Quando Sofia estava prestes a descer do carro, seu celular tocou. Ela rapidamente atendeu, e era o entregador do outro lado da linha:— Olá, Srta. Sofia, você tem algumas encomendas para retirar. Poderia descer?Sofia olhou pela janela do carro e viu o entregador parado a uma curta distância, com uma pequena carreta cheia de pacotes. Percebendo que seria difícil carregar tudo sozinha, ela se voltou para Marcelo, tentando apelar para sua ajuda.— Marcelo, você poderia me ajudar? Comprei algumas lâmpadas, porque as da minha casa queimaram.Marcelo, no entanto, não respondeu de imediato. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, sua expressão inalterada, antes de finalmente abrir a porta do carro e descer.Cinco minutos depois, Marcelo estava de volta ao carro, agora acompanhado por Gilberto, que puxava a pequena carreta até o andar de Sofia. Eles subiram juntos até o apartamento dela, mas Marcelo, antes de qualquer coisa, lançou um olhar significativo para Gilberto. Este, entendendo o r
Após alguns segundos de silêncio, Marcelo finalmente falou com voz baixa e controlada:— Gilberto, reserve passagens para a França para mim e para Esther daqui a três dias.— Sim, senhor. — Gilberto respondeu prontamente, mas o som de uma porta sendo aberta interrompeu a conversa. Marcelo já havia descido do carro. Seus passos eram firmes enquanto ele caminhava em direção ao Jardim dos Sonhos.Dentro da casa, Esther estava ocupada na cozinha, preparando o jantar. Assim que Marcelo atravessou o hall de entrada, ela apareceu carregando uma sopa recém-feita.— Você voltou na hora certa, o jantar está pronto.Esther lançou apenas um rápido olhar para Marcelo, notando de relance as manchas de sujeira e sangue em suas roupas. Porém, sem demonstrar qualquer emoção ou surpresa, ela desviou o olhar e manteve a voz tranquila. A calma dela contrastava com a tensão que começava a se formar no ar, e Marcelo não pôde evitar franzir as sobrancelhas.Sem dizer nada, ele se aproximou dela, parando à su
Marcelo lançou um olhar rápido para Esther antes de responder com frieza:— Deixe ela entrar.Esther mordeu os lábios, prestes a dizer algo, mas antes que pudesse pronunciar qualquer palavra, o som de saltos ecoando no chão anunciou a chegada de Sofia. A mulher entrou na casa com a confiança de quem se sente à vontade naquele espaço.Esther evitou olhar diretamente para ela, mas a voz de Sofia logo se fez presente, cortando o silêncio:— Marcelo, eu trouxe umas roupas para você.Sofia se aproximou de Marcelo com um sorriso. Ela já havia trocado de roupa, agora vestindo um elegante conjunto de saia e blazer verde-claro, que acentuava suas curvas e a fazia parecer ainda mais alta e deslumbrante. Seus cabelos, cuidadosamente ondulados em grandes cachos, caíam sobre os ombros, completando a imagem de uma mulher confiante e atraente.— Não precisava se incomodar. — Marcelo disse, com calma.Esther observou a cena, tentando decifrar a expressão de Marcelo, que ficava impenetrável, como se na
Cada palavra de Esther era como um golpe certeiro, fazendo Sofia se sentir esmagada. Seu rosto ficou pálido, a raiva queimando intensamente dentro dela. Mas, apesar do ódio, sua razão lhe dizia para manter a calma.— Não se sinta tão satisfeita assim. — Retrucou Sofia, sua voz era tensa. — Marcelo nunca te reconheceu publicamente, e além disso, ele sempre esteve ao meu lado.Sofia pegou uma faca de frutas que estava sobre a bancada e a estendeu para Esther, com um sorriso malicioso nos lábios disse:— Srta. Esther, que tal me ensinar como cortar os legumes agora?Esther franziu a testa, olhando para Sofia com uma mistura de desprezo e exaustão, mas não pegou a faca. Sem paciência para os joguinhos de Sofia, ela chamou pela dona Mia:— Srta. Sofia, sou uma pessoa impaciente. Dona Mia, você é mais paciente, pode ensinar a Srta. Sofia.Sofia ficou visivelmente irritada. Esther nem sequer se dignou a pegar a faca ou ensiná-la! Seu plano de provocar Esther havia falhado miseravelmente, e, s
