Marcelo ponderou por um momento, então, por fim, decidiu acompanhar Luiza.— Vamos lá.Assim, Esther foi deixada para trás. Ela não tinha intenção de ficar no salão e encarar a assistente de Luiza. Além disso, ela se lembrou de que o jantar de comemoração do primeiro mês do filho de Alfredo havia sido antecipado para aquela noite. Diana, claro, estaria presente, então Esther começou a tentar falar com ela pelo telefone enquanto se dirigia para fora do lugar.No entanto, antes que conseguisse completar a chamada, uma voz conhecida a interrompeu:— Olha só quem está aqui! Nossa Esther, que agora é secretária do Sr. Marcelo, parece que até perdeu a noção do que é ser humana!— É isso mesmo! Primeiro, despacha Hugo com cinco mil reais, dizendo que está ocupada, e agora aparece aqui como se nada tivesse acontecido.— E ainda por cima, saindo daquele salão! — Outra zombou, apontando para o lugar de onde Esther havia acabado de sair.— É, pelo jeito, estar com os colegas não é uma prioridade
Mesmo que não fosse possível mandar aquelas pessoas para a prisão, ao menos uma lição seria dada pela polícia.— Esther, você não tem o menor escrúpulo! Que tipo de pessoa cruel você se tornou! — Uma das mulheres disparou.— Cruel? Olha só quem fala! Se não fosse por mim, vocês já teriam espancado ela em grupo! — Luiz respondeu, irritado com a atitude das mulheres. Ele não conseguia acreditar que pessoas do mesmo sexo podiam ser tão cruéis umas com as outras.— A gente não pode se defender? — A mulher de cabelo curto replicou com arrogância, sem demonstrar nenhum arrependimento.Luiz queria rebater, mas Esther puxou ele pela manga, interrompendo-o:— Não adianta perder tempo com gente que não vale a pena.Luiz sentiu um calor no peito. O simples gesto de Esther, segurando sua manga, teve um impacto profundo nele. Embora o toque não tivesse um significado especial, para Luiz, significava muito. Afinal, Esther era a mulher que ele mais admirava, aquela por quem ele estava apaixonado, mas
— Luiz, deixa pra lá, não precisa se preocupar com isso. — Disse Esther, soltando um suspiro leve.Às vezes, até ela mesma não entendia Marcelo completamente. Bastava um encontro casual com colegas, e ele já ficava cheio de insinuações. Se ele fosse do tipo que aceitasse explicações, não teria se virado e ido embora sem mais nem menos.— Luiz, obrigada por ter aparecido na hora certa e me ajudado. — Acrescentou ela, com um tom de gratidão genuína.— Foi só uma pequena ajuda, não precisa agradecer. — Luiz respondeu, com um sorriso doce e acolhedor.Luiz estava prestes a falar mais alguma coisa quando Esther, percebendo isso, foi mais rápida:— Eu vou voltar para o meu camarote agora. A gente se fala depois, e te pago um jantar qualquer dia desses.— Eu estou livre amanhã à tarde. — Luiz respondeu de imediato, levando a sério o que Esther havia dito, embora soubesse que provavelmente era apenas um gesto de educação.Esther ficou surpresa por um momento, mas logo assentiu:— Então, eu te
O motorista havia sido avisado sobre a relação delicada entre Esther e Marcelo no momento em que aceitou o emprego. Gilberto, sempre cuidadoso, explicou a situação para que ele soubesse como agir. Desde que Marcelo entrou no carro, não parou de fumar, o que indicava claramente que algo havia acontecido entre ele e Esther. Além disso, o motorista percebeu os detalhes. As ordens para seguir Esther e o movimento hesitante de abrir a porta do carro, que ele observou atentamente.Marcelo estreitou os olhos, analisando rapidamente o novo motorista. Era um homem alto e magro, com a pele ligeiramente bronzeada, dando um ar de quem já havia passado por muito na vida. Marcelo soltou um sorriso frio e irônico, repreendendo:— Gilberto não te explicou as regras?O motorista manteve a postura submissa e respondeu com um tom respeitoso:— Gilberto me explicou, sim, Sr. Marcelo. Sei que não deveria me intrometer, mas já passei por algo semelhante. Eu e minha esposa brigamos por um mal-entendido, e e
