agora você usa o nome Esther, mas isso não muda quem você foi. Seu passado não pode ser apagado. Nós não escolhemos tudo o que acontece com a gente, mas precisamos aprender a aceitar e entender completamente quem somos. — Geraldo respondeu com voz calma, olhando para ela.Entender completamente? Esther quase riu, mas o sorriso morreu antes de aparecer.— Geraldo, o que eu sei do Faraó... É que ele só trouxe destruição. Ele e os homens dele roubaram, mataram, queimaram... E o pior de tudo, ele te transformou nesse... Nesse estado. Tudo por causa da ganância dele!As lembranças voltaram como flashes. Cada cena qu
Marcelo entendia até mesmo aquilo que Esther não conseguia dizer em palavras.Ele segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou com tanta intensidade que parecia querer fundi-la ao próprio corpo. Foi um beijo firme, quase desesperado. Mas, no momento decisivo, ele a soltou.— Descansa uns dias aqui. Quando eu resolver tudo, você vai.— Tá bom.Ofegante, Esther observou Marcelo sair da barraca.Marcelo precisava reorganizar algumas coisas. Por causa da operação em que moveu tropas para salvar Esther, ele havia conseguido que Iurani se rendesse. Porém, foi punido e afastado do cargo, ficando três dias em detenção.Ele não queria contar isso a Esther. Então pediu a Durval que explicasse tudo para ela.— Cadê a Rita? — Perguntou Esther, quase sem pensar.Durval respondeu com calma:— Ela está em outra barraca. Pode ficar tranquila, Srta. Esther. A Rita tá muito bem. O capitão Marcelo colocou ela no treinamento das recrutas. A ideia é que, com o treino físico, ela recupere algumas lembrança
— Marcelo, você tem suas coisas pra resolver. Não precisa me levar pra passear. Eu não quero atrapalhar você. — Esther balançou a cabeça com firmeza. Ela sabia que Marcelo havia sido punido e colocado em detenção por causa dela. Na cabeça dela, era melhor que ele ficasse na base, cuidando dos deveres dele. Eles ainda tinham tempo pela frente.— Atrapalhar? — Marcelo sorriu triste. — Você nunca me atrapalharia. Se tem alguém errado aqui, sou eu. Fui eu que não fui forte o suficiente... Fui descuidado. Não te protegi direito, e você acabou se machucando.A voz dele saiu rouca, quase embargada. Esther viu os olhos dele brilharem, como se ele estivesse segurando algo difícil.Ela tocou os lábios dele com a ponta dos dedos, num gesto suave.— Não fala mais nisso. Eu já sei, Marcelo. Já passou. Agora, deixa eu levar a Rita e o Luiz de volta para casa.O que Esther não esperava era que nem Rita nem Luiz quisessem ir embora.Rita parecia feliz treinando como soldado. Ela estava se adaptando b
— Aqui não é o meu território. Não sou eu quem decide. — Murmurou Esther, com um tom baixo e hesitante.Ela sabia exatamente o que Geraldo queria dizer, mas, para ela, Geraldo era apenas um amigo.— Então eu vou falar com o Marcelo. — Respondeu ele, sério, enquanto acenava de leve para Esther e se afastava.Geraldo não estava brincando. Em poucos minutos, ele encontrou Marcelo.Marcelo estava dentro de uma barraca, em pé, observando um mapa grande espalhado à sua frente. Vestindo o uniforme militar impecável, ele parecia uma figura de autoridade. A postura firme, o olhar determinado... Era impossível não notar.Na verdade, Marcelo sempre teve aquele ar forte e confiável. Não era só a farda que dava a ele aquela presença imponente. Não era de se admirar que Esther tivesse se apaixonado por ele.Geraldo parou por um momento, o encarando em silêncio, e depois se aproximou.— Você sabe que a Esther não está bem, né? — Perguntou ele direto.Marcelo parou o que estava fazendo. Ele baixou a c
