— Seu corpo está muito fraco agora. Não sei que tipo de droga o Gustavo usou em você. Mas você vive no laboratório há anos. Seu problema de saúde, você que resolva. — Bernardo deixou essas palavras no ar e se virou para sair.— Ela... Ela está bem? — Perguntou o Faraó, com a voz pesada e trêmula. Uma sensação de pânico começou a subir pelo peito dele. — A Esther... Ela está bem? Ela não se machucou, né?Bernardo parou, ainda de costas, e respondeu:— Você ainda lembra do Geraldo?O Faraó levantou os olhos, surpreso. Seu rosto ficou mais sério.— Geraldo foi meu experimento mais bem-sucedido. É claro que lembro.Ele recordava perfeitamente de Geraldo, um homem transformado em homem-erva. Depois que ele escapou, o Faraó passou anos enviando pequenas equipes para encontrá-lo. O caos e a guerra em Iurani dificultavam tudo.— Geraldo quer a Estrella? — Perguntou o Faraó, franzindo as sobrancelhas. — E aquela garota que fingia ser a Estrella? O que aconteceu com ela?— A verdadeira Estrella
Esther foi a primeira a ver a silhueta.Ele estava parado na entrada da tenda, com a luz dourada do pôr do sol iluminando seu corpo. Parecia até que ele tinha sido envolto por um brilho dourado perfeito.— Luiz... — Murmurou Esther, instintivamente.Ela tentou se levantar, querendo ir até ele, mas as pernas pareciam feitas de chumbo. Geraldo, atento, segurou o braço dela para impedir que caísse.Do outro lado, Luiz também notou Esther. Ele havia escutado o nome dela durante uma ligação com Marcelo e foi seguindo as informações. Assim que a viu, ele sentiu um choque. Ela era linda, exatamente como ele imaginava. Algumas imagens fugazes passaram por sua mente, mas ele não conseguiu segurar nenhuma delas.Esther percebeu o olhar vago, mas atento, de Luiz. Ela não tinha esquecido o dia no campo de escravos, quando foi procurá-lo. Luiz tinha perdido a memória.Esther se virou rapidamente para Geraldo e segurou o braço dele com força.— Geraldo, você consegue ajudar ele? Tem como trazer de v
— Me chama de Esther, tá bom? — Disse Esther.Antes, para ela, o nome não passava de um simples título. Até porque, na época, ela mal conhecia Geraldo, mas agora era diferente. Ela sabia que “Estrella” era o nome da filha do Faraó. Saber disso a deixou com um sentimento profundo de impotência.— Eu sempre te chamei de Estrella. Desde o dia que te conheci, você já era a Estrella. Agora você usa o nome Esther, mas isso não muda quem você foi. Seu passado não pode ser apagado. Nós não escolhemos tudo o que acontece com a gente, mas precisamos aprender a aceitar e entender completamente quem somos. — Geraldo respondeu com voz calma, olhando para ela.Entender completamente? Esther quase riu, mas o sorriso morreu antes de aparecer.— Geraldo, o que eu sei do Faraó... É que ele só trouxe destruição. Ele e os homens dele roubaram, mataram, queimaram... E o pior de tudo, ele te transformou nesse... Nesse estado. Tudo por causa da ganância dele!As lembranças voltaram como flashes. Cada cena qu
Marcelo entendia até mesmo aquilo que Esther não conseguia dizer em palavras.Ele segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou com tanta intensidade que parecia querer fundi-la ao próprio corpo. Foi um beijo firme, quase desesperado. Mas, no momento decisivo, ele a soltou.— Descansa uns dias aqui. Quando eu resolver tudo, você vai.— Tá bom.Ofegante, Esther observou Marcelo sair da barraca.Marcelo precisava reorganizar algumas coisas. Por causa da operação em que moveu tropas para salvar Esther, ele havia conseguido que Iurani se rendesse. Porém, foi punido e afastado do cargo, ficando três dias em detenção.Ele não queria contar isso a Esther. Então pediu a Durval que explicasse tudo para ela.— Cadê a Rita? — Perguntou Esther, quase sem pensar.Durval respondeu com calma:— Ela está em outra barraca. Pode ficar tranquila, Srta. Esther. A Rita tá muito bem. O capitão Marcelo colocou ela no treinamento das recrutas. A ideia é que, com o treino físico, ela recupere algumas lembrança
