A expressão de Geraldo ficou complicada. Se ela soubesse o que ele realmente tinha feito, com certeza não diria essas coisas. Ele mal tinha coragem de tocar suas mãos, quanto mais lhe contar os segredos obscuros que carregava.Mesmo assim, Geraldo não recusou mais o toque dela, permitindo que suas mãos ficassem entrelaçadas.Os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, um silêncio quase confortável. Foi então que Esther notou algo no bracelete de contas que segurava. A cor vermelha parecia estar se intensificando, se tornando cada vez mais vívida. Ela franziu o cenho e perguntou, intrigada:— Essas contas estão mudando de cor?Geraldo manteve a expressão neutra, seus olhos escurecendo ligeiramente.— Estão?Esther levantou o braço, colocando as contas contra a luz do sol que entrava pela janela. Ela piscou, como se quisesse ter certeza do que estava vendo.— Eu achei que, por usar o bracelete por tanto tempo, ela tivesse escurecido com o tempo, mas essa cor vermelha... Ela parece es
—É a minha primeira vez. — Disse Geraldo, com um leve sorriso.Esther arqueou as sobrancelhas, surpresa.— Até que não está ruim. Vamos ver como você se sai. Vai que você tem um talento natural.Meia hora se passou até que Geraldo finalmente saiu da cozinha. O ar continuava limpo, sem o menor vestígio de fumaça, o que significava que ele, pelo menos, não tinha feito nenhum desastre.No entanto, quando ele colocou os pratos sobre a mesa, Esther ficou completamente chocada. Seus olhos se arregalaram de pavor ao encarar a comida.Percebendo a reação dela, Geraldo manteve a calma e começou a explicar, como se estivesse apresentando uma aula prática:— Isso aqui é coração de galinha, e este é fígado... Ambos são partes dos órgãos internos. E aqui está o corpo da galinha, com a coxa, que tem mais carne e é mais suculenta...Enquanto ele falava, Esther sentia como se estivesse ouvindo uma aula de anatomia. Ela podia até imaginar Geraldo dissecando a galinha com a mesma precisão que utilizava
Geraldo retraiu a mão, claramente tentando evitar ser tocado por Esther. Esse movimento apenas aumentou as suspeitas dela. Seus olhos se estreitaram enquanto ela questionava ele, com uma voz firme:— Por que você ainda está sangrando?Ela sabia que já havia se passado bastante tempo desde que ele havia se machucado, e, mesmo que a recuperação não estivesse completa, não era normal ele continuar perdendo sangue dessa maneira. A única explicação plausível seria um novo ferimento.Geraldo puxou a manga da camisa para cobrir o pulso, mas as gotas de sangue eram evidentes, impossíveis de ignorar. Ele tentou sorrir, forçando uma desculpa casual.— Me cortei sem querer enquanto cozinhava. Não é nada grave.Mas Esther não era tão fácil de enganar. Com um olhar de desconfiança, ela franziu a testa.— Você, que passa a vida com um bisturi na mão, se cortaria desse jeito? Isso não faz o menor sentido! Não vai me convencer com essa desculpa. Como é que você realmente se machucou?Geraldo permanece
Esther voltou a olhar para Geraldo, que observava ela com uma expressão calma e indiferente. Para ele, aquilo já não era novidade, fazia parte da sua realidade. Ele já havia passado por situações sombrias antes e ela sabia que o lugar onde ele viveu no passado não era nada respeitável. Como ele mesmo havia dito, viviam nas sombras, onde a luz jamais poderia alcançar.Ainda assim, Esther estava muito abalada. Ela não conseguia entender como duas pessoas, ambas humanas, podiam levar vidas tão diferentes.— Como você pôde fazer isso por mim? — Questionou Esther, sentindo uma onda de rejeição percorrer seu corpo. — Eu teria acordado sozinha depois de desmaiar. Não precisava se machucar, muito menos cortar o pulso para me dar seu sangue. Isso só prejudica seu corpo. Eu não queria que você fizesse isso.Geraldo soltou um riso leve, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.— Não foi nada demais. É só um pouco de sangue. Eu não vou morrer por isso.— Não fala assim! — Protestou Esth
