Ao ouvir o som desesperado, Esther instintivamente pisou no freio. Seu olhar se voltou para dentro do beco estreito, onde avistou alguns homens de aparência suspeita, todos com cabelos tingidos de loiro, cercando uma figura familiar. Esther demorou um momento para reconhecer a pessoa envolvida naquela situação. Era Liliane.Os homens eram magros, suas roupas desleixadas e seus gestos evidenciavam que não eram confiáveis. Esther rapidamente notou a barra do vestido de Liliane. O coração dela disparou. Era óbvio que Liliane estava em apuros, cercada por aqueles sujeitos. A expressão de Liliane estava marcada pelo medo e pelo pânico.— Não se atrevam a se aproximar! Se vocês encostarem um dedo em mim, meu avô não vai deixar isso barato! — Liliane gritou com a voz trêmula, mas ainda tentando manter alguma postura. Era evidente que ela nunca tinha enfrentado uma situação dessas. Crescendo sempre cercada de conforto, ela jamais precisou lidar com qualquer tipo de perigo real.No princípio,
Liliane ficou paralisada, sem conseguir entender o que estava acontecendo. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo com ela.— Mil reais? — O homem que segurava o dinheiro fez uma careta gananciosa, insatisfeito com a oferta. — Só isso? Aposto que essa garota tem mais grana do que isso.— Esse é todo o dinheiro que temos em mãos. — Explicou Esther com calma, tentando manter o controle da situação. — Se você está esperando mais, vai ficar desapontado. Solta ela agora, antes que arrume mais problemas para você mesmo.— Está me ameaçando? — O tom do homem ficou sarcástico, como se achasse aquilo uma piada. — Você acha que crescemos com medo de gente como você? Se a gente te vendesse, aposto que você renderia muito mais do que mil reais. Esse dinheiro é uma migalha. O mínimo que vale essa menina é uns cem mil.Esther manteve a calma e rebateu:— Cem mil? Quem é que anda por aí com cem mil em dinheiro vivo? Vamos ser realistas. Solta ela, e eu vou até o banco sacar mais. Isso se vo
Felizmente, o veículo era resistente, e a pedra não conseguiu atravessar o vidro.— Parem ela! Não deixem que fujam! — Gritou um dos homens, sua voz cheia de raiva enquanto ele e os outros se posicionavam na frente do carro de Esther, bloqueando sua passagem.— Você feriu nossos irmãos e ainda acha que vai escapar? — Um dos homens estava especialmente furioso, batendo com as mãos no capô do carro. — Se você tem coragem, passa por cima da gente! Vamos ver até onde você consegue ir!— Sai do carro agora! — Eles estavam descontrolados, com a fúria de quem se sente desafiado. Começaram a bater com força nos vidros do carro, tentando quebrá-los para forçá-las a sair.Liliane estava completamente apavorada, o rosto pálido e coberto de lágrimas. Fernanda, olhando para os homens, percebeu que apesar de magros, eles eram surpreendentemente fortes. Com a voz trêmula, ela perguntou:— Esther, o que a gente faz? O que vamos fazer agora?Esther olhou rapidamente para o relógio, tentando manter a ca
Liliane pegou a garrafa de água, mas ao tentar beber, estava tão nervosa que acabou se engasgando, molhando-se toda.— Calma, vai devagar. — Disse Esther, preocupada.Liliane fechou a garrafa, suas mãos ainda tremendo. Ela olhou para Esther com uma expressão hesitante, como se estivesse reunindo coragem para falar:— Obrigada por me ajudar agora há pouco. Se não fosse por você, eu provavelmente teria sido atacada por aqueles caras.— E olha que você sempre parece tão durona, mas na hora H, deu pra trás. — Esther brincou, querendo aliviar o clima.Liliane mordeu os lábios, abaixando a cabeça em sinal de vergonha.— Eu sei, eu sei... Duas vezes eu te tratei mal, então é normal você querer me provocar agora.— Deixa isso pra lá. Vamos, vou te levar pra casa. Se demorar mais, seu avô vai ficar preocupado com você. — Esther sabia que, ao salvar Liliane, estava fazendo isso também por Sandro, que adorava a neta. Se algo acontecesse com Liliane, o velho ficaria desolado, e Esther não consegui