— Marcelo, você tem suas coisas pra resolver. Não precisa me levar pra passear. Eu não quero atrapalhar você. — Esther balançou a cabeça com firmeza. Ela sabia que Marcelo havia sido punido e colocado em detenção por causa dela. Na cabeça dela, era melhor que ele ficasse na base, cuidando dos deveres dele. Eles ainda tinham tempo pela frente.— Atrapalhar? — Marcelo sorriu triste. — Você nunca me atrapalharia. Se tem alguém errado aqui, sou eu. Fui eu que não fui forte o suficiente... Fui descuidado. Não te protegi direito, e você acabou se machucando.A voz dele saiu rouca, quase embargada. Esther viu os olhos dele brilharem, como se ele estivesse segurando algo difícil.Ela tocou os lábios dele com a ponta dos dedos, num gesto suave.— Não fala mais nisso. Eu já sei, Marcelo. Já passou. Agora, deixa eu levar a Rita e o Luiz de volta para casa.O que Esther não esperava era que nem Rita nem Luiz quisessem ir embora.Rita parecia feliz treinando como soldado. Ela estava se adaptando b
— Aqui não é o meu território. Não sou eu quem decide. — Murmurou Esther, com um tom baixo e hesitante.Ela sabia exatamente o que Geraldo queria dizer, mas, para ela, Geraldo era apenas um amigo.— Então eu vou falar com o Marcelo. — Respondeu ele, sério, enquanto acenava de leve para Esther e se afastava.Geraldo não estava brincando. Em poucos minutos, ele encontrou Marcelo.Marcelo estava dentro de uma barraca, em pé, observando um mapa grande espalhado à sua frente. Vestindo o uniforme militar impecável, ele parecia uma figura de autoridade. A postura firme, o olhar determinado... Era impossível não notar.Na verdade, Marcelo sempre teve aquele ar forte e confiável. Não era só a farda que dava a ele aquela presença imponente. Não era de se admirar que Esther tivesse se apaixonado por ele.Geraldo parou por um momento, o encarando em silêncio, e depois se aproximou.— Você sabe que a Esther não está bem, né? — Perguntou ele direto.Marcelo parou o que estava fazendo. Ele baixou a c
Esther estava sentada, segurando um pequeno buquê de flores e cheirando as pétalas com suavidade.Marcelo se aproximou devagar e parou em frente a ela. Ele olhou para Esther com aquele brilho suave nos olhos, um olhar cheio de carinho.— Pena que a gente não tem um celular agora, eu tiraria várias fotos suas.Só naquele momento ele entendeu por que as pessoas sempre querem tirar fotos. Era como se quisessem capturar os momentos mais bonitos, para que nunca se perdessem.Esther sorriu, mas era um sorriso meio melancólico.— Você viu onde estamos, né? Com tudo o que passamos, eu já nem penso mais nessas coisas.Antes, quando ela trabalhava como secretária de Marcelo, Esther seguia à risca as ordens dele. Ela tomava o máximo de cuidado para que ninguém desconfiasse da relação entre os dois. Não deixava nem uma pista escapar.Agora, depois de tudo o que aconteceu, tirar fotos era o menor dos seus pensamentos.Marcelo sorriu de leve, então se sentou ao lado dela. Com um gesto tranquilo, ele
Esther nunca tinha visto o rosto de Faraó sem a máscara. Mas, naquele momento, ele estava ali, ao lado de Bernardo.Os olhos do Faraó se fixaram profundamente em Esther, como se buscassem algo no olhar dela.Esther desviou o olhar, evitando encará-lo diretamente.— Eu não pretendo voltar para Iurani. — Ela disse isso com um tom calmo, quase frio. Não só não pretendia voltar, como também não tinha intenção de reconhecer o Faraó como seu pai. O jeito de Esther agora era distante, até mesmo um pouco duro.Marcelo a abraçou pelos ombros. Ele não disse nada, mas o olhar firme e decidido deixava claro que ele apoiaria qualquer decisão dela, sem hesitar.O Faraó deu um passo à frente, tremendo levemente enquanto se aproximava de Esther.— Estrella... — Começou ele, com a voz rouca, como se algo estivesse preso em sua garganta.— Eu não me chamo Estrella. Meu nome é Esther. — Esther levantou a mão, o interrompendo.A voz do Faraó fazia algo dentro dela se revirar. Era como se uma pedra enorme