As duas chegaram ao centro da cidade, Esther decidiu primeiro levar Fernanda para fazer as compras. Os itens da copa sempre eram adquiridos na mesma loja, então o processo foi rápido e logo estava tudo resolvido.Mas a tarefa de Esther era um pouco mais complicada. O café especial que Marcelo gostava de tomar precisava ser encomendado com antecedência, então ela teve que ligar para verificar se havia estoque. Felizmente, conseguiram reservar uma embalagem.Enquanto seguiam para a loja, Fernanda, curiosa, perguntou:— Esther, esse café que você compra pro Sr. Marcelo é tão especial assim? Nunca imaginei que precisasse agendar uma compra de café!— Ele é bem exigente quando se trata de café. Só toma esse tipo específico. — Esther explicou, sem entrar em muitos detalhes, mas deixando claro que Marcelo tinha um gosto refinado.Fernanda não conseguia conter sua admiração. Para ela, o mundo dos ricos sempre foi fascinante, até mesmo na hora de escolher os grãos de café.Ao chegarem à loja, E
— Ah, cala a boca! — Liliane interrompeu Esther bruscamente. — Aqui não tem Marcelo, nem meu avô, então não precisa bancar a boazinha. Mostre logo sua verdadeira face, sua megera!Aquelas palavras atingiram Esther como um tapa. Ela ficou completamente surpresa. Desde quando Liliane a via dessa forma? Como ela poderia ser considerada uma megera? Esther não conseguia entender de onde vinha tanta hostilidade, afinal, elas nunca tinham tido um conflito direto. No entanto, ao perceber que Liliane estava visivelmente irritada e que não valia a pena prolongar a discussão, ela decidiu ceder. Além disso, Liliane, sendo neta de Sandro e uma jovem alguns anos mais nova, tinha uma história difícil, crescendo sem a presença dos pais. Esther, tentando evitar mais problemas, optou por dar um passo atrás.— Se vocês realmente querem tanto assim, podem ficar com o café. Não é nada demais.Fernanda, no entanto, não estava disposta a deixar as coisas assim. Ela queria defender Esther e se mostrar firme
Ao ouvir o som desesperado, Esther instintivamente pisou no freio. Seu olhar se voltou para dentro do beco estreito, onde avistou alguns homens de aparência suspeita, todos com cabelos tingidos de loiro, cercando uma figura familiar. Esther demorou um momento para reconhecer a pessoa envolvida naquela situação. Era Liliane.Os homens eram magros, suas roupas desleixadas e seus gestos evidenciavam que não eram confiáveis. Esther rapidamente notou a barra do vestido de Liliane. O coração dela disparou. Era óbvio que Liliane estava em apuros, cercada por aqueles sujeitos. A expressão de Liliane estava marcada pelo medo e pelo pânico.— Não se atrevam a se aproximar! Se vocês encostarem um dedo em mim, meu avô não vai deixar isso barato! — Liliane gritou com a voz trêmula, mas ainda tentando manter alguma postura. Era evidente que ela nunca tinha enfrentado uma situação dessas. Crescendo sempre cercada de conforto, ela jamais precisou lidar com qualquer tipo de perigo real.No princípio,
Liliane ficou paralisada, sem conseguir entender o que estava acontecendo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo com ela.— Mil reais? — O homem que segurava o dinheiro fez uma careta gananciosa, insatisfeito com a oferta. — Só isso? Aposto que essa garota tem mais grana do que isso.— Esse é todo o dinheiro que temos em mãos. — Explicou Esther com calma, tentando manter o controle da situação. — Se você está esperando mais, vai ficar desapontado. Solta ela agora, antes que arrume mais problemas para você mesmo.— Está me ameaçando? — O tom do homem ficou sarcástico, como se achasse aquilo uma piada. — Você acha que crescemos com medo de gente como você? Se a gente te vendesse, aposto que você renderia muito mais do que mil reais. Esse dinheiro é uma migalha. O mínimo que vale essa menina é uns cem mil.Esther manteve a calma e rebateu:— Cem mil? Quem é que anda por aí com cem mil em dinheiro vivo? Vamos ser realistas. Solta ela, e eu vou até o banco sacar mais. Isso se vo