Diana não conseguia acreditar. Parecia estar vivendo um pesadelo, sua cabeça girava com tantas perguntas sem resposta. Ela sempre soube que Esther e Marcelo se amavam, então como o divórcio poderia ter acontecido tão de repente?— O que aconteceu? Esse canalha do Marcelo mudou de atitude tão rápido que chega a ser assustador! Não dá, eu vou atrás dele agora para tirar satisfações! — Disse, indignada.Esther já havia aceitado a realidade, apesar de tudo.— Não precisa, Diana. Sério, foi até bons termos nos divorciado. Agora eu tenho dinheiro, uma casa... Sou praticamente uma mulher rica. — Brincou, com um sorriso amargo. — Mesmo que eu nunca mais trabalhe na vida, não vou morrer de fome. Me dá os parabéns, né?— Isso só facilita a vida daquela vagabunda! — Bufou Diana, já se colocando no lugar de Esther. Ela jamais aceitaria uma situação dessas.— E o que ela vai ganhar com isso, de verdade? — Esther respondeu, num tom resignado. — Deixa isso pra lá. Já passou, não tem por que mexer nis
— Tudo bem.Geraldo ficou olhando enquanto Esther saía de casa de bicicleta. Ela pedalava calmamente em direção ao centro da cidade. Não era uma distância tão longa.A casa onde ela morava agora era uma das melhores que Marcelo havia deixado para ela. Uma bela casa em um bairro valorizado.Enquanto pedalava, chegou a um cruzamento onde o movimento era intenso. Parou no sinal vermelho, aguardando a vez para atravessar na faixa de pedestres. Quando o sinal ficou verde, ela desceu da bicicleta para atravessar a rua empurrando sua bicicleta, com calma. De repente, sentiu uma presença ao seu lado e ouviu uma voz amigável.— Deixa que eu te ajudo com isso.Esther olhou para trás e viu um rapaz sorridente. Ele parecia ter notado que ela estava grávida e imaginou que ela poderia estar tendo dificuldades. Naquele dia, Esther tinha saído com um visual bem casual: seus cabelos presos em uma trança, um chapéu de palha para se proteger do sol, e um vestido largo que deixava sua barriga um pouco vis
Quando Esther saiu do banheiro, encontrou o dono da loja parado na porta, visivelmente nervoso. Ele parecia estar suando frio, como se tivesse acabado de ver algo aterrorizante.Ao vê-la, o dono arregalou os olhos, como se estivesse diante de um milagre.— Graças a Deus! Moça, finalmente você saiu! Pelo amor de Deus, não quero mais o anel! — Disse ele, com a voz trêmula, estendendo rapidamente o anel de volta para ela. — Por favor, fique com ele!Esther ficou surpresa e sem entender o motivo daquela reação.— Como assim não quer mais? — Perguntou, com a sobrancelha arqueada. — Não tínhamos combinado que seria 50 mil?— Não quero mais, não! — O dono insistiu, apressado. — Esse anel... Eu não tenho condições de comprar ele. Vai embora, por favor. Vá vender em outro lugar, mas não aqui!Sem mais nem menos, o dono empurrou ela para fora da loja, quase desesperado para se livrar dela. Esther se viu do lado de fora, confusa, e olhou para trás, apenas para ver o dono fechar a porta rapidament
Esther pegou de volta a sacola grande que o rapaz estava segurando.— Se você não vai falar, então não precisa me ajudar. Não estou acostumada a receber ajuda de estranhos.— Calma, calma! — Disse o rapaz, preocupado, ao ver a força com que ela puxou a sacola. Ele parecia receoso de que ela pudesse se machucar e ainda tentou mostrar uma atitude preocupada.Esther colocou a sacola no cesto da bicicleta e, sem perder tempo, subiu na bicicleta e começou a pedalar para ir embora.Ela não estava com pressa, pedalando devagar. Mesmo assim, percebeu que o rapaz continuava a segui-la. Ela olhou de relance para trás e sua paciência estava chegando ao limite. Respirou fundo, desceu da bicicleta e se virou para ele, falando com um tom mais alto do que antes:— Por que você está me seguindo? Ou você para com isso agora ou traz logo seu chefe aqui. Caso contrário, vou chamar a polícia!A expressão de Esther estava mais severa do que o habitual e isso deixou o rapaz sem ação. Ele ficou ali, parado,