— Entendido, Durval! — Responderam os soldados em uníssono.Durval suspirou, olhando para os rapazes com reprovação.— Vocês estavam aí, tagarelando todos animados, né? Agora estou curioso para saber quem é essa pessoa... — Ele se inclinou para olhar na direção que os soldados apontavam.No início, ele só viu um vulto feminino de costas. Algo naquele porte lhe pareceu familiar, mas nada que conseguisse identificar de imediato. Quando voltou os olhos para Marcelo, sua expressão endureceu.Afinal, o que os soldados haviam dito não era exagero. O olhar de Marcelo parecia transbordar algo que Durval não via há tempos.“Pronto, acabou!”, pensou Durval, sentindo o peso da confusão que viria. Esse homem vai colocar fogo no próprio quintal! E agora?Ele esfregou as têmporas, já imaginando o caos. Se o capitão arrumasse uma segunda esposa, o que ia acontecer com a oficial que já estava esperando por ele lá?Um dos soldados cutucou Durval, curioso.— E aí, o que você acha, Durval?Durval respiro
Ao ouvir aquelas palavras, Esther sentiu uma pontada de amargura no peito.As dificuldades que Nico e seu povo enfrentavam eram como um espelho do que os antepassados de sua nação haviam vivido décadas atrás.Embora ela nunca tivesse experimentado isso pessoalmente, os relatos em livros e documentários sempre a emocionavam. A cada leitura ou vídeo, sentia a dor de seus ancestrais e, ao mesmo tempo, uma gratidão imensa pelo progresso que seu país alcançou.Era impossível não pensar no lema que carregava desde a infância. Lembrar o passado para não repetir os erros.Enquanto estava perdida nesses pensamentos, Marcelo saiu de um dos alojamentos e, ao erguer os olhos, avistou Esther conversando com Nico.Ele observou como ela se inclinava levemente para dar um tapinha nas costas de Nico, tentando confortá-lo. O tom gentil da voz dela e o sorriso acolhedor nos lábios deixavam claro que os dois estavam à vontade um com o outro.Eles parecem próximos. Quanto tempo será que se conhecem?Marcel
— O quê? — Esther ficou um pouco surpresa.Marcelo a encarou com seu olhar firme e respondeu em um tom tranquilo:— Suas roupas estão sujas. Imaginei que precisaria de um banho.Esther olhou para si mesma, reparando no estado de suas roupas.Em casa, tomava banho todos os dias, como parte de sua rotina. Mas ali, naquele cenário de dificuldades e recursos limitados, ela já havia desistido dessa prática diária. Sempre que podia, evitava se lavar, já que era complicado conseguir água limpa o suficiente.Depois de ter ficado presa nos escombros e enfrentado tantos desafios, certamente não estava no melhor estado de limpeza. Ainda assim, não esperava que Marcelo tivesse reparado nisso e providenciado algo para ajudá-la.Ela, então, deu uma leve fungada em si mesma, meio desconfiada.— Será que já estou com cheiro ruim?— Não. — Marcelo respondeu sem hesitar, com seus olhos fixos nela. — Só sei que você gosta de estar limpa.Essas poucas palavras a pegaram de surpresa, fazendo seu coração va
A mulher parecia cada vez mais desconfortável, resmungou com frieza:— E daí? Foi eu que fiz, sim.Esther a observava com uma expressão tranquila, cruzando os braços. — Você trouxe isso pra mim por quê? Não foi você que, até outro dia, estava tentando me expulsar daqui?Luciana ergueu o queixo, claramente contrariada, mas não deixou de lançar um olhar rápido para Esther antes de responder:— Tá bom, vou ser sincera. Não quero que você morra de fome aqui, entende? A aldeia já tá em ruínas, todo mundo está comendo das panelas comunitárias. E você sumiu! Vai que morre de fome escondida por aqui? Não quero que a tragédia da aldeia fique ainda pior com mais uma morte.A explicação era claramente esfarrapada, e Esther sabia disso. Ela se lembrou das intrigas de Luciana nos dias anteriores e também do fato de ter salvo o irmão dela. Provavelmente era esse sentimento de culpa que a havia motivado a preparar aquela refeição.Sem fazer comentários, Esther entrou e se sentou à mesa. Olhou de rel