Marcelo fez várias perguntas seguidas, deixando Esther sem saber por onde começar a responder.— Eu me machuquei um pouco, mas não é nada grave. — Disse Esther, ainda preocupada com a presença de Fernanda. Ela notou que Marcelo estava ignorando os olhares das outras pessoas, o que deixou ela um pouco desconfortável. Então, rapidamente se afastou do abraço dele.— Por que você não atendeu o telefone? — Insistiu Marcelo, sua expressão ainda preocupada. Ele franziu as sobrancelhas novamente e perguntou com seriedade. — O que aconteceu exatamente?Foi então que ele percebeu a presença de Liliane ao lado delas. Sua expressão suavizou um pouco, mas ele ainda estava tenso.— Marcelo... — Liliane murmurou, sem jeito. Ela hesitou antes de continuar. — Esther se machucou porque me salvou... Eu me sinto muito culpada por isso. Espero que você não me culpe.Liliane nunca imaginou que Esther iria se arriscar por ela. Diante daqueles homens perigosos, e considerando o fato de que ela já havia causad
— Você sabia que era perigoso, então por que se arriscou? — Perguntou Marcelo, seu tom severo enquanto ele fixava o olhar em Esther.— Eu...Marcelo não deixou que ela terminasse e continuou:— E se você não tivesse conseguido a tempo? O que teria acontecido?Esther nunca havia pensado nisso. Ela acreditava que, naquelas circunstâncias, era capaz de lidar com a situação. Não queria que Marcelo ficasse ainda mais preocupado, então respondeu com um tom despreocupado:— Eu calculei bem o tempo, não tinha como dar errado.— Esther, você nunca se machucou gravemente, não é? — A expressão de Marcelo estava extremamente séria, suas sobrancelhas franzidas em um misto de preocupação e frustração. Cada palavra de Esther parecia cravar uma faca em seu peito.Ele não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido se ela não tivesse tido sorte. O simples pensamento fazia ele estremecer por dentro.Esther hesitou por um momento, sem saber exatamente como responder. As palavras de Marcelo fi
— O carro está danificado. Podemos simplesmente comprar um novo, assim vai ser mais conveniente para você. — Respondeu Marcelo com a tranquilidade de quem não se preocupa com valores, mas sim com o bem-estar de Esther.— Está bem. — Respondeu ela, sem muita emoção.No fundo, a casa já tinha vários carros à disposição. Escolher um mais simples, talvez um dos que os empregados usavam para tarefas como ir ao mercado, parecia ser o mais prático para o seu dia a dia.Depois de limpar o pequeno ferimento com o antisséptico, Esther deixou o escritório de Marcelo, pronta para ir para casa após mais um longo dia de trabalho.Ao sair, ela se deparou com Liliane esperando do lado de fora. Assim que a viu, Liliane chamou-a, animada:— Cunhada!O chamado de Liliane atraiu a atenção de todos os que ainda estavam no escritório. Os olhares curiosos dos colegas de trabalho se voltaram para elas, como se tentassem desvendar algum mistério oculto na interação entre as duas.Esther sentiu o corpo enrijece
No carro, Liliane e Esther estavam sentadas lado a lado no banco de trás, enquanto Marcelo dirigia com um semblante visivelmente fechado. Ele não pôde deixar de notar pelo retrovisor que as duas estavam de mãos dadas, uma proximidade que ele não esperava.“Desde quando elas ficaram tão próximas?”, pensou Marcelo, incomodado com a situação. A última coisa que ele queria era Liliane se intrometendo na vida deles.— Marcelo, obrigada por nos levar. Vou jantar com Esther hoje! — Exclamou Liliane, completamente alheia ao mau humor dele, enquanto o pressionava a seguir em frente. Ela já estava morrendo de fome e mal podia esperar.— Quem disse que eu iria te levar junto para casa? Onde está seu motorista? Chama ele logo para vir te buscar! — Respondeu Marcelo de forma fria, sem esconder a irritação na voz.Ele não estava nem um pouco disposto a ser motorista das duas, especialmente naquela situação.Mas Liliane, insistente, agarrou ainda mais forte o braço de Esther, quase como uma criança t