A mulher parecia cada vez mais desconfortável, resmungou com frieza:— E daí? Foi eu que fiz, sim.Esther a observava com uma expressão tranquila, cruzando os braços. — Você trouxe isso pra mim por quê? Não foi você que, até outro dia, estava tentando me expulsar daqui?Luciana ergueu o queixo, claramente contrariada, mas não deixou de lançar um olhar rápido para Esther antes de responder:— Tá bom, vou ser sincera. Não quero que você morra de fome aqui, entende? A aldeia já tá em ruínas, todo mundo está comendo das panelas comunitárias. E você sumiu! Vai que morre de fome escondida por aqui? Não quero que a tragédia da aldeia fique ainda pior com mais uma morte.A explicação era claramente esfarrapada, e Esther sabia disso. Ela se lembrou das intrigas de Luciana nos dias anteriores e também do fato de ter salvo o irmão dela. Provavelmente era esse sentimento de culpa que a havia motivado a preparar aquela refeição.Sem fazer comentários, Esther entrou e se sentou à mesa. Olhou de rel
A jovem mulher ainda nutria esperanças, perguntando:— E amanhã? Que horas eu posso procurar ele?— Isso eu já não sei te dizer. — Respondeu o soldado.O brilho em seus olhos diminuiu. A decepção era evidente. No dia anterior, ela tinha conseguido vê-lo, até jantar ao lado dele e dos outros soldados. Mas nesse momento, nem isso. Talvez ela tivesse vindo tarde demais. Será que, se chegasse mais cedo no dia seguinte, poderia vê-lo novamente?Enquanto ela refletia sobre isso, Durval passou por perto. Ele parecia imerso em pensamentos, quase falando sozinho:— Não pode ser isso... Ele até preparou um banho quente pra ela? O capitão Marcelo nunca foi de tratar nenhuma mulher assim. Não parece algo que ele faria.Durval tentava se convencer de que não era o caso. Ele conhecia Marcelo como um homem íntegro e sabia o quanto ele amava Esther. Seria possível que ele estivesse usando outra mulher como uma substituta emocional? A ideia parecia absurda. Ainda assim, a razão dizia que, estando divor
Durval sorriu ao responder:— Não é incômodo nenhum. Você só quer ajudar o capitão Marcelo.Daniela retribuiu com um sorriso caloroso antes de se despedir. As palavras de Durval ficaram gravadas em sua memória. Afinal, quem seria aquela mulher mencionada? Sem querer levantar suspeitas, ela parou para conversar com um dos soldados.— Ei, sabe me dizer quando vamos deixar essa aldeia? — Ela perguntou com um tom casual.O soldado pensou um pouco antes de responder:— Não sei ao certo, ainda não temos uma data definida.Daniela hesitou por um momento antes de tentar novamente:— E aquela mulher que tem mais contato com o capitão Marcelo... Ela é daqui?O soldado franziu a testa, refletindo.— Acho que ela veio com a gente. Não é daqui, não.Essas palavras foram como um golpe no coração de Daniela. Uma mulher do País B? A possibilidade a deixou inquieta, mas ela manteve a compostura.— Entendi. Muito obrigada pela informação. — Ela agradeceu com um sorriso antes de retornar à sua barraca.