Felizmente, o veículo era resistente, e a pedra não conseguiu atravessar o vidro.— Parem ela! Não deixem que fujam! — Gritou um dos homens, sua voz cheia de raiva enquanto ele e os outros se posicionavam na frente do carro de Esther, bloqueando sua passagem.— Você feriu nossos irmãos e ainda acha que vai escapar? — Um dos homens estava especialmente furioso, batendo com as mãos no capô do carro. — Se você tem coragem, passa por cima da gente! Vamos ver até onde você consegue ir!— Sai do carro agora! — Eles estavam descontrolados, com a fúria de quem se sente desafiado. Começaram a bater com força nos vidros do carro, tentando quebrá-los para forçá-las a sair.Liliane estava completamente apavorada, o rosto pálido e coberto de lágrimas. Fernanda, olhando para os homens, percebeu que apesar de magros, eles eram surpreendentemente fortes. Com a voz trêmula, ela perguntou:— Esther, o que a gente faz? O que vamos fazer agora?Esther olhou rapidamente para o relógio, tentando manter a ca
Liliane pegou a garrafa de água, mas ao tentar beber, estava tão nervosa que acabou se engasgando, molhando-se toda.— Calma, vai devagar. — Disse Esther, preocupada.Liliane fechou a garrafa, suas mãos ainda tremendo. Ela olhou para Esther com uma expressão hesitante, como se estivesse reunindo coragem para falar:— Obrigada por me ajudar agora há pouco. Se não fosse por você, eu provavelmente teria sido atacada por aqueles caras.— E olha que você sempre parece tão durona, mas na hora H, deu pra trás. — Esther brincou, querendo aliviar o clima.Liliane mordeu os lábios, abaixando a cabeça em sinal de vergonha.— Eu sei, eu sei... Duas vezes eu te tratei mal, então é normal você querer me provocar agora.— Deixa isso pra lá. Vamos, vou te levar pra casa. Se demorar mais, seu avô vai ficar preocupado com você. — Esther sabia que, ao salvar Liliane, estava fazendo isso também por Sandro, que adorava a neta. Se algo acontecesse com Liliane, o velho ficaria desolado, e Esther não consegui
Marcelo fez várias perguntas seguidas, deixando Esther sem saber por onde começar a responder.— Eu me machuquei um pouco, mas não é nada grave. — Disse Esther, ainda preocupada com a presença de Fernanda. Ela notou que Marcelo estava ignorando os olhares das outras pessoas, o que deixou ela um pouco desconfortável. Então, rapidamente se afastou do abraço dele.— Por que você não atendeu o telefone? — Insistiu Marcelo, sua expressão ainda preocupada. Ele franziu as sobrancelhas novamente e perguntou com seriedade. — O que aconteceu exatamente?Foi então que ele percebeu a presença de Liliane ao lado delas. Sua expressão suavizou um pouco, mas ele ainda estava tenso.— Marcelo... — Liliane murmurou, sem jeito. Ela hesitou antes de continuar. — Esther se machucou porque me salvou... Eu me sinto muito culpada por isso. Espero que você não me culpe.Liliane nunca imaginou que Esther iria se arriscar por ela. Diante daqueles homens perigosos, e considerando o fato de que ela já havia causad
— Você sabia que era perigoso, então por que se arriscou? — Perguntou Marcelo, seu tom severo enquanto ele fixava o olhar em Esther.— Eu...Marcelo não deixou que ela terminasse e continuou:— E se você não tivesse conseguido a tempo? O que teria acontecido?Esther nunca havia pensado nisso. Ela acreditava que, naquelas circunstâncias, era capaz de lidar com a situação. Não queria que Marcelo ficasse ainda mais preocupado, então respondeu com um tom despreocupado:— Eu calculei bem o tempo, não tinha como dar errado.— Esther, você nunca se machucou gravemente, não é? — A expressão de Marcelo estava extremamente séria, suas sobrancelhas franzidas em um misto de preocupação e frustração. Cada palavra de Esther parecia cravar uma faca em seu peito.Ele não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido se ela não tivesse tido sorte. O simples pensamento fazia ele estremecer por dentro.Esther hesitou por um momento, sem saber exatamente como responder. As palavras de Marcelo fi