Esther manteve a expressão serena e respondeu com calma:— Só estou dizendo a verdade.— Você... — Joana ficou furiosa, sentindo-se prestes a explodir. Nesse instante, se ouviu um barulho vindo da porta, e Marcelo entrou. Joana, como se tivesse encontrado sua salvação, rapidamente foi até ele, reclamando. — Marcelo, que bom que você chegou! Olha só como sua querida esposa vive me desrespeitando! Onde está a educação dela?Marcelo entrou com passos firmes, seus olhos penetrantes passaram de Esther para Joana. Com uma voz firme e serena, ele respondeu:— Se você não provocasse ela, ela não teria por que te desrespeitar. Esther sempre foi muito tranquila ao meu lado.Em poucos passos, ele se aproximou de Esther, sua presença alta e imponente fez com que ela sentisse uma pressão quase física. Além disso, o cheiro forte de tabaco no ar era inconfundível, e ela não pôde evitar erguer os olhos para encará-lo.Joana, vendo-os lado a lado, quase perdeu a compostura, pisando forte no chão e excl
Ela pensou se ele exigia dela o mesmo que exigia de si mesmo.— O quê? — Marcelo franziu a testa, confuso.Esther olhou para ele, incerta sobre se deveria continuar. Talvez ela não tivesse coragem de encarar a verdade que tanto temia. Apertando os punhos, desviou o olhar e respondeu:— Nada.Marcelo percebeu a expressão dela, como se algo estivesse incomodando ela. Ela queria perguntar, mas hesitava. Antes que ele pudesse insistir, alguém bateu na porta.— Senhor, senhora! — Chamou a empregada do lado de fora.Marcelo foi até a porta e a abriu. A empregada entregou um envelope elegante a ele e disse:— Senhor, isso aqui é um convite da família Costa.Marcelo pegou o envelope e viu a palavra “longevidade”estampada.— Pode ir, obrigado.Ele abriu o convite e percebeu que era para a festa de 70 anos de Sandro. Marcelo conhecia Sandro há muito tempo, mas raramente participava de seus aniversários. Ambos mantinham uma relação de respeito mútuo, sem interferir demais na vida um do outro.No
Esther se aproximou e retirou o vestido de dentro da sacola. Era uma peça de alta costura em um tom verde escuro, com uma saia volumosa e um design tomara-que-caia. Ao tocá-lo, sentiu a suavidade do tecido, um material que exalava luxo. Ela havia folheado revistas de moda recentemente e reconheceu a peça como uma criação de uma famosa estilista, embora não lembrasse o nome. Mas sabia que qualquer vestido desenhado por ela começava na casa dos milhões.De repente, a memória de Sofia usando um vestido luxuoso veio à tona, um vestido que Marcelo havia comprado por um milhão. Esther olhou para ele e perguntou, com um tom de incerteza:— Deve ter custado uma fortuna, não?Para Marcelo, dinheiro não passava de números em uma tela. O que realmente importava era o sorriso de Esther.— Quando vi o vestido, soube que era perfeito para você. — Respondeu ele, com naturalidade.Esther não conseguiu evitar e, antes que pudesse se conter, deixou escapar:— Então o vestido que você comprou para a Sofi
Esther, mesmo sem querer, percebeu algo diferente no tom de Marcelo. Aquela frase que ele havia dito de forma aparentemente casual trazia consigo um traço de frieza, quase como se houvesse uma ponta de desilusão. Talvez fosse apenas coisa da sua cabeça. Esther não conseguia evitar, era um hábito seu tentar decifrar as emoções de Marcelo, analisando cada palavra sua em busca de algum indício de seu estado de espírito. Ela se importava demais com suas oscilações de humor, com suas alegrias e tristezas.Mas não deveria se preocupar tanto assim.Ao entrarem na casa da família Costa, Esther notou que o ambiente já estava repleto de pessoas. Havia cerca de uma dúzia de convidados, todos bem-vestidos. Alguns trajavam ternos elegantes, enquanto outros vestiam uniformes militares, exalando uma aura de autoridade e respeito. Sandro usava um traje tradicional, que já mostrava sinais de idade, como se tivesse sido cuidadosamente preservado ao longo dos anos. Não era novo, mas carregava um ar de d