Naquele momento, Esther viu várias mulheres carregando ferramentas e cestos nas costas, caminhando em grupo. Entre elas, reconheceu uma figura familiar.— Luciana! — Chamou Esther. — Vocês estão indo colher ervas? Tão cedo assim?Luciana se virou e, surpresa ao vê-la, respondeu com um sorriso:— Sim! O melhor horário para colher ervas é de manhã bem cedo. Algumas plantas, se o orvalho seca, elas murcham e não servem mais. Além disso, é a temporada de brotos de bambu! Podemos pegar alguns também, se quisermos.Esther ficou curiosa e, sem ter algo melhor para fazer, decidiu acompanhá-las.— Vou com vocês! Quero ver como é.Luciana se animou com a companhia e se ofereceu imediatamente:— Que ótimo! Vou pegar um cesto e ferramentas pra você.Com rapidez, Esther foi integrada ao grupo e seguiu com as mulheres para a montanha. Algumas delas, ao notarem sua pele clara e aparência delicada, duvidaram da sua capacidade de lidar com o trabalho. Uma delas comentou:— Será que você dá conta, mocin
Mas, no fundo de seu coração, Marcelo tinha plena certeza de que Faraó nunca seria uma boa pessoa.— Olhem, lá na frente tem mulheres locais colhendo ervas medicinais! — Alguém apontou, fazendo todos os olhos se voltarem para o grupo de mulheres que trabalhava arduamente. — Durante o ataque dos exércitos de aliança, grande parte das ervas foi destruída. Isso aqui é uma das poucas fontes de renda delas. André, de repente, franziu a testa, curioso e confuso. Ele esfregou os olhos e, com uma expressão de incredulidade, disse:— Será que eu estou vendo certo? Não é que eu estou vendo uma figura familiar aqui?Marcelo, com seu olhar atento, rapidamente localizou a pessoa.Era Esther, que estava no centro do grupo, colhendo ervas. Ele se surpreendeu como ela já havia se integrado tão bem. Parecia estar completamente à vontade, conversando com as mulheres de maneira descontraída.A maioria delas, aqui na região, nunca havia recebido educação formal. Elas falavam principalmente idioma local.
Esther sabia desde cedo que suas calças estavam molhadas. Na verdade, todas estavam molhadas, pois o terreno era irregular e a umidade da manhã ainda estava no ar. No entanto, ela não se importava.— Vou trocar de roupa quando voltar. — Comentou Esther, com naturalidade.Marcelo, porém, parecia estar mais atento à situação. — O frio pode entrar no seu corpo e, se não tomar cuidado, pode acabar pegando um problema de articulação, como reumatismo.Esther riu levemente, tentando descontrair a situação.— Ah, é só por um momento. Não vai fazer mal. Vou trocar de roupa quando voltar.No entanto, Marcelo observava as pernas dela com uma intensidade. Sem dizer uma palavra, ele começou a puxar a barra das calças dela para cima.Esther ficou completamente desconfortável com a atenção que estava recebendo. Ela percebeu que os olhares de todos os outros estavam voltados para ela, e isso a fez ficar tensa, especialmente com a forma como Marcelo estava agindo. Ela se apressou a dizer:— O que você
Luciana estava descrevendo uma cena de um romance que tinha lido recentemente. Uma daquelas bem clichês, mas cheia de doçura, que quase fazia o coração dela derreter de tão fofa.Esther, por outro lado, não conseguia se conectar com aquilo. A relação dela com Marcelo era bem diferente, marcada por mais momentos de amargura do que de ternura.Ao ver Luciana tão empolgada, Esther não resistiu e deu um leve toque na testa dela com o dedo, brincando:— Ué, você não era apaixonada pelo Bernardo? Mudou de ideia? Ou será que vai me assustar com outro rato?Luciana parou na mesma hora e se explicou, envergonhada:— Ai, foi só uma brincadeira boba! Não precisa guardar mágoa, tá? E, olha, o professor Bernardo é incrível, mas ele não tem nada a ver com o capitão Marcelo, né?Depois de falar, Luciana olhou para Esther com um sorrisinho malicioso e continuou:— O professor Bernardo é gentil, um amor com todo mundo, mas o capitão Marcelo... Ele parece ser gentil só com você.Esther revirou os olhos,
Daniela não era a única coberta de poeira. O rostinho de seu filho também estava sujo e seus olhos vermelhos e marejados deixavam claro que ele havia chorado há pouco.Marcelo, porém, não olhou para ela nem para o menino. Seu olhar frio estava fixo em Durval.Durval abaixou a cabeça, claramente desconfortável. Ele sabia que tinha cometido um erro ao apoiar a ideia.— Capitão Marcelo, eu sei que errei. — Disse Durval, em um tom de desculpas.— Hoje à noite, você faz todo o trabalho sozinho. — Disse Marcelo, direto e sem paciência.— Sim, senhor! — Respondeu Durval, sem hesitar.Depois disso, o grupo retomou a caminhada. Mas, como Daniela havia machucado a perna, ela não conseguiria ir muito longe. Um dos soldados teve que carregá-la nas costas.Luciana observou a cena e cochichou com Esther:— Essa mulher... Nunca vi antes. Ainda está com uma criança. Deve ser uma dessas refugiadas que eles resgataram, né?— Provavelmente. Tem muita gente fugindo por aqui. — Respondeu Esther, com natura