Esther estava sentada, segurando um pequeno buquê de flores e cheirando as pétalas com suavidade.Marcelo se aproximou devagar e parou em frente a ela. Ele olhou para Esther com aquele brilho suave nos olhos, um olhar cheio de carinho.— Pena que a gente não tem um celular agora, eu tiraria várias fotos suas.Só naquele momento ele entendeu por que as pessoas sempre querem tirar fotos. Era como se quisessem capturar os momentos mais bonitos, para que nunca se perdessem.Esther sorriu, mas era um sorriso meio melancólico.— Você viu onde estamos, né? Com tudo o que passamos, eu já nem penso mais nessas coisas.Antes, quando ela trabalhava como secretária de Marcelo, Esther seguia à risca as ordens dele. Ela tomava o máximo de cuidado para que ninguém desconfiasse da relação entre os dois. Não deixava nem uma pista escapar.Agora, depois de tudo o que aconteceu, tirar fotos era o menor dos seus pensamentos.Marcelo sorriu de leve, então se sentou ao lado dela. Com um gesto tranquilo, ele
Esther nunca tinha visto o rosto de Faraó sem a máscara. Mas, naquele momento, ele estava ali, ao lado de Bernardo.Os olhos do Faraó se fixaram profundamente em Esther, como se buscassem algo no olhar dela.Esther desviou o olhar, evitando encará-lo diretamente.— Eu não pretendo voltar para Iurani. — Ela disse isso com um tom calmo, quase frio. Não só não pretendia voltar, como também não tinha intenção de reconhecer o Faraó como seu pai. O jeito de Esther agora era distante, até mesmo um pouco duro.Marcelo a abraçou pelos ombros. Ele não disse nada, mas o olhar firme e decidido deixava claro que ele apoiaria qualquer decisão dela, sem hesitar.O Faraó deu um passo à frente, tremendo levemente enquanto se aproximava de Esther.— Estrella... — Começou ele, com a voz rouca, como se algo estivesse preso em sua garganta.— Eu não me chamo Estrella. Meu nome é Esther. — Esther levantou a mão, o interrompendo.A voz do Faraó fazia algo dentro dela se revirar. Era como se uma pedra enorme
— Queremos ficar por aqui um tempo. — Bernardo sugeriu, com naturalidade.Marcelo entendeu rapidamente o que estava por trás daquele pedido. Bernardo e o Faraó queriam permanecer perto de Esther. Era óbvio que eles esperavam conquistar a confiança dela pouco a pouco.Mas Marcelo não respondeu de imediato. Bernardo, como se já antecipasse uma resistência, deu alguns passos na direção de Marcelo e lançou um olhar significativo a ele.Marcelo permaneceu em silêncio por um momento, mas acabou saindo da barraca. Antes de sair, sinalizou discretamente para um de seus homens, que ficou encarregado de receber o Faraó.Do lado de fora, Marcelo e Bernardo pararam para conversar.— Meu pai foi enganado por Gustavo. — Bernardo começou, direto. — Ele sempre foi muito carinhoso com Estrella. Agora que sabemos que Esther está bem próxima de você, será que você não pode tentar ajudar a reconciliá-los?O tom de Bernardo era quase suplicante, e o olhar esperançoso não deixava dúvidas de que ele apostava
De repente, Geraldo se lembrou de Estrella, de muitos anos atrás. O sorriso dela era tão acolhedor, tão bonito.O mais importante era que Estrella tinha lhe trazido conforto em momentos de dor, tinha o protegido. Sem ela, ele jamais teria sobrevivido até hoje. Mesmo que agora sua vida estivesse chegando ao fim, o simples fato de poder ficar ao lado dela já era seu maior consolo.O Faraó ficou em silêncio por um momento depois de ouvir isso. Então, murmurou baixinho:— Não se esqueça, fui eu que transformei você em um homem-erva, então também posso te curar.Ele sabia que o mesmo que causava dor também podia trazer cura. O Faraó era a pessoa que tinha feito aquelas experiências com Geraldo. E, agora, era também a única pessoa que poderia ajudá-lo a voltar ao normal. Ele sabia que continuar com experimentos como aquele só levaria à loucura.Naquele momento, a prioridade dele era sua filha.— Está falando sério? — Geraldo perguntou, com a voz carregada de surpresa e esperança.Quando deci