Luciana estava descrevendo uma cena de um romance que tinha lido recentemente. Uma daquelas bem clichês, mas cheia de doçura, que quase fazia o coração dela derreter de tão fofa.Esther, por outro lado, não conseguia se conectar com aquilo. A relação dela com Marcelo era bem diferente, marcada por mais momentos de amargura do que de ternura.Ao ver Luciana tão empolgada, Esther não resistiu e deu um leve toque na testa dela com o dedo, brincando:— Ué, você não era apaixonada pelo Bernardo? Mudou de ideia? Ou será que vai me assustar com outro rato?Luciana parou na mesma hora e se explicou, envergonhada:— Ai, foi só uma brincadeira boba! Não precisa guardar mágoa, tá? E, olha, o professor Bernardo é incrível, mas ele não tem nada a ver com o capitão Marcelo, né?Depois de falar, Luciana olhou para Esther com um sorrisinho malicioso e continuou:— O professor Bernardo é gentil, um amor com todo mundo, mas o capitão Marcelo... Ele parece ser gentil só com você.Esther revirou os olhos,
Daniela não era a única coberta de poeira. O rostinho de seu filho também estava sujo e seus olhos vermelhos e marejados deixavam claro que ele havia chorado há pouco.Marcelo, porém, não olhou para ela nem para o menino. Seu olhar frio estava fixo em Durval.Durval abaixou a cabeça, claramente desconfortável. Ele sabia que tinha cometido um erro ao apoiar a ideia.— Capitão Marcelo, eu sei que errei. — Disse Durval, em um tom de desculpas.— Hoje à noite, você faz todo o trabalho sozinho. — Disse Marcelo, direto e sem paciência.— Sim, senhor! — Respondeu Durval, sem hesitar.Depois disso, o grupo retomou a caminhada. Mas, como Daniela havia machucado a perna, ela não conseguiria ir muito longe. Um dos soldados teve que carregá-la nas costas.Luciana observou a cena e cochichou com Esther:— Essa mulher... Nunca vi antes. Ainda está com uma criança. Deve ser uma dessas refugiadas que eles resgataram, né?— Provavelmente. Tem muita gente fugindo por aqui. — Respondeu Esther, com natura
Durval percebeu que estava meio confuso. Ele olhava para Esther como se ainda não acreditasse que era realmente ela e não algum tipo de substituta. Pensar assim só fazia ele parecer menos esperto.— É claro que eu sabia! — Disse Durval, tentando disfarçar. — Só que não tive chance de te ver antes. Mas, falando nisso, e a Rita? Ela não está com você?O semblante de Esther mudou instantaneamente.— Eu e a Rita nos separamos. Não sei onde ela está agora, mas quero muito encontrar ela.Durval ficou em silêncio por um momento, ponderando, antes de tentar tranquilizá-la.— A gente vai encontrar ela. Com a experiência que a Rita tem, tenho certeza de que ela vai estar bem.Esther, no entanto, não tinha tanta certeza. Ela não sabia se Rita estava viva, se tinha conseguido escapar ou se estava presa em algum lugar. No fim das contas, o que importava era que ela precisava encontrar um jeito de se infiltrar no território do Faraó.Enquanto isso, Daniela observava a interação de Esther com os outr
— Olá, eu sou Esther. — Disse ela, com um tom calmo e educado.Mas Marcelo interrompeu a conversa, com um tom seco:— Já chega. Vamos continuar andando.A essa altura, a senhora mais velha já tinha conseguido acalmar o choro da criança, e o grupo voltou a se organizar para seguir em frente. Daniela permaneceu na formação, mas seus olhos constantemente desviavam na direção de Esther e Marcelo. Ela não conseguia evitar. Queria observar cada gesto, cada interação entre os dois.Quando notou algumas gotas de suor na testa de Marcelo, viu ali uma oportunidade. Ela tirou do bolso um lenço que havia bordado à mão e, com um sorriso, se aproximou.— Capitão Marcelo, você está suando. Posso limpar pra você?Antes mesmo de tocar no rosto dele, Marcelo se afastou ligeiramente, mantendo distância. Seu olhar era firme e cheio de frieza.— Não precisa. — Ele respondeu de forma direta.Daniela deu um passo para trás, visivelmente constrangida.— Me desculpe, capitão Marcelo. Só queria ajudar.Marcelo