A jovem mulher ainda nutria esperanças, perguntando:— E amanhã? Que horas eu posso procurar ele?— Isso eu já não sei te dizer. — Respondeu o soldado.O brilho em seus olhos diminuiu. A decepção era evidente. No dia anterior, ela tinha conseguido vê-lo, até jantar ao lado dele e dos outros soldados. Mas nesse momento, nem isso. Talvez ela tivesse vindo tarde demais. Será que, se chegasse mais cedo no dia seguinte, poderia vê-lo novamente?Enquanto ela refletia sobre isso, Durval passou por perto. Ele parecia imerso em pensamentos, quase falando sozinho:— Não pode ser isso... Ele até preparou um banho quente pra ela? O capitão Marcelo nunca foi de tratar nenhuma mulher assim. Não parece algo que ele faria.Durval tentava se convencer de que não era o caso. Ele conhecia Marcelo como um homem íntegro e sabia o quanto ele amava Esther. Seria possível que ele estivesse usando outra mulher como uma substituta emocional? A ideia parecia absurda. Ainda assim, a razão dizia que, estando divor
Durval sorriu ao responder:— Não é incômodo nenhum. Você só quer ajudar o capitão Marcelo.Daniela retribuiu com um sorriso caloroso antes de se despedir. As palavras de Durval ficaram gravadas em sua memória. Afinal, quem seria aquela mulher mencionada? Sem querer levantar suspeitas, ela parou para conversar com um dos soldados.— Ei, sabe me dizer quando vamos deixar essa aldeia? — Ela perguntou com um tom casual.O soldado pensou um pouco antes de responder:— Não sei ao certo, ainda não temos uma data definida.Daniela hesitou por um momento antes de tentar novamente:— E aquela mulher que tem mais contato com o capitão Marcelo... Ela é daqui?O soldado franziu a testa, refletindo.— Acho que ela veio com a gente. Não é daqui, não.Essas palavras foram como um golpe no coração de Daniela. Uma mulher do País B? A possibilidade a deixou inquieta, mas ela manteve a compostura.— Entendi. Muito obrigada pela informação. — Ela agradeceu com um sorriso antes de retornar à sua barraca.
Naquele momento, Esther viu várias mulheres carregando ferramentas e cestos nas costas, caminhando em grupo. Entre elas, reconheceu uma figura familiar.— Luciana! — Chamou Esther. — Vocês estão indo colher ervas? Tão cedo assim?Luciana se virou e, surpresa ao vê-la, respondeu com um sorriso:— Sim! O melhor horário para colher ervas é de manhã bem cedo. Algumas plantas, se o orvalho seca, elas murcham e não servem mais. Além disso, é a temporada de brotos de bambu! Podemos pegar alguns também, se quisermos.Esther ficou curiosa e, sem ter algo melhor para fazer, decidiu acompanhá-las.— Vou com vocês! Quero ver como é.Luciana se animou com a companhia e se ofereceu imediatamente:— Que ótimo! Vou pegar um cesto e ferramentas pra você.Com rapidez, Esther foi integrada ao grupo e seguiu com as mulheres para a montanha. Algumas delas, ao notarem sua pele clara e aparência delicada, duvidaram da sua capacidade de lidar com o trabalho. Uma delas comentou:— Será que você dá conta, mocin
Mas, no fundo de seu coração, Marcelo tinha plena certeza de que Faraó nunca seria uma boa pessoa.— Olhem, lá na frente tem mulheres locais colhendo ervas medicinais! — Alguém apontou, fazendo todos os olhos se voltarem para o grupo de mulheres que trabalhava arduamente. — Durante o ataque dos exércitos de aliança, grande parte das ervas foi destruída. Isso aqui é uma das poucas fontes de renda delas. André, de repente, franziu a testa, curioso e confuso. Ele esfregou os olhos e, com uma expressão de incredulidade, disse:— Será que eu estou vendo certo? Não é que eu estou vendo uma figura familiar aqui?Marcelo, com seu olhar atento, rapidamente localizou a pessoa.Era Esther, que estava no centro do grupo, colhendo ervas. Ele se surpreendeu como ela já havia se integrado tão bem. Parecia estar completamente à vontade, conversando com as mulheres de maneira descontraída.A maioria delas, aqui na região, nunca havia recebido educação formal. Elas falavam principalmente idioma local.