As palavras de Marcelo tiveram um impacto imediato tanto em Esther quanto em Sofia.Para Esther, que estava ao lado de Marcelo há sete anos, conhecendo bem seu temperamento, ficou claro que a atitude dele dizia muito. Ela estava ali, bem perto, e como sua secretária, esperava que ele mandasse que ela própria ajudasse Sofia a se levantar. Mas isso não aconteceu. Era evidente que Marcelo estava inclinado a favor de Sofia.Apesar dessa constatação, Esther ficou calma. Desde o início, ela não largou o celular, não fez nenhum movimento, mantendo-se serena na certeza de que a verdade prevaleceria. O monitoramento das câmeras só provaria que Sofia não passava de uma palhaça.Para Sofia, no entanto, a situação era diferente. Ela sentiu na pele o desprezo de Marcelo, especialmente com aquele tom frio e distante. Ele não acreditava nela. A queda teatral de Sofia não havia surtido o efeito desejado, e agora ela estava num jogo arriscado.Pouco depois, cerca de dois minutos, o segurança voltou com
Esther percebeu algo importante, mas não mencionou. Com isso, Sofia achou que Marcelo estava prestes a confrontá-la, o que a fez sair triunfante.— Por que você não falou isso antes? — Marcelo franziu a testa.As palavras de Esther fizeram ele perceber que havia algo errado.Esther deu um sorriso irônico e zombou:— Você realmente acha que eu mudaria sua opinião só porque eu disse algumas palavras?Depois de dizer isso, Esther se desvencilhou bruscamente de Marcelo. Ela se afastou, deixando-o para trás, com um único pensamento em mente: manter sua dignidade. Marcelo, por sua vez, não a seguiu, nem tentou detê-la. Mas seus olhos, escuros e penetrantes, continuaram fixos na figura de Esther enquanto ela se afastava....Marcelo havia acabado de acender um cigarro quando o telefone tocou. Era Sofia. Ele ativou o viva-voz.A voz de Sofia soou frágil e rouca do outro lado da linha:— Marcelo, por favor, não seja duro com a Srta. Esther. Eu sei que a culpa é minha. Daqui para frente, vou co
Marcelo empurrou o prato de comida na direção de Esther.— Quer que eu te alimente? — A voz de Marcelo soou calma, sem qualquer alteração.Esther, no entanto, não acreditava que ele realmente iria alimentá-la. Com um tom frio, ela respondeu:— Não estou com vontade de comer. Será que nem essa liberdade eu tenho?Marcelo não disse nada. Mas, no segundo seguinte, ele realmente levou a colher com a comida até a boca de Esther. Naquele momento, os olhos escuros de Marcelo estavam fixos nela, mas não tinham a frieza de sempre.Esther ficou atônita com o gesto inesperado dele.Ele, porém, falou suavemente:— Você precisa comer.O tom dele era tão gentil que Esther, pega de surpresa, rapidamente pegou a colher das mãos de Marcelo e disse:— Eu mesma posso fazer isso.Para evitar que Marcelo insistisse, ela comeu algumas colheradas simbolicamente.Marcelo, com cuidado, lhe ofereceu um copo d'água.— Beba um pouco. Não quero que você engasgue.Esther não estava engasgada, mas sim assustada com
Esther achou irônico ele trazer à tona algo que nunca tinha mencionado antes. Com um sorriso cínico, ela retrucou:— Sou sua secretária, e você tem uma garagem cheia de carros. Para que eu precisaria de mais um?Mas, ao observar as atitudes de Marcelo, ficou claro que ele queria usar essa oferta para convencê-la a ficar.— Você não pode ficar saindo sempre no meu carro ou pegando táxi.Marcelo estava sentado no banco traseiro. Esther, concentrada na estrada, mantinha os olhos fixos à frente, sem que ele pudesse ver sua expressão. Mesmo assim, pela entonação da voz dela, ele percebeu que Esther não tinha o menor interesse na proposta.Com um tom de frieza, ela respondeu:— Quando uso o seu carro, é para assuntos de trabalho. Se eu comprar um carro barato, de alguns poucos milhares de reais, o que os outros vão pensar? Que, como sua secretária, comprei uma lata-velha? Será que você não vai se sentir envergonhado?As palavras de Esther foram cortantes, cada sílaba carregando um peso claro