A proposta já era o suficiente para deixá-la nas nuvens. Afinal, ela queria apenas deixar para trás os horrores da guerra.Antes, ela também era uma mulher admirada por sua beleza. Foi assim que conseguiu se casar com um homem influente do País B. Porém, agora seus olhos se voltaram para Esther. Ela sabia que não podia mais ficar parada, precisava agir.— Esther, venha trocar de roupa! A sua está toda molhada. — Chamou uma das mulheres mais velhas da aldeia.— Usa uma roupa minha. Acho que nossos tamanhos não são tão diferentes. — Luciana se adiantou.— Tudo bem. — Respondeu Esther, terminando de espalhar as ervas no cesto que estava carregando.As roupas que as mulheres da aldeia usavam eram bem únicas. Eram feitas à mão, desde o tecido até a costura, carregavam detalhes coloridos e desenhos que representavam os costumes e a cultura deles. Para Esther, aquelas roupas eram muito bonitas.Depois de se trocar, Luciana arregalou os olhos e exclamou:— Uau, Esther, você ficou lindíssima c
Esther não estava preocupada com o que Marcelo pudesse pensar. Ela só estava dizendo a verdade. No futuro, seriam como estranhos, então não fazia sentido depender dele. Queria que ele entendesse que ela não precisava dele para nada.Ignorando completamente o olhar de Marcelo, Esther segurou o braço de Luciana e foi caminhando para o lado.Luciana, por sua vez, ainda estava pensando que essa era uma oportunidade perfeita.No fundo, já imaginava que terminaria assim....O cenário era uma construção antiga de madeira e bambu. Cercada por montanhas, um rio e um bosque de bambu, o lugar era encantador. Havia um ar de serenidade e um toque rústico que lembrava tempos antigos.O edifício era enorme, com uma área de centenas de metros quadrados. As paredes externas eram feitas de madeira, decoradas com entalhes delicados e cheios de detalhes.Dentro do prédio, uma voz feminina rompeu o silêncio:— Irmão!Na biblioteca, um homem estava sentado, concentrado em um livro.A sala era imensa, com e
— Ele é assim com todo mundo? — Estrella perguntou novamente a Ademir.— Não convivo muito com o Sr. Bernardo, mas ele sempre foi assim. Não se importa muito com nada. — Respondeu Ademir.Isso deixou Estrella um pouco mais aliviada. Ela continuou:— Enquanto ele estava fora, onde ele foi?— Ele gosta de passear pelas aldeias aqui perto.— Ele tem tempo para isso? O que tem de interessante nesses lugares?— Os pensamentos dele não são como os nossos.— Meu pai não faz nada para controlar ele?Estrella parecia irritada. Ela realmente queria que o pai colocasse Bernardo nos eixos. Afinal, quem ousava tratá-la de forma tão indiferente?— Não, ele não interfere. — Ademir respondeu.Estrella ficou curiosa. O que será que tinha de tão especial nessas aldeias para ele se interessar tanto? Ela também queria dar uma olhada....— Parece que você e o capitão Marcelo têm uma relação estranha, meio complicada. — Luciana comentou, franzindo a testa. — Vocês se conhecem há muito tempo? Parece que sim
Esther olhou para Daniela. Como não entender o que ela estava insinuando?— Você vai preparar isso para o Marcelo? — Ela perguntou, seguindo o jogo de Daniela. — Sim! O capitão Marcelo foi muito bom para mim e meu filho. Sou muito grata a ele. Ele até se machucou para nos salvar. Sinceramente, devo minha vida a ele. Nem sei como retribuir essa dívida. — Daniela respondeu com um sorrriso. Ela fez uma pausa, depois acrescentou. — E eu percebi que o capitão Marcelo está sempre sozinho. Ele não tem ninguém, né? Ele é solteiro?— Por que você mesma não pergunta pra ele? — Esther respondeu de forma seca.Daniela abaixou o olhar, constrangida.— Ah, isso eu não tenho coragem de perguntar... Por isso resolvi perguntar para você. Parece que vocês conversam bastante, achei que soubesse.— Você convive com ele há tanto tempo. Não deveria já saber? Por que está perguntando para mim? Ou você acha que eu vou atrapalhar alguma coisa entre vocês? — Disse Esther, diretamente.— Não foi isso que eu qui